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Instalação de placas fotovoltaicas, que geram energia mais barata e contribuem para reduzir custos de produção

REDUÇÃO DE CUSTOS

Fazenda mineira investe em sustentabilidade para

reduzir despesas com energia

Proprietário de uma das unidades da Fazenda Ponte Alta, localizada em Formiga (MG), reduz pela metade custos de produção com a instalação de placas fotovoltaicas e biodigestor, tornando-se autossuficiente em energia limpa

João Carlos de Faria

As despesas com energia elétrica têm reflexo direto no custo final do litro de leite, fato que tem levado muitos produtores a buscar fontes energéticas alternativas como forma de reduzi-las. Este é o caso da Fazenda Ponte Alta, localizada em Formiga, na região centro-oeste de Minas Gerais.

Dois anos após ter instalado uma usina fotovoltaica e um biodigestor, a fazenda já contabiliza economia de 50% em relação ao valor aproximado de R$ 22 mil/mês gastos com eletricidade. O resultado no custo final do litro de leite foi gradual, saindo de R$ 0,11 (6,7%) em 2019 e chegando a R$ 0,01 (0,63%) em 2022.

O Grupo Ponte Alta reúne três fazendas numa só, pertencentes aos irmãos Sérgio, Marcos e Ricardo Rodrigues Nunes, filhos do casal Paulo Rodrigues e Rosa Nunes, que, na década de 1950, adquiriu uma área aproximada de 990 hectares na região, que posteriormente viria a ter uma parte inundada pelo Lago de Furnas.

Inicialmente, sua produção de leite chegava aos 400 litros por dia, que eram empacotados ou transformados em queijos, até que os irmãos resolveram investir exclusivamente na produção. Adquiriram 40 vacas selecionadas no Uruguai, foram apurando aos poucos a genética e aumentando o plantel até chegar a 19 mil litros de leite por dia.

Anos depois, na divisão entre os filhos couberam 86 hectares para cada um deles, mas apenas os três mencionados acima, que trabalhavam diretamente com o pai, mantiveram-se na atividade. Atualmente, com rebanho de 800 vacas e empregando 40 funcionários, a produção das três propriedades, juntas, é de cerca de 30 mil litros por dia: Sérgio produz 12,5 mil litros/dia; Marcos, aproximadamente 10 mil litros e Ricardo, 8 mil litros. A tradição no leite já chegou à terceira geração da família, como as irmãs Maria Hilda Rodrigues Oliveira Nunes e Ana Carolina Nunes. Elas são filhas de Marcos Rodrigues Nunes e cuidam da administração da fazenda, mas também ajudam no manejo com as bezerras e na gestão da qualidade do leite. Já o médico veterinário Douglas Rodrigues Nunes é filho de Sergio Rodrigues Nunes, sendo também o braço direito do pai na gestão da propriedade.

Juntamente com o pai, Sérgio Rodrigues Nunes (à direita), o médico veterinário Douglas R. Nunes assumiu os negócios da fazenda após mudança de rumos ocorrida em 2017

Sistemas independentes – O novo ciclo da Fazenda Ponte Alta teve início em 2017, quando os proprietários adotaram um modelo diferenciado de gestão, no qual compram e vendem juntos, mas cada um cuida do seu negócio. “As fazendas estão encostadas uma na outra, e as sedes, distantes no máximo um quilômetro, mas cada um toca a sua parte”, explica Sérgio Nunes. Em comum, adotaram, há cerca de cinco anos, o compost barn, saindo da criação semi-intensiva – que já funcionava com o pai, um inovador que na época já tinha até piquetes rotacionados – e passando para o manejo intensivo. “Meu avô era uma pessoa diferenciada, que inovava sempre”, diz o neto.

Em 2017, após a instalação de compost barn e outros investimentos, com as despesas em alta e após constatarem que a energia estava entre os cinco itens que mais pesavam nos custos da fazenda, houve consenso de que era preciso pensar em uma solução. “Avaliamos e vimos que economizar na energia era a saída mais rápida para reduzir despesas. Fomos pesquisar sobre energia solar (fotovoltaica), mas vimos que o investimento ainda não cabia no orçamento naquele momento”, relata Douglas Nunes.

Somente em 2020, depois de receber uma proposta de financiamento que viabilizava o investimento e trazia resultados imediatos na redução drástica do custo da energia, é que foi tomada a decisão de instalar a primeira usina na propriedade de Sérgio Nunes.

A usina conta com 330 painéis solares e tem potência de 340 kW e um inversor de 75 kW. O investimento foi de R$ 300 mil, valor que deve ser amortizado em três a quatro anos. “À época, a gente gastava R$ 9 mil/mês de energia, mas, com usina em funcionamento, logo de cara, tivemos economia de R$ 4 mil por mês, com a geração de 13.500 kWh/mês, que corresponde à metade do consumo da fazenda”, recorda.

Atualmente, somando a energia da usina com a energia gerada por um biodigestor instalado depois, a fazenda já é autossustentável e paga apenas a tarifa mínima, que é de R$ 80/mês. “Se não tivéssemos feito esses investimentos, a conta seria de cerca de R$ 33 mil por mês. A energia solar não tem volta, é boa para o bolso e para a natureza.”

Bioenergia – A história do biodigestor, que veio depois, serviu para despertar a atenção da família para a questão da sustentabilidade. A ideia inicial era instalar outro bloco de placas fotovoltaicas, mas o volume de dejetos do compost barn já começava a preocupar, pois aumentou à medida que o rebanho também crescia.

