balde branco

CRÔNICA

Paulo do Carmo Martins

Economista e pesquisador da Embrapa Gado de Leite

 A profa. Mônica Cerqueira liderou vários estudos feitos em consonância com
as necessidades dos produtores e da indústria, sempre relacionados à qualidade do leite”

Leite em números

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) acaba de divulgar um estudo profundo sobre a cadeia produtiva do leite. Eles estimam que o setor faturou R$ 138 bilhões no ano passado, até no portão da fábrica. Então, estimo que o faturamento do setor até no caixa do supermercado deva ter chegado a R$ 166 bilhões. Portanto, nosso setor representa cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso faz com que o setor seja o terceiro em faturamento na indústria de alimentos do Brasil.

Ou será o primeiro? Pela classificação do IBGE, o primeiro lugar em faturamento é o de “Abate e fabricação de produtos de carne”, que envolve todo o complexo de avicultura, suinocultura, pescados e carne vermelha. E, em segundo, a fabricação de “Óleos e gorduras vegetais e animais”, que envolve todo o complexo vegetal. Portanto, focado em apenas um setor, leite e derivados, é a primeira cadeia de valor da indústria de alimentos brasileira.

Cerca de 79% das propriedades têm até 50 vacas. Se subirmos para 100, chegamos a 90%. Entre 2011 e 2020, houve uma queda de 30% do número de vacas ordenhadas, que foi para 16,2 milhões, mas a produção cresceu 10% e a produtividade cresceu 59%, com o faturamento das propriedades subindo 17%, descontada a inflação. O estudo tornou público que produzir leite tem margens entre a receita e o custo muito apertadas.

Entre 2010 e 2019, houve um avanço de 18% no número de laticínios, chegando a 3.924, com o incremento em número de empregos de 27%. Os cerca de 139 mil empregados receberam salários médios, em 2020, de R$ 4,8 mil, com o crescimento de 55% do valor, se comparado com 2010 em termos reais, ou seja, descontada a inflação.

Portanto, com cerca de 4 mil laticínios, fica evidente que o setor não é oligopolizado, como muitos acreditam. Cerca de 60% das empresas têm até 9 empregados. Se elevamos para até 50 empregados, chegamos a 90% do total das firmas que processam leite formal no Brasil.

No início da década, em 2010, cerca de 76% do leite industrializado foi usado na produção de queijos, leite UHT e leite em pó. No fim da década, foram cerca de 79%. Portanto, mudança não significativa desse total. Mas a destinação para queijos nesse período cresceu de 28% para 39%, com queda da destinação para leite em pó, que caiu de 24% para 18%, e de UHT, de 24% para 22%. Em termos de faturamento, esses três produtos representavam 66% e caíram para 51%, com queda significativa para todos, principalmente para o leite em pó.

O faturamento da indústria de alimentos cresceu 23% na década passada, em termos reais. Mais que o setor industrial brasileiro de transformação, que somente cresceu 4%. Mas foi menos que o setor de laticínios, que atingiu 33%. Todavia, os custos da indústria de alimentos cresceram 31%, enquanto nos laticínios atingiram 58% de acréscimo. Isso afetou as margens do setor, que teve perda de 10%, enquanto a indústria de alimentos viu suas margens subirem 10%.

A população brasileira aumentou 8% entre 2011 e 2020, e o consumo per capita de leite, 3%. Portanto, um avanço expressivo de mercado de 11%. O brasileiro está consumindo 172 litros de leite por ano. Estamos próximos do consumo per capita do europeu (233 litros/ano). Mas muito distante dos americanos (327 litros/ano) e o dobro da média mundial (88 litros/ano). Porém, bem aquém dos irmãos argentinos (265 litros/ano).

O Estado que mais consome leite e derivados é São Paulo, com cerca de 26% do total brasileiro, e com grande dianteira sobre MG (10%), RJ (9%), RS (8%) e BA (7%). Juntos, esses cinco Estados consomem 60% da produção nacional. Em termos de regiões do Brasil, o Sudeste consome 47% e já não é autossuficiente. O Sul consome 18%, o Centro-Oeste, 7% e abastecem o restante do Brasil, com destaque para as Regiões Nordeste e Norte, com 28% do total.

A cada quatro litros de leite consumidos na forma fluida ou derivados, um litro vai para as famílias com renda de até três salários mínimos, outro para as famílias que têm renda acima de dez salários, e dois litros são consumidos pela classe média, ou seja, famílias, com renda entre três e dez salários mínimos.

Do total de leite em pó consumido no Brasil, 23% vão para as famílias com renda até três salários mínimos e 16% para os de renda acima de dez salários. Leite fluido tem comportamento semelhante, com 14% e 19% para as mesmas categorias.

As maiores disparidades de escolha são encontradas no leite fermentado, nos queijos e na manteiga. Apenas 5% do leite fermentado é consumido pelas famílias de baixa renda, contra 38% para os de alta renda. O similar ocorre com queijos, na proporção de 7% e 39%, e manteiga, com 9% e 39%. Já bebida láctea tem seu consumo distribuído por todos os segmentos. As famílias de baixa renda consomem 23%, e, as de alta renda, 34%.

O estudo completo encontra-se no portal da Fiesp. Este texto foi inspirado na pesquisadora Rosângela Zoccal, aposentada na Embrapa, que durante muito tempo foi sucesso aqui na Balde Branco, com uma coluna que tinha o mesmo título deste artigo. Essa coluna continua sendo de autoria de especialistas em economia da Embrapa Gado Leite.

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