A trajetória da Estância K iniciou-se há sete anos, quando o empresário do ramo de medicamentos, Luiz Eduardo Branquinho, adquiriu a propriedade em Bela Vista de Goiás, a 19 km de Goiânia, e enxergou ali uma oportunidade para iniciar um projeto de alto valor genético para produção de leite, além de trazer para a pecuária uma visão empresarial e administrativa. Para isso, Branquinho investiu nas grandes famílias da raça Gir Leiteiro, alinhando produtividade e alto valor genético, sempre focado em ter uma boa produção de leite e um gado apropriado para disputar as exposições mais concorridas do Brasil.
“Com um estudo amplo de mercado e de genética, visitamos os grandes criatórios de Gir Leiteiro e conseguimos pinçar o que achávamos de melhor no momento, em cada propriedade. Investimos pesado nos leilões e fizemos grandes parcerias ao longo dos anos, alinhando sempre famílias de alta produtividade e boa morfologia”, explica o criador.
Em sete anos de projeto, segundo Branquinho, o ponto-chave do crescimento da Estância K foi a partir de 2019, quando investiu no touro da raça Gir Leiteiro (Iva FIV de Brasília) e em grandes doadoras presentes à Expozebu, uma delas, a famosa Sojinha FIV de Brasília, que, naquele ano, foi a doadora mais valorizada da feira.
“Nunca medimos esforços para investir em grandes doadoras Gir leiteiro. Aprendemos que a “vaca de cabeceira” se paga quando é bem trabalhada e, além de investir nos bovinos, investimos e demos condições de crescimento ao nosso corpo de colaboradores, buscando assessoria nas áreas técnica e financeira. Alinhamos nossos objetivos e estipulamos metas, sempre com os pés no chão para conseguir aquilo que planejamos”, destaca o produtor.
Atualmente a propriedade conta com um número grande de doadoras, representantes de grandes plantéis do Gir Leiteiro, somando mais de cem doadoras premiadas, de famílias distintas e conhecidas e reconhecidas na raça zebuína. Todos os animais são avaliados pelo Programa de Melhoramento Genético da ABCZ e genotipados.
“A Estância K trabalha também com a venda direta de leite e de material genético (sêmen e embriões) de animais Girolando e Gir Leiteiro melhoradores. Além disso, na agricultura iniciamos, em 2022, a primeira safra de soja, com plantio em 250 hectares, com um projeto de expansão que prevê 400 hectares plantados para 2023”, diz Branquinho.
A operacionalização – O rebanho atual da fazenda é de 1.100 cabeças, juntando animais Gir Leiteiro e Girolando e receptoras de corte. No Gir Leiteiro, são mais de 300 cabeças e, no Girolando, cerca de 700 cabeças, além de 300 cabeças de receptoras de corte. Atualmente, são 190 vacas em lactação, produzindo cerca de 6 mil litros de leite/dia.
Em 2022, para manter bem alimentado esse plantel de respeito foram produzidas cerca de 9 mil toneladas de silagem de milho, com média de produção de 57 toneladas/hectare. “Temos que entender que uma vaca de leite produz proporcionalmente ao que entra pela boca, logo devemos entregar uma dieta de qualidade e dar o conforto necessário para que esse animal entregue 100% do seu potencial. Outro ponto importante é ter um manejo diário alinhado, sem oscilação e sem alterações bruscas. Assim que o produtor rural entender e conseguir praticar isso, ele terá um sistema rentável”, avalia o proprietário da Estância K.
De acordo com Branquinho, a fazenda também adota boas práticas de sustentabilidade; dentre elas, painéis fotovoltaicos, possibilitando que 100% da energia da Estância K advenham dessa tecnologia. Outra medida importante é a instalação de uma lagoa para os dejetos produzidos pelo rebanho. A propriedade conta ainda com pastagens que são irrigadas e adubadas a partir dos resíduos dessa lagoa e toda a área de plantio tem cobertura de solo.
“Para nós, é muito prazeroso trabalhar no agro, pois, além de a Estância K ser uma empresa familiar, ali produzimos o principal alimento do mundo, aliado ao prazer de produzir e ter um negócio rentável. Diariamente, é uma evolução, uma relação a mais e novos desafios sendo vencidos”, explica Branquinho quando indagado sobre o que lhe faz acordar e seguir trabalhando pelo setor.
Sempre investindo – Uma propriedade que busca sempre evoluir no seu sistema produtivo obviamente procura investir em tecnologias que viabilizem que o produtor supere os desafios impostos pela atividade. Por isso, o diretor-executivo da Estância K, Frederico Machado, relata que há um ano a fazenda inaugurou o sistema compost barn. Antes de implementar o sistema, os animais ficavam em piquetes, com média diária de produção de 23/litros/animal, e havia uma grande incidência de mastite, demandando muitos tratamentos tanto no período seco, quanto nas águas.
“Antes do compost barn, enfrentamos desafios enormes com relação à saúde e reprodução do rebanho, mas atualmente a Estância K tem uma média de 35 litros de leite por animal e poucos casos de mastite, com 92% de taxa de cura e menos de 10% de reincidência. Sem contar que o sistema trouxe facilidade de manejo e otimizou o ambiente de trabalho dos operadores”, ressalta Machado.
