balde branco

O evento reuniu representantes de todos os elos da cadeia láctea goiana

DIAGNÓSTICO

Goiás faz diagnóstico de sua cadeia láctea

Evento na capital goiana teve  como destaques a criação  de índice de correção do preço do leite ao produtor e os novos números sobre o setor

Luiz H. Pitombo

Duas novas importantes ferramentas para o desenvolvimento do segmento leiteiro, do produtor até o varejo goiano, foram apresentadas no IV Encontro Estadual dos Empreendedores de Leite de Goiás, que foi realizado em 18 de outubro. 

Numa promoção da Federação da Agricultura do Estado de Goiás e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Goiás (Sistema Faeg/Senar), compareceram perto de 750 pessoas, com predomínio de produtores de todos os portes, além de presidentes de sindicatos, laticínios, técnicos e estudantes. Também houve espaço para as empresas mostrarem insumos e equipamentos ao setor em vários estandes.

Dirceu Borges, superintendente do Senar estadual, explica que uma das metas importantes da programação do evento deste ano, além de palestras sobre competitividade e mercado, foi a de reunir e aproximar os vários elos da cadeia, fato relevante diante de tensões ocorridas durante 2019 e que vêm sendo superadas no estado, avalia.

Com a chamada “Pauta da Dignidade”, produtores pediam a antecipação do pagamento do leite já entregue e que o preço do produto fosse informado antes da entrega, como em qualquer outra atividade econômica. Depois de reuniões, estudos e negociações, foi acordado o estabelecimento do Indexador da Variação da Cesta de Produtos Lácteos, apresentado no evento e definitivamente aprovado em 28 de outubro e com previsão de entrar em vigor a partir de dezembro para o leite entregue em janeiro 2020. Nesta ocasião, integrando a chamada Câmara de Conciliação, que se reúne mensalmente, estiveram a Secretaria da Agricultura do Estado, a Faeg e o Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Goiás (Sindileite-GO).

“O objetivo do evento foi aproximar os elos da cadeia do leite para superar as tensões que ocorreram neste ano”

Dirceu Borges

A apresentação referente ao indexador de preços coube ao produtor rural Danilo Maracini, lembrando que a pauta defendida já vinha sendo trabalhada antes disso, pela Comissão de Pecuária de Leite da Faeg. “Os resultados de agora são fruto do esforço de uma equipe integrada pelo Sindileite, técnicos do governo por meio do Instituto Mauro Borges, que calculará o indexador, e da Faeg”, salientou. 

Para que isso ocorresse, reconheceu um amadurecimento das partes, que trouxe uma mudança de postura, envolvendo o produtor e a indústria. Ele defendeu que os produtores devem se engajar e solicitar a seus sindicatos que participem nas questões de interesse do setor e que existem outras frentes que necessitam ser trabalhadas.

A metodologia estabelecida e acordada tem como base não os custos de produção, mas os preços de venda dos produtos processados pela indústria, considerando os valores médios ponderados das últimas quatro semanas, por meio das pesquisas do site Milkpoint para o estado. Em função dos principais destinos do leite em Goiás, o leite UHT integral terá um peso de 20% na cesta, o leite em pó integral 23%, a muçarela em barra 37%, o leite condensado 4% e o creme de leite a granel, 6%.

Sobre a antecipação do pagamento do dia 25 do mês para o dia 5, o assunto ainda estava em discussão.

Evolução e necessidades – Quanto ao Diagnóstico da Cadeia Láctea (veja mais dados no quadro), também apresentado no evento, Dirceu Borges ressaltou a importância do estudo para nortear ações em benefício dos diferentes elos do setor e para o próprio Senar, que, como instituição de ensino, poderá verificar se os rumos que adotou estão certos e onde há necessidade de maior dedicação.

“Os produtores devem se engajar e pedir que seus sindicatos atuem no interesse do setor”

Danilo Maracini

Ele explica que, desde 2016, a entidade passou a dar assistência técnica a campo aos produtores e que isso ajudou a atenuar a grande deficiência ainda existente no estado nesta área. “No diagnóstico realizado em 2009, 83% das propriedades não tinham assistência e neste ano o número ficou em 79%, em especial para pequenos e médios produtores”, indicou. Ele contou que o Senar-Goiás atende a sete cadeias produtivas, mas a que possui o maior número de propriedades assistidas é a do leite, com 2 mil produtores ou 50% do total atendido pela entidade.

