Provavelmente o produtor já se deparou com essas situações: vacas se coçando em objetos como cercas, escovas, cordas e paredes ou minimamente se entretendo com esses. Por mais que pareça corriqueira essa interação dos animais com esses artefatos é uma ótima oportunidade de investimento a baixo custo e que tem potencial de aumentar os índices produtivos do seu rebanho. Os benefícios do enriquecimento ambiental das instalações têm ganhado muita notoriedade ao longo dos anos, sendo esse enriquecimento definido como modificação no ambiente dos animais confinados, permitindo variadas formas comportamentais que levam melhor funcionamento biológico.
Nesse texto discutiremos pontos importantes relacionados com as variadas formas de enriquecimento ambiental tanto para vacas quanto para bezerras leiteiras, elucidando os seus benefícios e também formas de implementação.
Cada vez mais o sistema de produção intensivo vem ganhando espaço, entretanto, ele pode levar a desafios relacionados ao estresse, comportamentamento anormal e até mesmo a saúde dos animais. Essas alterações comportamentais ocasionadas pelo estresse podem ainda favorecer o aumento de estereotipias, definidas como um comportamento caracterizado por movimentos repetitivos e sem objetivo ou função aparente, ou seja, comportamentos anormais dentro do repertório da espécie.
Já existe uma preocupação por parte do mercado consumidor sobre a forma com que é feita a criação desses animais e se o sistema de fato se adequa às regras de bem estar, o que incentiva ainda mais a implantação de componentes ambientais para lhes favorecer o bem estar. Esse enriquecimento ambiental busca mitigar problemas relacionados ao estresse, pois oferece estímulos físicos, sociais e sensoriais que permitem aos animais a expressar comportamentos naturais.
As fontes de estresse mais comuns em vacas leiteiras são:
• Estresse térmico
• Alta densidade de animais por grupo
• Mudança de lote
• Manejo nutricional inadequado
• Ambiente com baixa sanidade
Esses fatores estressantes podem gerar consequências, como diminuir a qualidade e produção do leite, reduzir taxa de concepção e causar doenças abortivas devido à imunossupressão que o estresse provoca. As bezerras também são afetadas, pois passam por processos que contribuem para o estresse, como condições climáticas extremas, manejo inadequado com manuseio bruto ou agressivo, transporte, introdução em ambiente desconhecido, mudanças no grupo e desmama.
É importante lembrar que fazem parte das práticas de enriquecimento ambiental componentes básicos que os animais devem usufruir, como por exemplo ter espaço para se movimentar livremente, ter acesso a água e alimentação, ter camas adequadas que permintam o descanso, proteção contra intepéries climáticos e manejo de maneira adequada na rotina diária.
Os artifícios de enriquecimento ambiental podem ser caracterizados como:
• Físicos – deixar o ambiente o mais próximo do habitat natural, inserindo objetos.
• Sensoriais – promover o estímulo dos cinco sentidos dos animais.
• Congnitivos – oferta de dispositivos mecânicos como “quebra cabeças” para que os animais manipulem.
• Alimentares – promover variações na alimentação dos animais.
• Sociais – interação intraespecífica ou interespecífica que pode ser criada no ambiente confinado.
Entretanto entre os mais utilizados na bovinocultura leiteira, os de caráter físico-sensorial são os de maior destaque. O aspecto físico consiste em distribuir objetos interativos como escovas automáticas ou não, em que o animal coça o corpo gerando a sensação de relaxamento. Entretanto, existem outras opções mais artesanais como, por exemplo, tubos de PVC revestidos por corda de sisal que tem como característica sua apareza.
Outra opção são as bolas de vinil que promovem maior movimentação e recreação do rebanho, o que contribui favorecendo as interações sociais e maior produção de hormônios do bem estar, como a endorfina e ocitocina, que reduzem o estresse. As bolas podem estar soltas nos piquetes ou amarradas em estruturas que as deixam pendulares.
Um artifício que é muito convencional e bem eficiente em sistema de criação intensivos e que atua na redução do estresse térmico dos animais é o uso de aspersores, onde a água ao entrar em contato com o animal, umidece os pelos e a pele dos animais, contribuindo para o processo de resfriamento evaporativo, no qual a água evapora da superfície da pele absorvendo o calor do corpo, reduzindo assim a temperatura corporal, o que proporciona maior conforto térmico e bem-estar.
Além da estimulação tátil-visual temos o enriquecimento ambiental do tipo sensorial, o qual também tem ganhado espaço na bovinocultura leiteira. Essa consiste em colocar música na sala de ordenha, que apresenta um efeito relaxante para as vacas, por ser rítmica e contínua. Essa prática, além de favorecer relações positivas na interação humano-animal, em alguns casos pode contribuir também para o aumento da produção de leite.
O enriquecimento ambiental não melhora apenas a qualidade de vida dos animais, mas também tem efeitos positivos na produção de leite, saúde geral e também no desenvolvimento adequado das bezerras leiteiras. O investimento em bem estar animal permite bom retorno financeiro as fazendas de leite e por isso, é necessário implementar planos de ações que sejam assertivos e aplicáveis à realidade da propriedade para que os animais recebam e desfrutem do conforto e bem estar.
* Laryssa Mendonça é consultora técnica do Rehagro e Gabriela Luiza Soares Clarindo é estagiária do Rehagro
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