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Entram como medidas preventivas: diagnóstico cuidadoso, nutrição adequada e bem-estar dos animais

SAÚDE ANIMAL

Deslocamento do abomaso em vacas leiteiras:

Prevenção é a melhor alternativa

Esta doença traz diversos transtornos à produção de leite, pois vacas acometidas ficam duas vezes mais suscetíveis a ter outros problemas de saúde

Gisele Dela Ricci*

O estômago dos bovinos é dividido em quatro partes: rúmen, retículo, omaso e abomaso. Com a atividade fermentativa, o rúmen, o retículo e o omaso possuem micro-organismos específicos. O abomaso é a quarta câmara do estômago dos bovinos, responsável pela digestão, uma vez que possui uma camada com glândulas que liberam ácidos, hormônios e mucos.

O deslocamento do abomaso é uma doença metabólica comum em rebanhos leiteiros de alta produção, podendo também acometer touros, novilhas e bezerros.

O deslocamento pode ser observado do lado direito e ou do esquerdo, sendo mais comum para o lado esquerdo (mais de 90% dos casos), em vacas com 21 dias pós-parto. No deslocamento para a esquerda, o órgão se desloca da sua posição inicial, mantendo-se entre o rúmen e o lado abdominal esquerdo. Para a direita, o órgão altera totalmente sua posição, indo para o lado direito do abdômen.

Entre as principais causas desse problema estão a elevação da produção de gás e a diminuição do tônus no abomaso. A mudança de posição do abomaso está relacionada à redução da ingestão de matéria seca, causada por mastites, consumo de dietas com alta quantidade de grãos e baixa quantidade de fibra, alterações bruscas no tipo da alimentação, cetose subclínica, hipocalcemia e partos gemelares, entre outros.

Entre os principais sintomas do deslocamento do abomaso estão redução da produção de leite (30% a 50%), perda de apetite, desidratação e apatia. Pode também estar associado a quadros agudos de mastite pós-parto, cetose, metrite e laminite.

Em alguns casos, de uma a três semanas antes de ser observado o deslocamento do abomaso, o porcentual de proteína do leite estará diminuído e o porcentual de gordura/proteína elevados. Excetuando-se casos graves de timpanismo em conjunto com o deslocamento de abomaso, a temperatura e a frequência cardíaca e respiratória permanecem dentro dos parâmetros fisiológicos para a maior parte das incidências.

No caso dos bezerros, na maior parte dos casos, os animais são mais sensíveis entre 6 e 14 semanas. Os sinais clínicos são variáveis e menos descritos quando comparados àqueles relacionados a animais em fase adulta. A progressão dos sintomas é rápida e alguns bezerros apresentarão desidratação, anorexia, depressão severa, excessiva produção de gás, cólicas e até bloqueios intestinais que necessitam de cirurgia de urgência.

É NECESSÁRIO QUE PROFISSIONAIS DA SAÚDE ANIMAL POSSUAM CAPACIDADE TÉCNICA PARA DIAGNÓSTICO E QUE SEMPRE SE SUSPEITE DO DESLOCAMENTO DO ABOMASO QUANDO OS ANIMAIS NÃO REAGIREM AO TRATAMENTO DA CETOSE

Uma das providências mais importantes para evitar o deslocamento do abomaso é o fornecimento de uma dieta equilibrada antes e pós-parto

Diagnóstico, prevenção e tratamento – Entre as dificuldades de diagnosticar a doença está a similaridade com outras enfermidades, como a acidose ruminal subclínica e algumas inflamatórias, confundindo com outros diagnósticos. É necessário que profissionais da saúde animal possuam capacidade técnica para diagnóstico e que sempre se suspeite do deslocamento do abomaso quando os animais não reagirem ao tratamento da cetose.

Por ser uma doença metabólica em que vários fatores influenciam, a prevenção deve ser feita por meio da identificação de tais fatores. As formas de controle envolvem a ingestão entre dois e três quilos de concentrado nos 21 dias anteriores ao parto, prevenindo a acidose subclínica e a hipocalcemina; evitar balanço energético negativo; assegurar fonte adequada de fibra efetiva; separar lotes de primíparas e de multíparas; realizar controle de manejo do lote pós-parto e fornecer solução de água com minerais perdidos, por meio de sonda para vacas.

Para o tratamento, é necessário observar o impacto na produção de leite, por ter recuperação mais lenta, além da eficácia da cirurgia e a hidratação dos animais. A cirurgia corretiva é uma técnica recomendada na medicina veterinária, no entanto, não é um protocolo padrão. O deslocamento de abomaso é uma doença metabólica que pode ser prevenida por meio de um bom manejo com a dieta no pré-parto e no pós-parto para os bovinos.

O exame de ultrassom é um método considerado ideal para avaliar o abdômen dos bovinos, buscando investigar desordens estomacais e intestinas. Associado à ultrassonografia, pode ser usado o método de abomasocêntese, que permite a análise da natureza e a composição do conteúdo no órgão. Para o exame físico, deve ser utilizada a palpação retal, sendo muito comum a ausência de anormalidades palpáveis.

Deve-se oferecer feno ou forragem de boa qualidade, mas não grãos. É necessário ainda pesquisar a existência de doenças concomitantes (cetose, mastite, metrite, hipocalcemia, lipidose hepática, dentre outras) e tratá-las corretamente. O histórico do animal deve ser sempre avaliado, observando se há patologias que não foram tratadas adequadamente e que podem causar a doença novamente.

A terapia clínica inclui a restauração do equilíbrio hidroeletrolítico, já que possíveis desequilíbrios de eletrólitos, principalmente a hipocalcemia, influenciam negativamente a utilização de protocolos com estimulantes de motilidade gastrointestinal.

O deslocamento de abomaso apresenta perdas econômicas importantes envolvendo queda da produção leiteira, leite descartado, perda de peso corporal, descarte prematuro da matriz, mortalidade e também os custos com cirurgias corretivas e tratamentos. Vacas com deslocamento de abomaso estão duas vezes mais suscetíveis a outras doenças do que os animais saudáveis.

Desta forma, o manejo nutricional, sanitário e de bem-estar animal adequado ainda é considerado a melhor forma de prevenção do deslocamento de abomaso, garantindo a efetividade da economia da produção leiteira.

(Do original, constam referências bibliográficas, à disposição dos interessados)

*Zootecnista, mestra, doutora e pós-doutoranda pela USP. Atua no laboratório de Etologia, bioclimatologia e nutrição de animais de produção (bovinos, suínos e ovinos)

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