Estima-se que existam no País perto de 40 empresas estabelecidas e com real estrutura de fabricação de sistemas de ordenha, das quais de 10 a 15 possuem redes nacionais e uma assistência pós-venda atuante, estando aí inclusas empresas multinacionais e brasileiras que também exportam.
O suporte ao produtor e uma boa manutenção preventiva são fatores dos mais relevantes, que podem fazer toda a diferença entre o sucesso ou uma terrível dor de cabeça que o sistema de ordenha pode provocar. O especialista Carlos Alberto Machado, com longa experiência no setor, afirma que “a qualidade do equipamento, o grau de confiança de uma boa assistência técnica, e a reposição ágil de peças, por meio de pessoal técnico preparado do ponto de vista profissional, ético e com instrumental, são aspectos absolutamente imperativos”.
Atual coordenador da Comissão das Indústrias de Equipamentos para a Cadeia Produtiva do Leite do Simers (Sindicato das Indústrias de Máquinas Implementos do Rio Grande do Sul), ele comenta que somente se atingirá o patamar desejado de qualidade do leite quando se passar a dar maior atenção à ordenha e aos vários sistemas, do balde ao pé ao robô.
Dotado de uma visão crítica, Machado reconhece, no entanto, que os vários desafios não chegam a tornar inviável o processo, mas que são significativos e precisam ser considerados, por exemplo, numa cobrança sobre o nível de qualidade. Ele aponta desde questões de dificuldade de acesso de caminhões de leite por estradas vicinais, passando pela ausência de um padrão constante de energia elétrica que permita ligar todos os equipamentos necessários, até a falta de fornecimento, entre outros.
É uma indústria que enfrenta a concorrência desleal, com contrabando de peças e de empresas de fundo de quintal sem compromisso com padrões, como os existentes na Instrução Normativa 48, de agosto de 2002 (SDA/Mapa), que estabelece as normas brasileiras para ordenhadeiras e da qual Machado participou da elaboração. Esta normativa contribui com os subsídios necessários para o fornecimento do Selo de Qualidade desses equipamentos e que está prestes a ser lançado (Veja quadro).
Na IN 48 estão sugeridas ações de manutenção periódica, como a troca de conjunto de borrachas que entram em contato com o leite a cada seis meses e, a cada ano, de certas tubulações. Todos os dias, Machado sugere que, antes de ligar o equipamento, deve-se verificar o nível de óleo da bomba, a tensão da correia de transmissão e o funcionamento do vácuo.
Estes são alguns dos pontos que exigem atenção, mas o especialista ressalta que os fabricantes são obrigados a fornecer um manual a ser seguido no que é relevante e que possui variações e especificidades sobre o que fazer antes, durante e depois da ordenha em relação a cada tipo de equipamento. O não cumprimento poderá danificar o equipamento e mesmo acarretar a perda da garantia fornecida pelo fabricante, obrigatoriamente, no ato da compra.
“Indústria enfrenta a concorrência desleal do contrabando de peças e de empresas de fundo de quintal, sem compromisso com padrões da IN 48″
Carlos Machado
Assistência e revendas – Carlos Machado, que também treina equipes da iniciativa privada, considera que existe carência de mais revendedores realmente qualificados e com formação. “Muitos, junto com produtores, não veem na manutenção preventiva um investimento e sim uma despesa”, aponta o especialista.
Ele comenta, por exemplo, que um equipamento com falha no pulsador pode ser causa de mastite no animal. Para verificar isso, é preciso um instrumento específico que nem sempre está à disposição do técnico.
Outra situação que ocorre é a rotatividade de mão de obra em revendas, quando técnicos atingem determinado nível e decidem montar seu próprio negócio.
Machado discorda de revendedores que trabalham com muitos fabricantes e que montam “pacotes” que atendem mais ao valor da fatura do que ao produtor. A questão ética nas relações comerciais é um aspecto importante a ser trabalhado, como destaca o especialista. Mas ele salienta que “existem várias empresas sérias empenhadas em fazer um bom serviço”.
De todo modo, o especialista acha mais seguro para o consumidor trabalhar com revendas realmente comprometidas com a região, com estoque de peças e disponibilidade de pessoal.
Sobre as novas tecnologias, como a ordenha robotizada, ele a qualifica como um excelente instrumento de trabalho, que potencializa a capacidade da propriedade ao racionalizar a mão de obra. Mas lembra que seu custo é elevado e que o produtor precisar ter um bom volume de leite produzido por dia.
A Comissão das Indústrias de Equipamentos para a Cadeia Produtiva do Leite do Simers, em projeto com o Laboratório de Referência da PUC-RS, oferece às empresas interessadas do setor uma avaliação dos equipamentos com o fornecimento de selo de qualidade.
Os parâmetros avaliados em uma sequência de testes mostrarão a conformidade com a Instrução Normativa 48, de agosto de 2002 (SDA/Mapa), que estabelece as normas brasileiras para ordenhadeiras, que por hora atingem somente sistemas convencionais. O certificado terá validade por dois anos.
A expectativa é de que comece a funcionar logo ao término da emergência sanitária por que passa o País, pois já existem de oito a dez indústrias que aderiram ao projeto voluntariamente, originárias do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Santa Catarina.
“O selo dará uma maior segurança ao consumidor quando adquirir seu sistema se ordenha”, afirma Carlos Machado, coordenador da Comissão do Sindicato gaúcho.
Em relação ao desempenho do equipamento, diz que as informações de que dispõe dão conta de que estão funcionando dentro do esperado e que algumas das empresas mostram um formato de assistência técnica muito efetivo. Os equipamentos são monitorados 24 horas por dia e, no caso de algum contratempo, o técnico da região é acionado para corrigir o problema de pronto.
Para ordenhadeiras robotizadas, é preciso registrar que a IN 48 ainda não possui a necessária atualização baseada na norma internacional ISO 2007, o que já foi solicitado junto ao Ministério da Agricultura, mas ainda não se dispõe de uma posição.
Com o sistema em ordem, bem regulado e limpo, Carlos Machado ressalta que uma boa ordenha estará na dependência de uma ótima higiene do úbere e dos cuidados do trabalhador.
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