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MERCADO

Lorraine Nóbrega

Zootecnista, Scot Consultoria

Impactos da alta de juros no agronegócio

Em 15 de junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central realizou o décimo aumento seguido da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia. Desde janeiro de 2021 (quando era de 2%), a taxa aumentou 6,63 vezes e passou para 13,25% na última reunião do comitê. Segundo o Copom, existe a expectativa de mais um aumento até o fim do ano, chegando a 13,75%.

Esse aumento visa conter a inflação, que acumula uma alta de 12,03% nos últimos 12 meses e que vem aumentando desde os primeiros meses da pandemia. O aumento das taxas de juros desencoraja pessoas e empresas a procurarem crédito, consequentemente reduzindo a demanda por produtos e serviços e contendo a inflação.

No agronegócio, o aumento da taxa de juros afeta a tomada de financiamentos e empréstimos pelos produtores. Pequenos e médios produtores são os que mais sentem essas variações nas taxas.

O crédito rural pode ser usado para:

• Crédito de custeio – cobrir despesas normais dos ciclos produtivos, da compra de insumos à colheita;
• Crédito de investimento – aplicações em bens ou serviços cujo benefício se estenda por vários períodos de produção, como a aquisição de um trator;
• Crédito de comercialização – viabilizar ao produtor rural ou às cooperativas os recursos necessários à comercialização de seus produtos;
• Crédito de industrialização – industrialização de produtos agropecuários, quando efetuada por cooperativas ou pelo produtor na sua propriedade rural.

Para o Plano Safra 2021/22, as taxas de juros subiram, quando comparadas com as da safra anterior, devido ao aumento das taxas de inflação e da Selic.

Pequenos e médios produtores que procuram crédito por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor (Pronamp) tiveram elevações menores das taxas para não os desencorajar de continuar na atividade.

Outros acontecimentos ainda devem afetar o agronegócio brasileiro, como o aumento da taxa de juros dos EUA, que passou de 0,25% a 0,5% para 0,75% a 1% em 4 de maio; novos lockdowns que ocorreram na China, devido aos casos crescentes de covid-19, e a incerteza quanto ao fim do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Os EUA possuem o mercado financeiro mais robusto e consistente do mundo, onde se encontram os maiores investidores e as maiores empresas do planeta e, aliado à sua moeda forte, faz o Risco País ser baixíssimo. Ao elevar a taxa de juros, o fluxo de investimentos direcionados a outros países é atraído para lá, entre eles o Brasil, desvalorizando nossa moeda frente ao dólar.

O lockdown na China traz insegurança com relação a uma disrupção na cadeia de abastecimento, que pode aumentar ainda mais a inflação, uma vez que a China é a principal parceira comercial de mais de 180 países.

Além disso, um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia parece ser remoto, elevando o custo de produção com o encarecimento dos insumos agrícolas.

O agronegócio brasileiro já vem sofrendo os impactos dessa conjuntura, e a alta dos juros é um deles. Caso a inflação não seja contida, mais aumentos na taxa de juros virão, dificultando custeios e investimentos. Está ficando difícil para o produtor.

QUEDA NA IMPORTAÇÃO DE LEITE EM PÓ

O leite em pó é um dos principais produtos lácteos produzidos pelo Brasil, mas ainda assim a importação é regular. O Brasil é importador de lácteos e em abril adquiriu do exterior 2,4 mil toneladas de leite em pó, volume e faturamento, respectivamente, 25,7% e 4,4% menores na comparação feita ano a ano. Essa importação foi a menor em volume desde março de 2014, quando foram importadas 1,6 mil toneladas.

Por sua vez, a exportação do produto em abril foi a maior desde novembro de 2017.

Esse cenário, aparentemente, se deu em função da cotação do dólar, que em abril subiu 6,7%, diminuindo a atratividade por produtos importados e favorecendo a exportação, atrelado ao consumo doméstico comedido.

Dados divulgados em junho, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informam que o rendimento médio mensal real domiciliar per capita em 2021 foi de R$ 1.353,00, menor valor da série histórica iniciada em 2012.

A renda familiar pesa no consumo de derivados do leite. O consumo de produtos lácteos, bem como de outros produtos de origem animal, têm alta elasticidade- renda, ou seja, uma redução na renda leva à forte retração no consumo desses produtos, assim como uma ligeira elevação de renda aumenta significativamente o consumo de lácteos.

Em contrapartida, os preços nos mercados atacadista e varejista de lácteos subiram na comparação feita mês a mês, reflexo da baixa captação nas principais bacias leiteiras. A elevação da cotação do leite, devido à queda da captação, típica do período, aumentou o preço na ponta vendedora, dificultando o escoamento no mercado interno.

EXPECTATIVAS PARA O SEGUNDO SEMESTRE

O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), divulgado pela Agência Brasil, registrou crescimento de 4,4% em maio no comparativo mensal, maior patamar desde maio de 2020.

Em sintonia, dados divulgados pelo IBGE sinalizam recuperação no mercado de trabalho, com taxa de desocupação em 10,5%, menor desocupação desde 2015 para o trimestre terminado em abril (fevereiro, março e abril). Cenário que permite projeções positivas em relação ao consumo doméstico de lácteos no segundo semestre.

Por fim, a valorização do dólar, que reduziu a competitividade do produto importado, e a expectativa de melhoria no consumo doméstico podem favorecer as indústrias do setor.

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