Na minha infância, agosto era o mês das mangueiras começarem a florada, dos mulungus tingidos de vermelho, ipês amarelos e do assa-peixe repleto de abelhas. Era frio, e seco, mas não faltava água de mina. Hoje, no frio de agosto, as floradas são irregulares, nenhuma névoa matinal, o ribeirão quase seco, a água vem de um poço. A seca brasileira deste ano, segundo especialistas, será das maiores da história. A TV e a Internet trazem notícias de incêndios enormes que cobrem as cidades do Centro-Oeste de fuligem e fumaça. No calorão do Hemisfério Norte além dos incêndios ocorrem chuvas diluvianas, arrastando histórias e vidas. São as mudanças climáticas.
O clima está menos confiável. Para mim, essa é a definição para “mudanças climáticas”. Mais seca, mais frio, mais calor, mais tempestades, e tudo acontecendo em épocas inesperadas, em intensidade nunca vista. A natureza também fica meio tonta. Mangueiras e jabuticabeiras dão flores fora da época, o milho cresce, mas em seguida não tem chuva para encher frutos e espigas.
O clima menos confiável aumenta muito o risco e os custos de qualquer atividade agropecuária. Como planejar o investimento para uma cultura produtiva e lucrativa? Garantir forragem para o Gado? E os grãos? A indústria de seguros é hoje uma das que mais investe na avaliação dos riscos que as mudanças climáticas podem trazer, tamanho têm sido os prejuízos causados por essas “catástrofes naturais”, cuja intensidade e frequência são aumentadas pela interferência humana no ambiente.
Para fazer frente às mudanças climáticas, toda a Humanidade precisa reconsiderar como tratamos a Natureza. Essa afirmativa, de tão vaga, é pouco útil. Por isso, as grandes empresas estão se reposicionando, se adequando rapidamente para continuarem a gerar produtos e terem lucro, mas de modo a diminuírem o impacto das suas atividades no ambiente. O termo “sustentabilidade” está sendo cada vez mais vinculado com atitudes concretas para diminuir o efeito das mudanças climáticas. Na TV e outras mídias a sigla ASG é destaque. Em inglês é ESG, para Ambiente (Environmental), Social e Governance. Governos e grandes empresas, além de vários cientistas, sabem que o aumento dos fenômenos naturais intensos e mais frequentes causa aumento dos custos, muitas vezes enormes prejuízos. Vão acontecer mais falências. Governos terão despesas muito maiores para repararem postes, pontes, estradas e, pior, arcar com vidas perdidas.
É melhor e mais lucrativo trabalhar com princípios ASG/ESG, adotar e divulgar que são utilizados protocolos e práticas certificadas. Assim, os consumidores vão continuar comprando seus produtos, sem se sentirem culpados por contribuir para “piorar o clima”. Essa tendência é irreversível: os consumidores – nós – valorizamos práticas e atitudes diárias que diminuam as causas que promovem alterações no clima. A empresa, indústria de laticínios ou propriedade que tenha um certificado ASG/ESG tem como garantir que preserva o ambiente. Tem como demonstrar que segue princípios de justiça social, respeitando minorias e dando condições de trabalho, tudo isso respeitando leis e normas.
Como as grandes empresas, que querem garantir sua existência e seus lucros, da mesma forma os Produtores de Leite podem garantir sua atividade e deixar sua propriedade melhor para seus sucessores. Preservar suas nascentes e reservas florestais, evitar queimadas e o uso excessivo de adubos e outros insumos, reciclar embalagens, tudo isso é fundamental. Para a sustentabilidade da atividade leiteira, para produzir com lucro, o clima precisa ser previsível, ter estabilidade, já que não é controlável. E no futuro, com chuvas regulares como há poucos anos, as floradas poderão colorir o inverno, em agosto.
Todos os Direitos Reservados - Balde Branco © 2023
Personalidade Virtual