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A maioria dos produtores brasileiros da raça, junto com as centrais de inseminação, tem estado atenta às questões fertilidade e longevidade (aprumos, úbere e saúde)

MELHORAMENTO GENÉTICO

JERSEY CRESCE

em volume e mantém sólidos

Melhoramento genético da raça mostra evolução no Brasil e no exterior

Luiz H. Pitombo

Dados do controle leiteiro oficial fornecidos pela Associação dos Criadores de Gado Jersey do Brasil mostram que a média atual de produção dos rebanhos controlados cresceu em função do melhoramento e está em 6.830 kg de leite ajustados aos 305 dias, média de 22,40 kg/dia, com 4,56% de gordura e 3,65% de proteína.

Nos últimos sete anos essa quantidade aumentou em 1.000 kg de leite na lactação em 305 dias, ou 17% a mais, mas com a manutenção dos teores de sólidos que são características normalmente antagônicas. Isso mostra o potencial típico da raça e que os criadores estiveram atentos não só às quantidades de leite, mas também aos teores de sólidos, que em bacias leiteiras mais estruturadas merecem pagamento diferenciado.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, enquanto o preço de referência do Cepea (Esalq/USP) recebido em fevereiro estava em R$ 1,97/litro de leite, produtores da raça Jersey recebiam uma bonificação por proteína e gordura, elevando o valor para perto de R$ 2,36/litro, ou R$ 2.360,00 a mais numa lactação, se considerada só a evolução genética identificada no controle leiteiro.

“Não é raro recebermos animais com lactações encerradas de 9.000 kg de leite ou mais”, afirma o médico veterinário Paulo Henrique de Souza, superintendente do Serviço de Registro Genealógico da entidade. Contando com perto de 2.400 animais controlados, número este que vem aumentando, no ano passado a maior lactação da raça rendeu 12.481 kg em 305 dias, ou uma média de 40,92 kg/dia com 4,23% de gordura e 3,65% de proteína. A segunda maior lactação foi a de 11.074 kg de leite em 305 dias, com média de 36,30 kg/dia e teores de 4,54% de gordura e 3,46% de proteína. É cada vez mais frequente a introdução de animais da raça ou cruzados em rebanhos para puxar o teor de sólidos no tanque.

Souza diz que os produtores estão sofisticando suas propriedades, se preocupando cada vez mais com a seleção, com os acasalamentos e o melhoramento genético em si. “A produção de leite é uma questão de centavos e é preciso trabalhar a qualidade dos rebanhos para trazer maior rentabilidade”, salienta. Outro índice que aponta, este baseado em sua vivência de campo, está relacionado à precocidade das novilhas, que nos últimos sete anos tiveram antecipada a idade ao primeiro parto (IPP) de 24 a 25 meses para 23 a 24 meses.

Junto ao pecuarista, conta que a associação tem trabalhado bastante o controle leiteiro dos animais e a classificação linear, identificando fenotipicamente vacas cada vez mais funcionais (são 23 características analisadas e pontuadas, entre aprumos, úbere, etc.) que vão trazer maior rentabilidade ao criador por meio da produção de leite e animais longevos. Na seleção, conta que tem sido cada vez mais utilizada a genotipagem de animais jovens, retendo-se as melhores bezerras e descartando as indesejáveis. Além do trabalho dos criadores, Souza destaca que a própria associação sempre toma cuidado com a qualidade ao permitir a “nacionalização” de sêmen e embriões importados.

Paulo Henrique de Souza: A produção de leite é uma questão de centavos e é preciso trabalhar a qualidade dos rebanhos para trazer uma maior rentabilidade

Touros e vacas – “Na linha paterna temos o mesmo material do exterior de altíssima qualidade, mas na linha materna estamos evoluindo muito, em especial nos últimos anos”, afirma o zootecnista Maurício Santolin, coordenador do Colégio de Jurados da Jersey Brasil e membro do Conselho Deliberativo Técnico da entidade.

Santolin acrescenta que, por meio do controle leiteiro, antes se obtinha conhecimento de quais eram as melhores famílias, mas salienta que com a nova ferramenta da genômica isso pode ser antecipado ao se testarem fêmeas ainda jovens e se fazer uma pressão de seleção maior, o que já ocorre com intensidade crescente nos últimos anos entre criadores da raça.

“A confiabilidade desses dados genômicos é muito grande, comparável aos testes de progênie”, salienta. De posse dos dados, é possível se decidir o destino no animal, se uma doadora, receptora, uso de sêmen sexado ou descarte.

Maurício Santolin: Outro tipo de reprodutor que tem sido procurado são os A2A2, que tragam vacas com essa característica desejável ao leite para pessoas com intolerância à lactose

A raça ainda não conta com um programa nacional de melhoramento genético, mas já vem estabelecendo uma base de dados genômicos na Universidade Federal de Ponta Grossa (PR), iniciada em 2017 e já contando com quatro sumários, sob a responsabilidade do professor e doutor em melhoramento genético Victor Breno Pedrosa.

Santolin afirma que se tem observado uma evolução das médias de várias características, mas diz ser somente após o quinto ou sexto ano de coleta de dados é que se conseguirá ter uma maior fidelidade nos valores brasileiros, por exemplo, para volume de leite, gordura, proteína e vida produtiva, para que se possa comparar de maneira mais correta com outros países, identificar onde estamos bem e onde melhorar, estabelecendo índices de seleção brasileiros.

