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MELHORAMENTO GENÉTICO

LONGEVIDADE

Vacas de excelência dando lucro por várias lactações

A busca por vacas leiteiras mais longevas no rebanho tem movido o setor, pois essa característica favorece a redução do número de animais de recria, gerando menos custos com reposição, além de melhorar a produção de leite e a resistência à mastite

Erick Henrique

O melhoramento genético de bovinos leiteiros está prestes a obter uma importante conquista na busca de animais mais eficientes, funcionais e que realmente trazem, de fato, retorno ao investimento, maior competitividade e melhoria à margem de lucro, ao longo do tempo. Essa característica genética, a longevidade, tem motivado sua busca por produtores, de tal modo que a Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG), está trabalhando para gerar, em breve, uma PTA para Longevidade, que permitirá a seleção para essa característica nos rebanhos brasileiros. “Desde 2019, a Embrapa Gado de Leite, a Associação dos Criadores de Girolando e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vêm trabalhando juntas no desenvolvimento da avaliação genômica para a longevidade na raça Girolando, usando quatro diferentes medidas dessa característica, a serem definidas entre as partes para a criação do índice”, informa o pesquisador Marcos Vinícius Barbosa da Silva, da Embrapa Gado de Leite.

Para o especialista, em termos práticos, os touros com maiores probabilidades de que as filhas permaneçam por período mais longo no rebanho são considerados superiores para essa característica. Sua vantagem econômica está na possibilidade de redução de custos com produção ou reposição de fêmeas no plantel. “Além disso, há trabalhos científicos mostrando que vacas que permanecem no rebanho mais tempo, além de produzirem mais leite, possuem menores intervalos de partos, menores contagens de células somáticas e menos problemas de partos.”

A longevidade é uma particularidade influenciada também por diferentes fatores ligados ao ambiente, como alimentação adequada, cuidados veterinários, disponibilidade de novilhas, custo de recria, entre outros. Mas também está relacionada a fatores genéticos. “O melhoramento genético da longevidade está diretamente ligado à capacidade da vaca em produzir um bezerro por ano sem assistência, de ciclar normalmente, apresentando cios visíveis regularmente, com alta taxa de concepção e manutenção do escore corporal. Um animal longevo também deve ser resistente a desordens metabólicas e mastite, apresentando altas produções de leite de qualidade”, aponta o pesquisador.

Marcos Vinícius: “Vacas que permanecem no rebanho mais tempo produzem mais leite e apresentam menor intervalo de partos, além de menor CCS”

Ademais, conforme Marcus Vinícius Silva, animais que falham em apresentar quaisquer desses atributos geralmente são descartados prematuramente, trazendo prejuízos econômicos aos bovinocultores de leite, por causa dos gastos em cria, recria e tratamentos.

“A permanência de uma fêmea por mais tempo no rebanho certamente terá impacto positivo sobre a lucratividade do sistema de produção da fazenda. Isso porque se considerarmos todos os custos envolvidos para cria, recria, gestação e parto de uma vaca, eles serão diluídos ao longo de várias lactações, caso esse animal fique no rebanho. Agora se esse gado é descartado após a primeira ou a segunda lactação, a possibilidade de retorno de todo o investimento é bem inferior”, diz ele.

O PMGG dispõe de equipe técnica e ferramentas para prestar esse tipo de auxílio. Todo o trabalho começa com conscientização e treinamento a respeito da importância da coleta de dados

Reforçando o aspecto econômico da longevidade na atividade leiteira, o médico veterinário e superintendente técnico da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, Altair Valloto, nota que o produtor associado realiza um grande investimento, cerca de R$ 7.000, e precisa que suas vacas deem a primeira cria por volta dos 24 meses, pesando cerca de 560 kg. “Por isso é fundamental observarmos a margem de lucro pelo litro de leite pago ao produtor, que varia entre 9% e 15%. Logo, com margens tão apertadas, o pecuarista precisa ter uma vaca muito eficiente, que gere de 3 a 4 partos, chegando a produzir mais de 35 mil kg de leite durante sua vida produtiva, próximo dos 800 dias”, calcula. A APCBRH, por meio do controle leiteiro, já avaliou mais de 50 mil animais ativos, de 500 rebanhos.

