Fazer a nossa parte

Segundo estimativa do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa, neste ano poderemos ter uma queda de cerca de 4% na produção brasileira do leite inspecionado, ou formal. Certamente será mais um ano difícil, o que não quer dizer que será um “fim de mundo”. Depende de atitude e qualificação.

Volatilidade, incerteza, complexidade, ambiguidade definem o tempo em que vivemos. A sigla V.I.C.A. ou, no inglês, V.U.C.A., aparece com frequência em jornais e sites da internet. São palavras fortes, que, juntas, podem representar um mundo muito diferente, uma grande e impressionante novidade. Mas, depois de matutar sobre elas, percebi que eu já tinha esbarrado com alguma coisa parecida. Afinal, mudanças não são algo novo. Especialmente para nós, brasileiros. Me lembrei então que foi lendo o escritor mineiro Guimarães Rosa, por intermédio do personagem Manuelzão, sobre a vida e o seu tempo: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. O “mineirês” ajuda a “clarear” o entendimento!

Neste ano difícil que se inicia, temos que fazer a nossa parte, que vai além de fazer certo a coisa certa. Acima de tudo, devemos ter a atitude corajosa de estarmos preparados para volatilidades e incertezas, acompanhando a complexidade dos acontecimentos, buscando compreender outras experiências. Para isso devemos nos qualificar continuamente.

É prioritário qualificar pessoas. Desenvolver competências que permitam superar dificuldades é uma atitude de vencedores, de produtores que aceitam os desafios desse tempo, como já fizeram produtores de outras gerações enfrentando problemas diferentes. Qualificar é igual a treinar, ensinar, renovar, reciclar conhecimentos, capacitar. O nome não importa. Qualificar proprietários, meeiros, funcionários, quem estiver envolvido no negócio de produzir leva à melhor qualidade do produto final, o leite. Qualificação dos nossos funcionários, que precisam entender o porquê de cada boa prática de produção ou de cada regra de higiene do rebanho. Qualificação para operarmos com foco nos conceitos mais amplos da saúde única, da sustentabilidade, sem jamais perder de vista o propósito da produção e a rentabilidade econômica.

O resultado vem na forma de melhorias na taxa de prenhez, na taxa de natalidade, no aumento da produtividade por vaca, na quantidade de silagem produzida por hectare, e claro, leva ao aumento da taxa de retorno de todo o investimento e do esforço aplicado na propriedade.

Não podemos deixar de reconhecer as mudanças que vêm acontecendo na cadeia produtiva do leite, fruto da evolução tecnológica e também das muitas coisas que acontecem mundo afora. Existe competição desfavorável para muitos, num mercado cada vez mais concentrado. Sem falar na concorrência das bebidas de origem vegetal e, no futuro, até do leite produzido sem vacas! Esse é o mundo volátil, incerto, complexo, ambíguo, que demanda coragem e… qualificação.

Qualificar é dar qualidade, melhorar algo. Nesse sentido, e das palavras que citei acima, é sinônimo de educação. Mais uma pitada de crítica construtiva para agregar sugestões e ideias, permitindo assim o surgimento de inovações.

Neste início de ano difícil, devemos estar motivados a melhorar nossas qualidades. Não proponho fazermos isso focados em salvar o planeta do aquecimento global, nem para proteger a mata. Esses são resultados que virão indiretamente seguindo tendências da economia como um todo.

Qualificar é o caminho para a competitividade, achar oportunidades para os mais novos e desenvolver mercados agregadores de renda. Deixar de pensar o leite apenas como uma commodity, olhando para a agregação de valor. Fazer a nossa parte, para produzir alimento com qualidade. Leite de qualidade.