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MASTITE CLÍNICA

Impacto da mastite clínica no pós-parto

Casos clínicos de mastite impactam diretamente na produtividade e na rentabilidade de fazendas leiteiras

Gabriela Costa Magioni*

No dia a dia das propriedades é comum que a preocupação com os casos de mastite clínica estejam relacionados aos gastos com tratamento, descarte de leite e riscos de antibiótico no leite do tanque, porém, quando avaliamos os custos totais de casos de mastite clínica, 70 a 80% estão relacionados às perdas de produção de leite (Huijps, et al., 2008).

Em um estudo avaliando um total de 6.699 lactações de vacas multíparas, em que foi estimada a perda de produção de leite associada a múltiplos casos de mastite clínica durante a lactação, foi possível observar que, independentemente do agente causador do caso de mastite, vacas que apresentaram mastite clínica produziram menos leite ao longo de toda a lactação, quando comparadas com vacas sadias (que não apresentaram casos de mastite clínica). Além disso, cada caso que ocorreu durante a lactação apresentou uma variação diferente na perda de produção de leite (Bar, et al., 2007).

Outro ponto importante observado nesse estudo é que vacas que apresentaram casos de mastite clínica na lactação anterior, tiveram uma perda estimada de 1,2kg de leite por dia na próxima lactação, quando comparado com vacas que não apresentaram mastite clínica no mesmo período. Isso reforça o impacto da mastite nas perdas produtivas e a importância do controle da mastite, especialmente no início da lactação, para a rentabilidade das propriedades leiteiras.

Em média, 60% dos casos de mastite clínica que ocorrem nos primeiros 100 dias de lactação estão relacionados à infecções que iniciaram no período seco (Bradley e Green, 2010), sendo geralmente associados a bactérias Gram-negativas e ao Staphylococcus não aureus (Oliver e Mitchell, 1983; Hogan et al., 1989; Cook et al., 2005). Sendo assim, é fundamental atuarmos de forma preventiva com o objetivo de reduzir a ocorrência de mastite nesse período.

Infecções intramamárias que persistem entre as lactações e novas infecções que ocorrem durante o período seco contribuem para ocorrência de casos de mastite clínica e subclínica na próxima lactação (Green et al., 2007).

Dentre os pontos de controle da mastite definidos pelo National Mastitis Council (NMC), algumas medidas podem ser realizadas na propriedade para reduzir os riscos nesse período, como:
• A manutenção de um ambiente limpo e confortável, reduzindo assim a exposição dos tetos aos agentes ambientais, mais prevalentes em casos de mastite nesse período;
• A realização correta da terapia da vaca seca, utilizando antibiótico intramamário de longa ação e selante de teto, reduzindo em até 60% os riscos de infecções intramamárias durante o período seco e nos primeiros dias de lactação (Godden et al., 2003; Cook et al., 2005).

Além disso, também é importante atuar no controle da mastite durante a lactação, com o objetivo de manter as vacas sadias e reduzir os fatores de risco relacionados à ocorrência de mastite no pós-parto.

Quartos que apresentam pelo menos 1 caso de mastite clínica na lactação anterior possuem 4,2 vezes mais chance de ter um caso de mastite clínica na lactação subsequente, quando comparado com vacas que não apresentaram casos de mastite no mesmo período (Pantoja, et al., 2009).

Quartos mamários com mastite subclínica (CCS maior que 200 mil células/ml) antes da secagem e no pós-parto possuem 2,7 vezes mais chance de apresentar um caso de mastite clínica pós-parto quando comparados com quartos sem mastite subclínica (Pantoja, et al., 2009).

Com base nesses fatores de risco, é importante rever outros pontos de controle da mastite e identificar oportunidade de melhorias nos manejos, reduzindo assim os riscos de mastite no rebanho, como:

• Realizar uma rotina de ordenha de qualidade
– Uso de luvas;
– Limpeza e desinfecção dos tetos antes da colocação das teteiras;
– Teste da caneca para identificar casos de mastite clínica;
– Secagem dos tetos após 30 segundos de ação do produto pré-dipping;
– Acoplar teteiras com pouca entrada de ar, mantendo as mangueiras alinhadas;
– Cortar o vácuo para retirar a teteira;
– Aplicar o pós-dipping cobrindo todo o teto;
– Ordenhar vacas com mastite por último.

