balde branco
revista-balde-branco-startup-1-ed667

A ferramenta é instalada na tampa dos tanques de resfriamento e sua principal função é substituir as réguas de medição de volume

GESTÃO

Leite medido com mais precisão

é a aposta de jovens empreendedores mineiros

Equipe que ganhou desafio de startups da Embrapa com aparelho que mede volume do leite nos tanques resfriadores chama a atenção do setor

Rubens Neiva*

Volutech, equipamento que mede, com precisão, o volume de leite armazenado nos tanques de resfriamento das propriedades leiteiras, estará disponível no mercado no segundo semestre deste ano. O equipamento foi desenvolvido pela startup mineira de mesmo nome, situada em Viçosa (MG), e surgiu das ações da Embrapa Gado de Leite para incrementar o chamado “Leite 4.0”. “A ideia de criarmos o produto surgiu durante o hackathon (chamado de Vacathon) promovido pela Embrapa em 2018”, diz Sávio Filho, diretor de vendas da Volutech. Os estudantes apostaram no projeto e, já no ano seguinte, o equipamento estava pronto para participar do Desafio de Startups da Embrapa Gado de Leite.

Com cerca de 20 centímetros de comprimento, o equipamento possui sensores que enviam informações para um servidor remoto com acesso a laticínios e produtores. A ferramenta é instalada na tampa dos tanques de resfriamento e sua principal função é substituir as réguas de medição de volume. Também é capaz de registrar a temperatura do leite em diversos períodos do dia, os momentos em que o tanque foi aberto e se ocorreram picos de energia durante o resfriamento – o que pode fazer com que a temperatura varie, comprometendo a qualidade do leite. Segundo a startup, o Volutech terá baixo custo e os laticínios serão os principais clientes.

O supervisor dos campos experimentais da Embrapa Gado de Leite, Armando Carvalho, diz que o equipamento é uma ferramenta útil tanto para os produtores quanto para as indústrias de laticínios e tem um grande apelo mercadológico. “A medição com a régua convencional é um problema grave para a indústria e para o produtor, já que ambos têm interesse em saber o volume real do leite que será captado”, diz Carvalho, que completa: “Se o tanque não estiver nivelado adequadamente, a medição com a régua torna-se imprecisa (veja no box)”.

Para Gustavo Duque, diretor da Volutech e estudante de Agronomia na UFV, o erro de um centímetro na régua pode equivaler, em média, a três litros de leite por tanque. “Considerando que o País tenha 500 mil produtores com tanque de expansão, isso equivale a 1,5 milhão de litros de leite que podem estar sendo contabilizados pelos laticínios sem ter sido de fato recolhidos dos tanques.” Duque brinca: “O maior produtor de leite do Brasil pode ser o erro da régua”.

Tanques de grande capacidade já possuem a medição eletrônica, mas, segundo Carvalho, estão fora do alcance dos pequenos e médios produtores, além de não possuírem o mesmo nível de conectividade e interatividade. “O Volutech será o primeiro produto a entrar no mercado tendo esse público como foco.” Sávio Filho, que conclui no próximo ano o curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV), informa que o equipamento está em fase de testes, “para entrar no mercado fortalecido e com todos os ajustes concluídos”. Os experimentos estão sendo realizados em quatro fazendas. Três delas estão em Minas Gerais e fornecem leite para o laticínio da UFV, onde a maior parte dos membros da equipe estuda ou se formou. Parte da equipe, inclusive, faz parte da Família do Leite, programa da UFV.

Equipe da startup recebe prêmio do Ideas for milk

VOLUTECH SERÁ O PRIMEIRO PRODUTO A ENTRAR NO MERCADO TENDO COMO FOCO ATENDER AO PEQUENO E MÉDIO PRODUTOR DE LEITE

Ideas for Milk – Ao se inscrever no Vacathon, a equipe não tinha noção alguma de qual projeto apresentaria. “Foi na visita ao campo experimental da Embrapa Gado de Leite que a ideia surgiu”, diz Lucas Sanders, estudante de Engenharia Elétrica da UFV, um dos membros da startup. “Ao ver o funcionamento do tanque de expansão, a gente se perguntou sobre como um equipamento tão caro poderia ser tão vulnerável na apuração do volume de leite”, relata Sanders.

Com o apoio do grupo de mentores do Vacathon, formado por pesquisadores e analistas da Embrapa, a ideia foi ganhando corpo. No quinto dia de hackathon, a equipe já tinha o projeto desenvolvido e o nome do produto. “Não fomos os vencedores, mas ficamos selecionados entre os melhores projetos e saímos do evento da Embrapa motivados a tornar a ferramenta uma realidade”, conta Sanders.

Sávio Filho e Lucas Sanders, membros da startup

Para Sávio Filho, o evento da Embrapa foi fundamental: “Começamos no Vacathon e terminamos vencendo o Desafio de Startups; a Embrapa Gado de Leite esteve presente em todo o processo, do nascimento da startup à apresentação do produto para a cadeia produtiva”. Após o Vacathon, a equipe passou por uma pré-incubação no Centev (Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa – incubadora de empresas da UFV). Agora, os empreendedores estão finalizando o processo de patenteamento do Volutech no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).

A aproximação entre a pesquisa agropecuária e as universidades é um dos principais objetivos do Ideas for Milk, cuja primeira edição ocorreu em 2016. Além do hackathon e do Desafio de Startups, o evento conta com a Caravana 4.0, quando pesquisadores e analistas da Embrapa Gado de Leite percorrem universidades em todo o País ministrando palestras sobre a importância das novas tecnologias no agronegócio.

O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologias da Embrapa Gado de Leite, Bruno Carvalho, diz que existe muito espaço para as novas tecnologias no agronegócio do leite. “A cadeia produtiva do leite está aberta ao dinamismo desta geração que nasceu no contexto das inovações digitais, com grande capacidade de apresentar novas soluções para os velhos problemas do agro”, conclui Carvalho.

*Rubens Neiva é jornalista na Embrapa Gado de Leite

O que muda com o volutech instalado nos tanques de expansão

Para entender como o Volutech funciona, é preciso saber como o leite é armazenado e de que forma é feita a coleta nos tanques de resfriamento pelos laticínios. Acompanhe a seguir como é feito o trabalho.

Coleta do leite em cinco passos:

1º – Depois de ordenhado (com ordenhadeira mecânica), o leite é bombeado por meio de dutos até o tanque. Lá, o produto é refrigerado a cerca de 4° Celsius;
2º – A cada um ou dois dias, o caminhão do laticínio, que possui um tanque isotérmico para preservar a temperatura do leite, vai à fazenda fazer a coleta do leite;
3º – O motorista do caminhão faz as análises necessárias e calcula, por meio da régua do tanque, a altura da coluna do leite;
4º – Cálculos feitos a partir de uma tabela própria darão como resultado o volume a ser coletado, que será anotado e informado ao laticínio;
5º – Com o produto transferido para o tanque isotérmico do caminhão, misturado ao leite de outras fazendas, o caminhão segue sua rota.

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?