balde branco

Com todo o cuidado, o melhoramento genético foi formando um rebanho de alta produção

FAZENDA

Foco profissional faz produtora obter ÓTIMOS RESULTADOS EM POUCOS ANOS

Desde o início, essa atitude guiou passo a passo as conquistas que, junto com a adoção de tecnologia, foram colocando a atividade em patamares cada vez mais altos

 

João Antônio dos Santos

atividade leiteira da família Schleder, na Fazenda Schleder, localizada em São Francisco, no município de Chopinzinho, no sudoeste paranaense, começou em 2012, quando Natieli Aparecida Presa Schleder e seu marido, Vanderley Rodrigues Schleder, decidiram ter mais uma fonte de renda, optando pela atividade leiteira.  “Naquela época, eu trabalhava na cidade como vendedora e Vanderley trabalhava com lavoura, mas sentíamos a necessidade de diversificar a atividade. A lavoura dá uma renda anual e também é muito dependente do clima. Então, o leite nos pareceu ser uma boa oportunidade, pois permite uma renda mensal. Além do que o risco é menor, pelo fato de que, se o produtor tiver uma comida boa no silo, ele passa o ano bem tranquilo”, conta Natieli. 

 Na época, na Fazenda Schleder, com 23 hectares, eles iniciaram a produção de leite numa área com pouco mais de 4 hectares, que estava praticamente inutilizada, ocupada apenas com umas cinco cabeças de gado de corte. Ela diz que a atividade leiteira começou em maio daquele ano, quando compraram as primeiras 11 novilhas. Para ajudá-los na lida com os animais, os pais de Natieli se mudaram para a propriedade, pouco antes de chegarem os animais.

 

Formada em Administração de Empresas, a produtora diz que, antes de começar no leite, buscou muita informação e continuou com cursos sobre produção leiteira – inseminação artificial, casqueamento, ordenha, manejo, cuidados com as bezerras e outros mais. “O ponto alto desse aprendizado veio com o curso sobre gestão de fazendas leiteiras, o MDA da Clínica do Leite-Esalq/USP, de Piracicaba-SP, ministrado pelo professor Paulo Fernando Machado, em 2018. Este curso nos ajudou demais, pois deu um norte e uma visão totalmente diferente para a nossa atividade”, diz a produtora, destacando que foi importante para a gestão com as pessoas, a valorização de seu trabalho e a consciência de que elas são parte fundamental do negócio.

Natieli e Vanderley tocam juntos a atividade. Enquanto ele cuida da produção de alimento para os animais, do maquinário e da lavoura, ela se encarrega da administração e da gestão das pessoas, da produção de leite – que inclui o manejo dos animais, a nutrição, a reprodução, a ordenha e a qualidade do leite.

Desde o início, Natieli e Vanderley tinham em mente tocar a atividade com profissionalismo

A ideia inicial do casal era ter em torno de 40 vacas em lactação, em sistema semiconfinado. “Mas as coisas foram mudando. As primeiras novilhas foram parindo e eram ordenhadas com balde ao pé. Quando chegamos a 23 vacas em lactação, a sala de ordenha nova estava pronta. Alguns meses depois, fizemos o primeiro módulo do free-stall, que na época comportava 60 animais”, relata ela, observando que desde o início conta com a orientação técnica do médico veterinário Fernando Bracht, da B&M Consultoria (hoje, Cooper BM), de Cascavel-MG.

Atualmente, toda a atividade está na Fazenda Schleder, com área total de 23 hectares, sendo que, destes, 12 hectares são destinados à produção leiteira. Eles arrendam 200 hectares, dos quais 56 são utilizados para produção de alimento para os animais, como o cultivo de milho para silagem e forrageiras para produção de feno ou pré-secado. No restante da área arrendada, plantam-se soja, feijão e outras lavouras.

Quanto aos investimentos em compra de animais, instalações, equipamentos e tecnologias, uma boa parte foi feita com recursos próprios e outra por meio de financiamentos, que vêm sendo pagos com os recursos advindos do leite.

 

Produção de alimentos e dieta adequada – A produção de alimentos sempre foi uma das prioridades, pois alimento de qualidade e em quantidade suficiente está na base do bom desempenho da produção de leite. “Sempre é feito um planejamento de produção de volumoso (silagem de milho) para que se tenham sobras, pensando em problemas climáticos que possam comprometer o resultado da fazenda”, diz a produtora.

Além de silagem, produzem feno de tifton (cultivado em uma área irrigada) para alimentar as bezerras de desmame, novilhas e vacas em lactação. 

