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Ações do programa Mais Leite Coopervap visam inicialmente ao incremento da produção de alimentos para elevar a produtividade dos rebanhos

ASSISTÊNCIA TÉCNICA

Mais Leite Coopervap

melhora produção e aumenta renda de pequenos produtores

Parceria entre a cooperativa e a Embrapa Cerrados, com recursos do Programa Mais Leite Saudável, atende 140 pequenos produtores, orientando na adoção de tecnologias de produção e práticas de gestão

João Carlos de Faria

A Cooperativa Agropecuária do Vale do Paracatu (Coopervap) tem presença importante na região noroeste de Minas Gerais, onde, segundo o Censo Agropecuário (IBGE/2017), cerca de 1,5 milhão de litros de leite/dia são produzidos, em 10.486 propriedades, das quais 80% são familiares, responsáveis por aproximadamente 60% desse volume. A cooperativa capta por volta de 300 mil litros/dia vindos de 1,5 mil associados, a maioria com média/dia abaixo de 200 litros.

Três anos atrás, em junho de 2019, um grupo de 100 associados, com média de 58 litros/dia, foi escolhido para participar do projeto “Mais Leite Coopervap”, desenvolvido junto com a Embrapa Cerrados, com utilização de recursos aprovados pelo Ministério da Agricultura, por meio do Programa Mais Leite Saudável.

Os resultados da primeira fase, conforme aponta relatório da Coopervap de junho deste ano (vide tabela), apresentam números promissores – apesar dos impactos negativos da pandemia –, como o aumento da média de produção, melhor qualidade, aperfeiçoamento da gestão e incremento da renda do produtor.

Na segunda fase, iniciada em maio deste ano, o atendimento foi ampliado para 140 produtores assistidos por dois engenheiros agrônomos e dois veterinários, que visitam as propriedades mensalmente ou a cada três meses, para aquelas que estejam mais adiantadas.

Altino José Severino Silva: “Aqui, como o período de chuva é muito bem definido e o clima é quente, há muita dificuldade para alimentar o rebanho na época da estiagem”

Ajuda ao pequeno produtor – O projeto é um conjunto de ações para ajudar o pequeno produtor a melhorar sua produção e renda, de acordo com a sua realidade. “Montamos o projeto, enviamos ao Ministério da Agricultura e, depois de homologado, começamos o trabalho, com resultados muito bons”, afirma o vice-presidente da cooperativa, Altino José Severino Silva.

Segundo ele, o investimento no projeto é de cerca de R$ 1 milhão por ano, envolvendo recursos do Mais Leite Saudável, oriundos da utilização de créditos presumidos do PIS/Pasep e Cofins; da parceria com a Embrapa – responsável pelo acompanhamento técnico e as capacitações – e da cooperativa, que cobre parte dos custos operacionais.

Silva observa que uma das maiores dificuldades desses produtores sempre foi a produção de alimentos para o rebanho. Por isso, o projeto tem incentivado o plantio de sorgo, de milho e também introduziu o capim elefante BRS Capiaçu, para a confecção de silagem, como uma alternativa que tem sido muito bem aceita. A expectativa é aumentar a disponibilidade de alimentos sem elevar os custos e a mão de obra para alimentar os animais na seca.

“Aqui, como o período de chuva é muito bem definido (são seis meses de chuva e seis meses de seca) e o clima é quente, o pessoal encontra dificuldade na época da estiagem. Além disso, as pastagens são muito degradadas e com baixa capacidade de suporte”, explica Silva. Ele aponta ainda outros gargalos, como a falta de assistência técnica e da transferência de conhecimento.

Melhoria das lavouras para a produção de silagem foi um dos primeiros passos visando aumentar a disponibilidade de alimento para os animais

O projeto se baseia num trabalho de apoio à agricultura familiar, que a Embrapa Cerrados já desenvolve desde a década de 1980. “A gente começou com uma experiência no município de Silvânia, em Goiás”, explica o engenheiro agrônomo e pesquisador José Humberto Valadares Xavier, que lidera a equipe técnica do projeto.

