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TECNOLOGIA

Energia solar

faz bem ao bolso e ao meio ambiente

Oportunidades de negócio são vantajosas, desde a aquisição com capital próprio até modelo similar ao leasing, sempre trazendo redução dos custos na fazenda

Luiz H. Pitombo

O setor rural detém cerca de 13% de toda a energia solar fotovoltaica instalada no País, ficando atrás apenas dos setores residencial urbano, comercial e de serviços. O professor e pesquisador Adriano Moehlecke, um dos coordenadores do Núcleo de Tecnologia em Energia Solar da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), estudioso no assunto desde a década de 1980, justifica que o crescimento tem sido maior nas áreas urbanas, pelo valor mais elevado da energia elétrica, mas que no campo seu uso também aumenta e tende a crescer cada vez mais.

Neste sentido, para levar o sistema fotovoltaico para propriedades rurais foi criado, na PUC-RS, o projeto Agrosolar, reunindo a Itaipu Binacional, três cooperativas do oeste do Paraná (Copacol, C. Vale e Lar), além da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-PR). Por meio dele foram produzidos estudos e serão publicados manuais dirigidos aos produtores de leite, aves e suínos. São sistemas de microgeração para autoconsumo das propriedades.

O projeto de leite foi instalado em propriedade situada no município de Medianeira, na Cooperativa Lar, com investimento de R$ 100 mil. A estimativa é de que em oito ou nove anos ele será pago, com a usina permanecendo na propriedade por um total de 25 a 30 anos.

Adriano Moehlecke: “Com a automação do processo de produção de leite, a tendência é de que cada vez mais essas propriedades adotem a geração de energia solar fotovoltaica”

A tendência é de que cada vez mais as propriedades leiteiras e as demais automatizem seus processos, fazendo com que se aumente a demanda pela energia elétrica e abrindo mais espaço para a geração da solar fotovoltaica, afirma o pesquisador. Ele demonstra até alguma preocupação no futuro, se ocorrer um crescimento desordenado.

Moehlecke avalia que as propriedades leiteiras não possuem nenhuma diferença quanto às demais em termos de necessidades para instalação dos sistemas fotovoltaicos, mas aponta que são bem interessantes os telhados dos galpões para se instalarem os painéis solares, lembrando a orientação leste/oeste em seu comprimento como a mais recomendável, para maior captação da luz.

Contudo, alerta que a estrutura do telhado necessita ser reforçada para suportar a carga. Outro aspecto que chama a atenção é o necessário aterramento e um sistema de proteção contra descargas elétricas, além da adequada distribuição dos tipos de equipamentos pela rede interna da propriedade. O pesquisador informa que existem linhas de financiamento com incentivos para a área rural quanto ao uso da energia solar fotovoltaica, citando o Inovagro e o Pronaf Eco, ambas linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Tem trazido preocupação ao setor uma possível revisão da legislação (Regulamentação 482/2012), que afetaria novos projetos e que pode ser apresentada neste primeiro semestre na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Por meio dela, a energia não utilizada e colocada na rede para distribuição e uso de terceiros poderia sofrer um deságio de 40%. “Não que isso vá inviabilizar a energia solar fotovoltaica, mas deixaria de ser tão interessante nesse aspecto”, diz Moehlecke. Contudo, salienta que existe um projeto de lei na Câmara dos Deputados, mantendo tudo como está até 2030.

Pré-requisitos – “Para uma fazenda leiteira ter seu sistema de energia solar fotovoltaica, o principal é ter um nível de consumo que justifique sua instalação”, aponta o engenheiro civil Marcus Vinícius Silveira da Silva, especialista em energia solar, diretor executivo da Probanc, consultoria especializada que tem voltado sua atuação para propriedades leiteiras com compost barn.

