balde branco

TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

"O carbono armazenado já não é mais uma tendência, é uma nova fonte de renda. Empresas já estão negociando modelos para quantificar e dar preço a esse carbono armazenado na propriedade"

Já é, mas não como antes

Em 1962, um livro publicado nos Estados Unidos serviu para alertar consumidores urbanos sobre o efeito danoso do excesso de produtos químicos para o ambiente e a saúde de animais e pessoas. Seu título: “Primavera Silenciosa”. O livro foi catalisador e símbolo para mudanças nas leis ambientais americanas e de muitos países, por ter influenciado gerações de cientistas e formadores de opinião.

A pesquisa agropecuária demonstrou a necessidade do uso de produtos que controlam pragas e doenças, especialmente no clima tropical. Demonstrou, por outro lado, que o controle integrado de pragas e doenças, usando químicos e boas práticas, resulta em mais produção, mais economia e saúde. Pesquisas complementares em genética, maquinário, armazenamento, conservação de alimentos, gestão e logística multiplicaram a produção de alimentos, garantindo a segurança alimentar global. Sustentabilidade, Saúde Única, são resultado das pesquisas em continuidade à Revolução Verde.

Sessenta anos depois da “Primavera Silenciosa”, estamos acumulando resultados que demonstram ser mais produtivo, lucrativo e saudável intervir, de modo a trabalhar com a natureza considerando sua complexidade, promovendo as interações entre os seres vivos que existem numa propriedade, mais água, solo e clima. Acima de tudo, que devemos preservá-los para que o ciclo da natureza se repita.

Venho insistindo na integração das florestas plantadas (ou “promovidas”, pela roçada seletiva) com pastagens, por considerá-la a tecnologia moderna e inovadora de aplicação imediata e a mais factível para a maioria dos produtores de leite, mesmo os de carne ou de sistemas em confinamento. Estamos progredindo na quantificação do carbono armazenado por pastagens, solteiras ou integradas, nos diferentes biomas brasileiros. Já não é mais uma tendência, é uma nova fonte de renda. Empresas já estão negociando modelos para quantificar e dar preço a esse carbono armazenado na propriedade.

Mesmo fragmentadas, as áreas florestadas são também capazes de reduzir a temperatura média, aumentar a umidade do ar e, ainda, permitem a infiltração de mais água do que áreas de pastagens solteiras, sem árvores. Cidades como Milão, Cingapura e Medellín, na Colômbia, estão ampliando a arborização para reduzir a temperatura de suas ruas, visando acumular água e gerar conforto. Que dirá então uma área de pastagem, plantada com mais de 400 árvores por hectare, distribuídas em linhas para deixar o sol atingir faixas de capim? Além de reduzir o estresse térmico dos animais, num futuro nem tão distante, a “mata”, a biomassa acumuladora de carbono e de água poderá valer mais do que a área da fazenda.

Como tendência para o agro, no futuro próximo não teremos discussões do tipo “agronegócio em conflito com preservação do meio ambiente”, mas sim, por força das conclusões de pesquisas científicas e do empreendedorismo dos produtores brasileiros, estaremos discutindo ações promotoras do fortalecimento do ambiente para preservar o agronegócio. A pesquisa brasileira entrega soluções tecnológicas que transformam este cenário de mera possibilidade em realidade.

A primavera do ano agrícola 2022-2023 já é. Não como antes, nem intocada, nem silenciosa. Ao recomeçarmos o ciclo de plantio e produção, o abençoado território brasileiro estará mais seco e quente, o clima mais irregular do que há 60 anos. Temos tecnologia e práticas de gestão que fazem parte das soluções, diminuindo riscos e satisfazendo os consumidores na sua demanda por produtos de qualidade e sustentáveis.

Consciente dessa nova primavera, sem dúvida alguma o produtor rural brasileiro é o complemento dessas soluções.

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?