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Espera-se que a inseminação seja feita em boas condições e em um momento conveniente do ciclo estral da fêmea bovina

REPRODUÇÃO

IATF

Conheça mais sobre a utilização deste protocolo na pecuária leiteira

Não existe procedimento milagroso. Existe aquele que mais bem se encaixa na rotina da fazenda conforme os manejos

Bruno Marinho Mendonça Guimarães*

As biotecnologias reprodutivas representam um importante avanço, com grandes benefícios para a pecuária leiteira. Otimizar a reprodução do rebanho com o objetivo de aperfeiçoar os índices zootécnicos é ponto fundamental para melhorar o faturamento e a saúde financeira de qualquer propriedade. Seguindo essa premissa, o recurso da inseminação artificial em tempo fixo, também conhecido como IATF, contribui em grande escala para os programas reprodutivos das fazendas.

Mas o que é a IATF? Quais são os seus objetivos? E os seus benefícios? Como encaixar a IATF na rotina da fazenda? Acompanhe o artigo e descubra a resposta para essas e outras questões relacionadas à tecnologia em fazendas leiteiras.

 

Conhecendo a IATF – A inseminação artificial em tempo fixo consiste em uma ferramenta reprodutiva capaz de fornecer condições para que vacas e novilhas sejam inseminadas em uma data predeterminada. A base da IATF são os protocolos hormonais, que, em resumo, baseiam-se na utilização de hormônios específicos em dias previamente estabelecidos. O principal objetivo dos protocolos hormonais de IATF é sincronizar a onda folicular dos animais e, consequentemente, a ovulação. Com todos os processos ocorrendo corretamente, espera-se que a inseminação seja feita em boas condições e em um momento conveniente do ciclo estral da fêmea bovina.

Detalhando os protocolos de IATF – O principal benefício e objetivo dos protocolos de IATF, conforme já citado, é a sincronização das ondas foliculares. Atualmente, são várias as opções de protocolos reprodutivos existentes no mercado capazes de entregar esse propósito. A título de curiosidade, a grande maioria dos protocolos atuais é variação de um protocolo-base inicial, conhecido como Ovsynch, demonstrado no esquema abaixo.

Com o passar do tempo, esse protocolo Ovsynch foi sendo aprimorado a partir de estudos científicos, novos hormônios foram inclusos, como é o caso do estradiol e da progesterona, e novas opções de protocolos foram sendo elaboradas.

Um relato extremamente comum no campo é o de que este ou aquele protocolo reprodutivo é o melhor a ser utilizado na rotina de qualquer fazenda, pois é o que gera as maiores taxas de concepção no rebanho. Muito cuidado ao ouvir tais alegações. Não existe protocolo de IATF milagroso! Existe aquele que mais bem se encaixa na rotina da fazenda, conforme os manejos e o padrão/situação/realidade do rebanho.

Algumas inverdades são atribuídas ao uso de IATF nas fazendas. Uma delas é de que os protocolos hormonais eliminam a necessidade de observação de cio no rebanho. Ledo engano. Uma prática não exclui a outra, são complementares e devem ser utilizadas de forma associada, para otimização da taxa de serviço na propriedade. Mas por qual motivo há esse pensamento corriqueiro no campo? O mais falado é o de que, como os protocolos permitem a inseminação em um dia predeterminado, não há necessidade de monitorar cio, pois aqueles animais serão inseminados exatamente no dia do protocolo.

Na média, bons protocolos de IATF sincronizam de 80% a 85% das vacas

Acontece que nem toda vaca que é submetida ao protocolo é sincronizada. Ao mesmo passo que nem toda vaca inseminada e que fica gestante vai manter a gestação, pois pode ocorrer perda de prenhez a qualquer momento. Logo, se considerarmos uma vaca que não sincronizou no protocolo ou uma vaca que foi inseminada, ficou gestante e perdeu a gestação ou até mesmo uma outra que foi inseminada e não emprenhou, em qualquer uma das três situações é possível que o cio retorne em tempos variáveis, não seguindo o intervalo a cada 21 dias do ciclo estral das vacas. Por isso é fundamental e extremamente necessário que a ação de monitoramento e identificação de cio na fazenda tenha uma rotina e uma constância diária. Em outras palavras, de nada adianta adotar o recurso da IATF no rebanho e retirar os manejos de observação de cio. Não há benefício nenhum nessa decisão, muito pelo contrário.

