balde branco

"Firmei o compromisso de que a atividade leiteira se desenvolva com independência, atendendo às normas de controle sanitário, investindo em tecnologia, melhoramento genético dos rebanhos e na profissionalização de propriedades, gerando emprego e renda com sustentabilidade a sua aposentadoria no futuro"

ENTREVISTA

Aline Sleutjes

É preciso conhecer a realidade dos produtores para encontrar soluções para os

DESAFIOS DO SETOR

Nascida em Castro, na região dos Campos Gerais, Paraná, Aline Sleutjes, filha de produtor rural holandês, esteve sempre envolvida na vida do campo, já que seus familiares, desde sempre, estiveram ligados à atividade agropecuária, sobretudo no leite. Com graduação em Educação Física e pós-graduação em Gestão Escolar, é professora e empresária. Também já exerceu funções públicas e dois mandatos de vereadora em Castro. Em 2018, foi eleita deputada federal. Em seu mandato, tem se empenhado em defender os assuntos de interesse dos produtores, de todos os que se dedicam à atividade leiteira e à produção de alimentos em geral.


João Antônio dos Santos

Balde Branco – O que Castro lhe ensinou sobre o setor de leite?

Aline Sleutjes – Castro é a capital nacional do leite, que se destaca na produção e qualidade deste produto, com mais de 416 milhões de litros por ano, segundo relatório anual 2020 da Castrolanda, com produtividade média anual de 9 mil litros por vaca. Em Castro se encontra o Centro de Treinamento Pecuarista – CTP, que treina milhares de brasileiros há 55 anos. Sou filha de produtor de leite vindo da Holanda e sempre estivemos ligados à cooperativa. Primeiro à Batavo e hoje à cooperativa Castrolanda, que fica na cidade de Castro, onde temos recordes de produção. Em Castro aprendi a valorizar essa cadeia tão importante, que trabalha arduamente, de domingo a domingo, 365 dias por ano, com muito amor, vontade e dedicação para continuar. O leite é produzido em 99% dos municípios brasileiros, tendo, assim, enorme importância econômica e social em praticamente todas as cidades, além de exercer papel fundamental para manter o trabalhador no campo, evitando o êxodo rural e o desemprego.

BB – E essa vivência tem lhe ajudado em suas ações e batalhas em prol da cadeia do leite?

AS – Sem dúvida. No ano passado, consciente de que outros Estados não tinham as condições que o Paraná tem para a cadeia leiteira, resolvi tomar algumas medidas e criei o Fórum Nacional de Incentivo à Cadeia Leiteira. Durante seis audiências, ouvi pequenos, médios e grandes produtores, membros das cooperativas e indústria, técnicos do setor e, por fim, realizamos uma audiência com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, o que possibilitou a construção de um plano de apoio ao setor leiteiro, com 19 itens que estão sendo trabalhados na Câmara Setorial do Leite e nas ações do governo federal, em especial na Agricultura. Reestabeleci também a Subcomissão do Leite, que tem como presidente o deputado Alceu Moreira e, como relator, o deputado Domingos Sávio. Ali se discutem pautas e projetos do leite, além de iniciativas para o setor. Criei a Caravana do Leite, com o objetivo de conhecer a realidade dos Estados, trazendo as boas vivências, os exemplos, o que está dando certo nas propriedades desses Estados em relação à qualificação do leite, à precificação, à redução de custo e ao aprimoramento genético, e que gerará um projeto sobre políticas na cadeia leiteira. Sou vice-presidente da Frente Parlamentar do Leite, faço parte da diretoria da Frente Parlamentar da Agropecuária, onde levo sempre as pautas do setor para serem discutidas. Além disso, tenho reuniões com o Ministério da Agricultura, a Conab e a Embrapa para discutir o tema, procuro levar, por meio de palestras e fóruns, esses conhecimentos para os produtores dos quatro cantos do País.

BB – Em sua visão, quais os principais gargalos que prejudicam a classe produtora, sobretudo os pequenos e médios produtores?

