Nesta edição, que junta os meses de junho e julho, tivemos duas importantes comemorações. Em 1.º de junho, o Dia Mundial do Leite, e, em 4 de julho, o Dia Internacional do Cooperativismo, e as cooperativas ligadas ao setor leiteiro têm tudo a ver com o tema desta crônica. No Dia Mundial do Leite tive a oportunidade de participar de dois eventos comemorativos. No primeiro, promovido pelo canal de TV Terra Viva/Band, participaram Maria Antonieta Guazelli e Roberto Jank, representando os produtores; José Tejon Mejido, Thiago de Carvalho e eu como analistas de mercado, e Nivaldo Jr. como técnico.
Debatemos as transformações que estamos vivendo no setor neste momento. A demanda de derivados lácteos foi muito afetada pelo que chamamos de mercado institucional. Caíram as compras antes feitas por hotéis, bares, restaurantes, hamburguerias, escolas, casas de eventos e de empresas, que usavam leite para produzir guloseimas. Isso tem afetado muito os pequenos laticínios. Por outro lado, os preços pagos aos produtores ainda estão muito instáveis, reproduzindo a instabilidade de toda a economia.
Já no outro debate a conversa foi com uma visão futurista. Participaram o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli; o presidente da Abraleite, Geraldo Borges; o presidente da OCB Márcio Freitas; o presidente da Abia, João Dornellas; o prof. da Universidade da Flórida José Eduardo Portella, e eu. Quem realizou este evento foi a Embrapa Gado de Leite, com o propósito de conhecer a posição de líderes das principais entidades do setor sobre “o futuro do leite e o leite do futuro”.
Com participação expressiva de integrantes de todos os elos que compõem a cadeia produtiva assistindo, ficou muito claro que novos desafios estão postos e precisam de novos posicionamentos. O novo consumidor exige características novas para o leite. Já não basta ser livre de resíduos como antibióticos, com índices de CCS e CBT baixas. O consumidor quer saber como a vaca é tratada. E a própria expressão “vaca é tratada” tem outro sentido. Antes, “tratar a vaca” era simplesmente dar acesso a alimento. Agora, “tratar a vaca” significa garantir conforto!
O novo consumidor que surgiu quer saber como vive o empregado da fazenda, o que o laticínio faz com os dejetos, se a empresa detentora da marca é cidadã. Já se foi o tempo em que uma empresa cuidava só de assegurar a adoção de boas práticas de produção. Agora, é preciso pensar em toda a cadeia de valor, para que o consumidor possa se mostrar fiel.
Também este mês chegamos ao clímax de uma brincadeira séria, que foi o Desafio do Leite. Meio mundo foi desafiado a tomar um copo ou caneca de leite e postar nas redes sociais. Isso saiu do setor, chegou na sociedade e extrapolou as fronteiras do Brasil. O que isso representa? Ora, para mim é a mudança de pensamento. O setor está com autoestima elevada, o que é muito bom! Não conheço campanha similar feita por avicultores, suinocultores ou produtores de grãos.
As empresas vinculadas ao leite desejam se modernizar e querem investir em inovação“
Para quem está há mais tempo na atividade sabe que, no passado, a Embrapa gerava uma tecnologia e transferia para os produtores. Mas tudo mudou e a forma de fazer a tecnologia chegar até o produtor também mudou. Agora é fundamental construir uma solução tecnológica, desde o início envolvendo o setor produtivo como parceiro. Nesta parceria cabem startups, empresas pequenas e grandes e associações de produtores e produtores individuais. O que importa é somar esforços.
Abrimos um edital na Embrapa, buscando parcerias em inovação para o setor leiteiro. Oferecemos R$ 1,5 milhão em capital humano e financeiro e infraestrutura para formalizarmos parcerias. Fizemos uma reunião tira-dúvidas pela internet e 137 pessoas participaram, de várias empresas. Terminado o período de inscrição, para a nossa surpresa, recebemos 97 propostas, vindas de quatro regiões (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste) e de 11 entes da Federação (RS, SC, PR, SP, RJ, MG, GO, MT, DF, BA, RN).
Recebemos propostas de grandes empresas, algumas multinacionais ou estatais, como Asbia, CCGL, Ceitec, Cemig, Cotrijal, Emater, KWS e Inmetro. Recebemos propostas de Associações de Criadores e Produtores, como CBMG2, Aproleite, Aprurisa e de produtores individuais. Recebemos propostas de universidades, ONGs, pequenas e médias empresas e muitas startups, o que mostra um vigor imenso do setor de leite e derivados. As empresas vinculadas ao leite desejam se modernizar e querem investir em inovação.
Descobrimos que tem produtor se dispondo a investir em pesquisa e fundo de investimento querendo conhecer as propostas apresentadas, o que será feito somente se for do interesse dos nossos parceiros, por questões de confidencialidade, ou seja, de manutenção do segredo nos negócios.
Os temas propostos são muito variados, tais como qualidade do leite, bem-estar animal, nutrição animal, reprodução, cria de bezerras, resíduos, pastagem, silagem, melhoramento genético, mastite e saúde animal, nanotecnologia, gestão da propriedade, marketplace, rastreabilidade, orgânicos, fitoterápicos, probióticos, queijos.
Em meio a toda esta instabilidade que estamos vivendo, no leite estamos construindo um novo futuro! Leite é vida! Vivas ao Leite!
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