revista-baldebranco-cabras-01-ed692

A exposição de caprinos apresentou um equilíbrio entre as regiões brasileiras, inclusive em relação às premiações

CAPRINOCULTURA DE LEITE

Exposição nacional

mostra evolução e qualidade do rebanho

A exposição, ocorrida no final do ano passado, organizada pela Associação Brasileira de Criadores de Caprinos (ABCC) e pelo Sindicato Rural de Pindamonhangaba, demonstrou a evolução dos animais, mas também apontou vários desafios a serem superados para o fortalecimento do segmento

João Carlos de Faria – texto e fotos

Vindas da longínqua Prata – município da Paraíba, distante cerca de 2.370 quilômetros de Pindamonhangaba (SP) – ou do bairro paulistano de Parelheiros, a menos de 220 km do mesmo local, as cabras leiteiras foram as estrelas da Expo Pinda 2022, que incluiu a Exposição Nacional de Cabras de Leite.

A exposição mostrou um panorama em escala nacional do nível em que se encontra esse importante segmento da cadeia produtiva do leite. Foram inscritos 346 animais, vindos de sete Estados, com a presença de matrizes e reprodutores de excelência, atraindo criadores de Minas Gerais, São Paulo, Alagoas, Bahia, Maranhão, Pernambuco e Paraíba.

O presidente do Sindicato Rural de Pindamonhangaba, Carlos Alberto Faria Raposo Lopes (ao microfone), avaliou positivamente a Expovap 2022 e destacou a presença das cabras leiteiras vindas de vários Estados

“O balanço da exposição nos deixou muito satisfeitos, após ter sido adiada por dois anos por causa da pandemia e de um trabalho de organização que durou meses. Foi um sucesso e teve boa adesão dos criadores que acreditaram que podíamos organizar um evento dessa magnitude”, afirma o presidente do sindicato, Carlos Alberto Faria Raposo Lopes, também criador de cabras leiteiras.

Ele destacou que a iniciativa é um fomento para a caprinocultura na região. “Para nós, criadores do Vale do Paraíba, foi muito importante porque nos permitiu conhecer novos criadores”, disse. O leilão de animais, segundo ele, teve “uma média expressiva” de R$ 7 mil por animal, atingindo até R$ 12 mil em alguns casos, o que demonstra que o mercado está bem aquecido.

O presidente da ABCC, Arlindo Ivo da Costa Filho, lembrou que essa foi a primeira exposição nacional pós-pandemia, realizada na Região Sudeste. “Mas o agro não parou e nós tivemos que encontrar meios para nos manter na vitrine e mostrar nosso produto”, disse Costa.

Arlindo Ivo da Costa Filho: “As premiações foram bem distribuídas, o que mostra que os rebanhos estão parelhos e homogêneos”

Fernando Fabrini: “Qualidade dos animais expostos reflete o atual cenário da caprinocultura de leite em São Paulo e no País”

Apesar de o rebanho de caprinos se concentrar no Nordeste brasileiro, conforme observou Costa, é no Sudeste que fica com o maior número de cabras leiteiras. E a exposição apresentou um equilíbrio entre as regiões. “As premiações foram bem distribuídas, o que mostra que os rebanhos estão parelhos e homogêneos.”

Para Fernando Fabrini, presidente da Capripaulo, associação que reúne os criadores paulistas, a raça esteve bem representada na exposição, ficando evidente também que há um grande interesse do público e uma expansão do mercado para queijos finos e outros derivados do leite de cabra. “Estamos num momento muito bom e de muita visibilidade.”

Excelência genética – Alguns produtores vieram de longe, como Erivaldo Ferreira Vieira, o Fita, do município de Prata, na região do Cariri paraibano. A cidade é conhecida como a “capital nacional da cabra leiteira”.