AS – Tenho observado em todas as visitas e reuniões com o setor que um dos principais problemas é o custo de produção, que aumentou devido à pandemia. A alimentação dos animais está muito cara. Por essa razão, os produtores precisam se reinventar, criando outros tipos de complementação na alimentação do gado, que não afete tanto no custo do leite. Outra situação é a previsibilidade, pois é o único setor que trabalha 30 dias para depois receber, sem saber quanto vai ganhar. Essa pauta tem sido imensamente discutida entre os produtores, laticínios, instituições, Conseleites, tentando encontrar soluções.

BB – Além dessas questões de mercado, digamos, o que você vê como “gargalo” na atividade dentro da porteira?

AS – Observamos que o acompanhamento técnico não existe em muitas propriedades. A falta de gestão prejudica os produtores, pois não sabem qual o custo e o lucro da propriedade, chegando a situações em que o valor do custo é maior do que o valor de venda. É necessária a qualificação dos produtores, para que eles sejam empresários do leite, superando os desafios e melhorando a renda e a qualidade de vida. Outro fator que merece muita atenção é a necessidade de melhoramento genético, pois, quando se tem um gado ruim, a produção é muito baixa, fazendo com que não se tenha lucro, afinal, o leite se torna rentável devido à sua quantidade.

BB – O que vê como estratégias para os produtores superarem tais problemas?

AS – Muitas propriedades têm a chance de verticalizar a produção, produzindo queijos, requeijão, doce de leite, entre outros, que possibilitam maior rentabilidade. Mas, para que isso aconteça, as cooperativas e o Senar precisam dar mais apoio. Em alguns Estados, o gargalo é a água, principalmente no Nordeste. Antes de produzir leite, o gado necessita pastar, se alimentar, e tudo isso depende da água. Sem água, sem leite. Em outros Estados, o cooperativismo ainda é desestruturado ou inexistente, sendo importante um trabalho forte, pois as cooperativas proporcionam um atendimento qualificado, reduzem o custo de produção com a compra de muitos produtos coletivos, oferece assistência técnica e auxilia em questões genéticas. Por isso, vemos o cooperativismo como uma grande ajuda para os pequenos e médios produtores. Outro problema é o endividamento. Vemos muitos produtores com pendências, pois parte deles perdeu tudo na seca, chegando a vender suas próprias vacas para pagar as dívidas. Temos que fazer um trabalho forte com o Ministério da Economia e com o Banco Central para encontrar soluções de redução de juros, aumento de prazo ou até mesmo uma linha de refinanciamento especial.

BB – O que você destacaria em relação aos trabalhos da Comissão que preside, sobretudo em relação ao segmento leiteiro?

AS – Como presidente da Comissão de Agricultura, reinstalei a Subcomissão do Leite e firmei o compromisso de que a atividade leiteira se desenvolva com independência, atendendo às normas de controle sanitário, investindo em tecnologia, melhoramento genético dos rebanhos e na profissionalização de propriedades, gerando emprego e renda com sustentabilidade. A comissão ficou parada em 2020 por causa da pandemia e, com isso, vários projetos se acumularam, mas hoje já votamos 172 deles e ainda temos mais 125 projetos a serem apreciados. Na comissão podemos discutir vários temas do setor, aprovar legislações que desburocratizam e agilizam os processos, facilitando as coisas para o setor produtivo. Realizamos 88 audiências públicas sobre os principais temas: bioinsumos, atuação do sistema nacional de fomento ao agronegócio, falta de defensivos agrícolas para a próxima safra, impactos das geadas na agricultura e pecuária leiteira e agricultura familiar e produção orgânica de alimentos. Criei a Caravana do Leite, que faz parte da Comissão de Agricultura e da Subcomissão do Leite, conseguimos uma vaga na Câmara Setorial do Leite, em que um deputado participa ativamente do processo e pode observar as ações do governo para esse setor, levando sugestões e verificando as pautas que podem ser agilizadas na Câmara dos Deputados. Votamos também, para o setor leiteiro, os projetos PDL 597/2019 e 598/2019 – que susta a IN 77, que define critérios para a produção, acondicionamento, conservação, transporte, seleção e recepção do leite cru. Justificam o projeto as cooperativas de laticínios que não conseguiram se adaptar às regras fixadas pelo governo; PL 6.388/2019 – que concede desconto de 30% nas tarifas de energia elétrica relativas ao consumo para produção, armazenagem e beneficiamento de leite in natura por produtores rurais e cooperativas; PL 5925/2019 – que reduz a zero as alíquotas da contribuição para o Pis/Pasep e da Cofins incidentes sobre rações e suplementos para alimentação bovina, entre vários outros que beneficiam o produtor de leite.

