balde branco

ORDENHADEIRAS

Manutenção preventiva

evita problemas e prejuízos

O produtor não pode negligenciar os cuidados rigorosos com a ordenhadeira, sob pena de prejudicar a qualidade do leite e a saúde da glândula mamária das vacas

João Antônio dos Santos

Qualidade, produtividade, custos de produção enxutos, boa gestão e visão do todo da atividade são ingredientes indispensáveis para qualquer propriedade leiteira que pretenda obter uma produção sustentável, economicamente viável, competitiva e rentável. Nessa perspectiva, destaca-se a importância de garantir um sistema de ordenha que funcione com toda a eficiência, conforme foi abordado em reportagem da edição de maio/2020 da Balde Branco. Frente à grande relevância desse tema para os produtores de leite, esta reportagem complementa o assunto, focando agora nos aspectos fundamentais da manutenção preventiva das ordenhadeiras.

Neste contexto de desafios, próprios de um mercado globalizado, a cada dia mais disputado e exigente, onde centavos fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso, é difícil imaginar uma propriedade leiteira alcançar tais objetivos sem observar as recomendações técnicas do uso e de manutenção do sistema de ordenha. Essa é a síntese do alerta que faz Carlos Alberto Machado, especialista em qualidade do leite e coordenador da Comissão das Indústrias de Equipamentos para a Cadeia Produtiva do Leite do Simers (Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos do Rio Grande do Sul). “Embora isso possa parecer coisa simples, engana-se quem assim pensa”, arremata ele, enfatizando que a ordenha é a culminância de todo o trabalho anterior, visando à produtividade, à qualidade do leite e à rentabilidade. 

É fato pelo Brasil afora, e muitos são os produtores que vivenciam isso no dia a dia da ordenha, que alguns sistemas de ordenha apresentam problemas, resultando não só em dor de cabeça, como também em prejuízos. “Não por acaso, especialmente no Centro-Oeste e no Norte do Brasil, não é difícil encontrarmos propriedades onde os sistemas de ordenha foram abandonados num canto, por causa do desencanto do produtor”, nota Machado.

Ele lembra que não são poucos os estudos sobre o assunto. Por exemplo, constatou-se que de norte a sul, de leste a oeste do Brasil, grande parte dos equipamentos em uso, quando não estão super ou subdimensionados, apresenta algum tipo de deficiência. Seja na pulsação, nos níveis de vácuo, no sistema de higienização ou, ainda, em bom número dos casos, na falta de uma assistência técnica ágil, eficiente e capaz de corresponder à expectativa do produtor. “As causas são muitas e conhecidas de todos nós. Nosso objetivo é orientar para que o produtor possa obter o melhor desempenho possível do seu sistema de ordenha.”

Para produzir leite de qualidade e ao mesmo tempo obter resultados positivos com a atividade, é fundamental que o produtor esteja atento a detalhes que não podem ser descuidados ou subestimados em relação à ordenhadeira mecânica que tem na propriedade. Os resultados de uma ordenhadeira estão diretamente relacionados aos cuidados adotados em seis momentos distintos e de igual importância:

  1. A constatação da necessidade de um sistema de ordenha mecânica ou a substituição de um sistema em uso na propriedade
  2. A escolha da marca e do revendedor
  3. O dimensionamento do sistema a ser adquirido e a efetivação da compra
  4. Mão de obra, perfil e capacitação
  5. A hora da instalação do equipamento na propriedade
  6. A manutenção

Machado: somente a partir do momento em que começa a utilizar o equipamento é que o produtor vai descobrindo se adquiriu uma aliada ou uma dor de cabeça

POR ONDE COMEÇAR PARA TER A ORDENHADEIRA EM PERFEITO ESTADO DE FUNCIONAMENTO

O sucesso ou o fracasso de um sistema de ordenha começa a ser delineado muito antes do instante em que o equipamento é acionado na propriedade leiteira.

Os detalhes e cuidados nas diferentes etapas são determinantes para o grau de satisfação, ou frustração, que o produtor terá quando estiver utilizando o equipamento. “Somente a partir do momento em que começa a utilizar o equipamento é que ele vai descobrindo se adquiriu uma aliada ou uma dor de cabeça. Este é o momento em que aparece a gritante diferença entre preço e custo”, nota Machado, lembrando que esses são aspectos normalmente subestimados, não só na hora da compra, mas também em todas as fases anteriores à instalação e uso.