Pesquisa da APCBRH – Para auxiliar o produtor na tomada de decisão por animais superiores, uma das iniciativas da APCBRH refere-se à análise de conformação de vacas leiteiras, em que a equipe de técnicos visita as propriedades para avaliar e classificar as vacas, sobretudo de primeira cria.

Valloto assinala que são 23 características analisadas, todas repassadas por herdabilidade, em que os especialistas da associação observam os pontos fortes e fracos dos animais. As vacas de primeira cria são pontuadas da seguinte forma: as mais bem colocadas possuem a pontuação final Boa variando de 75 a 79 pontos; Boa + de 80 a 84 pontos; Muito Boa de 85 a 89 pontos; Vacas Excelentes, de 90 a 97 pontos.

“Apenas no sistema mamário são nove características avaliadas, como largura e altura de úbere, colocação e comprimento de tetos, textura e profundidade de úbere, e outras – classificadas numa escala biológica de 1 a 9 pontos, em que as vacas com a melhor conformação do sistema mamário têm maior tempo de vida útil dentro da fazenda, segundo estudos elaborados pela zootecnista Lorena Carla Gomes Vernaschi”, explica o superintendente técnico da associação.

Altair Valloto, à direita, entrega ao produtor Raphael Cornelis Hoogerheide, de Carambeí (PR), o certificado Vaca +100Mil kg leite Vida Produtiva. Duas vacas holandesas (RCH Ostra 993” B+ 82 e RCH Flying Star 1014 HI Metro Toystory-TE” MB 86)

A zootecnista atua também como assistente de desenvolvimento, pesquisa e inovação da APCBRH e desenvolveu essa pesquisa com objetivo de verificar a influência da idade ao primeiro parto (IPP) e da produção de leite (PL305) sobre a longevidade funcional por meio da análise de sobrevivência. Foram analisados dados de lactação de 31.562 vacas Holandesas pertencentes a 321 rebanhos do Estado do Paraná ligados à entidade.

No estudo foi possível observar que a média para IPP e PL305 foi igual a 25,32 ± 2,97 meses e 9.210,03 ± 1.789,82 kg, respectivamente, valores semelhantes ao reportados por Brickell et alii (2009) e Haworth et alii (2008), indicando que a IPP pode ser afetada pelo manejo de rebanho. Aliás, vacas com IPP igual a 24 e 25 meses de idade apresentaram o menor risco de descarte, e as vacas com IPP acima de 36 meses de idade obtiveram o maior risco de descarte já na primeira lactação.

Em relação à produção de leite foi possível observar que animais com produção de leite entre 9.208 e 12.023 litros na primeira lactação apresentam a maior chance de permanecer no rebanho até o terceiro parto. Além disso, bovinos que produziram menos que 6.392 kg de leite no primeiro parto exibiram o maior risco de descarte. Ou seja, exemplares de baixa produção correm mais risco em serem descartados logo na primeira lactação.

Dessa forma, os resultados mostram que, para diminuir o risco de descarte na primeira lactação, e para aumentar a longevidade funcional das vacas Holandesas em um ambiente tropical, os produtores de leite devem manter vacas que iniciaram sua vida reprodutiva (primeira inseminação) entre 15 e 16 meses de idade e tiveram um rendimento médio de leite na primeira lactação de cerca de 9.000 kg. Para saber mais detalhes acesse http://www.ppgz.ufpr.br/portal/.

Gustavo Gonçalves: “A Girolando tem o banco de dados disponível aos criadores com as avaliações genéticas que serão fundamentais no processo de seleção dentro dos rebanhos”

Programa da Girolando – Com os mesmos objetivos, o Programa de Melhoramento Genético Girolando (PMGG) dispõe de equipe técnica e ferramentas para prestar esse tipo de auxílio. Todo o trabalho começa com conscientização e treinamento a respeito da importância da coleta de dados daquilo que é mais importante em um programa de melhoramento genético, os fenótipos.

