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A genética Girolando tem tido grande demanda de criadores de países da América Latina e Central

GENÉTICA

GIROLANDO AVANÇA

EM PRODUTIVIDADE

Graças ao uso das ferramentas de melhoramento genético, nos últimos 20 anos, a raça saltou de uma média de 2 mil litros de leite por vaca ano para 6 mil litros/vaca/ano

Erick Henrique

Estagnação é uma coisa que não existe no universo da raça Girolando. A cada ano, a Associação Brasileira dos Criadores, os pesquisadores da Embrapa, das universidades, a iniciativa privada e os produtores somam forças para solucionar este enorme quebra-cabeça da pecuária leiteira: maior eficiência do rebanho, em um menor espaço de tempo, por meio da utilização das tecnologias de melhoramento genético.

Até o momento, segundo o presidente da associação, Odilon de Rezende Barbosa Filho, o melhoramento animal propiciou uma evolução fantástica para o rebanho Girolando.

“Graças ao Programa de Melhoramento Genético Girolando (PMGG), as vacas saíram de uma média de produção de menos de 2 mil quilos de leite por vaca por ano para uma raça capaz de produzir 6 mil kg/vaca/ano. É claro que os ganhos com as melhorias de manejo, instalações, bem-estar animal, etc., tiveram sua parcela de contribuição, mas o PMGG foi fundamental para que nós produtores conseguíssemos esses resultados nos últimos 20 anos.”

Em relação a quais características os especialistas envolvidos com o PMGG estão trabalhando para impulsionar ainda mais o progresso da raça e melhorar a lucratividade do produtor, ele destaca que o objetivo de qualquer atividade é maximizar os resultados, e a entidade atua para que o pecuarista tenha mais lucratividade. Por isso, a associação desenvolve, numa parceira de longa data com a Embrapa Gado de Leite, o teste de progênie convencional e, também, nos últimos anos, conseguiu desenvolver a avaliação genômica.

“Ainda não estamos colhendo os frutos desse trabalho, contudo a genômica trará um impulso muito grande para a raça, especialmente quando as novas gerações de touros e vacas avaliadas apresentarem os resultados de produtividade nos próximos cinco anos. Além disso, graças à genômica, a associação tem agregado características novas ao PMGG, como imputar a idade ao primeiro parto, intervalo entre partos, e agora vamos soltar uma novidade no novo sumário, que é a característica de longevidade dos animais”, anuncia o dirigente.

Além disso, conforme Odilon de Rezende, a entidade está trabalhando para soltar, em 2022, os índices de qualidade do leite, sólidos no leite e também algumas características lineares. Haverá, inclusive, estudos para os próximos anos referentes aos aspectos de estresse térmico, características reprodutivas, que interferem diretamente na rentabilidade da atividade.

Odilon de Rezende: “A Girolando está trabalhando para soltar, em 2022, os índices de qualidade do leite, sólidos no leite e também algumas características lineares”

A democratização da genômica – Um sonho dentro da cadeia produtiva do leite é democratizar o uso das provas genômicas nos plantéis de pequenas, médias e grandes propriedades, nota o dirigente. Contudo, o acesso dessa ferramenta na grande maioria das fazendas brasileiras está bem longe de ser uma realidade.

A raça Girolando atende às necessidades de propriedades leiteiras de qualquer porte porte, de pequenas a médias e grandes

Felizmente, para o deleite dos criadores de Girolando, esse objetivo está saindo do papel, pois de acordo com a associação foram realizadas mudanças recentes justamente para beneficiar os produtores para a avaliação genômica da fêmea, em que a instituição incorporou a avaliação de beta-caseína com redução no valor por animal. Essa mesma iniciativa a Girolando agregou nos testes genômicos de touros, mas com impacto maior nos custos, uma vez que mudaram as regras das avaliações dos reprodutores de comum acordo com a Embrapa Gado de Leite e o consórcio formado pela Zoetis e CRV Lagoa.