A parceria com a Coopervap, segundo ele, surgiu com o desafio de ampliar a atuação do órgão nesse sentido e de trabalhar territórios, envolvendo parceiros locais, com capacidade operacional e comprometimento. Como a cooperativa almejava alguma solução desse tipo para os pequenos produtores de leite, as propostas se convergiram.

“Pensamos juntos na construção de algo que agregasse a pesquisa, a vontade da cooperativa em ajudar os produtores e a captação de recursos e chegamos ao Mais Leite Saudável”, conta. A perspectiva é de que, além dos 140 produtores da Coopervap, a informação gerada também possa beneficiar mais produtores de toda a região.

Como o Vale do Paracatu tem características climáticas bastante peculiares, com temperaturas médias elevadas e regime de chuva diferenciado, o risco climático e o comprometimento à produção de alimentos são maiores. “Por isso, buscamos testar tecnologias que aumentem a produtividade e a eficiência da produção, considerando essas condições.”

José Humberto V. Xavier; “Pensamos juntos na construção de algo que agregasse pesquisa, vontade da cooperativa em ajudar os produtores e captação de recursos e chegamos ao Mais Leite Saudável”

Daniel Cardoso: “Tínhamos que mostrar o resultado. Começamos pela análise e correção de solo, fizemos pequenos experimentos paralelamente ao modo tradicional utilizado pelo produtor”

Melhorias reais – Para o engenheiro agrônomo Daniel Santos Cardoso, que atua a campo, junto a 35 produtores nos municípios de Cristalina, Vaza Mor e Paracatu, o aumento da produção é um avanço, mas há outros aspectos a considerar. “Melhoraram também a gestão da propriedade e o bem-estar do produtor”, afirma. Em comum, segundo ele, esses produtores tinham pouco acesso à tecnologia e frustrações com projetos anteriores, além da falta de políticas públicas. “Mas logo se adaptaram e começaram a pensar diferente, principalmente quando viram os primeiros resultados financeiros. Entenderam que hoje não dá para brincar de ser produtor.”

Outra dificuldade inicial foi convencê-los a adotar o controle das despesas e de escrituração e a aceitação de algumas tecnologias. “O produtor não tem o costume de anotar e trabalha no escuro”, diz Cardoso. Por isso, as Unidades de Referência Tecnológica (URTs), instaladas nas propriedades, que servem para comparar o sistema tradicionalmente utilizado pelos produtores e as propostas indicadas pelos técnicos, tiveram e ainda têm grande relevância. “Tínhamos que mostrar o resultado. Começamos pela análise e correção de solo e fizemos pequenos experimentos paralelamente ao modo tradicional utilizado pelo produtor, observando junto com ele o custo-benefício. Isso aumentou a confiança deles”, ressalta o técnico.

A introdução do BRS Capiaçu – variedade da Embrapa Gado de Leite, com grande potencial de produção e bom valor nutritivo – foi outra inovação trazida com o projeto, com bons resultados e como opção mais barata. “Já temos 80% das propriedades com áreas plantadas com essa variedade”, arremata.

Outras práticas adotadas foram o pastejo rotacionado e os sistemas integrados lavoura-pecuária – hoje presentes em 90% das propriedades assistidas, em áreas que muitas vezes nem estavam sendo aproveitadas.

Cardoso relaciona a quantidade e a qualidade da comida com a questão reprodutiva, outra dificuldade que era enfrentada pelos produtores. Depois de convencê-los sobre a necessidade de uma boa silagem para o rebanho, o próximo passo foi melhorar o controle reprodutivo das vacas.

“Havia vaca com quase 20 meses sem parir e reduzimos esse prazo para até 12 meses”, afirma. No caso, a maioria dos produtores ainda usa touros para cobrir as vacas, mas alguns já utilizam a inseminação artificial, visando animais da raça Girolando, base do rebanho da região, por ser a melhor a se adaptar às suas condições climáticas.

Quanto às doenças, ele também avalia positivamente os impactos do projeto. “O controle de CBT e CCS foi um grande desafio, mas houve uma queda significativa nos índices de CBT, incentivada até mesmo pelo pagamento por qualidade.” No caso da CCS, era mais complicado, pois a maioria dos produtores não tinha noção sobre a detecção de mastite subclínica, por exemplo. “Tivemos que fazer uma catequese nesse sentido.”

