balde branco

O produtor não pode negligenciar o controle de algumas moléstias que afetam a eficiência reprodutiva do rebanho

Evento

Doenças infecciosas

que levam à

morte embrionária

Embora sejam diversas as causas da morte embrionária em rebanhos bovinos, algumas doenças infecciosas merecem atenção especial

Gisele Dela Ricci

par de garantir a sanidade e o bem-estar dos animais, o controle das doenças infecciosas reduz muitos problemas, dentre eles os reprodutivos, particularmente a morte embrionária, que traz significativos prejuízos à atividade leiteira. Nas fazendas leiteiras, tem-se que cerca de 40% a 50% das causas de perdas de gestação são associadas a doenças infecciosas, com destaque para a rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), a diarreia viral bovina (BVD) e a leptospirose, que apresentam alta incidência.

A leptospirose é uma doença infectocontagiosa causada por bactérias do gênero Leptospira e considerada uma zoonose, ou seja, doenças e infecções transmitidas para o homem por meio dos animais. Em bovinos adultos, os sintomas reprodutivos são os mais importantes, pois em fêmeas gestantes ocorre morte fetal, abortos no fim da gestação e infertilidade.

A transmissão pode ocorrer de forma indireta, pelo contato com águas e solos contaminados com urina, leite, envoltórios fetais, abortos e principalmente por meio de roedores e outros animais silvestres infectados.

As bactérias penetram através de mucosas intactas e lesões na pele, disseminam-se no sangue, chegando a todos os órgãos. Caso a fêmea esteja gestante, acontece morte embrionária ou fetal entre 8 e 20 dias.

Muitas vezes, a doença se apresenta de forma subclínica, ou seja, sem sintomas aparentes, principalmente em fêmeas não lactantes e gestantes. Clinicamente, manifesta-se por meio de retorno ao cio, abortos, queda na produção de leite, mastites, fetos fracos, subfertilidade ou infertilidade decorrentes de complicações.

Para se obter um diagnóstico de infecção pela bactéria da leptospirose, é necessário utilizar técnicas laboratoriais específicas, com exames sorológicos, imunológicos e genéticos que avaliem rim, pulmão, fígado ou placenta de fetos.

Quando as vacas são infectadas  pela leptospirose, geralmente  apresentam, de forma subclínica, retorno ao cio, abortos, mastites e infertilidade, entre outros problemas

O tratamento da doença no rebanho deve partir do diagnóstico laboratorial da sorovariedade circulante na propriedade. Após conhecida a amostra circulante, pode-se fazer o tratamento dos animais doentes com antibiótico, segundo orientação de um médico veterinário, que deve acompanhar detalhadamente os casos.

Outra estratégia utilizada é a vacinação, que deve ser iniciada, em rebanhos de alta incidência, em bezerros de quatro a seis meses de idade, seguida por imunizações anuais, com vacinas que contemplem o maior grupo de bactérias. A primeira vacina necessita de um reforço após três ou quatro semanas de intervalo. Pode-se realizar uma vacinação estratégica, um mês antes da estação reprodutiva dos bovinos.

Medidas preventivas de higiene, como a identificação de fontes de infecção, como locais úmidos, áreas alagadas e presença de roedores, resultam em redução do contato dos bovinos com os principais causadores da doença, gerando eficácia no controle da leptospirose.

IBR/VIP – A rinotraqueíte infecciosa bovina é uma doença viral causada pelo herpesvírus bovino tipo 1 (BHV-1). A IBR infecta bovinos e alguns ruminantes selvagens. No Brasil, levantamentos sorológicos já mostram frequência alta nos rebanhos. Ela provoca problemas reprodutivos, gerando lesões em outros pontos do organismo, especialmente em animais jovens. Caracteriza-se pela manifestação de rinotraqueíte, vulvovaginite pustular (VIP), balanopostite, conjuntivite, abortamento e infecção generalizada em neonatos.

A contaminação acontece via oral, respiratória e genital. Além de repetição de cio, provoca morte embrionária e aborto em diferentes fases da gestação. Um bovino infectado pela IBR é considerado portador do vírus por toda a vida e, principalmente, um potencial transmissor.

Animais com idade acima dos seis meses são mais suscetíveis à doença. No entanto, todas as raças e idades são passíveis de serem infectadas, podendo ser observadas elevadas taxas de prevalência nas idades mais avançadas. Vacas acima de quatro anos têm 2,36 vezes maior risco de contrair IBR do que as de menor idade.