Ele sugere um consumo perto de 5 mil kW hora/mês como um parâmetro a ser indicado para que sistema solares fotovoltaicos sejam instalados. “Abaixo disso também pode, mas, pelo porte do produtor e seu consumo, não justificaria o investimento, pois ele já conta com a energia convencional e poderá aplicar seus recursos em outras áreas”, explica Silva.

A questão da luminosidade em si disponível em função da localização da propriedade no País não representa limitação, podendo ser instalada em qualquer região. Quanto aos equipamentos, Silva diz que a maioria é importada e que ano após ano a tecnologia tem evoluído de maneira muito rápida. “Os módulos ganham mais eficiência, ou seja, produzem mais energia elétrica numa área menor”, explica. Os preços em dólar têm se reduzido, mas lamenta que isso não apareça em função da desvalorização cambial do real.

Os módulos podem ser instalados nos telhados de galpões, no solo ou em sistemas flutuantes, estes de 20% a 25% de valor mais elevado devido aos flutuadores. Contudo, apresentam algumas vantagens, por gerarem 10% a mais de energia, uma vez que estão perto da água e ficam a uma temperatura mais baixa, o que melhora a sua eficiência. Também não ocupam espaço de solo e são fáceis de limpar, já que a água está perto e disponível.

Marcus Vinícius da Silva: “Para uma fazenda leiteira ter seu sistema de energia solar fotovoltaica, o principal é ter um nível de consumo que justifique sua instalação”

Foram aspectos como esses que levaram o produtor Jacques Gontijo a optar por este tipo de instalação em sua nova ampliação do sistema, sempre com a consultoria desde 2018. A Fazenda S. Pedro, em Bom Despacho (MG), conta hoje com cerca de 240 vacas em lactação em compost barn, produzindo entre 6,5 mil e 7 mil litros de leite/dia.

Para movimentar toda a fazenda (ordenha, ventiladores, tanque de resfriamento, aquecimento de água, etc.) ele já possui uma potência instalada de 242 kWp (quilowatt-pico) com a geração de 32 mil kW hora/mês, utilizando 707 módulos de 2 x 1 metro, o que já lhe traz uma economia de R$ 21.682,00/mês em energia elétrica. Com o novo sistema flutuante, previsto para entrar em operação em maio, será um adicional de 60 kWp de potência instalada, gerando mais 8 mil kWh/mês, com 152 módulos trazendo uma economia adicional R$ 5.416,00/mês. Este será utilizado para irrigação do milho e para a sede da fazenda.

Jacques Gontijo: "O uso da energia solar fotovoltaica é um dos melhores investimentos que podem ser feitos numa fazenda de leite atualmente"

“É um dos melhores investimentos que podem ser feitos numa fazenda de leite atualmente”, avalia Gontijo. Ele reconhece que uma propriedade moderna possui um consumo alto de energia elétrica, que onera os custos de produção, mas que com a energia solar fotovoltaica se zera esta conta, proporcionando um retorno rápido do investimento. Ele também classifica a tecnologia como “muito simples”, diz que não teve problemas de manutenção e se revela bem satisfeito.

Economia e energia limpa – O Sítio Bola Preta, em Elói Mendes (MG), começou a migrar para a energia solar fotovoltaica há dois anos. O local abriga um projeto social para crianças de 6 até 17 anos e, como atividade comercial, a produção de leite em free-stall. São 200 vacas Holandesas com produção perto de 7.200 litros de leite/dia.

Seu proprietário, Ricardo Xavier, conta que iniciou o projeto para obter uma redução em seus custos de produção, uma vez que são altos os gastos para se manter as vacas confinadas, mas conta que igualmente se interessou por ser uma fonte de energia limpa. “Estudei bem o sistema e fiz até um curso na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para ver como funcionaria antes de decidir”, aponta.

Com 494 módulos de 2 x 1 metros, tem uma potência instalada de 165 kWp com a gerarão de 29 mil kW hora/mês, que proporciona uma economia de R$ 14.032,00/mês. Utilizando recursos próprios de perto de R$ 500 mil, salienta que nenhum investimento financeiro lhe traria um retorno de cerca de 2,8% mês, estando aí outra vantagem. Ele calcula que em quatro anos terá de volta os recursos aplicados, ou seja, já está na metade.

