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Propriedade forma um complexo de pecuária leiteira e indústria láctea, processando o leite e derivados, com ações integradas para preservar a qualidade dos produtos

NEGÓCIOS DO LEITE

Fazenda mineira verticaliza produção

e coloca produtos de qualidade no mercado

Com sede em Pouso Alto (MG), a Fazenda Bom Retiro, referência no uso de tecnologias na produção leiteira, inaugura seu laticínio ofertando produto saudável e de qualidade

João Carlos de Faria (texto e fotos)

As instalações consistem em equipamentos de última geração, totalmente automatizados, sem nenhum contato manual para garantir a qualidade final do leite e seus derivados

O início das atividades do Laticínio Muai em 2022 representa mais do que apenas um novo negócio visando à verticalização da produção de leite da Fazenda Bom Retiro, no distrito de Santana do Capivari, em Pouso Alto (MG), que se mostra sempre atenta aos princípios e práticas de sustentabilidade e de bem estar-animal, valores muito presentes no seu dia a dia.

Trata-se, antes de tudo, da realização de um sonho acalentado há mais de 30 anos pelo proprietário, Amauri Pinto, diretor da Bom Retiro Agronegócios, e também da continuidade da história iniciada em 1966, quando a família Costa Pinto adquiriu a propriedade, que hoje já conta com a terceira geração, representada pela filha do produtor, Anna Pinto. Ela é formada em gestão de agronegócios e atua como gerente de pecuária de leite da fazenda.

Além do desejo de influenciar positivamente a vida das pessoas, com produtos saudáveis, o objetivo também é apresentar ao consumidor itens com a máxima qualidade, tendo como matéria-prima o leite e seus derivados, produzidos num processo totalmente automatizado, que vai da ordenha até o envase, tudo dentro da própria fazenda.

O projeto teve início em 2019 e em 2021 foram construídas as instalações físicas da indústria, com tecnologias e equipamentos de ponta, ocupando uma área de 3 mil metros quadrados. Na metade do ano passado, o laticínio iniciou a comercialização dos seus produtos, com a marca Muai – que é uma junção do “mu”, referente ao mugido da vaca, com o termo “uai”, expressão que caracteriza o linguajar mineiro.

Diferenciais e sustentabilidade – O sócio e diretor executivo do empreendimento, Rodrigo Nilo, explica que o laticínio faz parte de um complexo de pecuária leiteira, sendo todo o processo de produção – da ordenha à industrialização – feito dentro da propriedade, o que permite controle total sobre o produto final. A preocupação com a sustentabilidade, segundo ele, reflete positivamente no produto final, que leva consigo o resultado de todo o esforço e do trabalho realizado pela equipe.

Esse fluxo começa com o leite que sai das ordenhadeiras e é conduzido por dutos até a sala de beneficiamento, que fica dentro da indústria, onde é pasteurizado sem nenhum contato manual em qualquer uma das etapas de produção. “A rastreabilidade é rigorosa do campo, passando por todo o processamento até chegar ao ponto de venda”, afirma Nilo.

A Fazenda Bom Retiro produz atualmente a média de 34 mil litros/dia de leite, em três ordenhas, com um plantel de 1.010 vacas em lactação, sendo 100% Holandesas, mantidas em confinamento (free stall e compost barn), o que exige um sistema bem estruturado, total entrosamento da equipe formada por 120 colaboradores – entre a fazenda e o laticínio – e o uso avançado de tecnologia, a começar pela ordenha, que é feita com carrossel e com o uso pioneiro de robôs.

Rodrigo Nilo: A gente pensa grande e quer transformar o Muai numa multinacional brasileira, exportando toda essa qualidade que temos na fazenda e no leite, que foi o que viabilizou tudo

Em termos de bem-estar animal, a fazenda optou, entre outros caminhos, por não utilizar o bST (somatotropina bovina), hormônio produzido naturalmente pelas vacas, que estimula a produção de leite, mas causa desconforto pelo excesso de aplicações. Ventiladores e aspersores instalados nos galpões evitam o estresse térmico, assim como as camas com forragem, escovas giratórias (coçadores) e um sistema de eliminação contínua de dejetos para proporcionar o máximo conforto para as vacas.

A dieta é definida de acordo com a produção e o estágio em que cada vaca se encontra, sendo a maior parte da comida produzida na própria fazenda e com água limpa à vontade para beber. Colares com sensor ajudam na detecção precoce de doenças, permitindo o controle sanitário permanente e o monitoramento do leite para garantir seu nível de qualidade.

Nilo fala também de outros diferenciais, ressaltando que todo o projeto está pautado na sustentabilidade de ponta a ponta da cadeia produtiva, da escolha da semente a ser plantada para produzir a comida a ser consumida pelos animais até os controles de qualidade dentro na etapa de industrialização. “Esse controle talvez seja o nosso principal diferencial”, diz.

