Evolução da captação de leite inspecionado e sua sazonalidade

A análise dos dados mostra que os sistemas de produção mais confinados, que tendem a garantir maior regularidade na oferta de leite ao longo do ano, ainda não são determinantes em volume para mudar o formato da curva anual de oferta de leite no Brasil

Os dados recentemente divulgados pelo IBGE sobre a captação de leite pelos laticínios no último trimestre de 2022 permitem mostrar a evolução da produção leiteira no País nos últimos anos. A produção brasileira média acumulada em 12 meses saiu do patamar de 33 milhões de litros/dia no início de 2011 e cresceu continuamente até atingir 67,8 milhões de litros/dia em setembro de 2014. Foram mais de 13 anos de expansão contínua, apoiada no crescimento da economia no período e no aumento da renda da população, que permitiu esse avanço de produção que, em alguns momentos, ultrapassou 10% de crescimento em um período de 12 meses (Figuras 1 e 2).

A partir de 2014, as dificuldades econômicas do País, em um primeiro momento, somadas ao aumento dos custos de produção, mais adiante, levaram a uma desaceleração na produção de leite. O volume produzido caiu continuamente, passando de uma média diária de 67,8 milhões de litros no fim de 2014 para 63,3 milhões de litros/dia, em média, nos 12 meses finalizados em dezembro de 2016. A partir de 2016, com uma recuperação econômica, ainda que modesta, a produção de leite voltou a subir, atingindo o pico de 70,6 milhões de litros/dia em 2021, mesmo depois da crise gerada pela pandemia de covid-19.

A partir de então, a produção de leite registrou novas quedas, de maneira mais acelerada, fechando o ano de 2021 com média de apenas 68,8 milhões de litros/dia. O retrocesso prosseguiu em 2022, acumulando queda de 5,5% na comparação anual, a maior já registrada pelo IBGE neste século. O fato foi que o volume médio diário do ano foi de apenas 65 milhões de litros/dia. O Brasil chegou em dezembro de 2022 com média de captação diária de leite igual à observada em janeiro de 2014.

Os últimos meses de 2022 foram especialmente complicados: a captação média diária do mês de outubro de 2022, de 67,1 milhões de litros/dia, foi menor que a observada em outubro de 2013, há 9 anos, que registrou 69 milhões de litros/dia. Além do movimento de fuga de produtores da atividade, da redução de investimentos, houve também um efeito conjuntura de uma seca mais severa no Sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul.

Sazonalidade – Os dados do IBGE permitem também atualizar a curva sazonal de oferta e captação de leite pelos laticínios. Comparando os dados médios de 1998/2007 com aqueles de 2013/2022, observa-se que as curvas apresentam poucas diferenças entre si. O pico de menor oferta e captação continua acontecendo no mês de maio, com tendência de maior queda na curva atual, comparada à anterior (Figura 3).

No segundo semestre a curva atual mostra uma recuperação da oferta de leite mais rápida, provavelmente influenciada pela maior participação da produção do Sul do Brasil na oferta agregada brasileira. A produção se aproxima do máximo já no mês de setembro, situação apenas observada em outubro ou novembro na curva mais antiga.

O período de maior oferta de leite possui maior duração na curva atual, mas o volume do pico, em relação à média anual da oferta do leite, é mais suave. Pode-se dizer, desta maneira, que a oferta de leite tendeu a apresentar menor amplitude ao longo do ano, ainda que a sazonalidade esteja ainda presente e seja expressiva. Isso demonstra que os sistemas de produção mais confinados, que tendem a garantir maior regularidade na oferta de leite ao longo do ano, ainda não são determinantes em volume para mudar o formato da curva anual de oferta de leite no Brasil. Mostra também que o sistema à base de pasto com suplementação continua sendo representativo do padrão tecnológico adotado no País. O futuro da evolução dos sistemas de produção de leite mostrará se essa situação poderá ser invertida mais adiante.