BB – E quanto à precificação da matéria-prima? Já tem alguma proposta? Em sua visão, qual deve ser o caminho para alcançar essa meta?

AS – Alguns gostariam que o preço do leite ao produtor fosse tabelado pelo governo. Mas a experiência brasileira de tabelamento por 45 anos mostrou que houve transferência de renda do produtor para o consumidor. O tabelamento não resolveu o problema, portanto, não é solução. O preço tabelado sempre subiu menos que a inflação e desestimulou a modernização do setor. Para problemas complexos, não há soluções simples. Temos de combater a volatilidade dos preços. Para isso, precisamos crescer e nos tornarmos exportadores. Fiquei feliz com as exportações da CCGL recentemente e comemorei o coroamento do esforço feito pelos produtores, com o apoio da Apex e da ministra Tereza Cristina e equipe. Isso trará renda e aprendizado. E podemos criar condições para colocar o excedente no mundo, sempre que ocorrer. Também acredito que os conflitos entre produtor e indústria tenderão a se reduzir, tornando o setor mais previsível, o que é ótimo para estimular seu crescimento. Também visualizo que a contratualização tem ajudado a manter os preços, dando estabilidade ao setor.

É preciso um trabalho forte quanto ao cooperativismo junto aos produtores, pois a cooperativa proporciona um atendimento qualificado, reduz o custo da compra de muitos produtos coletivos, oferece assistência técnica e auxilia em questões genéticas”

BB – E quanto ao Plano de Incentivo à Cadeia do Leite? Explique, resumidamente, o que é e como funcionará.

AS – O papel da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural é identificar problemas e propor medidas para os órgãos do Executivo, para todos os assuntos que digam respeito ao agro. Sim, estamos dando uma atenção especial ao setor leiteiro e há motivos de sobra para isso. Essa cadeia produtiva é a mais importante para a interiorização da geração de emprego, renda e manutenção do povo no campo. A produção de leite não apenas está presente em praticamente todo o território brasileiro, como é uma das três principais atividades econômicas, dentre todas, em mais de 80% dos municípios brasileiros, principalmente os menores. Além disso, vai gerar este ano mais de R$ 120 bilhões de renda, da fazenda até no portão do laticínio, com milhões de pessoas se beneficiando. Já o Programa Nacional de Apoio à Pecuária Leiteira tem o seguinte objetivo: fomentar a pecuária leiteira no Brasil, visando garantir autossuficiência sustentável na produção de leite e derivados. E ao mesmo tempo assegurar aos produtores de leite uma remuneração justa e segura de seu trabalho, por meio de uma política pública com planejamento e ações concretas que estimulem a produção leiteira de qualidade, garantindo também ao consumidor brasileiro o acesso a produtos lácteos nacionais de excelente qualidade a preços justos. Em resumo, as diretrizes e condições básicas para elaboração e implantação desse Programa são: I – Preço justo; II – Previsibilidade; III – Incentivo para a criação em todos os Estados de associações civis (Conseleite); IV – Ampliar a atuação de uma área dentro do Ministério da Agricultura; V – Saúde animal; VI – Contratualização; VII – Programas sociais; VIII – Estímulo ao consumo; IX – Debater a respeito da utilização indevida da palavra leite; X – Carga tributária; XI – Combate à concorrência predatória; XII – Incentivo à exportação; XIII – Melhoria da qualidade; XIV – Estoque regulador; XV – Extensão; XVI – Crédito; XVII – Infraestrutura; XVIII – Eletrificação; XIX – Atualização do Guia Alimentar para a População Brasileira. Para tanto, vamos buscar estabelecer acordos e parcerias com entidades públicas e privadas; considerar as reivindicações e sugestões do setor leiteiro e dos consumidores; apoiar o comércio interno e externo da cadeia leiteira, além de possibilitar a previsibilidade do preço; estimular investimentos produtivos direcionados ao atendimento das demandas do mercado; fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de variedades superiores do leite e derivados, e, principalmente, incentivar e apoiar a organização dos produtores de leite e derivados.