Ainda sob o aspecto da sustentabilidade, é relevante mencionar que a fazenda tem um sistema de coleta de água da chuva, com capacidade de armazenamento para 2 milhões de litros, utilizados na limpeza das instalações. Já a água consumida pelos animais é tratada em estação própria, com capacidade para 1,5 milhão de litros.

Um biodigestor recebe toda a parte líquida dos dejetos, produzindo gás metano e gerando energia para a fazenda, sendo o seu resíduo líquido utilizado na irrigação dos pastos, dispensando assim o uso de fertilizantes químicos. A parte sólida é utilizada na adubação das áreas de plantio de milho para a alimentação das vacas, também dispensando o uso de fertilizantes.

Plantel é formado por vacas 100% Holandesas, com o uso de carrossel e robô para ordenha, permitindo a rastreabilidade total do leite

INTEGRAÇÃO SOB O SIGNO DA SUSTENTABILIDADE ENTRE A AGROPECUÁRIA E A INDÚSTRIA LÁCTEA

 

“O processo é 100% automatizado, garantindo a total manutenção dos padrões sensoriais e de qualidade, idealizados pela diretoria técnica industrial”, afirma.

Sendo os focos do laticínio a saudabilidade – neologismo diretamente relacionado à mudança de hábitos alimentares que visam a uma melhor qualidade de vida, melhor funcionamento do organismo e, principalmente, a uma saúde melhor –, além da qualidade e do frescor do produto, toda a produção é feita em até 24 horas, para que os produtos sejam sempre frescos e de ótima qualidade.

A fábrica também adota práticas sustentáveis, seja com a captação de água de chuva em todos os telhados para reaproveitamento nas áreas externas, direcionando os dejetos ao biodigestor da fazenda, que gera gás metano e eletricidade para todo o complexo, ou ainda utilizando produtos biodegradáveis. “Nossa mão de obra também é 100% regional”, afirma Nilo, demonstrando que também sob este aspecto, a empresa busca fomentar o crescimento e o desenvolvimento da região.

Geração de bioenergia com o aproveitamento dos dejetos para a produção de gás metano é uma das práticas de sustentabilidade que refletem na qualidade final do leite

Segundo ele, o Muai ainda não atingiu sua capacidade máxima de produção, que chega a 100 mil litros/leite/dia, pois se encontra numa etapa intermediária do projeto.

Essa primeira fase consiste – além do envase do leite pasteurizado – na produção de requeijões, iogurtes e manteiga. No início deste ano (fevereiro) deve ser iniciada a segunda fase do projeto, com a entrada em funcionamento da queijaria.

“A gente pensa grande e quer transformar o Muai numa multinacional brasileira, exportando toda essa qualidade que temos na fazenda e no leite, que foi o que viabilizou tudo”, afirma Nilo, ao falar sobre planos futuros, acrescentando que o objetivo é levar, ao máximo de pessoas possível, toda a “saudabilidade dos seus produtos”.

Linha de envase do leite pasteurizado Muai

“Nossas dificuldades são as mesmas de qualquer produto novo lançado no mercado, mas a diferença é que acreditamos muito na qualidade da nossa matéria-prima. Considero que os resultados têm sido melhores do que o esperado e que estamos crescendo de forma sustentável e segura, tanto para o produto quanto para a operação”, avalia.

Por enquanto, o mix de produtos conta com uma linha de leites (integral, semidesnatado, desnatado e A2), requeijões (tradicional e light), manteigas gourmet (com sal, sem sal e zero lactose) – que, por serem fermentadas, se aproximam muito do padrão europeu – e os iogurtes (tradicional e nos sabores mel, morango e ameixa), acrescidos recentemente dos iogurtes “whey protein” (blueberry e hibisco com frutas vermelhas).

Esses produtos já são encontrados nas prateleiras dos mercados dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, principalmente nas capitais, mas também nas regiões do Vale do Paraíba, no sul de Minas e no sul fluminense e com planos de expansão para outras regiões do País, distribuídos por uma frota própria de veículos.

Produção de queijos – O início da produção de queijos frescos, previsto para fevereiro deste ano, deve começar pelo minas frescal e pela ricota, trazendo sempre o diferencial da utilização do leite A2 na sua fabricação e com a adição de algumas inovações no processo produtivo para garantir, segundo Nilo, um produto mais cremoso e nutritivo. “Ainda no fim do primeiro semestre, vamos começar também a produção dos queijos maturados, dos mais simples aos mais complexos, mantendo a mesma identidade baseada na qualidade, na saudabilidade e na padronização”, revela o diretor.

Sobre a verticalização da produção, uma decisão cada vez mais presente nos planos de pequenos, médios e grandes produtores de leite no País, Nilo entende que, antes de tudo, esse é um caminho a ser trilhado por aqueles produtores que detenham muita qualidade da matéria-prima.

“O mercado demanda qualidade e o consumidor é muito atento ao que está comprando, além da concorrência, que é grande”, diz. Por isso, recomenda ao produtor que ainda não chegou a esse patamar que “primeiro faça o dever de casa”, estabilizando a produção e garantindo o padrão exigido e, num segundo passo, se lance no mercado.

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