Grandes transformações foram o centro das palestras realizadas durante a sexta edição do Dairy Vision 2020, promovido pela AgriPoint, empresa especializada em informação sobre o agronegócio, e a consultoria inglesa Zenith Global, entre os dias 1º e 4 de dezembro de 2020, em formato 100% digital.
Em um ano em que todas as atividades sociais e comerciais precisaram se reinventar para respeitar os protocolos sanitários fundamentais para combater o avanço da pandemia do novo coronavírus (covid-19), o modelo online foi o caminho definido pelos organizadores para garantir ao mercado a possibilidade de seguir se atualizando sobre as inovações da cadeia leiteira. “De início, nossa ideia era não ter o evento em 2020, em função da pandemia. Porém, com a experiência que acumulamos nos eventos digitais, percebemos que seria possível fazer também neste formato”, explica Marcelo Carvalho, CEO da AgriPoint.
Durante quatro dias, mais de 350 pessoas – do Brasil, dos Estados Unidos, da Holanda, do Reino Unido, do Uruguai, da Argentina, da Bolívia e da Rússia – puderam acessar as palestras produzidas por especialistas de 14 países. “Construímos um evento impecável em um tempo recorde. Isso só foi possível graças ao modelo online que decidimos encarar”, explicou ele.
Criar um evento de excelência dentro deste novo modelo de comunicação e interatividade exige cuidados, para os quais os organizadores estiveram bastante atentos. “O formato digital tem a vantagem de permitir a participação de inúmeras pessoas, independentemente de sua localização geográfica, o que traz maior comodidade e, nestes tempos de pandemia, total segurança”, nota Carvalho.
Embora o setor lácteo, como todo o segmento de alimentação, tenha sofrido poucos reveses com a crise econômica e sanitária imposta pela pandemia, entender como o mercado, a sociedade e os consumidores vão se comportar nos anos seguintes à epidemia esteve entre as principais pautas do evento, pensado para atender às indústrias e às lideranças da cadeia leiteira.
“Passamos por um ano em que todas as previsões e certezas foram questionadas. Observamos o efeito importante da renda, mudanças nos padrões de consumo que migrou para alimentação em casa – o que foi bom para o setor –, mas também entendemos que na crise sempre há oportunidades. Baseados nelas, vamos pautar as mudanças para os próximos anos, como ganhar mais eficiência desde o processo de gestão digital das fazendas até a melhoria da qualidade e da sustentabilidade, que ganham ainda mais importância no período que está por vir”, disse Marcelo Carvalho.
Entender para onde se está caminhando é primordial nesses novos tempos. Por isso, o primeiro dia da Dairy Vision foi dedicado às tendências do mercado para 2021 no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. Mary Ledman, estrategista global do Rabobank, trouxe dados que mostraram a visão global de produção leiteira nos sete grandes exportadores de laticínios e a demanda por laticínios nessas regiões com todas as incertezas advindas da pandemia. “Os preços aos produtores estão favoráveis agora e estimulando a produção, mas as taxas de crescimento devem ser mais modestas em 2021”, disse.
De acordo com ela, embora tenha havido um grande aumento na demanda de leite no terceiro e quarto trimestres de 2020 e os mercados globais tenham se sustentado durante esse período, “as expectativas sobre o comportamento do mercado em 2021 são de um crescimento adicional de apenas 0,8%”, afirmou.
O comportamento do consumidor, que está vivendo em um mundo no qual o isolamento social é a melhor ferramenta contra um vírus ainda sem antídoto, é foco de total interesse de toda a cadeia leiteira. Para Roberto Denuzzo, diretor da RDC Consultoria, executivo experiente no setor de alimentos, os canais de vendas, a maneira como as empresas pensam seus negócios e o segmento de food service deverão se reinventar no período pós-covid. “A macrotendência da comida fora de casa está voltando aos patamares de antes da pandemia, entre 50% e 70%”, afirma.
O executivo lembra que, após 30 anos de crescimento contínuo, o segmento de food service sofreu o primeiro revés durante a crise financeira em 2015 e que estava em processo de recuperação, apostando todas as fichas em 2020. “Com a pandemia, entre os meses de março e maio, a tendência de cozinhar em casa afetou fortemente o segmento e houve uma explosão do modelo delivery, que passou ser a única fonte de receita de muitos restaurantes”, lembra.
“Não haverá no futuro nada como vimos no passado. Os restaurantes por quilo, por exemplo, terão que se reinventar porque dependem de alta ocupação e a tendência é de que haja ainda distanciamento até a confirmação dos efeitos da vacina”, continuou o especialista durante o painel “O novo food service pós-covid-19”.
Denuzzo acredita que ainda haverá muitos “solavancos” na economia, com o relaxamento das regras de distanciamento social seguidos de novos regramentos para impedir avanços do vírus. “Pós-vacinação, ainda vamos conviver com o rescaldo de uma crise econômica semelhante a 2015 que vai limitar a renda das pessoas e o consumo do food service deve ser afetado.” Atenção para a demanda por cream cheese, por exemplo (em restaurantes japoneses) e a tendência das dark kitchens – que são restaurantes virtuais que produzem apenas comida para viagem. “Este é um modelo que veio para ficar”, alerta.
A tendência foi confirmada por Melissa Clark Reynolds, diretora da Atkins Ranch Inc. “A contratação de entrega de comida a domicílio cresceu exponencialmente durante a pandemia nos Estados Unidos. Com aumento de 97% para as compras online”, apontou a especialista durante o painel “Como o setor pode se preparar para a disrupção?” Para ela, a manutenção dos centros de distribuição e o crescimento das dark kitchens podem ser bastante positivos para a demanda por queijos, iogurtes e leites.
A forma de entrega e as perspectivas econômicas e sanitárias são importantes, mas a praticidade, a saudabilidade e a personalização também precisam ser observadas. Entre os painéis que visavam contribuir com um novo olhar sobre inovação e sustentabilidade, Aline de Santa Izabel, especialista em saúde intestinal e fundadora das startups Yogut Me eSynbiotic Kitchen, apresentou a próxima geração de alimentos funcionais: alimentos saudáveis e sustentáveis e produzidos à base de plantas, ou “plant based”.
“Acreditamos que alimentos saudáveis nunca foram tão importantes, principalmente agora, em tempos de pandemia. A ciência tem nos mostrado que uma dieta saudável pode nos ajudar a combater e prevenir diferentes tipos de doenças. Chegou a hora de criar essa nova geração de alimentos saudáveis porque o futuro é agora”, apontou.
O evento também teve a sensibilidade de entender que todas as questões macro (economia, sustentabilidade, condições sanitárias) são importantes, mas olhar para o consumidor como um indivíduo também foi tema de debates. Sobrevivente de um período hostil como a pandemia, com grandes perdas e instabilidades emocionais, o consumidor pode estar mais exigente ou intransigente no que diz respeito à sua saúde e ao bem-estar.
“É hora de exercitar a empatia nas empresas para atender a um cliente que pode estar muito machucado em função de um ambiente tão desolador; entendê-lo será vital para o sucesso dos negócios”, alertou Felipe Schepers, fundador da plataforma de pesquisas Opinion Box, que apresentou um painel sobre Produtos Lácteos e a percepção do consumidor.
A sétima edição do Dairy Vision já está confirmada. Será nos dias 24 e 25 de novembro de 2021, em Campinas, interior de São Paulo, possivelmente em modelo híbrido. Afinal, como foi amplamente abordado no evento: nada será como antes.
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