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DPR é um indicador da habilidade genética de um animal em melhorar a eficiência reprodutiva, sendo calculado a partir da possibilidade que a filha de um touro tem para emprenhar

FERTILIDADE

Genoma tem bom indicador para

FERTILIDADE

É o que reforça recente estudo brasileiro sobre a taxa de prenhez das filhas (DPR) feito com mais de 3 mil vacas Holandesas de alta produção

Luiz H. Pitombo

Não faz muito tempo que começaram a surgir as primeiras pesquisas de campo associando aspectos da fertilidade das fêmeas ao marcador molecular DPR (daughter pregnancy rate, em inglês), despertando maior interesse no assunto. As melhores fazendas que se utilizam da genotipagem e recebem essa informação, além de outras a serem empregadas na seleção, já estão atentas e utilizam este índice. Assim como as centrais de inseminação, os médicos veterinários e aqueles que estão preocupados com a esfera reprodutiva.

“Ninguém faz seleção por uma característica isolada, mas estamos chamando a atenção com os dados que levantamos em nosso estudo que a DPR é um marcador específico de grande impacto na reprodução e que gostaríamos que fosse observado com mais atenção”, avalia o médico veterinário José Luiz Vasconcelos, o professor Zequinha, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp-Botucatu).

Ele participou do grupo de trabalho que se debruçou sobre o assunto junto com mais outros quatro pesquisadores, três brasileiros, sendo dois residentes no Canadá, e mais um originário daquele país. O artigo com esses resultados foi encaminhado ao reconhecido Journal of Dairy Science, dos Estados Unidos, onde foi elogiado e deverá ser publicado em breve, confirmando dados de pesquisas anteriores feitas no exterior e trazendo outros inéditos em âmbito mundial.

Uma maior atenção a esse índice no Brasil deverá acontecer, segundo aposta Vasconcelos, à medida que se melhorar o entendimento a seu respeito e uso. Resumidamente, a DPR é um indicador da habilidade genética de um animal em melhorar a eficiência reprodutiva, sendo calculado a partir da possibilidade que a filha de um touro tem para emprenhar. Assim, escolhendo sêmen de um touro com índice mais elevado se poderá conseguir fêmeas com melhor DPR e maior fertilidade.

Prof. Zequinha: “Dados que levantamos em nosso estudo mostram que a DPR é um marcador específico de grande impacto na reprodução e que gostaríamos que fosse observado com mais atenção”

Augusto Madureira: “Num desses estudos foi identificado que a cada ponto a mais no índice foi reduzido em quatro o número de dias em aberto da fêmea”

Novidades e usos – O zootecnista Augusto Madureira, que também participou da pesquisa e hoje leciona na Universidade de Guelph, no Canadá, conta que estudos anteriores mostraram os efeitos da DPR na prenhez da primeira inseminação artificial (IA), no cio de novilhas e na prenhez obtida por IA. Num desses estudos foi identificado que a cada ponto a mais no índice foi reduzido em quatro o número de dias em aberto da fêmea.

No trabalho que realizaram também foram aprofundadas essas características, além de outras novas, como a associação da DPR com a perda de gestação, na expressão do cio de todas as categorias e na transferência de embriões (TE).

Madureira explica que cada um desses aspectos tem sua influência na fertilidade e, assim, na rentabilidade de uma fazenda leiteira. Como esta depende da produção de leite e de um bezerro nascido por ano, aponta que, se a fêmea emprenhar logo na primeira IA, maior será a produtividade atingida, reduzindo dias em aberto e aumentando os ganhos. No caso de a fêmea não emprenhar de primeira, será preciso se esperar mais um ciclo de 21 dias a cada nova tentativa, com o animal nos novos períodos que forem necessários se aguardar somente se alimentando e trazendo unicamente gastos, pois estará vazio.

Como demonstrado em outras pesquisas feitas pelo mesmo grupo, quanto maior a demonstração de cio no dia da inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e no cio espontâneo (sem uso de hormônios), maior será a probabilidade de a fêmea emprenhar e menor será a perda gestacional. Além do prejuízo causado pelo embrião perdido, a demora em se identificar o ocorrido trará mais dias em aberto.

Considerando que a propriedade tenha boas instalações e um bom manejo para que o animal expresse seu potencial livre de outros problemas, a identificação na genotipagem da DPR em bezerras e novilhas, aliada a outros índices de interesse do produtor, pode servir como linha de corte na seleção, descartando, ou não, aquelas de menor índice, evitando-se investir na criação e manutenção de fêmeas com baixa fertilidade.

Outra possibilidade de aplicação é na definição da estratégia reprodutiva a ser utilizada em determinada fêmea, ou seja, a opção pelo tipo de sêmen (convencional, sexado e de corte) ou a TE. Se esta tiver uma alta DPR pode-se utilizar um sêmen sexado de um touro de melhor qualidade, pois a chance de ela emprenhar e manter a gestação será maior. Caso contrário, pode-se optar por um sêmen convencional, de corte ou a TE, se almejar um maior ganho genético.

 

Fonte da pesquisa – Para sua realização foi utilizado no estudo o banco de dados do rebanho Holandês da propriedade leiteira da Sekita Agronegócios, em São Gotardo (MG). As análises englobaram informações referentes ao período de janeiro de 2018 até março de 2020 pertencentes a 3.499 fêmeas, das quais 1.220 (34,9%) eram nulíparas, 1.314 (37,6%) primíparas e 965 (27,5%) multíparas. A possibilidade de se dispor de tantos animais e o bom volume de dados normalmente coletados pela fazenda, como avalia o zootecnista, foi importante para viabilizar e dar peso ao trabalho.