BB – Sintetize o que é quais são os objetivos da Caravana do Leite. Que resultados práticos você pretende extrair dessa experiência em prol do setor leiteiro?

AS – A Caravana do Leite é uma iniciativa pioneira da comissão e da sua Subcomissão do Leite, com o propósito de conhecer, junto com os atores de cada local, os gargalos e os desafios de quem produz. Mas, também, as experiências bem-sucedidas, que podem ser disseminadas para outras regiões do Brasil. Tudo isso vai subsidiar a proposição de políticas públicas que vamos fazer para o setor leiteiro. Tenho como lema de vida sempre se colocar no lugar do outro, indo até o local para conhecer a realidade, conversar com as pessoas, sejam os produtores, os técnicos, os pesquisadores, os dirigentes das cooperativas, sejam os líderes das instituições, para que possamos encontrar soluções realistas para os desafios do setor. Temos desafios de infraestrutura, como água, energia, conectividade e estradas vicinais. Temos o desafio da sucessão familiar e o de viabilizar acesso a novas tecnologias, genética e assistência técnica que estão surgindo. Mas temos soluções criativas, baratas e eficientes surgindo e que precisam ser incorporadas pelas ações de governo e instituições.

BB – Que lições foram tiradas de cada local visitado? Destaque as principais.

AS – Começamos em Minas Gerais, pela Embrapa Gado de Leite. Lá, vimos soluções prontas, em termos de melhoramento genético animal e de forrageiras, saúde animal, reprodução e gestão da propriedade. E também voltadas para as startups. No Rio Grande do Sul, vimos a experiência do compartilhamento, os condomínios, onde produtores dividem as etapas da produção. Vimos o uso de robôs e também a experiência das cooperativas em levar tecnologia às propriedades, visando reduzir custos e melhorar a qualidade do leite. Em São Paulo, conhecemos os resultados do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, a produção de leite orgânico, o leite carbono neutro e os queijos artesanais de alto valor agregado. No Paraná, conhecemos produtores jovens, que decidiram entrar no leite e são altamente eficientes, além de produtores de queijo artesanal, gado de genética apurada, alto rendimento, o Centro de Treinamento para Pecuaristas (CTP) e vários modelos de ordenha. Já no Rio Grande do Norte, fomos conhecer a realidade de quem vive no semiárido. Ficou evidente que precisam de uma política diferenciada. Mas também vimos que o uso de tecnologia torna rentável produzir leite naquele bioma. Com desafios maiores pela falta de água e alta temperatura, mas com dedicação, apoio técnico e tecnologia é possível.

BB – O que fazer para reduzir a saída de produtores do setor?

AS – Existem produtores que estão saindo por vontade própria e outros por falta de sucessor, uma vez que os filhos decidiram se dedicar a outras atividades. Isso acontece em todos os setores e, nesses casos, não há o que fazer. Mas existem os produtores que querem e precisam continuar e não estão conseguindo, por problemas de rentabilidade. Para estes, é preciso criar estímulos para que aumentem a produtividade rapidamente, melhorando a gestão do produtor sobre a propriedade. Não há outro caminho. Para isso, é fundamental levar conhecimento por meio de assistência técnica presencial e treinamento à distância. Esse esforço tem de ser integrado, com a participação de cooperativas, laticínios, órgãos de assistência técnica pública e privada, bem como criando oportunidade para os jovens, como conectividade e acesso aos estudos, às universidades, lazer, para facilitar a vida e incentivar a continuidade do jovem no campo.

BB – Como você vê o consumo de produtos de origem vegetal que imitam leite e derivados?

