COLUNA DO CEPEA

Natália Grigol

Pesquisadora do Cepea

  Com a matéria-prima mais cara e os estoques de lácteos enxutos, os valores dos derivados lácteos também se elevaram

Impulsionado por baixa oferta e custos em alta, preço ao produtor dispara

A pesquisa mensal do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostrou que o preço do leite captado em maio e pago aos produtores em junho registou forte alta de 8% na “Média Brasil” líquida, indo para R$ 2,201/litro. Esse valor de junho ficou 34,9% acima do registrado no mesmo período do ano passado, em termos reais, e é um recorde para o mês, considerando-se a série histórica do Cepea (os dados foram deflacionados pelo IPCA de maio/21). No primeiro semestre deste ano, o preço médio do leite recebido por produtores, de R$ 2,05/litro, supera em 33,6% o do mesmo período de 2020.

Esse cenário é resultado da oferta limitada de leite no campo. Sazonalmente, durante o outono e inverno, o menor volume de chuvas prejudica a qualidade das pastagens e, consequentemente, a alimentação volumosa do rebanho. Para evitar quedas bruscas na produção de leite, a alimentação concentrada é fundamental. Contudo, neste ano, além da seca ter sido mais intensa, a expressiva elevação do preço do concentrado tem dificultado os investimentos na atividade e reforçado a menor produção de leite nos últimos meses.

Pesquisas do Cepea mostram que o concentrado subiu 4,4% de abril para maio, acumulando alta de 12% em 2021, influenciado pela valorização nos mercados de grãos. O poder de compra do pecuarista leiteiro frente ao milho em maio caiu pelo quinto mês consecutivo. Enquanto em abril eram precisos 48,97 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho (base Campinas-SP), em maio, foram necessários 49,46 litros. Frente a junho de 2020, a perda no poder de compra chega a 36%. Além do concentrado, outros insumos também encareceram em 2021, como a suplementação mineral e adubos e corretivos, que se valorizaram 10% e 24% no acumulado do ano, respectivamente.

Nesse cenário de custos elevados, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea recuou 1,67% de abril para maio. Com a menor oferta de leite em maio, as indústrias elevaram a competição pela compra de matéria-prima, para tentar manter suas posições no mercado lácteo.

Em maio, as negociações de leite spot estiveram aquecidas, e o preço médio em Minas Gerais saltou de R$ 2,19/litro, na primeira quinzena do mês, para R$ 2,56/litro na segunda quinzena (aumento de 16,5%). Com a matéria-prima mais cara e os estoques de lácteos enxutos, os valores dos derivados lácteos também se elevaram: 5,2% no caso do leite UHT; 0,6% no caso do leite em pó; e 11,6% no caso da muçarela.

É importante reforçar que a elevação nos preços dos derivados não significou demanda aquecida. Agentes consultados pelo Cepea relataram que as negociações de lácteos seguiram pressionadas pelos canais de distribuição, já que as cotações estão em patamares elevados e a demanda, fragilizada, por conta do menor poder de compra de grande parcela da população brasileira.

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