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A espécie a ser introduzida, além de adaptada às condições locais de solo e clima, deve proporcionar uma boa cobertura

PASTAGEM EM DECLIVE

Forrageiras para áreas montanhosas

trabalham a favor da sustentabilidade

Escolher a planta forrageira certa e fazer o manejo adequado em áreas declivosas é o primeiro passo para proteger o solo e conseguir uma produção leiteira sustentável

Erick Henrique

Quando se pretende intensificar a produção de leite, elevando a produtividade por animal ou por área, existe, comumente, a necessidade de se aumentar a contribuição do volumoso na alimentação bovina, substituindo as pastagens nativas ou naturalizadas por outras de maior potencial forrageiro e de melhor valor nutritivo. No caso de o produtor ter de implantar ou já utiliza área em declive para a pastagem, é preciso uma atenção especial para proteger o solo, a fim de manter sua fertilidade e garantir a produtividade da forrageira.

Visando orientar o produtor, a Embrapa Gado de Leite publicou circular técnica, elaborada por engenheiros agrônomos e biólogos, sobre a formação de pastagens em regiões de declive mais acentuado. Os autores destacam alguns cuidados a serem considerados no preparo do solo, na escolha da espécie forrageira e no manejo da pastagem, a fim de evitar ou diminuir os efeitos nocivos da erosão, pela perda irreversível da camada superficial do solo, causando o aparecimento de áreas erodidas e que, futuramente, poderão se transformar em voçorocas.

Janaína Martuscello: “Dependendo do nível de declividade, a área não pode ser mecanizada, então é necessário avaliar os aspectos legais”

“Em algumas regiões, grande parte da atividade pecuária é feita em áreas com relevo bastante acidentado. Por exemplo, o Estado de Minas Gerais detém a maior produção de leite do Brasil, e grande parte dos sistemas utiliza essas áreas para a produção da matéria-prima”, destaca a zootecnista e professora da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), Janaína Martuscello.

Ela coordena o Grupo de Estudos de Forragicultura (Gefor) e acrescenta que esses locais, em linhas gerais, vão tolerar menores taxas de lotação animal e menor desempenho. Isso porque, quando as vacas precisam subir para pastejar, têm um gasto maior de energia, quando comparado aos gastos energéticos em um terreno plano. Logo, esse gasto maior acaba sendo descontado na produção de leite.

“Com a baixa produção forrageira nesse tipo de terreno, visto que as gramíneas de alta produção não poderão ser indicadas para esse tipo de solo, indicamos aquelas de menor produção. Consequentemente, teremos a diminuição da produtividade dos animais, dependendo do nível de declividade”, assinala Janaína.

No entanto, a especialista ressalta que o setor precisa trabalhar com estratégias de manejo para tais áreas, pois a utilização desses pastos na pecuária leiteira é uma realidade. Aliás, por essa razão, pesquisadores têm empenhado esforços no sentido de encontrar estratégias que possam potencializar o uso dessas áreas para que se tornem econômica e ambientalmente viáveis.

Deve ser bem avaliado também o uso de máquinas no preparo do terreno, pois em algumas situações elas não são recomendáveis, sendo mais prudente o emprego de tração animal ou fazer manual

Preparo do solo – Adotar práticas agronômicas adequadas, para a formação de pastagens, é de fundamental importância para seu estabelecimento em regiões declivosas, visando à conservação do solo. Pesquisas conduzidas na Embrapa Gado de Leite para avaliar métodos de preparo do solo para a introdução de outras gramíneas em pastagens degradadas de capim- gordura mostraram que o sistema de preparo do solo mais eficiente no controle da erosão foi aquele que usou a técnica em faixas e em níveis, alternadas com faixas não preparadas, onde é mantida a cobertura vegetal do solo.

“Dependendo do nível de declividade, a área permite o uso máquinas, então é necessário avaliar os aspectos legais sobre o uso do terreno. Para áreas não mecanizáveis é necessário escolher uma espécie forrageira de baixa exigência de fertilidade, para que se faça um preparo mínimo do solo ou nenhum preparo, porque essa topografia é a mais sujeita à erosão. Aliás, qualquer movimentação que o pecuarista fizer nesse tipo de solo pode trazer prejuízos ambientais enormes”, alerta a coordenadora do Gefor.

Entretanto, existem algumas áreas em que o declive não é tão acentuado, que possibilitam o preparo de solo semelhante àquele que o produtor faz para qualquer área de sua propriedade: análise de solo, calagem cerca de 90 dias antes da adubação fosfatada e da semeadura, ou com a muda se o produtor quiser colocar o capim estrela, que é uma planta que promove uma boa cobertura de solo, e depois finalizar a adubação de cobertura com nitrogênio e potássio. “O preparo de solo para essas áreas é uma coisa que devemos observar com bastante cautela para evitar colocar o trator em locais com declive muito elevado. Assim, por vezes, é preciso fazer esse manejo com tração animal ou manualmente.”