O manejo da fazenda não sofreu interferência, com as nulíparas ficando instaladas em compost barn sendo alimentadas duas vezes ao dia com ração total. As vacas em lactação (primíparas e multíparas), mantidas em free stalls, também eram alimentadas com ração total, mas três vezes ao dia. Em 2018, a produção média mensal máxima de leite atingiu 38,7 kg/vaca/dia, em 2019 ela ficou em 38,3 kg/vaca/dia e em 2020 chegou a 40,8 kg/vaca/dia.

A genotipagem dos animais já era adotada na fazenda por meio da análise de amostras do pelo da cauda, na maior parte das vezes coletada quando os animais tinham em torno de dois meses de idade.

Antes de realizada a inseminação, as vacas tinham seu ovário avaliado por meio de ultrassonografia transretal e entravam na lista de pré-sincronização em protocolo de IATF à base de estradiol e progesterona. Esses animais (primíparas e multíparas) eram selecionados para receber tanto sêmen convencional como sexado de reprodutores que atendiam ao programa de cruzamentos da propriedade.

As nulíparas, por sua vez, eram inseminadas com sêmen sexado, também selecionado de acordo a meta da fazenda, com o cio espontâneo sendo detectado com colar com sensor ou por indicador adesivo colocado na base da cauda do animal. Para o implante de embriões ou o uso de sêmen de corte, as vacas escolhidas pertenciam ao grupo das 10% inferiores do rebanho em qualquer uma das seguintes características: GTPI (índice combinando produção, longevidade, saúde e fertilidade) ou o mérito líquido; produção leite; dias em lactação e vacas que precisam de mais de quatro inseminações. Todos os embriões eram de fertilização in vitro (FIV).

O diagnóstico de prenhez para todas as categorias de fêmeas foi realizado por ultrassonografia transretal 32 dias após a IA e a confirmação aos 60 dias da IA. Já as perdas gestacionais foram consideradas nas fêmeas diagnosticadas prenhas aos 32 dias da IA, mas que estavam vazias aos 60 dias da IA.

Considerando que a propriedade tenha boas instalações e um bom manejo para que o animal expresse seu potencial livre de outros problemas, a identificação na genotipagem da DPR em bezerras e novilhas, aliada a outros índices de interesse do produtor, pode servir como linha de corte na seleção

Se a fêmea tiver uma alta DPR pode-se utilizar um sêmen sexado de um touro de melhor qualidade, pois a chance de ela emprenhar e manter a gestação será maior

Índices e associações – As análises mostraram que a DPR dos animais do rebanho variou numa faixa de -5,2 até 5,5. No ano de 2018 a média geral da DPR dos animais atingiu -0,98, para em 2019 ficar em -0,57 e no seguinte -0,46. “Esta mudança com o DPR chegando cada vez mais perto do zero mostra que um investimento grande foi sendo realizado, trazendo uma melhora expressiva na genética da fazenda”, avalia o zootecnista Madureira. Acompanhando esse movimento, os índices gerais de prenhez por IA foram de 36,8%, 42% e 44,2%, respectivamente nos anos de 2018, 2019 e 2020.

Corroborando com os comentários anteriores, ele diz que, na pesquisa, as nulíparas, animais jovens, apresentaram uma DRP média de -0,14, enquanto as primíparas -0,72 e as multíparas -0,89, mais velhas. Pelo fato de serem médias gerais, explica que certos animais acabam puxando um pouco para baixo os resultados gerais. Mesmo índices negativos, quanto mais perto do zero estiverem, se traduzem em fêmeas com maior fertilidade, embora seja preciso ressaltar que os positivos são os melhores.

As conclusões, válidas para todas as categorias de fêmeas (nulíparas e vacas em lactação), mostraram que as DPRs mais elevadas estavam associadas a maiores chances de prenhez na primeira IA, na prenhez por IA e menores possibilidades de perdas gestacionais. Elas também revelaram que, quanto mais elevadas, maiores as chances de demonstração de cio no dia da IATF. Quanto à demonstração do cio espontâneo, o zootecnista acredita que também ocorra uma maior manifestação.

Um dado relevante que foi igualmente identificado, e que se alinha a uma visão contemporânea do assunto, é a questão envolvendo a alta produção de leite e a fertilidade. No estudo, foi apresentada uma pequena correlação negativa entre esses dois aspectos, além do fato de se poderem encontrar vacas altamente férteis e produtivas. “Isso sugere que se possa selecionar animais por esses dois genótipos”, comenta Madureira.

O médico veterinário Thiago Guida, também integrante do estudo e que na ocasião era o responsável pela reprodução da fazenda, conta que já utilizavam na seleção do rebanho as PTAs genômicas (habilidade de transmissão prevista, do inglês), incluindo a DPR, mesmo antes do estudo, pois sempre acreditaram na tecnologia. “A pesquisa comprovou seus benefícios e ainda nos surpreendeu quando demonstrou que vacas com maior DPR apresentavam menor perda de gestação, além da melhor fertilidade.”

Ele informa que a propriedade continua a utilizar a genotipagem em todo rebanho e que este deve estar entre os melhores do País em fertilidade. Conforme enfatiza, “numa fazenda de leite cada detalhe importa (gestão, bem-estar animal, sanidade, manejo e outros) para se atingirem e se manterem resultados excelentes”.

Segundo o zootecnista Augusto Madureira, a DPR é um índice também aplicável para outras raças como Girolando e Jersey, por exemplo. Como nem todas as perguntas que surgiram durante o trabalho obtiveram respostas, diz que as pesquisas deverão continuar. Mas o estudo, como afirma, “já demonstrou a importância da genética na fertilidade e na manutenção da gestação”.

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