O vice-presidente da Faeg, Eurípedes Bassamurfo da Costa, explica que, diferentemente do diagnóstico anterior, que só abarcou propriedades rurais, o deste ano também tratou das cooperativas, dos laticínios e do varejo. Com isso, será possível, como avalia, saber não só o que o pecuarista precisa, mas também os demais integrantes do negócio para ajudar no fortalecimento da cadeia. “O produtor está entendendo que não pode ficar sozinho, que precisa de parcerias e que a população necessita de renda para aumentar o consumo”, afirma. Nas respostas obtidas do varejo, 59% colocaram este fator como o mais importante a afetar a demanda de lácteos.

Sobre outros resultados da pesquisa, citou que aumentou o número de propriedades com resfriadores de leite de 41% para 86%, o que resulta em maior qualidade do produto, e que também cresceu a participação das mulheres nas atividades das fazendas para 33%, ante 24% anteriormente. Dentre os aspectos que continuam a exigir aprimoramento, segundo Costa estão a melhoria da gestão, assistência técnica, treinamento da mão de obra e maior mecanização das atividades.
Um aspecto que considera muito positivo que surgiu no estudo é que produtores de leite também estão realizando agricultura, adotando sistemas intensivos que liberam áreas que serão cultivadas na safra e na safrinha, esta direcionada à alimentação dos animais. Ele próprio, como produtor de leite, realiza este procedimento.

Para o encontro do próximo ano, uma interessante novidade será a realização em conjunto com o evento Interleite Brasil, o que ampliará o leque de temas abordados e a própria repercussão do evento.

“É preciso melhorar a gestão das propriedades, a assistência técnica, o treinamento da mão de obra e a mecanização das atividades”

Eurípedes Costa

DIAGNÓSTICO EM NÚMEROS

Uma das palestras mais aguardadas foi a que trouxe uma radiografia atual de vários segmentos da cadeia de lácteos em Goiás, e não só dos produtores como na versão anterior de 2009. “Existem outros estudos no País, mas nenhum com a abrangência com que este foi realizado”, comentou Antônio Carlos de Souza Junior, da  SL Consultoria, que realizou a apresentação.

Foram entrevistados 568 pecuaristas de leite, 21 cooperativas, 14 laticínios e 51 pontos de varejo. O maior foco persistiu no setor rural, alvo de 276 perguntas específicas, enquanto os demais responderam a 40 perguntas cada. O Diagnóstico da Cadeia do Leite de Goiás com informações completas estará posteriormente disponível, mas no encontro ocorreu a divulgação de seus principais pontos, alguns deles apontados a seguir:

• Cooperativas e indústrias apontaram como principais problemas o baixo volume de leite captado pela distância percorrida, que no caso das cooperativas teve como média apenas 44 litros/km; ausência de infraestrutura adequada e energia elétrica deficiente, sendo criticada durante o evento a atuação da empresa Enel.

• Para a fidelização dos fornecedores, 40% das indústrias disseram que adotam o pagamento por volume e 25% por qualidade. Enquanto os produtores aprovam a adoção deste último critério, não concordam com o primeiro.

• A ordenha mecânica passou a ser adotada por 61% dos entrevistados e 60% deles realizam duas ordenhas, contra 24% e 48%, respectivamente, de 2009.

• Para 75% dos produtores, o maior problema é a oscilação e a incerteza sobre os preços, vindo a seguir os elevados custos de produção com 7,3%. Contudo, 79% dos entrevistados não calculam e não sabem este valor, que na verdade é um problema para as propriedades.

• Sobre a raça do touro utilizada, 38% afirmaram ser a Nelore, 29% Holandês e 19% Girolando. O elevado percentual da raça de corte é motivo de preocupação, pois distancia os produtores da especialização.

• Das propriedades consultadas, 57% possuem internet, com predominância do sistema via rádio.

• Para 51% dos produtores, seus filhos continuarão com a atividade, 20% trocarão de produto e 18% deixarão o meio rural. 

• Numa avaliação mais detalhada do resultado econômico de 24 propriedades, estas possuem elevado volume de capital imobilizado em terra, benfeitorias e animais que não é condizente com o resultado obtido. Isto indica a necessidade de uma revisão do planejamento do negócio, o qual só é realizado em alguma medida por 50% dos entrevistados.

“Ainda não foi realizado, no País, nenhum diagnóstico da cadeia do leite tão abrangente, envolvendo produtores, laticínios e varejo”

Souza Junior

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