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Sistema de ordenha se assemelha ao coração de uma fazenda de leite e deve estar com a manutenção sempre em dia

ORDENHADEIRAS

Cuidar de ordenhadeiras

é assegurar sustentabilidade na produção de leite

Especialistas em manutenção dos equipamentos de ordenha mecânica e robotizada apontam dicas para garantir a máxima eficiência dessas ferramentas que são o coração da fazenda

Erick Henrique

A propriedade leiteira, independentemente do seu porte, possui três vetores: o produtor, que é a “alma do negócio”, pois cada fazenda tem a cara de seu dono, com suas características singulares; os animais, que são o corpo, e o sistema de ordenha, que se assemelha ao coração, devendo estar sempre apto para preservar a saúde do rebanho e abastecer ininterruptamente os tanques de resfriamento da fazenda com leite.

De nada adianta o pecuarista trabalhar tanto para alimentar o plantel com as melhores espécies forrageiras, rações, suplementação mineral, investir em melhoramento genético para ter animais de alta produção leiteira, mas possuir um equipamento de ordenha desajustado, sem as manutenções em dia.

“Sem dúvidas é possível dizer que houve certo avanço na conscientização de produtores, técnicos e ordenhadores quanto à importância da manutenção da ordenhadeira, mas ainda há muito a ser feito para que mais pessoas compreendam a real importância e o impacto que uma boa manutenção pode ter nos resultados de uma propriedade leiteira”, explica Carlos Alberto Machado, coordenador da Comissão das Indústrias de Equipamentos para a Pecuária de Leite do Simers (Ciepel) e autor do livro “Sistemas de Ordenha”.

Segundo ele, independentemente da manutenção preventiva propriamente dita, existem cuidados que devem ser observados antes, durante e após a ordenha, diariamente, semanalmente, mensalmente, semestralmente e anualmente. “Todos esses cuidados, conforme determina o Código de Defesa do Consumidor e as normas desses equipamentos, devem estar claramente explicitados em manuais de orientação que obrigatoriamente devem ser fornecidos pelo fabricante juntamente com o equipamento. Nesses manuais devem constar todas as orientações que o produtor deve seguir rigorosamente, até para não perder o direito à garantia”, pontua Machado.

Carlos Alberto Machado: “Uma teteira utilizada além dos prazos e limites predeterminados pelas normas pode causar sérios danos à sanidade da glândula mamária e comprometer a qualidade do leite, além de reduzir em até 15% o volume de leite ordenhado”

O especialista destaca também que seguir rigorosamente as orientações dos manuais de instruções do fabricante é fundamental para obter o máximo rendimento para o qual o equipamento foi projetado.

Substituição de componentes – Machado ressalta que a substituição das teteiras é de vital importância para o bom desempenho do sistema e os melhores resultados da ordenha. “A teteira é o único componente que entra em contato direto com a glândula mamária do animal. Uma teteira utilizada além dos prazos e limites predeterminados pelas normas pode causar sérios danos à sanidade da glândula mamária e comprometer a qualidade do leite, além de reduzir em até 15% o volume de leite ordenhado, uma vez que já perdeu a memória elástica não oferece mais as condições de flexibilidade e elasticidade para cumprir seu papel de proteger a sanidade da glândula mamária realizando uma massagem e um colapsamento adequados.”

Conforme o especialista, muitas vezes, dependendo da qualidade do material da teteira, pode haver necessidade de substituição antes mesmo dos prazos previstos pelas normas. Assim como em todo e qualquer equipamento, os componentes de um sistema de ordenha têm vida útil limitada, sofrem fadiga, desgaste e alterações, especialmente pelo nível de exigência e precisão que lhes é demandado durante cada ordenha.

“Qualquer componente de um sistema de ordenha, quando não está nas suas melhores condições, pode produzir perdas significativas, pelo impacto e influência direta que exerce no desempenho do sistema como um todo, no conforto animal, na qualidade do leite e na sanidade das glândulas mamárias”, alerta Machado.

Um pulsador mal regulado, segundo ele, pode representar perdas de 10% a 20% da produção, além de representar séria ameaça à sanidade da glândula mamária. Um simples escapamento da bomba de vácuo, se mal instalado, pode comprometer o desempenho do sistema como um todo e reduzir substancialmente a vida útil da bomba de vácuo. “Tais fatos só reforçam a necessidade e importância de uma manutenção preventiva e programada com regularidade.”

Ordenha robotizada – Segundo o gerente comercial da Lely Brasil, João Vicente Pedreira, os robôs de ordenha ficam ligados 24 horas por dia e as ordenhas ocorrem ao longo de 21 horas, pelo menos. Se houver uma interrupção, isso significa que, a cada hora, deixam de ser ordenhadas de cinco a oito vacas.