 

Vacina – A indicação da vacinação deve seguir a pesquisa sorológica e/ou o isolamento dos vírus. Deve-se analisar a relação custo-benefício da vacinação, considerando a extensão do problema, os danos causados e os custos da vacina. Vacinam-se animais a partir de quatro meses, devendo receber reforço quatro a cinco semanas após a vacinação inicial. Caso não exista problema em animais jovens, pode-se optar por vacinar apenas antes da idade reprodutiva.

A recomendação  no combate à IBR  é vacinar os  animais a partir  dos quatro  meses de idade, aplicando nova dose de reforço cinco semanas após a vacinação inicial

O sintoma clínico mais característico é a rinotraqueíte, com o animal apresentando produção excessiva de saliva, falta de apetite, apatia, redução da produção de leite, exsudatos nasal e ocular seroso e mucopurulento. O desenvolvimento da doença em casos não graves dura de cinco a dez dias. No entanto, se ocorrer complicação secundária bacteriana, a interação entre o vírus e a bactéria pode resultar em severa pneumonia. 

Em fêmeas prenhes, o vírus pode ser transmitido para o feto, doença extremamente grave e letal, provocando abortamento espontâneo em qualquer estágio de gestação. A presença do vírus em rebanhos gera prejuízos na eficiência reprodutiva dos animais. Entre outros problemas: altas taxas de mortalidade embrionária precoce ou tardia, porcentagem de abortos, natimortos e mortalidade neonatal e frequência de endometrites.

A cópula de fêmeas sexualmente ativas pode desencadear a doença, notada a partir de sinais como corrimento vaginal, crostas na parte interna da cauda, região perineal, micção frequente e manutenção da cauda permanentemente elevada devido à dor. Bovinos normalmente se recuperam em duas semanas. No entanto, em infecções secundárias, a doença resulta em inflamações uterinas, secreção vaginal e infertilidade temporária, sintomas que persistem por diversas semanas. Touros infectados exibem grave inflamação no pênis, com apresentação da mucosa peniana avermelhada e pequenas pústulas, com presença de pus. O animal urina com frequência, sendo o sêmen uma das fontes de transmissão da doença. 

O diagnóstico pode ser realizado por meio do histórico do rebanho, mas somente é conclusivo com análises laboratoriais. O teste padrão para identificação do vírus é o isolamento viral em cultivo celular, por meio de amostras de soro e testes genéticos. 

O tratamento não é específico, sendo sintomático e de sustentação com base no controle de infecções secundárias, com o uso de antibióticos de amplo alcance e anti-inflamatórios não esteroides, antitérmicos e mucolíticos. Em relação às lesões genitais, são utilizados banhos antissépticos com clorexidina ou iodóforos e pastas à base de antibióticos. Isolamento e repouso são recomendados, visando minimizar efeitos adversos. Quaisquer medicações devem ser orientadas por um médico veterinário.

As manifestações clínicas podem ser controladas e prevenidas por meio de métodos adequados de manejo e programas de vacinação. Medidas de redução de riscos provêm da quarentena dos animais de duas a três semanas antes de introduzi-los no rebanho.

A vacinação atualmente é uma boa alternativa para reverter perdas geradas pela doença, com disponibilidade de diversos tipos de vacinas que podem ser utilizadas após o diagnóstico clínico-laboratorial ou a partir de um programa sanitário preestabelecido. 

A imunidade passiva de anticorpos maternos transmitidos por meio do colostro fornece resistência ao bezerro durante os primeiros 30 a 45 dias. São necessárias a vacinação e a revacinação para elevar o nível de anticorpos acima do nível de desafio. Vacinas com vírus inativado e atenuado (termossensíveis), bi (IBR/IPV e BVDV) e polivalentes (IBR/IPV, BVDV, PI3 e Leptospiras) são autorizadas para utilização no Brasil.

O vírus da BVD é liberado continuamente pelos animais por meio de secreções e fluidos corporais, transmitindo lentamente a infecção no rebanho

Diarreia Viral Bovina (BVD) – A doença abrange diferentes manifestações clínicas, que são determinadas por um vírus conhecido por Pestivírus. Está entre os principais patógenos de bovinos e frequentemente é relacionado a problemas reprodutivos.

O vírus é liberado continuamente pelos animais por meio de secreções e fluidos corporais, transmitindo lentamente a infecção no rebanho. Em fêmeas prenhes, é capaz de atravessar a placenta, atingindo o feto, com consequências determinadas pelo estágio de gestação, biotipo e cepa do vírus, com infecções fetais entre 40 e 120 dias de gestação. 

