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Para maior eficiência no uso dessa tecnologia, é preciso uma série de cuidados, a começar pela orientação técnica para a escolha dos protocolos mais adequados

REPRODUÇÃO

IATF

com visão ampla

Uso da tecnologia cresce e resultados melhoram, mostrando também a importância de se considerarem outros fatores, como nutrição, conforto térmico e bem-estar

Luiz H. Pitombo

Estima-se que aproximadamente 50% das propriedades especializadas em produção de leite já adotam a inseminação artificial em tempo fixo (IATF), uso que se mantém em crescimento. Mas, para que os resultados apareçam com mais força nos índices reprodutivos, o dia a dia tem demonstrado que uma série de cuidados são necessários, incluindo uma boa logística para a execução dos trabalhos.

Ao adotar a técnica, como salienta o médico veterinário e pesquisador José Luiz Moraes Vasconcelos, o professor Zequinha, da Unesp Botucatu (SP), “será preciso chamar um bom técnico, escolher um bom protocolo e estabelecer uma rotina de visitas de 7, 14 ou 28 dias”.

A sanidade do rebanho deve estar em dia, pois problemas como metrite, endometrite e também a mastite comprometem o seu rendimento, da mesma forma que na inseminação artificial convencional (IA). O conforto térmico e o bem-estar animal, igualmente, influenciarão nos resultados, como indica o pesquisador, além da escolha de uma genética voltada à fertilidade, à qualidade do sêmen e do inseminador.

José Luiz Moraes Vasconcelos, o professor Zequinha, da Unesp Botucatu (SP)

Em relação à transferência de embrião em tempo fixo (TETF), ele diz que as exigências são basicamente as mesmas. Mas alerta que a técnica não vai solucionar problemas identificados na IATF. Diz, ainda, que não se deve atrasar a transferência para a vaca receptora, para não se perder tempo em produção de leite.

Vasconcelos também é o mentor do Grupo Especializado em Reprodução Aplicada ao Rebanho – Gerar Leite, criado em 2014, pelo laboratório Zoetis, o qual reúne técnicos de campo das principais bacias leiteiras que utilizam as tecnologias.

 

Evolução nas taxas de prenhez – Além de discutir anualmente os dados reprodutivos das várias fazendas acompanhadas, igualmente busca identificar oportunidades de novos caminhos e melhorias nas técnicas. A partir dos dados apresentados em evento virtual realizado recentemente, o pesquisador destacou que as taxas de prenhez com IATF têm evoluído em todas as categorias.

Considerando sempre o período compreendido entre 2017 e 2020, nas multíparas a taxa de prenhez cresceu 8%, atingindo 33,7%. Vasconcelos chama a atenção para o fato de que os protocolos indicados para o Gerar Leite, disponíveis na publicação Journal of Dairy Science, têm respondido melhor para vacas acima de 25/30 kg de leite/dia. “Acredito que isso ocorra porque a IATF faria uma reposição hormonal”, diz.

No caso da taxa de prenhez das novilhas e das primíparas, a evolução bateu em 11% para ambas as categorias, ao atingirem taxas de prenhez de 42,8% e 38,4%, respectivamente.

Rafael Moreira: “Trabalhamos no Gerar Leite todos os elementos que envolvem a reprodução, como nutrição, CCS e conforto térmico, para levar ao técnico uma visão mais ampla do que aplicar na prática para melhorar a reprodução”

Edição anual e novilhas – Atualmente, o Gerar Leite reúne perto de 400 propriedades e 250 técnicos em oito Estados (RS, SC, PR, SP, MG, GO, RN e CE). Os dados coletados e discutidos este ano somaram 203 mil, referentes a cerca de 400 mil fêmeas, considerando IATF, TETF e IA. A maior concentração de animais da raça Girolando era da faixa de produção de 25-40 litros/dia de leite. Da raça Holandesa, acima de 40 litros/dia.

O médico veterinário Rafael Moreira, gerente de produtos da linha reprodutiva da empresa, conta que ainda realizam alguns ajustes finos nos protocolos adotados, mas que houve uma mudança de enfoque dentro do grupo. “De 2018 para cá começamos a trabalhar no grupo todos os elementos que envolvem a reprodução, como nutrição, contagem de células somáticas (CCS) e conforto térmico, para levar ao técnico uma visão mais ampla do que aplicar na prática e que poderá melhorar na reprodução”, explica. Ele assinala que, no encontro deste ano, houve apresentações relacionadas à sanidade e reprodução por José Eduardo Portela Santos, da Universidade da Flórida, e Ronaldo Cerri, da Universidade de Columbia, CA, ambas nos Estados Unidos.

