O feno é um volumoso que pode ser utilizado na dieta de todas as categorias animais em uma fazenda leiteira, desde bezerras – quando se deseja fornecer um produto de melhor qualidade e aceitação – até vacas de elevada produção, além de animais menos exigentes, como novilhas de reposição e vacas secas.
Apesar de ser técnica muito antiga, que consiste basicamente em desidratar forrageiras para uso posterior, a fenação é pouco difundida no País, especialmente pelo alto investimento em maquinário: ceifadora, ancinho enleirador e enfardadeira.
Uma alternativa que pequenas propriedades têm adotado é utilizar roçadeiras a motor atadas à cintura para o corte. Depois, com um rastelo ou com as próprias mãos, o material é revirado até secar, sendo depois ensacado e recolhido em galpão seco e ventilado. Seu processo de conservação, tendo como resultado um material que pode durar anos, depende da retirada da umidade da planta, diferentemente de uma silagem, que depende da ausência de ar.
A zootecnista Luciana Miranda Lima, da Insilo Consultoria, situada em Lavras (MG), conta que a recomendação para propriedades com vacas que produzem 15 a 20 litros de leite por dia seria o fornecimento do feno junto ao concentrado e à silagem de milho no cocho, como volumoso no período seco do ano, quando não existe pasto disponível.
A consultora destaca que o feno deve ser utilizado estrategicamente como fonte de fibra. Em fazendas pequenas, que colhem com máquinas menores, diz que a silagem de milho fica muito moída e que se usa o feno para fornecer fibra fisicamente efetiva (que promove a mastigação), já que a silagem está moída.
Em fazendas maiores, ela observa que a silagem de milho possui um tamanho de partícula adequado e que o feno também entra como fonte de fibra efetiva, mas com o objetivo maior de proteger o rúmen. Nessas propriedades mais intensificadas, com vacas de alta produção, o feno é utilizado o ano todo. “Esses animais exigem, em suas dietas, muita energia para suportar a produção de leite, o que traz desafios ao ambiente ruminal. O feno adicionado, por estimular a mastigação, favorece a produção de saliva carregada de bicarbonato”, explica. Ele vai “tamponar” o sistema ruminal, trazendo conforto ao animal e o protegendo principalmente de distúrbios metabólicos, como a acidose.
Ela nota que, como se está cada vez mais fornecendo dietas com mais energia para obter uma maior produção de leite dos animais, o feno tem sido utilizado para manter a saúde ruminal. Neste contexto, tem observado um aumento em seu uso em propriedades médias em transição para um porte maior. Nas fazendas pequenas, com vacas até 15 litros de leite/dia, Luciana diz que não tem observado o uso do feno, pois não são animais nutricionalmente desafiados, além de o custo ficar alto.
Embora fenos contenham quantidades até razoáveis de proteína, isso seria secundário, pois indica que, como volumoso, sua inclusão na dieta deve ser baixa para não limitar o consumo dos animais de outros ingredientes.
Atenção ao corte e à matéria seca – Para indicar se a área plantada está no momento certo para o corte, a zootecnista conta que tem utilizado o bom senso, se ela está com boa cobertura de forragem e uma maior proporção de folha em relação ao caule. “Independentemente da forrageira, o corte deve ser rente ao solo, para favorecer uma rebrota com mais folhas e extrair o máximo de forragem do campo”, destaca ela.
O tempo de secagem vai depender principalmente das condições climáticas: como sol e vento. Quanto mais intensos estes forem, mais rápido a secagem ocorrerá. As condições do corte também podem influenciar, pois, conforme explica Luciana, existem máquinas que igualmente amassam os colmos, favorecendo a perda de água, que acontece principalmente pelas folhas. Para trabalhar com folga, a consultora sugere se planejar para um período de cinco dias.
No campo, as forrageiras possuem cerca de 20% de MS (matéria seca) e sua desidratação precisará trazer este porcentual para 80% a 85% de MS, pelo menos. A chuva, a umidade elevada e o recolhimento do material antes do tempo comprometerão o trabalho, fazendo a forrageira mofar.