É por intermédio desta mesma universidade que se trabalha para o estabelecimento do cruzamento Jersolando como raça, fixada no grau de sangue 5/8 holandês. Santolin lembra que, por ter sido criada em ilha do mesmo nome, a raça Jersey possui uma pureza grande e imprime muito suas características, indicando que neste cruzamento ela traz rusticidade, adaptabilidade e sólidos. Vários outros cruzamentos vêm sendo realizados, como os que contemplam a raça Sindi e com bons resultados.

Com o aumento da produção, Santolin enfatiza que a maioria dos produtores brasileiros da raça, junto com as centrais de inseminação, tem estado atenta às questões fertilidade e longevidade (aprumos, úbere e saúde), buscando reprodutores que imprimam essas características.

Base americana – “Todas as raças se beneficiaram da genômica, mas destacaria a Jersey, em que houve um ganho muito importante num curto espaço de tempo na produção de leite sem perder na qualidade dos sólidos nos Estados Unidos e Canadá”, avalia o médico veterinário Cláudio Aragon, diretor de mercado da central Semex. Outra evolução que destacou nos animais desses países foi úbere e tetos.

Os Estados Unidos, que possuem o maior rebanho da raça no mundo, atualizam sua base genética indicativa dos rumos do melhoramento a cada cinco anos, o que aconteceu no ano passado e onde é possível ver os ganhos de produção.

Considerando animais nascidos em 2015, estes produziram uma lactação média de 9.664 kg de leite ajustada para 305 dias, com 4,8% de gordura e 3,7% de proteína. Enquanto a produção aumentou em 7,7% sobre a base anterior de animais nascidos em 2010, os níveis de sólidos praticamente se mantiveram estáveis nessas características que costumam ser antagônicas.

Outra característica afetada pelo maior volume de leite produzido é a fertilidade. Diferentemente dos canadenses, que possuem um mercado que valoriza animais mais longevos, os estadunidenses preferem vacas altamente produtivas, mantendo-as por apenas 3,6 lactações, em média.

Isso se refletiu em sua base genética, onde houve uma queda na fertilidade das vacas, que estão demorando em média quatro dias a mais para emprenhar depois de paridas.

Cláudio Aragon: um aspecto que deve ser incluso em breve para todas das raças são características de eficiência alimentar, identificando quais os touros e vacas têm melhor conversão. Será uma revolução!

Como aponta Aragon, isso trouxe uma alteração no índice de performance da raça Jersey (JPI) para a correção dessa questão, dobrando-se o peso do quesito fertilidade e reduzindo-se um pouco a importância do leite. Além disso, foram inclusas na lista de saúde enfermidades que afetam a sobrevivência e a reprodução (deslocamento de abomaso, cetose, metrite, retenção de placenta, etc.). Ele salienta que um aspecto que deve ser incluso em breve para todas as raças são características de eficiência alimentar, identificando quais os touros e as vacas de melhor conversão. “Será uma revolução”, diz.

O veterinário avalia que, no Brasil, a tendência na raça tem sido no maior uso dos touros genômicos jovens, com 1,5 a 2 anos de idade nos rebanhos comerciais com transmissão de leite, sólidos, boa saúde e sistema mamário, estimando que de 65% a 68% do sêmen utilizado seja desses touros. Ele aponta que as propriedades necessitam abraçar o profissionalismo e definir o que desejam no seu rebanho. “Com a genômica se identificam precocemente os animais superiores, os medianos e os inferiores que precisam ser trabalhados de maneira diferente”, sugere.

REAÇÃO NO MERCADO

“Aprocura pelos animais Jersey estava estabilizada, mas graças ao trabalho de divulgação da associação da raça e à melhoria genética advinda da genômica mostrando seu potencial, a procura aumentou substancialmente nos últimos dois anos”, avalia o zootecnista Maurício Santolin, coordenador do Colégio de Jurados e membro do Conselho Deliberativo Técnico da entidade.
Ele considera que a comercialização e os valores estão muito bons, o dobro do que estavam, apontando preços na faixa de R$ 6 mil a R$ 9 mil para bezerras, de R$ 8 mil a R$ 12 mil para novilhas prenhas e de R$ 9 mil a R$ 14 mil para vacas.
Em termos de venda de sêmen da raça, segundo relatório da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), ela aumentou cerca de 10% em 2020 na comparação com 2019. É a terceira raça leiteira mais comercializada, atrás da Holandesa e da Girolanda.

O médico veterinário Marcello Mamedes, gerente de mercado e contas chaves leite da central ABS, salienta que o planejamento genético é extremamente particular a cada propriedade, com cada rebanho possuindo suas deficiências e qualidades.

Perante o formato atual de pagamento das principais indústrias que captam leite, Mamedes reconhece que o volume de leite tem um peso muito grande, aspecto que também mostrou uma grande evolução na base genética americana da raça Jersey de 2020.

Falando de valores dentro do sistema de produção, ele destaca que a parte de genética ocupa no máximo 2% do custo total da atividade ao se pensar no investimento em sêmen. Portanto, é um insumo de valor extremamente baixo pelo benefício que pode proporcionar ao longo das gerações.

 

Marcello Mamedes: com a genômica se identificam precocemente os animais superiores, os medianos e os inferiores, que precisam ser trabalhados de maneira diferente

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