Junto com a esposa, Maria de Lourdes da Silva, e o filho Erick Matheus, de 18 anos, num espaço de apenas 800 metros quadrados, ele mantém confinado um plantel de 28 cabras, sendo 9 em lactação, com produção média de 6,6 litros/dia por animal (60 litros diários), índice bem acima da média nacional, de 1,5 litro/dia. Apesar do espaço e do rebanho reduzidos, o Capril do Fita já acumula mais de 400 prêmios em exposições e torneios leiteiros e é referência nacional de genética da raça Saanen.

“É a primeira vez que expomos no Sudeste e, mesmo após percorrer 2,8 mil quilômetros e passar três dias na estrada, os animais chegaram bem e tiveram ótimo desempenho”, afirmou Fita, que levou mais seis prêmios para sua coleção, um deles com a cabrita Eryka Capril Fita, campeã do torneio leiteiro, na sua categoria, com 14,315 kg em quatro ordenhas.

As inúmeras premiações são fruto do esforço do criador em melhorar sempre mais a genética do rebanho, que começou dez anos atrás, com seis cabras mestiças trocadas por uma moto e foi evoluindo até chegar ao estágio atual. No início, ele contou com a ajuda prefeitura e da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Prata (Accop), mas os primeiros animais só foram registrados em 2015, ano em que também começou a “rodar as exposições”.

Hoje, Fita tem encomendas de embriões até de outros países, mas não sabe como atendê-las, tamanha a concorrência pelos seus produtos. Suas cabras podem valer de R$ 2 mil a R$ 20 mil, mas ele já chegou a recusar oferta de R$ 80 mil por uma matriz.

Erivaldo Ferreira Vieira, o Fita: É a primeira vez que expomos no Sudeste e, mesmo após percorrer 2,8 mil quilômetros e passar três dias na estrada, os animais chegaram bem e tiveram ótimo desempenho

Para o futuro, o projeto do criador é ter seu próprio laticínio e agregar valor ao leite, com data marcada para funcionar, em outubro de 2023. Hoje a produção vai para a usina de beneficiamento da Accop, que, em novembro, pagava R$ 3,33 o litro, incluindo um subsídio de R$ 0,15 a cada produtor, dado pela prefeitura de Prata. Isso lhe garante renda suficiente para um bom padrão de vida. “Dá para tirar as despesas e ter nossas mordomias”, afirma.

O maior desafio hoje, segundo Fita, é quebrar o preconceito contra o leite de cabra e seus derivados, coisa que existe inclusive no próprio Nordeste, onde as cabras são uma tradição antiga. “Alegam um odor, que na realidade não existe se o manejo for feito adequadamente”, explica.

Thaís Tatini: “Nosso foco é reproduzir e vender animais para expandir o rebanho nacional de minicabras e obter o registro da raça”

Minicabras – Também é numa chácara de apenas mil metros quadrados, em Parelheiros, na zona sul de São Paulo, que a criadora Thais Tatini luta para ter suas minicabras reconhecidas como raça nacional.

Tudo começou 30 anos atrás, quando um dos seus filhos apresentou intolerância ao leite de vaca e, ao visitar uma exposição, ela adquiriu seu primeiro animal já de pequeno porte e a partir daí começou a busca por uma miniatura de cabra com boa aptidão leiteira.

“Não tínhamos espaço e nem comida, mas percebemos que a minicabra não só atendia à nossa necessidade, como também poderia fornecer leite para uma família com até duas crianças, pois algumas cabrinhas dão até um litro e meio de leite, sem exigir espaço. Isso acabou virando uma paixão”, conta. Além do leite também há espaço no mercado de pets, pois as minicabras podem ser criadas até em apartamentos, como já acontece.

“É uma boa opção de negócio”, diz ela, revelando que, entre as mais raras e de maior procura no mercado, estão as tricolores, que custam a partir de R$ 3.500, enquanto as brancas, pretas, cinzas ou brancas e pretas, têm preços acima de R$ 2.500.

Animais apresentados para julgamento foram muito bem avaliados pelos juízes pela boa produtividade e padrão racial

Teve um momento que Thaís decidiu parar, mas 12 anos atrás, retomou a criação, já num processo de melhoramento genético, com ações centradas no aperfeiçoamento para o leite e na busca de animais mais “pintados”, que são os mais valorizados no mercado.