“Antigamente, uma avaliação genômica de um macho Girolando custava R$ 6 mil, mas atualmente esse preço baixou para R$ 1.900, valores que começaram a vigorar no dia 1º de março deste ano. Essa conquista é no intuito de democratizar ainda mais a seleção genômica para um número maior de criadores associados. Isso, seguramente, ampliará o volume de animais avaliados, contribuindo para que o melhoramento genético da raça apareça com mais evidência na cadeia produtiva do leite”, comemora Odilon de Rezende.

Segundo assinala ele, cerca de 10 mil fêmeas da raça já foram genotipadas e pouco mais de 1.000 reprodutores passaram pelo mesmo processo no Brasil.

Benefícios das avaliações – “Temos de fomentar, cada vez mais, todos os programas de avaliação do PMGG (Clarifide/Zoetis e teste de progênie) sabendo que eles têm uma influência muito grande nas avaliações e também nos resultados financeiros das fazendas leiteiras. Portanto, é fundamental levar essa ferramenta para todas as classes de produtores (pequenos, médios e grandes). 

Antônio Garcia: "É fundamental levar essa ferramenta para todas as classes de produtores. Essas avaliações trarão benefícios genéticos e lucratividade para o setor”

Essas informações sobre as avaliações trarão benefícios genéticos e lucratividade para o setor”, diz o médico veterinário e gerente de produto leite da CRV Lagoa, Antônio Garcia Silva Nascimento.

Conforme ele assinala, o pacote tecnológico do PMGG é de suma importância para a contratação de touros da bateria da central, no qual primeiramente os animais precisam apresentar um valor mínimo de GPTA para serem positivados pela associação, além de atender a alguns parâmetros de avaliação genômica (Clarifide), avaliação fenotípica feita pela Girolando.

“Embora o genoma da raça contenha poucos dados no momento, todavia já é um caminho que podemos seguir na hora de selecionarmos os animais. E, pensando em seleção e melhoramento, é claro que os reprodutores mais jovens serão melhores do que aqueles touros que já estão a serviço há mais tempo. Dessa forma, a seleção genômica contribui muito para acelerar a evolução do rebanho Girolando e, consequentemente, o progresso da pecuária leiteira brasileira”, avalia Bruno Scarpa – médico veterinário e gerente de produto leite da Genex Brasil.

Bruno Scarpa: “Pensando em seleção e melhoramento, é claro que os reprodutores mais jovens serão melhores do que aqueles touros que já estão em serviço há mais tempo”

Polyana Rotta: “A nutrigenômica, o efeito da nutrição na expressão de genes, é fundamental para se chegar num ponto de refinamento da atividade leiteira”

Estudos de nutrigenômica – De uma maneira simples, a zootecnista e professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Polyana Pizzi Rotta define a Nutrigenômica como o efeito da nutrição na expressão de genes de interesse. Genes esses que podem estar associados a melhores produções de leite e concepção, por exemplo. Assim, cuidar da nutrição do animal com foco no efeito positivo que essa dieta poderá ter na expressão de genes de interesse é fundamental para se chegar num ponto de refinamento da atividade leiteira.

“Em estudos prévios conduzidos pelo nosso grupo na UFV, observamos que filhas de vacas Girolando obesas durante a gestação tiveram menos folículos em relação às filhas das vacas mantidas em dieta com ganho de peso moderado na gestação. Ao pesquisar isso mais a fundo vemos que a expressão de genes fundamentais para um bom desenvolvimento fetal na placenta da vaca gorda foi muito comprometida, e o que explica essa alteração? O excesso de gordura acumulado na placenta da vaca gorda, ou seja, a nutrição modulando a expressão gênica”, descreve a professora.

Segundo ela, a pesquisa em questão começou em outubro de 2020, emprenhando 20 novilhas Girolando com embriões ¾ Girolando oriundos da Fazenda Santa Luzia, do produtor Maurício Silveira Coelho. Dez novilhas estão sendo alimentadas para ter um ganho de peso baixo (0,3 kg/dia) e 10 novilhas são alimentadas para ganho de peso ideal (0,6 kg/dia).

“Dessa forma, teremos novilhas parindo com peso ideal e novilhas parindo com 80 kg a menos do ideal. Vamos avaliar na placenta dessas novilhas os genes que podem explicar o desenvolvimento futuro das bezerras. Nossa hipótese é de que as bezerras oriundas de mães que pariram com peso ideal serão mais desenvolvidas do que aquelas que pariram magras e com restrição alimentar”, explica Polyana Rotta.

