balde branco

TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

"Independentemente do seu tamanho, os produtores profissionais precisam ser firmes quanto a investir em tecnologias e processos que promovam a sustentabilidade da produção tropical de leite"

Expectativas

O ano de 2022 começa, como em geral em todo princípio de ano, trazendo novas expectativas, apesar da continuidade de algumas mazelas do “ano velho”. Minha primeira expectativa é de que, com o advento das medidas de segurança, do isolamento social e certamente das vacinas, conseguiremos que a covid-19, de pandemia, se transforme em mais uma endemia, como são a gripe, a dengue e tantas outras. Assim, restaurantes e bares, hotéis, escolas e tantas outras atividades comerciais poderão, de fato, voltar às suas atividades rotineiras, favorecendo o mercado e o consumo de leite e lácteos.

Ainda há as paradoxais e recorrentes chuvas e estiagens simultâneas dos verões brasileiros, que demonstraram seu poder destrutivo, potencializado pelas mudanças climáticas, que se mostram irreversíveis. Com isso, minha expectativa é de que sofreremos todos, pois a alimentação deve encarecer tanto para a criação, quanto para os consumidores, aumentando a pobreza.

Uma outra expectativa que tenho e que, independentemente do seu tamanho, é que os produtores profissionais precisam ser firmes quanto a investir em tecnologias e processos que promovam a sustentabilidade da produção tropical de leite, a começar pela adoção de ferramentas para acompanhar o desempenho econômico da propriedade e de assistência técnica. Uma postura positiva, aberta para explorar soluções inovadoras, poderá abrir oportunidades para o aumento da renda.

Por outro lado, os desafios que as mudanças climáticas já impõem ao Brasil e ao mundo demonstram o valor e a importância estratégica de se preservar o ambiente dentro da propriedade. Esta atitude contribui para preservar Mata Atlântica, Cerrado, Pampas e Amazônia, biomas onde se produz a maior parte do leite brasileiro. Como resultado global, preservar mais me traz a expectativa de estarmos agregando valor ao agronegócio e ao mesmo tempo sendo inteligentes, porque estaremos conservando investimentos estruturais, como instalações, redes elétricas, estradas e açudes.

Os consumidores continuarão a ganhar importância na tomada de decisões na produção. É essencial que os consumidores sejam cada vez mais e melhor informados sobre a nobreza do leite: sua quantidade de nutrientes, que os especialistas chamam de “densidade nutricional”. Sob essa perspectiva, é importante esclarecer os consumidores que nem toda bebida branca é leite. Diferentes vegetais podem servir de matéria-prima – incluindo a batata, novidade que promete ter valor nutricional maior do que as demais, mas ainda inferior ao leite. Vale recordar que, devido à cor, tais bebidas são enganosamente vendidas como “leite”. É preciso, portanto, saber “de cor e salteado” que desde 1952 e, recentemente, com o decisivo apoio da Abraleite, o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa) estabelece que leite é “o produto oriundo da ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas”.

Num país de contrastes como o nosso, minha última expectativa diz respeito ao nosso futuro imediato. Mais uma vez escolheremos nossos principais dirigentes, que devem estar comprometidos concretamente com o desenvolvimento econômico e social. O combate à pobreza e a proteção ao meio ambiente são agendas que precisam andar de mãos dadas. Ignorar essa responsabilidade equivale a deixar para as próximas gerações um futuro de incertezas.

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?