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A cada ano, a raça Guezerá vem se mostrando uma opção eficiente para produzir leite nos trópicos

GENÉTICA

Guzerá e guzolando

Trunfos para os produtores

Graças às ferramentas de melhoramento genético, os animais Guzerá e Guzolando estão viabilizando a pecuária leiteira tropical por meio da adaptabilidade, da rusticidade e do aumento da produtividade

Erick Henrique

Tem sido muito produtiva a soma de esforços dos criadores de Guzerá leiteiro e pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, do Centro Brasileiro de Melhoramento Genético do Guzerá (CBMG), da ABCZ e de outras instituições, em busca de oferecer ao mercado animais realmente eficientes. Tanto é que, de acordo com os pesquisadores da Embrapa Gado de Leite e colaboradores do Programa Nacional de Melhoramento do Guzerá para Leite (PNMGuL), houve, nos últimos 25 anos, um aumento médio de 50 quilos de leite/ano na lactação das vacas Guzerá.

Para atingir esse incremento ao longo desse período do PNMGuL, cerca de 200 reprodutores Guzerá foram avaliados pelo teste de progênie; 553 touros de 169 famílias avaliados pelo Núcleo Moet (Múltipla Ovulação e Transferência de Embriões), e mais 134 reprodutores da base de dados do PMGZ da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu.

Na avaliação dos especialistas da Embrapa, mesmo com tal avanço na produção, o Guzerá leiteiro mantém as características de rusticidade, sendo propício para sistemas intensivos de produção de leite e também indicado para aquelas regiões que vêm sofrendo com a crise hídrica decorrente das mudanças climáticas. Além disso, os bovinos Guzerá e seu produto Guzolando também são importantes quando o objetivo é a redução dos custos de produção.

Mariana A. Pereira: “O Guzerá com seleção para produção de leite é um importante recurso genético para os trópicos”

“O Guzerá, com a seleção para produção de leite, é um importante recurso genético para os trópicos, destacando-se pela produção de sólidos, rusticidade e precocidade sexual”, destaca a gerente do PMGZ Leite, Mariana Alencar Pereira. Segundo ela, criadores principalmente dos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Nordeste, em geral, estão utilizando a raça.

O controle leiteiro da raça Guzerá PO e do Guzolando, como controle de genealogia em diferentes composições, contribui para esse progresso genético que influencia a produção de leite e a média. “Em geral, a média do Guzolando, como de qualquer outra raça, pode variar em função do manejo ambiental, uma vez que a produção de leite é uma característica de moderada herdabilidade. Mas, com o atual banco de dados do PMGZ Leite, temos uma média superior a 4.000 kg de leite em 305 dias”, explica a gerente do PMGZ Leite.

Além do incremento da produção leiteira, Mariana Alencar ressalta que o PMGZ Leite vem desenvolvendo a parte de qualidade do leite e o emprego de marcadores moleculares relacionados, como betacaseína, betalactoglobulina e kappacaseína, principalmente. “Todas essas características colocam a raça e o cruzamento em evidência por causa das particularidades apresentadas, como a alta frequência do alelo favorável para kappacaseína, que está relacionada ao rendimento de sólidos totais, por exemplo.”

Ela observa ainda que a longevidade em si atualmente não é uma característica que eles estão divulgando entre as estimativas genéticas no PMGZ Leite. No entanto, o aumento de lactações, a produção de leite por dia de vida e até mesmo a real data em que a vaca Guzerá saiu do sistema de produção são dados que poderão ajudar numa avaliação futura.

Pelos registros do atual banco de dados do PMGZ Leite, a Guzolanda tem média superior a 4.000 kg de leite em 305 dias

Eficiência comprovada – O produtor Dalton Canabrava Filho, do município de Curvelo (MG), diz que foi o primeiro da região a selecionar animais voltados prioritariamente para o Guzerá leiteiro. “Cheguei até a criar gado Holandês antigamente, mas, como aqui é uma região de Cerrado, com má distribuição e pouca chuva, percebi que precisava de animais com adaptabilidade para obter melhores resultados, dada a geografia regional. Esses fatores me levaram definitivamente para a raça Guzerá”, recorda ele.

O pecuarista mineiro trabalha atualmente com três fazendas (Memorial, Olhos D’água e Lapa), todas localizadas em Curvelo. “Resolvemos criar a Central Leite para conseguir uma melhor sinergia entre as propriedades. O Guzerá leiteiro e as vacas ¾ Guzerá, ¼ Holandês ficam no Memorial, e, na fazenda Olhos D’Água, ficam as meio-sangue e 5/8 e, na Lapa, é feita a recria dos animais”, informa o criador.

Segundo ele, os investimentos na raça começaram no ano de 2012 e, a partir da adesão do Controle Leiteiro Oficial do PMGZ Leite, a seleção ganhou grande impulso. “A partir de certo momento deixei de me preocupar apenas com a genética leiteira e comecei a selecionar pela produção no balde. Fui descartando aqueles animais que não davam leite de verdade, aí os resultados começaram a aparecer.”