Um outro ponto paralelo ao monitoramento de cio associado à IATF é o de que conduções inadequadas dos protocolos podem fazer com que um porcentual considerável das vacas adiante ou até mesmo atrase o cio em relação à data esperada, justamente por não sincronizarem corretamente a onda folicular. O monitoramento de cio nesses casos permitirá identificar anormalidades dessa natureza e possibilitará ajustes na rotina dos protocolos. Na média, bons protocolos de IATF sincronizam de 80% a 85% das vacas.

BOAS PRÁTICAS PARA CONDUÇÃO DA IATF NA PECUÁRIA LEITEIRA

É fato a existência de grande variedade de protocolos reprodutivos no mercado, atualmente. Mas como avaliar se um protocolo é de qualidade? A resposta para tal questão está em quatro premissas principais. Para ser considerado de qualidade, um protocolo de IATF de vacas leiteiras deve propiciar:

1. Progesterona alta durante o desenvolvimento folicular. Folículos que se desenvolvem sob elevadas concentrações de progesterona possuem maior fertilidade;

2. Estrógeno alto durante o proestro. Folículos com bom desenvolvimento na fase que antecede o estro tendem a produzir maior quantidade de estrógeno, hormônio associado ao comportamento de cio;

3. Progesterona baixa no momento da inseminação. A utilização de duas doses de prostaglandina durante a condução do protocolo, por exemplo, aumenta a regressão completa do corpo lúteo nas vacas, fazendo com que a progesterona esteja em concentrações mínimas no dia da inseminação;

4. Progesterona alta nos momentos pós-inseminação. Folículos bem desenvolvidos durante a onda folicular formam corpos lúteos bem estruturados que contribuem com altas concentrações de progesterona após a inseminação, hormônio importante para o desenvolvimento embrionário e reconhecimento materno do embrião.

O protocolo que fornece tais condições e que é conduzido de forma correta é totalmente capaz de entregar resultados interessantes de concepção do rebanho. Aliás, a condução dos protocolos é outro fator que merece atenção. Para que os protocolos funcionem bem, eles devem fazer parte de uma rotina reprodutiva bem planejada e estruturada, seguindo critérios para a sua utilização.

Por exemplo, uma rotina reprodutiva pode ser construída para que todas as vacas sejam inseminadas por IATF no primeiro serviço pós-parto. Para que isso aconteça é necessária uma sistematização nos processos reprodutivos da fazenda para que todas as vacas sejam protocoladas na saída do período voluntário de espera (PEV). Da mesma forma, uma opção complementar pode ser, por exemplo, protocolar todas as vacas vazias ao toque. Note que o objetivo dos exemplos citados é demonstrar que o uso da IATF nos rebanhos leiteiros deve seguir critérios e propósitos. Ou seja, o uso dos protocolos deve fazer sentido na rotina da fazenda, e não apenas ser utilizado aleatoriamente.

IATF como potencialização da reprodução – Conforme já bem discutido e fundamentado ao longo do texto, o recurso da IATF entrega grandes avanços e benefícios para a fazenda, mas ele não deve ser implementado e trabalhado de modo isolado na propriedade. Antes de tudo, é necessário estruturar de forma estratégica um programa reprodutivo no qual os protocolos de IATF atuem como ferramenta para potencializar a reprodução do rebanho de forma associada a outros recursos. Seguindo essa linha, sem dúvidas a fazenda terá bom retorno!

* Bruno Marinho Mendonça Guimarães é médico veterinário e técnico da Equipe Leite do Grupo Rehagro

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