Na Fazenda Schleder, o rebanho é formado por 300 animais da raça Holandesa, sendo 135 vacas em lactação, 20 vacas secas, 121 novilhas e 24 bezerras. Adequadamente setorizada para o manejo dos animais, as novilhas e vacas secas hoje ficam em piquetes; as vacas pré-parto, em galpão de compost barn e, vacas em lactação, em sistema free-stall.

Com dieta equilibrada e com nutrientes de alta qualidade, as vacas expressam seu potencial produtivo

Segundo informa Natieli, dos animais em estágio de produção, 86% são de vacas em lactação e 14% de vacas secas. As 135 vacas em lactação produzem diariamente 5.360 litros de leite, ou 39,7 litros por vaca/dia. A produtividade por hectare/ano alcança os 17.500 litros. 

O manejo nutricional é também muito cuidadoso, com a dieta formulada pelo consultor, adequada para cada categoria animal. Bracht explica que é feita avaliação do volume e da qualidade de sobras no cocho dos animais; da composição de sólidos do leite para identificação de acidose, bem como avaliação do nitrogênio ureico, para evitar excesso de proteína na dieta e desperdícios. “Monitoramos se a dieta está aniônica utilizando uma avaliação de pH urinário para avaliar se está correta ou necessita de ajustes”, diz ele.

Para ganhar em eficiência e melhorar sempre os índices de desempenho do sistema, a produtora não poupa o uso de tecnologias. No manejo reprodutivo, é utilizado o pedômetro, que auxilia na identificação do cio de retorno. Com programa de acasalamento orientado, usa protocolos de IATF nas vacas, visando acelerar e melhorar os índices reprodutivos.

A sanidade do rebanho jamais sai do radar, a fim de garantir uma vida saudável, produtiva e longeva das vacas. “Procuramos fazer bons protocolos vacinais nos animais, tanto de reprodução quanto de mastite, clostridioses, raiva, entre outras. E todas as boas práticas na secagem das vacas. E, no período seco e periparto, essas boas práticas são seguidas à risca para mantê-las saudáveis e produtivas”, assinala Natieli, lembrando que há alguns meses utiliza a tecnologia da OnFarm, instalada na propriedade para identificar, em apenas 24 horas, o agente causador de mastite.

 

Com as condições mais adequadas, a saúde das bezerras melhorou muito

Qualidade do leite Outro item que recebe toda a atenção da equipe refere- se à sanidade da glândula mamária, cujos resultados mostram o rigor nesse trabalho, expresso na qualidade do leite: a CCS é de 135.000/ml, na média do ano, sendo que 82,5% dos animais têm CCS abaixo de 200.000/ml. A CBT ou CPP é de 1.000 Ufc/ml. A composição do leite é de 3,82% de gordura e 3,26% de proteína.

É feita, também, análise de leite individual dos animais mensalmente com o controle leiteiro. Em todas as vacas que apresentarem nova infecção de CCS acima de 200.000 faz-se o CMT, para avaliar qual a teta comprometida. Além disso, efetua-se a semeadura da amostra do leite, no laboratório da fazenda, para identificação do agente envolvido na mastite em 24 horas, o que permite a tomada de decisão mais rápida e acertada.

Para o acompanhamento do controle da mastite e da qualidade do leite, a equipe do setor conta com painéis gerenciais do controle de resultados de CCS, CPP, escores de sujidade de filtro e número de novas infecções, entre outras informações. “Todos os processos foram sendo implementados conforme o diagnóstico e sua necessidade de melhorar cada vez mais os resultados zootécnicos dos animais”, comenta Bracht.

A produtora Natieli Schleder relata que o sistema de criação de bezerras era precário, com muitos casos de diarreias, e não havia um protocolo de cuidados e fornecimento de leite. “Hoje melhoramos muito nossa criação, graças à orientação do consultor. Com a adoção de boas práticas, as instalações contam com o barracão das bezerras do leite, com baias individuais; casinha de colostragem com pasteurizador; resfriador para leite descarte, que fica na sala do leite, e congelador para o banco de colostro”, conta. 

As instalações para as  bezerras  garantem todo conforto e limpeza

Assim que nascem, as bezerras vão para a casinha de colostragem, onde  recebem todos os cuidados, como desinfecção de umbigo e fornecimento de colostro (pasteurizado e previamente analisado em sua qualidade com o refratômetro de Brix). Neste momento, é feita a identificação do animal com brinco e com sua ficha de nascimento, monitoramento e pesagem.

Após a colostragem, as bezerras são alojadas em baias individuais, onde permanecem até o desmame. Ao completar 48 horas, é feita a avaliação da qualidade da colostragem da bezerra com base em sua sorologia.