Com seu sistema movimenta ventiladores, tanque de resfriamento, ordenhadeira, fábrica de ração, separador de sólidos e líquidos para reaproveitamento da água, sede do sítio e outros. A lavagem das placas para evitar o acúmulo de poeira somente se faz necessária no período da seca, pois nas águas a própria água da chuva faz o serviço.

Na propriedade, Xavier diz que seu projeto de energia solar fotovoltaica está completo, mas adianta que já encomendou um para ser instalado no hotel que possui na cidade.

Ana Eliza Vairo: “Em 2019, a Ultragaz criou o projeto Ecofarm, focado especificamente em energia solar fotovoltaica para propriedades leiteiras, com a meta de em cinco anos atingir perto de 700 fazendas”

Parecido com o leasing – “Como empresa de energia, a Ultragaz identificou entre os produtores de leite um gargalo de custos nesta área, depois dos insumos e da mão de obra, além da própria oportunidade deste mercado, que é bem grande”, conta a engenheira química Ana Eliza Vairo, gerente de Desenvolvimento de Soluções da empresa. Foi assim que se criou em 2019 o projeto Ecofarm, focado especificamente em energia solar fotovoltaica para propriedades leiteiras com a meta de em cinco anos atingir perto de 700 fazendas.

O projeto é similar ao de leasing de um equipamento, dispensando que o produtor tenha financiamento ou capital próprio. Ele realiza um contrato que gira em torno de dez anos, com as mensalidades calculadas em seu consumo de energia convencional dos últimos 12 meses. O valor dessas parcelas mensais já fica definido até o fim, dando grande previsibilidade de gastos ao produtor, “sendo que, finalizado o contrato, ele estará pagando cerca de 50% menos do que uma conta de energia convencional e o equipamento ficará de posse do produtor”, explica a engenheira.

Segundo as especificações dos fornecedores, a vida útil de um sistema de geração de energia elétrica por placas solares fotovoltaicas é de 25 anos, garantindo até 80% da potência original do sistema. As placas fotovoltaicas, o projeto e sua manutenção ficam, durante a vigência do contrato, por conta da empresa de energia e de suas parceiras homologadas.

Para o interessado em se habilitar, a engenheira diz que não se preocupam com o volume de leite da propriedade, mas sim com o consumo de energia elétrica. “São microprojetos de geração para autoconsumo, entre1.500 e 8.500 kWh/mês”, diz. Definidos por lei, estes significam uma potência instalada de até 75 kWp, sendo que acima disso indica que podem existir outros modelos mais interessantes de negócio ao produtor.

O Sítio Bela Vista, em Conchal (SP), se enquadra dentro dos padrões necessários e desde o fim do ano passado passou a participar do projeto. “Há tempos queria partir para a energia solar e até procurei financiamento em banco, mas a burocracia era grande”, afirma Juarez Everaldo Batista, o proprietário, com formação em eletrotécnica, que há cinco anos está no leite. Além de contar com uma redução do valor da conta ao longo do tempo e ficar com o equipamento posteriormente, pondera que também ajuda a natureza, pois é uma fonte de energia limpa.

Com uma rebanho de 50 vacas em lactação de diferentes raças, incluindo Jersey e Girolando, tem uma produção diária de mil litros de leite em regime semiconfinado. As 44 placas de 2 x 1 m instaladas no telhado de um galpão garantem energia para sua residência, ordenha, dois tanques de resfriamento para um total de 4.500 litros de leite, como também um sistema para esquentar água para lavar a ordenhadeira.

Com o sistema aprovado, Juarez Batista conta que pretende levá-lo para outra propriedade, onde faz a cria e a recria de seus animais, além da produção de alimentos para seu rebanho.

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