A restrição ainda é a falta do reconhecimento como raça, o que muitas vezes dificulta a participação em exposições e a difusão, apesar de já existirem cerca de 80 criadores no País.

“Não conseguimos entrar em algumas exposições porque os animais não têm a documentação exigida. Esse reconhecimento é o grande desafio, ou seja, a minicabra precisa ser entendida como raça, com suas aptidões e características definidas”, afirma Thaís. O processo de reconhecimento já está em andamento, mas a expectativa é que ocorra somente em 2024, dependendo da mobilização dos criadores.

Ela tem hoje três cabras em lactação, com média de 800 ml e o leite é destinado à produção de queijos artesanais para consumo próprio, feitos pela sua irmã Andreia Tatini. No total, o rebanho tem 28 matrizes e 5 machos e algumas matrizes já chegaram a produzir 1,8 litro/dia. A meta de Thaís, no entanto, é conseguir animais que alcancem até 1,5 litro/dia.

“Nosso foco é reproduzir e vender animais para expandir o rebanho nacional e obter o registro da raça”, diz a produtora, que participa também de projetos sociais que doam cabras de tamanho normal para ajudar famílias carentes da sua região.

Desafios – A Embrapa considera que o leite de cabra tem grande potencial no mercado de lácteos funcionais, com alto valor agregado e capacidade para substituir produtos lácteos de origem bovina, mas o grande desafio, segundo Arlindo Ivo da Costa Filho, é encontrar esse mercado. Um dos caminhos que ele sugere é avançar no cooperativismo como uma prioridade do setor, pois isso facilitaria o fluxo de produção e distribuição no mercado.

“Acredito em mudanças lentas, mas contínuas. Acho que estamos crescendo de forma segura, não só na qualidade dos animais, mas também dos derivados”, avalia. Para exemplificar, lembra recentes premiações de produtos do Nordeste no Festival Mundial de Queijos, em São Paulo, em setembro. “Estamos começando a furar a bolha”, diz.

Para Fernando Fabrini, da Capripaulo, é preciso estruturar bem a cadeia produtiva para facilitar o escoamento da produção e a fabricação de queijos e outros produtos, além da participação mais efetiva dos criadores na associação para fortalecer e dar representatividade ao setor.

Julgamento e torneio leiteiro – Em pista para julgamento foram 257 animais das raças Pardo-Alpina, Saanen, Anglonubiana e Togennburg, que foram avaliados pela juíza americana Lyyn Ann Fleming e os brasileiros Ana Paula Rodrigues (Juazeiro-CE) e Salvador Santana Silva Junior (Juazeiro-BA), que elogiaram a qualidade do que foi apresentado.

Do torneio leiteiro participaram 20 animais, de nove criadores de São Paulo, Minas Gerais e Paraíba. Confira o resultado na tabela ao lado.

Pedro Martins: “Estamos atrás de recursos para uma grande campanha de incentivo ao consumo, porque isso tem que passar por um trabalho bem feito de marketing para chamar a atenção do mercado”

LEITE DE CABRA NÃO É REMÉDIO, MAS UM
ALIMENTO FUNCIONAL DE EXCELENTE QUALIDADE


O presidente da Câmara Setorial de Caprinos e Ovinos do Ministério da Agricultura, Pedro Martins, avaliou positivamente a exposição, por ter sido realizada no Estado de São Paulo, mercado muito representativo no setor de lácteos.

“Hoje a produção é significativa no Nordeste, mas o mercado está aqui. Trazer esse evento para mais próximo do consumidor foi importante para mostrar quem somos e para onde queremos ir, dando mais visibilidade à caprinocultura leiteira”, afirmou.

Martins afirma que enquanto no Nordeste – onde a Paraíba é um dos principais Estados produtores – há um programa governamental que fomenta a produção de leite, em São Paulo o mercado é o mais promissor para os derivados.

“No Cariri, a renda desse programa governamental representa a terceira principal fonte de recursos de alguns municípios.”

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?