Equipamentos sem manutenção podem trazer perdas significativas no desempenho e conforto animal, na qualidade do leite e na sanidade das glândulas mamárias

João Vicente Pedreira: “Os técnicos que atuam nessas atividades de instalação, manutenção preventiva e atendimento de urgência são treinados e certificados para realizar essas atividades”

“Dessa forma, o planejamento de manutenção feita pelos técnicos no momento da instalação é de extrema importância. Durante a instalação, eles verificam as questões de estabilidade e qualidade do fornecimento da energia elétrica e as devidas proteções elétricas contra descarga, qualidade da água e aterramento. Todas essas questões devem ser atendidas”, explica Pedreira.

Além disso, o gerente da Lely informa que, após a instalação do robô, as manutenções preventivas devem ser realizadas a cada quatro meses pelos técnicos, para garantir que eventuais chamados de urgências não ocorram, ou sejam mínimos.

A empresa tem cerca de 230 robôs de ordenha instalados nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Minas Gerais.

“Cada manutenção preventiva segue uma lista de medidas e troca de determinadas peças dos robôs. Por exemplo, é feita a medição do nível de vácuo e a curva de pulsação, é feita a troca de reparos, sempre seguindo uma lista de checagem pré-definida para cada tipo de manutenção, A, B, C ou D.

Os técnicos que atuam nessas atividades de instalação, manutenção preventiva e atendimento de urgência são treinados e certificados para realizar essas atividades.”

Já Daan Ste­houwer, gerente do departamento Customer Care, que envolve o TSS (Techinical Sales Support) e o FMS (Farm Management Support), que tem a função de atuar na área técnica de atendimento ao cliente Lely América Latina, diz que a equipe técnica do Suporte Técnico de Vendas, sediado no Brasil, atende e dá suporte a todos os técnicos dos Lely Centers do Brasil e no restante da América Latina. Esses profissionais recebem treinamento em cursos ministrados na sede da empresa na Holanda e promovem os cursos localmente.

“Como organização Lely local, oferecemos o programa global de treinamento para certificar técnicos no Brasil. Até esta data já o fizemos com 36 técnicos e este número está crescendo exponencialmente. Isso garante experiência local nos Lely Centers em todo o País, que podem então resolver problemas prontamente e garantir o máximo de tempo de atividade do equipamento nas propriedades. Aliás, estamos investindo em um centro de treinamento dedicado com todos os nossos produtos em Carambeí (PR)”, destaca Stehouwer.

Luan Nogueira Moreno, TSS (Techinical Sales Support) ou suporte de serviço técnico da Lely, aponta que, para garantir o pleno funcionamento dos robôs de ordenha, é necessário verificar o sistema de energia: fornecimento, incluindo baterias e conectores de energia, pois é uma tarefa recorrente.

Segundo Daan Stehouwer, gerente da área técnica de atendimento ao cliente da Lely, 36 técnicos já foram treinados para oferecer atendimento a fazendas brasileiras com ordenha robotizada

Luan Nogueira Moreno, do suporte técnico da Lely, destaca que a atualização do software que controla o robô de ordenha e gerencia os dados é importante para garantir um ótimo desempenho

“Garantir uma fonte de energia estável e confiável é essencial para uma operação sem interrupções do equipamento. Além disso, é preciso realizar a limpeza regular e a manutenção de vários componentes e sistemas para evitar o acúmulo de sujeira, detritos ou contaminantes. Isso inclui a limpeza de sensores, filtros e peças mecânicas”, diz Moreno.

O técnico destaca também que atualizar o software que controla o robô de ordenha e gerencia os dados é importante para garantir um desempenho e compatibilidade ótimos com novos recursos e melhorias. Outro ponto de grande relevância é a calibração regular do equipamento de ordenha, como os copos de teteira, medidores de leite e sensores para manter a precisão nas medições e processos de ordenha.

“É preciso monitorar e testar regularmente sensores, sistemas de controle e mecanismos de segurança, medida crucial para detectar qualquer mau funcionamento ou desvio da operação normal. O TDS (Teat Detector Sensor ou Sensor Detector de Teto) é um sistema essencial na ordenha automática de vacas, que atua como um sensor especializado que detecta e localiza corretamente os tetos das vacas. Essa informação é fundamental para garantir que as teteiras sejam posicionadas corretamente durante a ordenha. É necessário manter o TDS em bom estado, realizando limpezas regulares, para assegurar uma ordenha eficiente e confortável para as vacas”, esclarece Moreno.

Manutenção preventiva é investimento – Carlos Machado acrescenta que a ordenhadeira é a grande protagonista da sanidade, da qualidade e da competitividade da propriedade leiteira. Conforme o especialista, a ordenha é o momento culminante, pois é a hora em que o produtor recolhe, na forma líquida e altamente perecível, o produto resultante de todo o investimento que realizou em tecnologia, genética, recursos financeiros, humanos e materiais.

“Portanto, é fundamental a compreensão de que a manutenção preventiva é, antes de tudo, um investimento na redução de custos e otimização dos resultados dos investimentos realizados em uma propriedade leiteira. A manutenção, especialmente a preventiva, visa evitar, reduzir, minimizar a possibilidade de ocorrências que possam resultar em perdas para o produtor, garantindo um desempenho de excelência para o equipamento de ordenha, seja do ponto de vista da sanidade das glândulas mamárias, da qualidade e quantidade de leite ordenhado, da competitividade e lucratividade da propriedade leiteira, além de aumentar a vida útil do equipamento de ordenha.”