Para saber se o material está no ponto, essa avaliação pode ser feita por alguém experiente em produção de feno que, ao tocar no material, será capaz de indicar o momento certo para o corte. Porém, para se fazer essa avaliação na propriedade, o mais indicado é por meio do método que se utiliza de um micro-ondas. Basicamente, Luciana sugere que se faça uma amostragem em vários pontos da área a ser medida, recolhendo 100 gramas da forragem. Ela será posta num recipiente (nunca de metal) junto com um copo de água dentro do aparelho, que será acionado por três minutos à potência máxima, o que dependerá do micro-ondas. Posteriormente, a pesagem da matéria é repetida até atingir duas medidas iguais. Por exemplo, uma primeira medida revelou 90 gramas, uma segunda de 83 g e as duas seguintes estáveis em 82 g sendo então 82% a matéria seca. Durante o processo, a zootecnista alerta para a possibilidade de a forrageira pegar fogo, pois estará seca.
Para o enfardamento da forragem desidratada, a consultora diz que existem equipamentos bem eficientes, mas em volumes menores, além da possibilidade do ensacamento. Ela comenta que já observou produtores utilizarem, por exemplo, caixas de verduras. Cordas são passadas no sentido longitudinal e transversal, com o feno sendo acomodado dentro e sucessivamente pisado até que esteja prensado, quando então as cordas são amarradas, fazendo um fardo.
Todas as etapas da produção do feno até a sua inclusão na dieta demandam custos e cuidados, como enfatiza a zootecnista, acrescentando que será necessário passar pelo acompanhamento de um técnico experiente ou de um nutricionista.
Forrageiras para um bom feno – “É possível se fazer fenação com as mais variadas plantas, mas na produção leiteira se buscam as de maior qualidade e produção, pois são animais mais exigentes”, afirma Diogo Rodrigues da Silva, zootecnista da Sementes Oeste Paulista (Soesp), localizada em Presidente Prudente (SP). Ele reforça que o feno é um volumoso, uma fonte de fibras, mas que, ao se obter um material de qualidade, também se terá proteína.
Silva comenta que, quando se fala em forrageiras, elas sempre possuem seus pontos fortes e fracos. Dentre as boas características, aponta, além de um valor nutritivo coerente com as necessidades do rebanho e a elevada produção por unidade de área, uma alta relação folha/caule e caules finos. Ela também deve possuir uma boa capacidade de rebrota, permitindo sucessivos cortes no período das águas, quando o feno é produzido; um hábito de crescimento que facilite a colheita, possibilitando um bom desempenho do implemento/ferramenta de corte, além de palatabilidade. Também são desejáveis espécies que atinjam rapidamente o ponto de feno, com o máximo possível seu valor nutritivo original.
As leguminosas são as que mais têm proteína, mas o zootecnista diz que seu processo de secagem exige um domínio maior da técnica e há dificuldade em manter o material íntegro, pois suas folhas se soltam. “O ‘top’ é a alfafa, mas tem alta exigência em solo e manejo”, indica.
Já as gramíneas do gênero Cynodon, como tifton e coast cross, são de alta qualidade e excelentes para a fenação. Ele aponta, porém, que são menos produtivas do que os capins e de mais difícil cultivo, que é feito com mudas.
De boa qualidade, embora não tanto como as gramíneas, estão os capins do gênero Panicum maximum, como mombaça, quênia e o zuri, que são de alta produtividade,
Já as braquiárias, como marandu e piatã, não são tão nutritivas como as anteriores, mas possuem uma produção muito boa, capaz de suprir a demanda dos animais em termos de volumoso.
Como qualquer prática, a fenação é um processo que tem seus desafios, como o momento de corte e um processo de secagem criterioso. Desta forma, Silva afirma que costuma recomendar aos produtores iniciantes na arte de fazer feno que primeiro o façam em áreas menores até que tenham domínio da técnica.
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