MERCADO

Rodrigo Silva

Graduando em Medicina Veterinária e analista de mercado da Scot Consultoria

Fatores influenciadores no mercado de leite brasileiro

Entenda a relação entre o preço pago ao produtor com a produção de forragem, importação de leite em pó e leite spot

A maior parte da produção de leite brasileira ocorre com os animais em sistema a pasto. Então a produção leiteira é dependente da qualidade das forragens, que, por sua vez, necessitam de boas condições climáticas para o desenvolvimento ideal.

O Brasil é um país tropical, o verão é mais chuvoso e o inverno é mais seco. Logo, na época das águas há maior disponibilidade de pasto de boa qualidade e na seca diminui a quantidade do alimento, fato denominado de estacionalidade de produção.

É possível observar que há maior produção de leite nas águas, aumentando a oferta da matéria-prima (leite cru), já nas secas, ocorre o oposto. Essa sazonalidade de chuvas gera uma oscilação no volume de leite captado pelo laticínio.

A relação de oferta e demanda é clara e se aplica ao mercado leiteiro: quando a oferta do produto aumenta, seus preços diminuem. Veja, na figura 1, a relação entre o volume mensal médio do Brasil de chuvas (normal climatológica) e o preço do leite pago ao produtor – média ponderada Brasil mensal deflacionada pelo IGP-DI, de 2003 a 2022.

Note que o período das águas no Brasil ocorre de novembro a abril e, neste mesmo período, o preço pago ao produtor é menor, quando comparado aos pagamentos de maio a setembro durante o período seco.

Além da estacionalidade de produção de forragem, existe uma relação entre preço pago ao produtor, leite spot e importação de produtos lácteos, sendo mais um recurso para entender o mercado.

Mercado internacional – Historicamente, o Brasil importa mais leite do que exporta. A entrada do leite estrangeiro no mercado interno influencia na oferta e, consequentemente, no preço da matéria-prima e seus derivados. A maior parte do leite importado é de leite em pó, assim suas características físico-químicas mantêm a qualidade e durabilidade do produto. O custo e o volume importado de leite em pó apresentam influência no preço do leite no mercado interno.

Mercado spot – O leite spot é aquele comercializado entre as indústrias. A comercialização e o preço deste produto oscilam dependendo da demanda. Portanto, essa relação pode ser considerada um bom indicador para avaliar a demanda de leite no mercado interno.
O preço do leite spot aumenta quando a demanda está mais elevada e o contrário também é verdadeiro. Logo, o preço também é um indicativo interessante daquele pago ao produtor.

Correlação entre os fatores – A correlação é um método estatístico para expressar um relacionamento entre as variáveis. Ela é ditada por um valor que oscila de um negativo até um positivo.
Quando próximo a zero, as variáveis não apresentam um relacionamento claro entre elas. Já quando próximas de um (positivo ou negativo), apresentam uma forte relação. Se positivo, o comportamento é semelhante, caso negativo, é inverso.

Ao correlacionar a variação do custo por tonelada importada de leite em pó pela variação do preço do leite spot é obtido um valor de 0,91, indicando uma tendência positiva entre os valores, ou seja, essas referências possuem alta correlação entre elas.

A regressão permite interpretar essa relação de um modo mais assertivo do que a correlação. Dessa forma, a figura 2 explicita a relação do fator importado pelo preço do leite spot.

A figura 2 mostra a variação entre o preço do leite spot e a variação do custo por tonelada de leite em pó importado. É possível observar uma tendência de que, quando a variação de um aumenta, a outra também recebe um incremento.

Pela regressão, é possível pressupor o preço do leite spot por meio do custo por tonelada importada de leite em pó. É evidente que esse indicativo se trata de uma projeção e, portanto, está sujeito a alterações, mas ele ilustra, com certa clareza, o comportamento do mercado no mês vigente.

Analisando a variação do leite pago ao produtor em relação à variação do custo por tonelada de leite em pó importado, há uma relação de 0,95. Paralelamente, temos uma relação ainda maior, de 0,98, quando comparamos a variação do leite pago ao produtor em relação à variação do leite spot.