O conhecimento e o descarte dos animais constituem etapas essenciais para o controle e/ou erradicação do vírus. Em muitos rebanhos onde a infecção é endêmica, a falha reprodutiva são os sinais mais manifestados, como retorno ao cio, infertilidade temporária, mortalidade embrionária e fetal, ou defeitos congênitos como microencefalia, hidrocefalia, hipoplasia cerebelar, defeitos oculares, malformações fetais, nascimento de bezerros fracos e inviáveis, entre outros. 

Após o quarto mês de gestação, pode ocorrer morte fetal, porém a expulsão fetal acontece em alguns dias ou meses após a infecção. Após o quarto mês é observado o nascimento de bezerros fracos, com raros episódios de morte. Frequentemente, abortos em qualquer fase de gestação podem ser atribuídos ao vírus.

O diagnóstico da diarreia viral bovina pode ser realizado na necropsia, por meio de técnicas laboratoriais e genéticas.

A utilização de vacinas inativadas, seguindo as orientações do fabricante, pode contribuir para o controle conjunto com outros agentes infecciosos, como a parainfluenza. A vacinação deve ser realizada em animais de 8 a 12 meses e estrategicamente, um mês antes da estação reprodutiva.

Distintas doenças são descritas com importância significativa em rebanhos brasileiros, com destaque para brucelose, campilobacteriose, tricomonose ou tricomoníase, neosporose, micoplasmose, ureaplasmose, histofilose e tripanossomose ou tripanossomíase, entre outras com menores índices de infestação. Outro desafio para a sanidade dos bovinos, apesar de não se constituir propriamente uma infecção, são as micotoxinas, produzidas a partir de metabólicos de fungos, que contribuem para a mortalidade embrionária de bovinos.

Doenças que afetam a reprodução bovina atingem de forma negativa a produção, levando pequenos produtores a procurar alternativas para o manejo dos animais.

*A autora é médica veterinária e doutora em Ciência Animal

   

CONTROLE SANITÁRIO SUPERA PROBLEMAS REPRODUTIVOS

Oprodutor e zootecnista Elder Tonon, mestrando na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, destaca a importância do manejo sanitário bovinos de leite.  Em sua propriedade leiteira, em São João da Boa Vista-SP, a atividade vem crescendo com o aumento do rebanho, não somente em número, mas também em produtividade por animal. A média é de 21 litros/animal/dia em sistema semi-intensivo, e recria de bezerras e novilhas em sistema extensivo. Seu rebanho é formado por animais Girolandos, em sua maioria registrados na Associação Brasileira dos Criadores de Girolando. 

Ele explica que os avanços na produção e, principalmente, na reprodução dos animais, são resultado de uma interação entre nutrição balanceada e de qualidade com a melhoria genética do rebanho, com a utilização de inseminação artificial e transferência de embriões. “É fundamental seguir um rigoroso manejo sanitário, com o calendário de vacinação dos animais em dia, além de exames anuais de leptospirose, brucelose e tuberculose e IBR e BDV”, enfatiza.

Problemas na reprodução – Segundo Tonon, anteriormente, a propriedade enfrentou problemas na reprodução do rebanho, com taxa de prenhez menor que 50%. A taxa de nascimento permanecia abaixo da média esperada para vacas leiteiras. “Diante desse panorama, e como buscava melhorias, alterei o manejo nutricional, conseguindo resultados, porém não solucionando o problema”, relata, acrescentando que, então, a segunda alternativa foi avaliar o manejo sanitário dos animais, com análises sistemáticas voltadas a doenças reprodutivas como brucelose, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), diarreia viral bovina (BVD) e leptospirose. 

 

Para o médico veterinário e produtor Elder Tonon, é fundamental manter a vacinação em dia para evitar uma série de problemas  reprodutivos no rebanho

Após consultoria e informações a respeito da importância e regularização da vacinação e dos métodos de controle das enfermidades, conseguiu elevar para 85% a taxa de prenhez na fazenda e reduzir a de perdas embrionárias abaixo de 5%. Vale lembrar ainda “que todo animal adquirido de outras propriedades primeiramente é submetido a exames, que identificam doenças, principalmente brucelose, tuberculose e leptospirose”.

Para Elder Tonon, o sucesso reprodutivo da propriedade é garantido por um conjunto de ações, com métodos nutricionais, reprodutivos, sanitários, além da especialização de mão de obra, relacionada às técnicas de inseminação artificial e de inseminação artificial em tempo fixo (IATF).

 “A conscientização da importância em vacinar o rebanho é o principal ponto que precisa ser trabalhado no Brasil. Sobretudo nas pequenas e médias propriedades, que não possuem um manejo adequado das doenças reprodutivas, com as consequentes perdas na produtividade e na lucratividade da criação”, afirma.

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?