“Para que essa etapa tenha sucesso, trabalhamos para uma perfeita sintonia entre criador e técnico. De posse dessas informações, fazemos um trabalho de validação e comparação a fim de devolvermos ao mercado de uma forma que o produtor possa saber quem são, de fato, os melhores indivíduos de seu rebanho para as características de importância econômica e, então, multiplicá-los”, destaca o coordenador operacional da Girolando, Gustavo Gonçalves.

Com relação à longevidade, Gonçalves ressalta que é um trabalho que está no início, no qual os técnicos da Girolando desenvolvem uma ação junto ao banco de dados para disponibilizar ao público as avaliações genéticas que serão fundamentais no processo de seleção dentro dos rebanhos.

“Com o tempo, poderemos medir a evolução da longevidade dos rebanhos em consequência da possibilidade de uma seleção pautada em informações consistentes. Hoje, entregamos avaliações de três características, produção de leite em 305 dias, idade ao primeiro parto e intervalo de partos. O gráfico 1 mostra a evolução genética de um rebanho Girolando ao longo dos anos depois que o produtor passou a usar de forma mais orientada as informações disponíveis. Percebe-se uma mudança na curva após as primeiras gerações produzidas com as informações oriundas do programa criado em 2007.”

LONGEVIDADE NAS MATRIZES DA RAÇA JERSEY


O produtor e presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Gado Jersey do Brasil, Nelci Mainardes, avalia que a longevidade é uma das principais qualidades da raça, sendo favorecida por ter um porte menor, algo que garante maior resistência ao longo do tempo, pois os animais se adaptam melhor a todo tipo de topografia e ao clima.

“Posso assegurar isso porque tenho visitado algumas propriedades leiteiras nos últimos anos para convidá-las a participarem do Agroleite, e recentemente conheci uma vaca Jersey, chamada Rainha, do produtor Emerson Nascimento, de Guaíra (PR), que está com 18 anos e teve, em agosto, a 16ª cria. Essa matriz possui um histórico que nunca tinha visto antes na pecuária leiteira”, conta Mainardes.

O presidente da Jersey revela que a vaca Rainha já gerou 14 fêmeas e 2 machos, sendo a base do rebanho deste pequeno criador, que possui atualmente cerca 35 vacas em lactação, mais 20 animais jovens. “Já aqui no Rancho Mainardes, a vaca mais longeva tem 15 anos e registrou, no dia 11 de novembro, a décima cria, com produção de 30 litros de leite/dia. Além da vaca Bambina, de 14 anos, com sua décima cria, parida no dia 16 de novembro”, diz ele.

Mainardes assegura que a busca por longevidade é contínua entre os criadores, principalmente na raça Jersey, porque isso favorece a estabilidade da produção de leite. “No entanto, sempre digo o seguinte: é preferível possuir animais com uma lactação média de 7 a 8 mil kg de leite/ano, em vez de seguir, por exemplo, o modelo de produção dos EUA, no qual os produtores trabalham com vacas produzindo cerca de 12 mil kg de leite/ano, sendo que na segunda lactação o animal está estourado, indo infelizmente para o descarte.”

Segundo ele, a diferença entre o sistema de produção brasileiro e dos EUA, e o porquê de trabalhar em prol da longevidade é devida ao fato de que a vaca de leite não tem valor comercial no corte, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos. “Por lá, o pecuarista vende uma vaca, tanto faz seja de leite ou corte, o preço da arroba é o mesmo. Já no nosso caso, o preço da arroba está custando cerca de R$ 260,00, mas quando o pecuarista vai comercializar uma vaca Jersey pesando, em média, 16@, os compradores, geralmente, descontam de R$ 1.200 a R$ 1.500. Ou seja, o descarte para nós é algo muito ruim”, conclui.

Nelci Mainardes: A busca por longevidade é contínua entre os criadores, principalmente na raça Jersey, porque isso favorece a estabilidade da produção de leite

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