Um desafio que tem sido apresentado ao grupo é quando superar o menor número de novilhas que têm sido colocadas na IATF em relação às demais categorias. “Em outros países é o oposto que ocorre, pois elas são a melhor genética do rebanho”, comenta Moreira. 

Mas, para isso, diz que se precisará evoluir mais no protocolo e no estabelecimento de uma rotina de trabalho, de maneira a atrair maior quantidade de animais. Isso porque, nota ele, a categoria é mesmo mais efetiva na IA. “Mas, para isso, é preciso contar com um funcionário para a identificação do cio”, ressalta.

Além do maior conhecimento sobre os diferentes fatores que interferem na reprodução, o gerente conta que, para a melhoria dos índices, tem sido importante a maior frequência de visitas às fazendas dos técnicos de campo. Quanto a entrar com as técnicas na propriedade, diz que o sistema de produção não é limitante – free stall, compost barn ou pasto –, desde que seja bem organizado. Caso o volume de animais da propriedade não seja grande o suficiente para contratar um veterinário, informa que existem cooperativas que prestam esse serviço.

Edilberto Carneiro: “Já aplicávamos a técnica, mas passamos a usá-la intensamente já no primeiro serviço. No ano passado, 73% das inseminações nas vacas foram de IATF”

Arrumando a casa – A Fazenda Parousia, em Palminópolis, Goiás, passava por momentos difíceis em 2015, quando apresentava uma taxa de serviço de 48,77% e de apenas 9,05% de prenhez nas vacas, considerando a soma da IA que predominava em número, e a IATF. A sobrevivência era garantida porque os animais tinham uma elevada persistência na lactação.

Seu proprietário, Edilberto Marra Carneiro, conta que a opção de utilizar a IATF surgiu porque, nas condições climáticas da fazenda, a técnica é a maneira mais eficiente para se ter uma ótima taxa de serviço. Ele conta que foi realizada uma varredura naqueles aspectos importantes para melhorar a situação, abarcando as áreas da nutrição, sanidade, conforto e melhoramento genético. “Já aplicávamos a técnica, mas passamos a usá-la intensamente já no primeiro serviço”, diz. No ano passado, 73% das inseminações nas vacas foram de IATF.

Em função das várias ações tomadas, os índices em 2020 evoluíram e atingiram 78,54% de taxa de serviço e de 29,30% de taxa de prenhez, respectivamente, 62% e 222% a mais do que em 2015. 

Considerando unicamente a taxa de prenhez da IATF, esta evoluiu para 29,9%, ou seja, mais de 258%. O médico veterinário Dario Magalhães, responsável pelos trabalhos, acrescenta que os resultados também foram puxados pelos maiores cuidados, em especial com o conforto térmico, mas igualmente com as fêmeas no manejo pré e pós-parto e a sua própria presença semanal na propriedade.

Carneiro também explica que estabeleceu um programa de cria e recria muito bem definido, que reduziu a mortalidade de animais. “Estamos conseguindo um elevado número de novilhas com ganho de peso muito satisfatório, mais enxutas e sem obesidade, num processo virtuoso de cria e recria”, avalia.

O rebanho da Fazenda Parousia atingiu, no ano passado, 526 fêmeas Holandesas, ou mais 64%, que em 2015, com uma produção total de 2,5 mil litros de leite no ano com média de 36,35 litros/vaca/dia, ou 50% maior. A propriedade conta com 95 hectares, dos quais 80 ha voltados à produção de leite, única atividade da fazenda. O sistema produção é de free stall, com cama de areia e recria feita a pasto.

O alicerce de todo o trabalho é contar com uma equipe engajada, aponta o produtor, considerando desde as empresas parceiras nas diferentes áreas como também de seus funcionários.

Se mostrando confiante e aprovando a lucratividade obtida, Edilberto Carneiro diz que seus planos são buscar mais tecnologia e continuar a crescer, superando os 31 mil litros de leite ha/ano obtidos em 2020.

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