Serviço de instalação, manutenção preventiva e atendimento de urgência deve ser prestado por técnicos treinados e certificados

DICAS SOBRE OS CUIDADOS COM AS ORDENHADEIRAS

 
O coordenador do Ciepel explica que as orientações citadas a seguir não pretendem, em hipótese nenhuma, concorrer ou substituir as instruções do manual dos fabricantes. “Também partimos do princípio de que o ordenhador é uma pessoa preparada e consciente da importância do seu papel neste processo.”

ANTES DE INICIAR A ORDENHA (todos os dias)
• Checar o alinhamento e a tensão das correias da bomba de vácuo;
• Checar o nível de óleo do lubrificador. Se necessário, completar;
• Checar válvulas de drenagem, tanto no depósito de segurança quanto aquelas que eventualmente existam na linha de vácuo, verificar se estão livres, funcionando e vedando perfeitamente;
• Checar todas as tomadas de vácuo, verificar se não estão obstruídas ou com problemas de vedação;
• Checar se o vacuômetro está funcionando bem e se a marcação está acusando o nível de vácuo correto.

APÓS A ORDENHA (todos os dias)
• Lavar as unidades de ordenha com os produtos recomendados pelo fabricante. O mesmo procedimento com as mangueiras;
• Desligar os pulsadores das mangueiras e guardá-los em lugar seguro e protegido contra insetos;
• Proteger entradas das tomadas de vácuo para evitar a entrada de insetos.

SEMANALMENTE
• Realizar a limpeza profunda das unidades de ordenha;
• Revisar cuidadosamente as válvulas de drenagem;
• Lavar e secar internamente o depósito de segurança;
• Limpar o mostrador do vacuômetro;
• Revisar com o máximo de atenção o estado das teteiras e demais componentes da unidade de ordenha;
• Checar o estado de limpeza do regulador de vácuo;
• Checar o alinhamento e a tensão das correias da unidade de vácuo;
• Checar se as polias da bomba de vácuo e motor estão ajustadas, alinhadas e firmes.

MENSALMENTE
• Revisar mangueiras e substituir aquelas que estiverem eventualmente danificadas ou comprometidas;
• Checar componentes da unidade de ordenha, especialmente coletores e teteiras;
• Lavar e limpar filtros dos pulsadores;
• Checar o aperto de todos os parafusos do sistema, exceto os parafusos dos pulsadores, esses não devem ser tocados. Havendo necessidade de ajustar ou alterar a regulagem dos pulsadores, chame o técnico da sua revenda de confiança.

A CADA DOIS MESES
• Lavar a tubulação do vácuo. Antes, porém, checar com o fabricante qual o volume de água recomendado para essa operação;
Obs.: Em hipótese nenhuma deve ser utilizado volume de água superior à capacidade volumétrica do depósito de segurança.
• Desmontar e lavar válvulas de drenagem.

A CADA TRÊS MESES
• Se a bomba de vácuo for lubrificada a óleo, é aconselhável que seja feito um purgante, ou expurgo. Normalmente essa limpeza é feita com óleo diesel normal. De qualquer forma, sempre é fundamental observar e seguir as orientações do manual de instruções do fabricante.
• Em bombas com anel d’água também se faz necessário uma descalcificação, a qual ocorre normalmente por causa das condições da água utilizada. Essa descalcificação deve ser feita por técnico da sua revenda de confiança.

A CADA SEIS MESES
Realizar revisão completa no sistema conforme recomendam as normas. Deve ser executada por técnico, devidamente capacitado, com equipamentos de aferição apropriados: caudalímetro, pulsógrafo, detector de fugas, conta-giros, etc.
Devem ser observados no mínimo os seguintes itens:
• Checar condições de funcionamento e desempenho da bomba de vácuo, especialmente o nível de produção, em litros de ar livre por minuto;
• Reaperto de todos os parafusos do sistema, exceto os parafusos dos pulsadores;
• Desmontar e lavar todas as tomadas de vácuo, leite e água;
• Aferir e regular todos os pulsadores, conforme determina a norma;
• Substituir as teteiras;
OBS.: As teteiras devem ser substituídas, no máximo, a cada 2.500 ordenhas ou seis meses. O que ocorrer primeiro. Ou ainda, independentemente do tempo de uso, se apresentarem alguma não conformidade ou anormalidade;
• Checar e aferir vacuômetro;
• Checar, descarbonizar e lavar com óleo diesel, ou querosene, o escapamento, observando sempre, em primeiro lugar, o produto de limpeza que recomenda o fabricante;
• Substituir todas as mangueiras que entram em contato com o leite.

UMA VEZ POR ANO
• Substituir todos os anéis de vedação de borracha no sistema;
• Substituir todas as borrachas do sistema;
• Substituir todas as mangueiras. (Fonte: Carlos A. Machado – Ciepel)

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