• Realizar o manejo adequado dos casos de mastite clínica
– Realizar a cultura microbiológica para definição e duração do tratamento;
– Realizar a limpeza e desinfecção dos tetos para a aplicação do intramamário;
– Seguir as orientações de bula quanto à frequência, dosagem e período de carência do antibiótico utilizado no tratamento;
– Identificar as vacas tratadas e registrar os casos de mastite;
– Garantir bom manejo nutricional para melhor imunidade das vacas.

• Realizar o controle de agentes contagiosos e vacas cronicamente infectadas
– Realizar cultura microbiológica do rebanho;
– Segregar vacas de compra e garantir que não tenham nenhum patógeno causador de mastite;
– Segregar vacas cronicamente infectadas;
– Marcar e segregar vacas identificadas com agentes contagiosos, como Staphylococcus aureus e outros agentes refratários a tratamento, como Mycoplasma e Pseudomonas.

É importante manter os equipamentos em bom funcionamento e capacitar os ordenhadores para substituir borrachas e mangueiras furadas

• Manter o equipamento de ordenha limpo e em adequado funcionamento, bem regulado
– Realizar a troca de teteiras e mangueiras de acordo com recomendações do fabricante;
– Fazer as aferições do equipamento regularmente;
– Garantir a limpeza e sanitização adequada do equipamento após toda a ordenha.
Fatores associados a falhas no equipamento de ordenha podem contribuir com mais de 20% de novas infecções intramamárias em alguns rebanhos leiteiros (Mein, 2012) e, por isso, manter o equipamento em bom funcionamento e capacitar os ordenhadores para que, diariamente, antes de cada ordenha, seja feita a checagem para identificar se há borrachas e mangueiras furadas e que devem ser substituídas, é parte fundamental do controle da mastite.

Além disso, é possível observar se o equipamento está com algum ruído que indique falhas em seu funcionamento e também observar a condição da pele dos tetos das vacas, após a retirada do conjunto de ordenha. Alterações na coloração da pele dos tetos, tetos edemaciados e presença de hiperqueratose são alguns dos sinais que podem indicar falhas na regulagem do equipamento, como nível de vácuo e pulsação, além de falhas na rotina de ordenha, como a sobreordenha.

Casos de mastite clínica possuem impacto também na reprodução da fazenda. Vacas que apresentam mastite antes ou após a inseminação, possuem menor concepção quando comparadas com vacas sadias. Além disso, vacas com mastite apresentam maior chance de descarte involuntário e ocorrência de aborto que vacas sadias, independente do agente causador da mastite (Santos, et al., 2004).

Esses dados observados na literatura também podem ser avaliados nas propriedades que possuem controle zootécnico básico, com anotações dos casos de mastite clínica, data de parto, inseminações e controle leiteiro.

Dados de 2020 a 2022 de uma propriedade assistida pela equipe de consultoria em pecuária leiteira do Rehagro, com mais de 120 mil controles leiteiros e 8500 inseminações, mostram o impacto de casos de mastite clínica pós-parto na produção de leite e na taxa de concepção. Vacas que não apresentaram mastite após o parto apresentaram maior taxa de concepção (37% x 34% em vacas que apresentaram mastite clínica) e produziram, em média, 3,4 litros de leite/dia a mais que vacas que apresentaram mastite no mesmo período.

Quando a propriedade dispõe desse tipo de informação, as tomadas de decisão se tornam mais assertivas.

Dados de histórico de CCS individual e ocorrência de mastite clínica podem ser utilizados, por exemplo, para definir potenciais animais descartes no rebanho, uma vez que vacas mamiteiras e de alta CCS possuem tantos impactos na produção e reprodução. Essa decisão também pode levar em consideração outras informações da vaca, como problemas reprodutivos, produção de leite e outras doenças.

Com a utilização cada vez mais frequente da cultura microbiológica do leite nos casos clínicos de mastite e para monitoramento dos animais, esses dados tem sido parte essencial para a erradicação de agentes contagiosos no rebanho, como S. agalactiae, além da decisão de descarte de vacas identificadas com S. aureus e Mycoplasma spp., sendo uma das principais estratégias para o controle no rebanho desses agentes contagiosos e refratários ao tratamento.

Considerações finais – Conhecer os impactos da mastite no rebanho são fundamentais para identificar as oportunidades de manejo e garantir um rebanho mais sadio e produtivo.
Vários são os fatores de risco relacionados à ocorrência de mastite e, por isso, devemos garantir um bom manejo preventivo e realizar as anotações relevantes para as tomadas de decisão na fazenda.

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*Médica Veterinária do Rehagro

(Obs.: No original são citadas várias referências. O interessado poderá solicitá-las à redação da Balde Branco)

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