Dalton Canabrava Filho: “O Guzerá Leiteiro e o Guzolando podem ser um grande trunfo para os produtores, principalmente com a utilização das vacas Guzolando”

Central Leite


• Rebanho em lactação: 160 vacas (Guzerá leteiro e Guzolando)
• Produção: 3 mil litros de leite/dia
• CCS: 237 mil/ml
• CBT: 3 mil UFC/ml
• Proteína: 3,29%
• Gordura: 3,89%
• Promove Leilão Anual e comercializa 80 vacas por ano

Metas da fazenda: trabalhar nos próximos três anos com três linhas principais. A primeira é aumentar a fração de Guzolanda com ¼ Holandês e ¾ Guzerá. O segundo ponto, por ser a raça Guzerá de dupla aptidão, desenvolver uma linha de melhoramento dos bezerros Guzolandos para corte.
Já a terceira frente é produzir tourinhos 5/8 para o mercado de sêmen, fornecendo esses animais para as centrais de inseminação.

* Dados computados em maio

A Central Leite costuma acompanhar o sumário de touros e matrizes Guzerá Leiteiro e só trabalha com touros provados, os top do ranking. “Além disso, selecionamos as melhores vacas pela produção e conformação e também começamos a produzir FIV com os melhores animais, tanto para o Guzerá, assim como para a produção de Guzolando”, ressalta Canabrava.

Na avaliação do produtor, tal como acontece com a raça Gir, que produz a vaca Girolanda, o Guzerá Leiteiro é a base para produzir as Guzolandas. Com esses animais, ele consegue volume para produzir leite com viabilidade comercial. “Apesar de menos conhecida no mercado, a raça Guzolanda não deixa nada a desejar e tem ganhos em rusticidade, fertilidade e qualidade de úbere. Ademais, o Guzolando é de alta liquidez no mercado, algo que está levando os criadores de Guzerá a investir cada vez mais na produção desta raça.”

Apesar de participar do PMGZ Leite, Canabrava explica que jamais mudou o manejo das vacas controladas. Cuidamos de todos os animais registrados no curral com trato comercial viável para a venda de leite aos laticínios.

“Na Central Leite, as vacas Guzerá devem produzir, em média, mais de 4 mil kg/lactação para continuar no curral, já as médias das Guzolandas variam com o grau de sangue: os animais 1/4 devem produzir 5 mil kg por lactação, e 6 mil kg para as vacas meio-sangue e 5/8”, calcula o pecuarista.

Segundo produtor de Curvelo, o Brasil é um país tropical, por isso precisa desenvolver vacas leiteiras que consigam ser eficientes em regiões com temperaturas elevadas, que tendem a ficar ainda mais quentes com o passar dos anos. E esse trabalho pode ser realizado a pasto, já que possuímos grandes extensões territoriais.

“O Guzerá Leiteiro e o Guzolando podem ser um grande trunfo para os produtores, principalmente com a utilização das vacas Guzolandas. Com elas podemos fazer cruzamentos com diferentes graus de sangue, para diferentes níveis de intensidade de manejo e conseguir escala para uma produção leiteira crescente no Brasil e que busca melhores custos e sanidade do rebanho para conseguir exportar a matéria-prima”, diz ele, ressaltando que acredita que esses animais são fundamentais para viabilizar a criação de uma vaca leiteira ideal para os trópicos.

A visão do mercado de Inseminação Artificial


O gerente nacional de Leite da Alta Genetics, Guilherme Marquez, informa que a importância da raça, atualmente, em número de doses de sêmen comercializadas pela central, é 10%. Essa pasta compreende, além da Guzerá Leiteiro, Girolando, Gir leiteiro e Sindi leiteiro.

“A demanda vem crescendo ano após ano, a gente acompanha isso pelo mercado de inseminação. A Asbia aponta crescimento muito interessante, e, comparando o primeiro trimestre de 2020 com o primeiro trimestre de 2021, foi um aumento de mais de 40% no número de doses”, diz Marquez, informando que a Alta segue avançando muito bem nesse mercado, tendo 45% de market share. Os Estados de maior compra dessa genética Guzerá são Minas Gerais e São Paulo. No Nordeste, principalmente o Ceará.

Indagado se as vacas Guzerá e Guzolanda podem ser uma ótima ferramenta para aumentar a produtividade das fazendas leiteiras, ele assinala que, com certeza, elas são uma base muito forte, trazendo principalmente a baixa taxa de mantença que o Guzerá apresenta com a excelente qualidade de sistema mamário que o Guzerá possui. E o Guzolando vem crescendo cada vez mais.

“A central possui parceiros exclusivos, como a Esperança Agro, no Nordeste (Ceará, que são grandes produtoras de leite e têm um potencial muito grande, porém acredito que, nesse aspecto, para acompanhar o crescimento da raça e sustentá-la de uma forma boa – que é a raça Guzolando, precisamos ter as avaliações de touros Guzolando. Deveria haver um programa de avaliação de touros Guzolando 5/8 e 3/4”, salienta Marquez.

Para ele, os criadores de Guzerá precisam incluir mais as centrais de inseminação artificial dentro dos processos das associações, para que as empresas possam dar mais ideias e trazer respostas técnicas, e assim contribuir para fortalecer cada vez mais a raça Guzerá e, consequentemente, o que vai se tornar uma raça sintética que é o Guzolando.

“O meu grande recado é para que eles comecem a trabalhar cada vez mais os números de desempenho das raças. O registro dessas raças se torna necessário cada vez mais, além de colocar um aspecto mais científico do desempenho em produção de leite, em qualidade de gordura e proteína, em eficiência reprodutiva, facilidade de manejo”, assinala, observando que isso deve ser colocado em números, em estudos, numa área científica para que se possa comprovar a aptidão e dar credibilidade cada vez maior à eficiência dessas raças.

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