AS – Essa tendência vem crescendo na Europa e nos Estados Unidos. A maioria são consumidores jovens que acreditam que a produção de leite cria problemas ambientais e sacrifica os animais. Outros, por acreditar que são produtos mais saudáveis. Precisamos agir no sentido de mostrar ao consumidor os cuidados que os produtores têm com os animais e mostrar que o impacto ambiental ao se produzir leite nos trópicos é menor do que as estatísticas divulgadas e geradas nos países de clima temperado. Também é preciso mostrar que esses produtos que imitam o leite são ultraprocessados e usam sabores artificiais. Produtos artificiais, portanto, não são saudáveis como o leite e não podem ser vistos como seus substitutos. Temos visto verdadeiros absurdos, produtos que se dizem “tipo manteiga”, mas são feitos à base de palma. Produtos à base de soja, que são apresentados como requeijão. Se não bastasse, requeijão com sabor provolone, gorgonzola e cheddar. Isso é um absurdo! Por isso, temos nos esforçado para aprovar o projeto de lei da ministra Tereza Cristina, apresentado ainda quando ela era deputada federal, que corrige tais aberrações, ao proibir o uso da palavra “leite” na embalagem desses produtos que são tudo, menos leite.

BB – Como a pressão por bem-estar animal tem afetado o setor?

AS – O mundo mudou e o consumidor exigente é a referência. Quem compra um produto quer saber quem produziu, como foi produzido, se é saudável, que impacto produziu no meio ambiente. No caso dos produtos lácteos não é diferente. É evidente que o stress, de qualquer origem, reduz a produção de leite. Manter temperaturas agradáveis no ambiente de produção, oferecer alimentação de qualidade, adotar aplicativos gerados pelas startups, que permitem gerenciar o comportamento animal, tudo isso está em consonância com a produção de leite saudável, além de aumentar a produtividade. Então, a pressão por bem-estar animal tem agido como estímulo à modernização. O problema é que tudo isso requer investimento inicial, o que tem sido uma barreira para alguns produtores evoluírem. Os produtores têm se dedicado todos os dias para melhorar a qualidade de vida dos animais e, com isso, maior produtividade, qualidade e satisfação do consumidor.

BB – Você acredita que a tecnologia vai aumentar o fosso entre pequenos e grandes produtores?

AS – Existe uma pressão antiga sobre os produtores para que haja um aumento contínuo de produção. Além disso, existem novas exigências do consumidor relacionadas à qualidade do leite. Uma tecnologia só deve ser adotada pelo produtor quando reduz custos de produção e melhora a qualidade do produto. Pelas minhas caminhadas, tenho visto grandes e pequenos produtores com muita tecnologia e também grandes e pequenos com pouca. Então, a tecnologia não é exclusividade dos grandes produtores. Tenho visto produtores pequenos crescendo a produção por adotarem melhoramento genético, melhoramento nutricional com o uso do capiaçu na alimentação dos animais, aplicativos de gestão e solução de startups. Creio que o fosso está aumentando entre aqueles que estão focados no leite como negócio e os que não estão. Mas, reconheço, existem produtores pequenos que não possuem recursos para investir em tecnologias e precisam de políticas públicas que os apoiem, pois podemos ter um grande produtor em uma pequena propriedade.

BB – Como levar os produtores a aderir ao leite carbono neutro?

AS – O laticínio tem um papel fundamental, pois compete a ele estabelecer políticas de estímulo à adoção de práticas que levem à produção de leite carbono neutro. Já ao Estado compete criar condições favoráveis, gerando novas tecnologias, treinando técnicos e produtores, esclarecendo as empresas e criando marcos regulatórios, como regras de certificação de produtos, que permitam ao consumidor ter a segurança que está consumindo um produto que tem os impactos ao meio ambiente mitigados. Sabemos que hoje não temos no mundo um pacote tecnológico que viabilize a produção de leite carbono neutro. Mas isso é questão de tempo. Estamos criando tecnologia genuína, brasileira. Também teremos a entrada de recursos nas propriedades de leite, por meio do mercado de crédito de carbono, legislação que está tramitando na Câmara e que foi foco na COP-26. Os principais países do mundo não têm muitas opções para neutralizar a emissão de gases do efeito estufa e, ao mesmo tempo, continuar com PIB elevado. Mas os produtores brasileiros podem, sim, conciliar esses dois interesses, aumentando a produtividade do rebanho, fazendo agricultura regenerativa, produzindo energia limpa em suas propriedades. O produtor brasileiro provará ao mundo que nunca foi o vilão, tão propagado em muitos meios de comunicação interno e externo, mas são os heróis no combate à emissão de gases do efeito estufa e na segurança alimentar do mundo.

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