No manejo, é estabelecida a separação dos animais jovens por lotes de idade e peso, divididos em 12 ambientes conforme as categorias produtivas. “Procuramos não misturar muitos animais na fase jovem para não comprometer seu desempenho, mantendo separados os lotes de desmame até o período de inseminação, para daí, então, misturá-los”, explica Natieli.

Nos três primeiros ambientes, os bovinos ficam em local coberto, dividido em três baias, sendo este sistema de cama sobre cama. Recebem ração, minerais, feno à vontade e água fresca. Posterior a isto são colocados em piquetes, que contam com sombra, fenil coberto e área de piso ao seu redor. Continuam a receber ração, feno e água fresca à vontade. A equipe que cuida desse setor conta com painéis gerenciais de controle de doenças e de ganho de peso das bezerras, que lhe permitem um trabalho muito mais eficiente de manejo. 

MANEJO CUIDADOSO E BEM ESQUEMATIZADO DAS BEZERRAS ÀS NOVILHAS PRENHAS RESULTA EM ANIMAIS COM ALTO DESEMPENHO

Mensalmente o ganho de peso dos animais jovens é monitorado, adequando estes a suas dietas e lotes, conforme a necessidade. “Tínhamos em 2015 nossas novilhas parindo com 27,5 meses de idade; em 2018 com 24 meses de idade e projetamos que o fechamento de 2019 seja próximo a 23 meses de idade ao primeiro parto”, diz Natieli.

Chegadas à fase em que estão aptas para a cobertura, as novilhas são alojadas em um barracão com uma pista de trato com três divisões: novilhas liberadas, novilhas diagnosticadas prenhas mais novas e novilhas prenhas com mais idade e gestação mais avançada.

Gestão com profissionalismo Como a propriedade trabalha com três ordenhas por dia, são necessários dois turnos de trabalho. A equipe é composta por dez funcionários. “Nossos colaboradores são bons profissionais, todos comprometidos com as metas e os objetivos a serem alcançados. A gente trabalha com a fazenda setorizada e as pessoas estão empenhadas em fazer as coisas da maneira certa”, ressalta Natieli.

Com manejo e dieta adequados, as novilhas se desenvolvem  saudáveis e chegam à primeira parição aos 24 meses

O processo de gestão conta com organograma, fluxograma de serviços, protocolos operacionais de rotina feitos, instruções de trabalho, metas e indicadores de eficiência de cada setor. “São gerados gráficos de cada setor para que os colaboradores interajam com os resultados e se sintam envolvidos nos processos”, diz a produtora. Periodicamente, são realizadas reuniões com os colaboradores, tanto de treinamento, como também de avaliação dos resultados obtidos. Natieli faz questão de frisar que essa evolução leiteira na Fazenda Schleder foi planejada desde o início, contando com a orientação do consultor Fernando Bracht. “Juntos, com base num diagnóstico da atividade, fizemos um planejamento de investimentos, visando profissionalizar a atividade para elevar a produção e o desempenho para ter uma fonte de renda consistente e satisfatória”, assinala ela, chamando a atenção para os números obtidos, (ver tabela ao lado). 

Vale ressaltar, como resultado do manejo eficiente e do melhoramento genético consistente, a evolução do desempenho da primíparas no pico de leite: 37 litros em 2015; 42 litros em 2018, e 44,5 litros em 2019.

Em sua avaliação da trajetória de avanços na Fazenda Schleder, Bracht ressalta que o diferencial foi o processo gradual de gestão dos colaboradores e a instituição dos protocolos de rotina para todos os eventos da fazenda. “Toda a equipe foi treinada para desenvolver os processos e isto faz com que tenhamos uma margem de erro menor, evitando desperdícios e melhorando os dados zootécnicos da fazenda.”

 
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Ele diz ainda que a propriedade vem crescendo e selecionando cada vez mais os animais conforme o seu desempenho. “A evolução agora seria um processo mais focado em genética, para conseguirmos alavancar ainda mais os números da fazenda”, observa.

Com a venda dos mais de 5 mil litros de leite por dia para a Nestlé, a produtora recebe em média R$ 1,46 por litro, enquanto seu custo de produção situa-se em R$ 1,41 por litro. A margem hoje é de 8% e a meta é chegar a 12%, num primeiro momento. “Para nós, a atividade leiteira é um bom negócio. A meta para os próximos anos é dobrar o número de animais em lactação e continuar produzindo com qualidade. Estamos continuamente investindo em genética para melhorar a produção, a saúde e a longevidade dos animais, segundo as boas práticas de produção, baseadas no bem-estar animal, na sustentabilidade e na valorização dos colaboradores. E assim chegaremos aos 10 mil litros de leite por dia”, conclui Natieli.

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