Há uma tendência de comportamento semelhante entre esses preços no mercado, podendo assim ser utilizado como indicadores para conjecturar preços futuros.

O comportamento dessas duas novas análises difere da figura 2.

Nas figuras 3 e 4 há uma relação de linearidade. Logo, é possível que sejam interpretadas por uma equação de reta. Então, ao saber a variação de uma das variáveis, é possível projetar a restante.

Um comportamento interessante, observado na figura 4, é que a variação do preço pago ao produtor não acompanha a variação do preço spot. Desta forma, o incremento ou decréscimo do preço do leite spot será refletido no produtor, mas não com a mesma intensidade.

Levando em conta o preço do leite spot (referência: setembro/22) como variável, o leite pago ao produtor em setembro, referente à captação de agosto, será, em média, de R$ 2,20.

Logo, espera-se uma queda de 21,15% em relação ao preço pago ao produtor quando comparado ao mês de agosto.

O mercado de leite tem uma série de fatores que influenciam seu preço. As figuras mostram como os fatores se relacionam, como pluviosidade, custo por tonelada importada de leite em pó e preços ao produtor e spot.

Desta forma, é evidente a importância de conhecer esses fatores para compreender o preço pago ao produtor no litro de leite. A avaliação dos dados é uma importante ferramenta para predizer os pagamentos, visto que leva em conta a oferta e a demanda.

A AGRICULTURA NÃO É A CAUSADORA DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA

A desindustrialização brasileira é causada pelas medidas públicas ao longo dos anos. Desindustrialização, como o próprio nome diz, é o processo da queda acentuada das atividades industriais. Desde a década de 1980 a indústria perde relevância na economia brasileira.

Participação no PIB – Na década de 1970, o setor industrial representava 33% do PIB. Em 2011 essa participação era de 23,1% e agora representa 18,9% (2021).

Para entender esse declínio é preciso lembrar que o Estado é o responsável pelas políticas públicas, pelas políticas que podem potencializar ou avariar setores da economia.

Uma iniciativa adotada pelo governo, principalmente no início do Plano Real, foi o câmbio valorizado. Tal medida favoreceu as importações e desfavoreceu as exportações. Essa estratégia gerou um desbalanço na economia, a demanda interna foi suprida pelas importações, desestimulando a produção nacional.

Foi uma abertura sem cuidado da economia nacional. Houve uma queda nas tarifas de importação, aumentando a concorrência com a indústria internacional. Houve um “desprotecionismo” na indústria brasileira, visto que o câmbio elevado e a taxa de importação reduzida desestimulou os empreendimentos locais.

Outro motivo foi e continua a ser a taxa de juros. Visto que essa medida faz com que se prefira investir no mercado financeiro a fundar uma indústria, em função da taxa de juros convidativa. Desse modo não há desenvolvimento do potencial industrial.

Agronegócio – Os motivos da desindustrialização brasileira não estão no agronegócio e sim em políticas inapropriadas para o desenvolvimento industrial ao longo das últimas décadas. A cultura de “desprotecionismo” para as indústrias, juros altos e falta de incentivo fizeram com que esse setor fosse sucateado.

O agronegócio se desenvolveu por causa do baixo custo relativo de produção quando comparado à indústria, em função dos incentivos fiscais e da elevada demanda internacional por commodities agrícolas. Entre outras razões, foram esses os fatores para o desenvolvimento do agro brasileiro.

O setor agro não tomou o lugar da indústria, houve uma queda da participação da produção industrial no PIB e um aumento da participação do agro, porém não há uma relação causal.

O que seria bom – Caso o Brasil adote políticas que beneficiem a indústria, ambos os setores cresceriam, complementando-se. A indústria precisa de matéria-prima, de commodities, e o agro escoaria a produção com maior segurança, fortalecendo a economia do País como um todo. (Obs.: No original são citadas referências bibliográficas. Os interessados podem solicitar ao email editor@baldebranco.com.br)

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