Outra dica importante da professora da UFSJ é com relação à curva de nível (terraceamento) em áreas declivosas, visto que essa técnica só resolve se for realizada utilizando o capim em terraços de base larga e com travesseiros. Além disso, o manejo deve ser rotacionado para permitir a homogeneidade de consumo da forragem e evitar a formação de trilhas pelos animais que deixarão o solo sujeito à erosão.

“Também é imprescindível fazer uma espécie de barragem ou ‘barraginha’, como os produtores entendem, para que a água não desça, gerando uma espécie de açude. Contudo, precisa ser bem feita para evitar o desabamento do solo quando se têm chuvas torrenciais. É uma estratégia que pode ser utilizada.”

O produtor deve manejar bem a pastagem e ter uma programação de adubação para que a cultura se desenvolva plenamente para cobrir toda área e proteger o solo

Escolha da espécie forrageira – De acordo com o informativo técnico da EGL, a espécie a ser introduzida, além de adaptada às condições locais de solo e clima, deve, antes de mais nada, proporcionar uma boa cobertura vegetal ao solo, protegendo-o dos efeitos da erosão. “Gramíneas que crescem perpendicularmente ao solo, e que formam as touceiras entre as quais a gente consegue caminhar, como Panicum maximum, cultivar capim-mombaça, paredão e o próprio capim-elefante, não protegem o solo contra erosão, pois deixam muitos espaços vazios entre as touceiras”, destaca Janaína.

Vale destacar que essas forrageiras devem ser evitadas, já que são plantas de alta exigência em fertilidade e por isso não se encaixam nesse sistema. E também não vão auxiliar o produtor a proteger o solo. “Há aquelas forrageiras que propiciam uma boa cobertura, como a braquiária decumbens. Até mesmo a braquiária humidícola, que, por vezes, só é lembrada para regiões alagadas, é uma planta que serve para áreas em declive, já que também, a exemplo da decumbens, cobrirá o solo, protegendo-o contra a erosão”, explica ela.

Já as forrageiras do gênero Cynodon, como tifton, coast-cross ou capim-estrela, podem ser consideradas, dependendo do nível de fertilidade do solo. Janaína explica que a cultivar estrela, por ser de média exigência em fertilidade, pode se encaixar bem nesses terrenos e propiciar a cobertura desejável. Já quanto às outras duas citadas, apesar de atenderem à necessidade de proteção do solo, não são aconselháveis se o produtor não conseguir trabalhar bem com a fertilidade do solo.

“Outras espécies forrageiras que podem ser utilizadas também são aquelas do gênero Paspalum, por exemplo a grama batatais, de baixa exigência em fertilidade do solo, é uma planta nativa que promove uma boa cobertura e proteção desse solo.”

Na avaliação da professora, cada planta forrageira tem uma produção de matéria seca em potencial. Por isso, para extrair todo o potencial de MS da forragem escolhida o produtor deve manejar bem os pastos, além de ter uma programação de adubação para que a gramínea consiga se desenvolver plenamente. “Quando o pecuarista possui um pasto bem formado, a cobertura do solo por esse pasto, principalmente se for de crescimento estolonífero (decumbente) vai ser quase em 100%. Daí a necessidade de utilizar esses tipos de gramíneas para proteger adequadamente o solo nessas áreas declivosas.”

A respeito do teor de proteína dessas forrageiras, ela diz que esse fator está mais associado ao manejo do que à espécie propriamente dita, sendo as variações muito pequenas, especialmente entre as cultivares já citadas. “Por esse motivo, a suplementação dos animais precisa variar, a despeito da topografia da área que o produtor esteja utilizando, de acordo com a época do ano, porque a qualidade da forrageira vai cair, pois só assim ele terá bons resultados em termos de produtividade do rebanho leiteiro”, avalia Janaína.

GEFOR: INFORMAÇÕES E ORIENTAÇÕES SOBRE FORRAGICULTURA


Para quem deseja conhecer mais sobre o Grupo de Estudos em Forragicultura, formado em 2011, por iniciativa da professora Janaína, procure o Gefor nas redes sociais (Instagram, Telegram, Youtube). O grupo promove um projeto de extensão que consiste na recuperação de áreas degradadas.

Essa iniciativa era local, atendendo a alguns produtores na região de São João Del Rei, mas, com o advento da pandemia, o Gefor passou a utilizar as redes sociais para divulgar o grupo de estudos, e logo muitos produtores acabaram conhecendo o trabalho de extensão e pediram ajuda.

“Pedimos uma solicitação para UFSJ para ampliar esse programa e conseguir atender esses pecuaristas de forma remota. Eles fazem as análises de solo, às vezes a gente indica o laboratório mais próximo da fazenda, em seguida interpretamos as análises, indicamos o tipo de forrageira que o produtor pode utilizar, bem como algum tipo de manejo e sistemas de integração”, diz ela, acrescentando que o projeto é gratuito e já atende, pela internet, mais de 200 pecuaristas, de leite e corte, de todo o Brasil.

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