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COLUNA DO CEPEA

Natália Grigol

Pesquisadora do Cepea

 A elevação dos preços em janeiro é algo atípico pois, historicamente, o começo do ano é marcado por baixas nas cotações, tendo em vista o aumento sazonal da produção. Contudo, neste início de 2023, verifica-se justamente o oposto: limitação da produção, em consequência do clima adverso, resultado do fenômeno La Niña.”

Em movimento atípico, preço do leite captado em janeiro sobe 5%

O preço do leite captado em janeiro subiu 5% na “Média Brasil” líquida do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, chegando a R$ 2,6619/litro, sendo 17,6% maior que o registrado em janeiro do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de janeiro/22). Trata-se, também, da maior média real para um mês de janeiro, considerando-se a série histórica do Cepea, iniciada em 2004.

A elevação dos preços em janeiro é algo atípico pois, historicamente, o começo do ano é marcado por baixas nas cotações, tendo em vista o aumento sazonal da produção. Contudo, neste início de 2023, verifica-se justamente o oposto: limitação da produção, em consequência do clima adverso, resultado do fenômeno La Niña.

O Índice de Captação Leiteira do Cepea (Icap-L) recuou 2,1% de dezembro para janeiro na “Média Brasil”. Nos Estados do Sul, houve retração média de -0,2%, o que, por sua vez, esteve atrelado à estiagem na região. Nos Estados do Sudeste e Centro-Oeste, houve queda de 2,3%, já que o excesso de chuvas prejudicou a produção.

Além da questão climática, é importante destacar que os preços firmes dos insumos, sobretudo ração, têm limitado as margens de produtores leiteiros, dificultando investimentos na atividade. Pesquisas do Cepea mostram que o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira subiu 0,68% em janeiro.

Com a produção limitada no campo, a média mensal do leite spot em Minas Gerais vem subindo desde a segunda quinzena de dezembro, com alta de 22,4% em janeiro, quando chegou a R$ 2,81/litro, segundo pesquisa do Cepea. A valorização da matéria-prima resultou em aumento dos preços dos lácteos em janeiro. No atacado paulista, o preço médio do UHT subiu 4,2%, o da muçarela, 3,3% e o do leite em pó, 1%, em termos reais.

Também é importante observar que a oferta interna limitada e o aumento dos preços ao longo de toda a cadeia estimularam o crescimento de 2,8% nas importações de dezembro para janeiro. Segundo dados da Secex, as compras externas somaram 156,9 milhões de litros em equivalente leite em janeiro, volume 2,3 maior que o internalizado em igual mês do ano passado. As exportações, por outro lado, caíram 30,1% janeiro, totalizando 5,7 mil litros em equivalente leite.

PERSPECTIVA – Segundo colaboradores do Cepea, a oferta no campo continuou limitada em fevereiro. Em Minas Gerais, o leite spot registrou média mensal de R$ 3,05/litro, alta de 8,3% em relação a janeiro. Porém, é importante observar que a valorização do spot se deu na primeira quinzena do mês – na segunda quinzena, a média recuou para R$ 2,96/litro, pressionada pela demanda enfraquecida por lácteos na ponta final da cadeia, que limitou as negociações das indústrias com os canais de distribuição, diminuindo, por sua vez, o apetite das indústrias pela compra do spot. Agentes de mercado consultados pelo Cepea relataram aumento dos estoques depois do dia 20 de fevereiro e sinalizaram preocupações sobre a fragilidade do consumo em lácteos. Outro ponto que pode frear a intensidade da valorização a campo é o aumento das importações, já que os preços internacionais dos lácteos seguem tendência de queda.

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