Ela informa também que será avaliada a produção de leite dessas novilhas e a hipótese dos pesquisadores da UFV é de que novilhas que parem mais leves produzirão menos leite do que as que parem com peso ideal. Estudos parecidos com esse existem para outras raças. Entretanto, esse será o primeiro com animais Girolando.

“As novilhas começarão a parir em maio e a partir desse mês teremos resultados prévios, como produção e qualidade do colostro, produção e composição do leite, escore de vigor ao nascer das bezerras, incidência de doenças, desempenho, e vamos ao laboratório avaliar a expressão de genes relacionados a vascularização da placenta. Além disso, as novilhas recém-paridas serão avaliadas quanto ao tempo necessário para voltarem a ciclar, e o tempo gasto para a primeira concepção”, diz a professora.

Mercado de sêmen – O presidente da Girolando revela que, de acordo com o último levantamento da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), a raça atingiu a marca de 770 mil doses de sêmen comercializadas, em 2020. “Isso é fantástico, porque há quatro anos nós tínhamos apenas metade desse volume de doses vendidas. Então, o crescimento da genética Girolando é vertiginoso e a nossa expectativa é fechar 2022 com 1 milhão de doses comercializadas.”

Para o gerente da CRV Lagoa, a raça Girolando tem uma importância muito grande para bateria de leite tropical da central com 50% de participação nas vendas, em 2021 tem uma expectativa de crescimento de 15% com relação ao último ano.

“Nós, da CRV Lagoa, temos um prazer muito grande em contribuir para o melhoramento genético da raça, com o objetivo de oferecer para o mercado brasileiro touros bem avaliados, com ótima conformação leiteira, aliado à funcionalidade dos animais com eficiência”, ressalta Nascimento.

Já Scarpa aponta que o Girolando é segunda raça mais importante no Brasil, conforme o último balanço divulgado pela Asbia, quando o assunto é o mercado de leite, ultrapassando a raça Jersey.

“Outro ponto bastante importante é com relação às exportações de sêmen, pois o Brasil exporta a genética do Girolando para todos os países das Américas Latina e Central, construindo uma ponte comercial, oferecendo um amparo para esses países em virtude da qualidade dos animais produtores de leite, de genética Girolando brasileira. Temos ainda um grande mercado de exportação a ser explorado e a Genex acredita demais no potencial da raça.”

Animais de alto padrão da raça Girolando da Fazenda Canto Porto

OS BENEFÍCIOS DA AVALIAÇÃO GENÔMICA


Esta tecnologia permite que os produtores desenvolvam geneticamente seus rebanhos mais rápido do que nunca, criando oportunidades para que fazendas leiteiras comerciais tenham maior controle de seus futuros animais e consequentemente maior lucratividade. Veja como:

• Confiabilidade: A confiabilidade dos valores genômicos é maior do que a média tradicional dos pais (PA) ou sem nenhuma informação. Contar com esta confiabilidade genética de animais jovens aumenta a precisão, dando aos produtores mais confiança na sua capacidade de tomar melhores decisões de gestão do rebanho e de estratégias de melhoramento genético.

• Melhores decisões para descarte: Você será capaz de descartar (vender) com mais confiança os animais inferiores de seu rebanho ou utilizar estes animais como receptoras. Se sua fazenda tiver excesso de animais, testes genômicos podem ajudá-lo a evitar os custos desnecessários com a criação de bezerras e/ou novilhas potencialmente inferiores (menos rentáveis) e que não contribuirão para a lucratividade de seu negócio.

• Confiança nas decisões de acasalamento: Com os resultados confiáveis que os testes genômicos fornecem, o produtor será capaz de identificar e gerenciar com mais certeza as fêmeas de alto potencial genético. Isso permite que você escolha de qual animal gostaria de obter mais fêmeas (utilizando sêmen sexado e/ou tornando-as doadoras de embrião). Essas opções levam a mais rentabilidade e maiores lucros ao longo do tempo. (Fonte: Clarifide/Zoetis)

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