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SANIDADE

Febre do leite

Tratamento preventivo e bem-estar animal podem evitar a doença

A principal forma de prevenir a febre do leite é fornecer uma dieta adequada para os animais, inclusive com suplementação de alguns minerais, entre dois e quatro dias antes do parto, sob orientação do técnico

Gisele Dela Ricci*

A febre do leite é conhecida também como paresia puerperal, paresia das parturientes e síndrome da vaca caída. É caracterizada pela queda do cálcio no organismo, com a sua ocorrência associada ao parto, ao início ou em qualquer fase da lactação, em vacas de média e alta produção e que estejam na terceira ou quarta lactação.

Os sinais incomuns apresentados pelos animais devem ser analisados, já que é uma doença que pode ser reconhecida de forma precoce. Face tais indícios, é necessário que o produtor conte com a orientação de um médico veterinário para tomar as providências necessárias. É importante que haja manejo adequado da vaca leiteira antes, durante e após o parto, buscando garantir o conforto dos animais durante esse processo, de modo a se evitar a ocorrência de outras doenças e complicações.

Entre os parâmetros que influenciam o aparecimento da febre do leite estão a idade do animal, que está relacionada à dificuldade na mobilização de cálcio; o consumo de cálcio durante o período seco; o alto teor de cálcio na dieta, diminuindo a liberação do paratormônio (hormônio que promove a regulação dos níveis de cálcio no sangue) e, consequentemente, dificultando a mobilização do cálcio; fatores nutricionais durante o período de transição, uma vez que o bovino ingere menor quantidade de alimentos, diminuindo o nível de cálcio da dieta. Diante de todas as raças, a Jersey é mais suscetível à hipocalcemia, devido à sua maior produtividade de colostro e sua predisposição genética às doenças.

A hipocalcemia pode acarretar uma série de sintomas, uma vez que o cálcio é um mineral essencial para o organismo dos bovinos de leite. A deficiência de cálcio no periparto ocorre devido à necessidade do mineral para a produção do colostro. Com a queda dos níveis de cálcio, mecanismos regulatórios retiram o mineral dos ossos e enviam para a corrente sanguínea, já que nesta fase o organismo da vaca dá prioridade à produção leiteira.

 

Principais sintomas – Em relação aos sintomas, as vacas podem apresentar anorexia e dificuldade para caminhar no início da doença. Ainda serão apresentados tremores musculares nos membros e na cabeça, com rigidez nas patas traseiras. Em seguida, podem apresentar inquietude, podendo ranger os dentes.

A rigidez dos membros faz com que as vacas apresentem dificuldade em permanecer em estação, vindo, por isso, a cair e permanecer deitadas, o que acarretará novas complicações, como a redução do estado de consciência. A rigidez dos membros pode desaparecer, mas os membros se tornaram flácidos com extremidades frias.

Ocorre alteração na temperatura retal, com alterações digestivas, como a redução ou parada total da ruminação e a produção excessiva de gases, que acarreta o quadro de timpanismo. A falta de tratamento pode ocasionar a dificuldade ou a parada da circulação sanguínea, conhecida como choque circulatório, gerando a morte do animal.

A fase de hipocalcemia está relacionada à parição, mas nem todas as fêmeas apresentam sintomas graves. Quando apresentam, os animais ficam mais suscetíveis a outros problemas no pós-parto, como deslocamento do abomaso, retenção de placenta, cetose e mastite, podendo causar a diminuição da fertilidade das fêmeas.

 

Diagnóstico e tratamento – O diagnóstico da febre do leite deve ser realizado a partir dos sinais clínicos e no histórico dos animais, sendo confirmado pela resposta positiva ao tratamento. Os animais devem ser tratados imediatamente após o diagnóstico da doença.

O tratamento é feito a partir da reposição de cálcio no organismo, por meio da administração intravenosa de gluconato de cálcio, que deve ocorrer de forma intravenosa (dentro da veia) ou sob a pele, de forma lenta e acompanhada de monitoramentos cardíacos. O tratamento subcutâneo não é adequado para vacas caídas, uma vez que a velocidade de absorção é diminuída, sendo mais indicada a forma intravenosa. Na maioria dos animais a recuperação ocorre de forma imediata após o tratamento ou em até duas horas. Alguns bovinos ainda podem apresentar sinais clínicos de 24 a 48 horas após o tratamento inicial e devem ser tratados novamente.

Os animais devem ser tratados imediatamente após o diagnóstico da doença, segundo orientação do médico veterinário

Entre os sinais indicativos da melhora clínica dos bovinos durante o tratamento estão tremores musculares finos, aumento da intensidade dos batimentos cardíacos, tentativa do animal em se manter em pé e o retorno da defecação e eructação.

A principal forma de prevenir a febre do leite é disponibilizar uma dieta adequada para os animais. É preciso prevenir a hipocalcemia, o que pode ser realizado com dietas com maiores níveis de fósforo ao longo da gestação e com suplementação de cálcio por volta de dois a quatro dias antes do parto.

Para fêmeas com déficit nutricional ou com baixa exposição ao sol é recomendado que haja administração de vitamina D na última semana de gestação, uma vez que a vitamina D auxilia na metabolização do cálcio, estimulando a absorção de nutrientes e aumentando sua concentração no sangue.

A febre do leite está associada às condições da vaca ao parto e no pós-parto, no início da lactação

A aplicação subcutânea de cálcio imediatamente após o parto também é recomendada, uma vez que, além de prevenir a febre do leite, essa reposição permitirá reduzir o estresse das vacas, auxiliando no manejo adequado e no bem-estar animal.

Os custos do tratamento da hipocalcemia puerperal não são elevados. No entanto, maiores prejuízos são relacionados às complicações associadas a, por exemplo, retenção de placenta, prolapso uterino, partos complicados e mastite clínica. A febre do leite gera prejuízos relacionados à queda da produtividade, uma vez que reduz o desempenho dos animais, acarretando prejuízos em torno de 14% para produção de leite na lactação e redução da vida útil da vaca leiteira em três a quatro anos, em média (no original, são listadas algumas referências bibliográficas. Os interessados podem entrar contato com a Balde Branco).

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*Zootecnista, mestra, doutora e pós-doutoranda pela USP. Atua no laboratório de Etologia, bioclimatologia e nutrição de animais de produção (bovinos, suínos e ovinos)

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