Áreas plantadas de BRS Capiaçu em 80% das propriedades assistidas pelo projeto são uma demonstração da boa aceitação entre os produtores

Trabalho no sítio é dividido entre Roberto Celestino e sua mulher, Ângela, que o ajuda nos cuidados com o rebanho

Produtores evoluem com o projeto – Os produtores assistidos demonstram claramente sua satisfação com os resultados e benefícios do projeto, não só para o manejo e gestão das propriedades, mas também para a qualidade de vida, conquistada com a maior renda auferida com a atividade leiteira.

“Melhorou muito e hoje a gente tem condição de fazer as coisas com mais tranquilidade”, afirma Roberto dos Santos Celestino, proprietário de um lote de 27,5 hectares, no Assentamento Herbert de Souza, onde hoje tem 37 vacas em lactação com 420 litros/dia e média de 11 litros/dia, diferentemente de quando iniciou no projeto, com 16 vacas, cuja média era de 7 litros/dia cada.

Com a evolução, num intervalo de tempo menor que um ano e meio, ele teve que substituir um tanque de expansão de 300 litros por outro de 1.000 litros e adquirir um silo de 3,6 toneladas para armazenar ração – que também já foi trocado por outro de 7,8 toneladas –, substituindo a compra de ração em sacaria.

Com isso, os custos de produção também baixaram e a renda aumentou, com margem de lucro maior. Celestino toca a propriedade com a esposa, Ângela Aparecida Rodrigues Celestino, pois três dos seus quatro filhos moram na cidade, embora “sonhem em voltar para a roça”, e apenas uma das filhas, que mora na vizinhança, tem a intenção de mexer com leite.

Antônio José de Oliveira (à esq.) foca na produção de silagem, com sobra para venda e renda extra. Aqui, juntamente com o filho Marco Antônio, recebe orientações do técnico Daniel Cardoso sobre o plantio de forrageira para silagem

A volta – Há casos concretos, no entanto, em que as melhorias estimularam a volta ao campo de jovens como Marcos Antônio da Silva Oliveira, 23 anos, filho do produtor Antônio José de Oliveira. Depois de dar um tempo na cidade, ele voltou para o sítio e já tem suas próprias vacas, que produzem 90 litros/dia, entregues na cooperativa com matrícula própria. Seu pai conta que, em outras épocas, chegou a produzir leite, “mas à moda antiga”, parando por um tempo e só retomando a atividade há cerca de três anos. Além dele e do filho, também ajudam no sítio a esposa, Glória, e o sobrinho Carlos Augusto.

“Quando recomecei, tinha seis novilhas a ponto de parir e três vacas, mas apenas uma em lactação, com produção de 15 litros/dia. Foi a partir daí que comecei a viver realmente da renda do leite”, relembra. Hoje, produz 200 litros/dia – além dos 90 litros do filho –, com 17 vacas em lactação e média de 17 litros/dia.

Uma das primeiras coisas que Antônio José fez logo no primeiro ano, quando entrou para o projeto, foi o plantio de sorgo numa área de 10,4 hectares, antes alugada a um vizinho. A primeira colheita rendeu 224 toneladas, o suficiente para o próprio consumo e com sobra para vender. A essa altura, já com seis vacas paridas, a produção estava em 80 litros/dia.

Já fui à cooperativa para pedir para não deixar esse projeto acabar, porque ele nos ajuda muito”, ressalta o produtor. A ajuda à que se refere não se resume à orientação na produção de comida, mas também no controle zootécnico do rebanho e dos custos de produção, permitindo-lhe visualizar seu ganho real com muito mais facilidade.

Coleta de dados – Para ajudar nesse trabalho dos técnicos, a pedido dos gestores do projeto, a empresa GSA Sistemas, sediada em Paracatu, desenvolveu um sistema que permite reunir os dados da propriedade, colhidos pelos técnicos durante as visitas, e inseri-los imediatamente na base de dados.

O “Visita Técnica GSA”, nome do sistema, tornou- se, segundo o engenheiro agrônomo Daniel Cardoso, uma ferramenta importante que permite a visualização de todas as informações sobre a produção, facilitando a gestão. “Sem isso não conseguiríamos fazer avaliações e comparações com tanta rapidez e precisão”, diz.

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