A solução seria instalar um separador de sólidos, mas após algumas visitas a fazendas que tinham o separador e o biodigestor, a decisão tomada foi a de produzir mais energia com esse recurso. “A grande vantagem é ser uma energia renovável, ao mesmo tempo em que resolve também o problema dos dejetos”, afirma. O investimento custou cerca de R$ 1 milhão, mas a maior parte foi bancada com recursos próprios, sobrando apenas as despesas com a compra da lona e do gerador para serem financiadas.

O biodigestor transforma em energia e fertilizante os resíduos de 380 animais confinados, funcionando 12 horas por dia

Com 380 animais confinados, a energia gerada pelo biodigestor chega a 37.000 kWh/mês, com o gerador funcionando 12 horas por dia. “Suprimos nossa necessidade e ainda ficamos com algum crédito na concessionária.” O projeto agora é aumentar o plantel, para que o gerador possa ficar ligado por mais duas a três horas ao dia.

Segundo Douglas Nunes, essas mudanças também levaram a fazenda a ser mais eficiente na produção de leite, diluindo os custos, considerando as médias anuais de produção por vaca, que foi de 28,78 litros em 2019; passando para 28,73 litros (2020); depois 31,70 litros (2021) e 34,59 litros (2022). A produção anual também cresceu de 7.109 litros em 2019 para 10.883 litros em 2022.

O produtor se diz gratificado em poder afirmar que produz 100% da sua energia. “A gente fica feliz de estar inteirado com a tecnologia e proteger o meio ambiente, reduzindo o gás metano e poluindo menos. Isso não tem preço”, assinala.

Com essa nova consciência, Douglas Nunes e seu pai passaram a adotar outras práticas, como o reúso da água para fazer a lavagem das pistas dos galpões. Planejam também fazer a captação de água dos telhados e intensificar o uso do biofertilizante, trazendo ainda mais economia. “É mais um ganho para o meio ambiente e para a fazenda, que vai usar menos água do poço artesiano”, afirma Douglas Nunes.

Inspiração – Outras fazendas da região passaram a se inspirar no exemplo da Fazenda Ponte Alta e também adotaram as mesmas práticas, inclusive pequenos e médios produtores. Sérgio Nunes aconselha que se deve dimensionar bem o uso do biodigestor e seu custo/benefício, pois o volume de dejetos precisa ser suficiente para manter o gerador ligado por mais tempo, pois o custo de instalação é relativamente alto.

Dentro da família, também houve adesão à proposta, mas por enquanto Sérgio é o que está mais à frente. No mesmo caminho está Marcos Rodrigues Nunes, que já tem um biodigestor funcionando e planeja instalar placas fotovoltaicas até a metade deste ano. Já Ricardo ainda avalia por onde vai começar seu projeto.

Marcos se diz satisfeito com a experiência, o que é perceptível pela forma como se expressa sobre o assunto. “Eu diria que é um investimento primordial: facilita a limpeza, o aproveitamento dos dejetos, não polui o subsolo e o lençol freático, e economiza despesas com energia”, diz.

Sua conta de luz já caiu de R$ 30 mil para R$ 10 mil por mês e, com essa economia, em três anos e meio a quatro anos, ele espera já ter pagado o investimento de R$ 1,5 milhão para instalar o sistema.

Marcos Rodrigues Nunes toca a fazenda juntamente com as filhas Maria Hilda (à esquerda) e Ana Carolina (à direita)

Com rebanho de 304 vacas, média acima de 30 litros/vaca e produção de 10 mil litros de leite/dia, ele comemora o fato de não correr mais o risco de ficar sem eletricidade na fazenda, de ser independente da concessionária e ainda aproveitar o esterco nas lavouras de silagem e de poder fazer o reúso da água na limpeza das pistas.

Mesmo vendo o biodigestor como a opção mais vantajosa, porque não depende de um fator da natureza, que é o sol, para se abastecer, o produtor está em vias de instalar placas na fazenda, mas pensando na autossuficiência. “Vou conseguir zerar minha conta em três a quatro anos e reduzir entre 3% e 4% minhas despesas”, afirma.

“Também gosto de pensar no futuro da família e de poder contribuir com o País e o bem-estar de quem trabalha com a gente, além de ver como uma alternativa para o sequestro de carbono, uma coisa que acho fundamental para qualquer fazenda de leite hoje”, complementa.

Fazenda tem 300 animais confinados no sistema de compost barn e produz dejetos suficientes para manter gerador funcionando 12 horas por dia

ENERGIA SOLAR NO MEIO RURAL ULTRAPASSA 147 MIL SISTEMAS INSTALADOS

 
A geração de energia solar já perfaz mais de 147 mil sistemas instalados em propriedades agropecuárias, seja nos grandes empreendimentos ou nos pequenos produtores da agricultura familiar.

Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a energia solar instalada nas propriedades rurais possui uma potência operacional de 2,6 GW (gigawatt).

Ainda de acordo com o mapeamento da associação, o uso da energia solar no meio rural representa 14,7% de toda a potência instalada nos telhados, fachadas e pequenos terrenos no Brasil (casas, comércios e indústrias), hoje com 18 GW.

A tecnologia fotovoltaica no campo está presente em mais de 4,6 mil municípios brasileiros, com pelo menos um sistema instalado nas propriedades. Na pecuária de leite, o custo com energia pesa na produção e pode reduzir lucros, por isso muitas fazendas têm aderido à energia renovável.

Ainda segundo a Absolar, os motivos que impulsionaram o setor podem ser explicados por três fatores: o preço da energia elétrica; a maior oferta de financiamento para comprar o sistema de geração de energia solar, e o custo-benefício, pois é possível recuperar o capital investido em cerca de cinco anos.

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