De acordo com o diretor-executivo, os processos de ordenha na propriedade foram implantados por técnicos na área de qualidade de leite e são diariamente supervisionados pelos gestores da fazenda. As culturas microbiológicas e análises de leite são realizadas de forma semanal e mensal, de acordo com a demanda de parto ou de identificação de algum caso que possa comprometer a qualidade. “Atualmente operamos dentro dos melhores padrões de qualidade estipulados pelo laticínio, com CCS e CBT abaixo do mínimo e gordura e proteína acima das metas”, informa.
Já a recria da Estância K tem uma atenção especial. As bezerras recém-nascidas são desmamadas de suas receptoras logo no momento do parto, com prazo de colostragem de, no máximo, duas horas após o nascimento, com volume de colostro de 10% do seu peso ao nascimento, e uma segunda colostragem feita 8 horas após a primeira, com volume de 5% do peso ao nascimento.
“Essas bezerras descem para uma maternidade suspensa, onde aguardamos a cura do umbigo e a fortificação dos cascos e, após 15, 20 dias, elas vão para baias individuais. Atualmente as bezerras Girolando estão desmamando com 90 dias e peso acima de 110 kg; e as crias Gir Leiteiro, com 150 dias e peso de 120 kg”, diz Machado.
Fortalecer relacionamentos – A ampliação do protocolo sanitário na área de genética bovina entre Brasil e Colômbia é uma das propostas apresentadas aos governos dos dois países pela Associação Brasileira dos Criadores de Girolando (ABCG) e pela Federação Nacional de Departamentos (FND) colombiana, que reúne governadores dos 32 departamentos (estados) daquele país.
O assunto foi tratado durante reunião ocorrida, em julho, na capital colombiana, Bogotá, com a presença do gerente do projeto internacional Brazilian Girolando, Marcello Cembranelli, e do diretor-executivo da Federação, Didier Tavera. A Estância K foi representada pelo diretor-executivo Frederico Machado, que esteve junto com a comitiva da Girolando, que foi prestigiar a AgroExpo, em Bogotá.
“Hoje a procura de genética pelos países sul-americanos é muito grande e a Colômbia, sem dúvida, é um dos maiores interessados pela genética brasileira. Atualmente a Estância K tem grandes parceiros colombianos e, na oportunidade, fizemos muitos relacionamentos, que certamente trarão frutos e futuras parcerias. O que trouxemos de aprendizado de lá é sobre a importância da organização das equipes de trabalho e do profissionalismo no manejo e na apresentação dos animais”, conta Machado.
Segundo a associação, a Colômbia é o principal país importador da genética Girolando na América Latina. Como o Brasil é o berço da raça e referência em sua seleção, muitos criadores colombianos têm interesse em levar touros e matrizes de genética superior para acelerar o melhoramento genético do rebanho local. Apesar dessa forte demanda, o atual protocolo sanitário entre os dois países não permite a comercialização de animais vivos. “Além da inclusão de animais vivos, é urgente rever as exigências atuais para o comércio de sêmen e embriões, pois o excesso de burocracia tem tornado o processo muito complicado, desestimulando novos negócios”, explica Cembranelli.
A comitiva da FND deve visitar duas propriedades que são referência na seleção de Girolando, localizadas em Goiás; uma delas é a Estância K; e a outra, a ICH Agropastoril. O grupo também conhecerá sistemas de produção de cana-de-açúcar e de energia em outras regiões do Brasil.
Panorama da pecuária leiteira de GO – O Estado de Goiás produz atualmente 8,99% do volume nacional de leite; é a quarta maior participação entre os Estados, com 3,18 bilhões de litros de leite em 2020. Nesse ano, a mesorregião Sul Goiana produziu 45,24% do leite de Goiás, cerca de 1,44 bilhões de litros de leite. Por isso, é a maior mesorregião produtora do Estado, de acordo com o IBGE, com a produtividade média 8% superior à média do Estado e 16% inferior à média do país em 2020.
Entre os dez maiores municípios produtores de leite da mesorregião Sul Goiana, Orizona surge como o principal, mantendo-se como grande produtor na década de 2010 e alcançando o topo em 2020, enquanto Piracanjuba e Jataí, apesar da queda na produção, permanecem como principais produtores neste período. Vários municípios surgiram no último ano entre os grandes, como Silvânia, Pontalina e Vianópolis. Entretanto, Mineiros e Morrinhos apresentaram queda de 34% e 45%, respectivamente.
Já o município de Bela Vista de Goiás, onde fica a Estância K, está localizado na região metropolitana de Goiânia e não figura entre os principais “players” do Estado, embora tenha registrado números expressivos em 2021, com 25.460 vacas ordenhadas, que produziram 78.799 milhões de litros de leite (IBGE).
RAIO-X – ESTÂNCIA K
Rebanho total: 1.100 animais
Vacas em Lactação (Girolando): 150 vacas
Leite/dia (Girolando): 5.250 litros
Vacas em Lactação (Gir Leiteiro): 40 vacas
Leite/dia (Gir Leiteiro): 850 litros
Metas para os próximos 5 anos: 500 animais vendidos por ano + 10 mil litros de leite/dia.
Número de Colaboradores: 30
Empresas parceiras: Embriotec (Laboratório de FIV), Campo Nutrição Animal, MSD Saúde Animal, Alta Genetics, CRV Lagoa, Genex, Select Sires, ABS Pecplan, Berrante Comunicação, Agroreserva
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