“São vários os passos necessários até que um sistema de ordenha possa estar na propriedade cumprindo o seu papel, que é produzir o máximo de resultados para os quais foi projetado e, principalmente, atender às expectativas do produtor”, enfatiza Machado. Ou seja, o pecuarista deve ter em mente o seguinte quanto à ordenhadeira: todo investimento financeiro, material, humano, e de tempo que dedicar a essa atividade será recolhido pela ordenhadeira, na forma líquida, altamente perecível e conectado a um ser vivo.

Neste texto, assim, será abordada apenas a última fase: a manutenção. Isso porque milhares de produtores utilizam esses sistemas País afora, e, em muitos casos, o lucro está “indo pelo ralo” sem que ninguém perceba como, ou sequer tenha ideia por quê.

Nada é mais indesejável do que o produtor ter de sair às pressas, em busca de um técnico para resolver um problema com a máxima urgência possível, pois o equipamento não está funcionando. E todo produtor sabe que a ordenhadeira não pode parar, pois lhe acarreta um grande prejuízo.    “Uma coisa é fazer reparos depois do problema acontecido. Outra bem diferente, e de menor custo, é fazer manutenção, ser preventivo”, assinala Machado.

Ele lembra que, não por acaso, os produtores de maior sucesso na atividade têm grande preocupação com todos os detalhes relacionados à manutenção preventiva, pois qualquer descuido aqui, fatalmente, vai representar perdas. “É aí que nascem as famosas ‘perdas ocultas’. Ou seja, você não vê, mas elas existem e fazem grandes estragos, tal qual um vírus. Você não vê, mas ele devasta”, diz o consultor, alertando para os seguintes tópicos:

  1. Não trocar a manutenção preventiva pela reparativa, pois o custo é infinitamente mais alto;
  2. Observar e obedecer fielmente às instruções do Manual de Instruções e Manutenção do equipamento que está em uso na sua propriedade. Seguir à risca os manuais é fundamental para obter o máximo rendimento para o qual o equipamento foi projetado;
  3. Caso, por qualquer razão, o produtor não tenha o manual à disposição, ou tenha dificuldade para consegui-lo, essas orientações gerais, a seguir, serão úteis para manutenção, segurança, eficácia e longevidade da sua ordenhadeira.

“Porém, mais uma vez, salientamos que as instruções indicadas aqui não pretendem substituir ou, muito menos, tornar desnecessárias as instruções do Manual dos Fabricantes”, frisa Machado.

Descuidar de qualquer uma das recomendações aqui relacionadas, como necessidade de manutenção preventiva, poderá resultar em perdas e prejuízos para a sanidade do plantel, da qualidade do leite e, por decorrência, para os resultados financeiros da sua propriedade.

“A ordenhadeira é uma protagonista que tem sido tratada, por muita gente no País, como figurante. Dê à sua ordenhadeira o protagonismo para o qual ela foi construída”, diz ele.


MANUTENÇÃO

Reparativa:
Somem-se a isso perdas na sanidade, na qualidade e no valor final que o produtor receberá pelo leite produzido.
Preventiva: Somem-se a isso os ganhos na sanidade do plantel, na qualidade do leite e no melhor valor final que o produtor receberá pelo leite produzido.

A falta de manutenção preventiva, como a troca de teteiras no tempo certo, traz expressivos prejuízos ao produtor

PONTOS QUE NÃO PODEM SER NEGLIGENCIADOS

Pulsador – Um pulsador mal regulado, além dos danos à sanidade da glândula mamária, pode representar perdas no volume ordenhado, que variam de 10% a 20%. Uma teteira que ultrapasse o tempo de uso recomendado pela Instrução Normativa 48 (DAS/Mapa), além dos danos que pode causar à glândula mamária, alterações na cor, no sabor, no odor e na estrutura do leite, reduz em até 15% o volume de leite ordenhado. Da mesma forma um vácuo instável, e assim por diante. Tais deficiências num sistema de ordenha elevam os índices de mastites, queratoses e outros danos que resultam em altos custos com medicamentos, veterinários e, às vezes, a perda de um quarto ou de um úbere inteiro, neste caso, por decorrência a perda da vaca leiteira.

Teteiras – Para exemplificar: suponha-se um pequeno produtor, que produz 300 litros/dia. Com teteiras vencidas, ele tem uma perda diária de 45 litros, no mês serão 1.350 litros. “Será que vale a pena permanecer com as teteiras vencidas? Alguém chamaria isso de economia? Se o produtor ou o seu ordenhador tiver seis descuidos desses no ano, terão jogado fora, integralmente, um mês de produção, 9.000 litros. Será que vale a pena postergar a substituição das teteiras? Certamente que perdas como esta fazem diferença em qualquer propriedade leiteira”, alerta Machado.

Antes de iniciar a ordenha (todos os dias)

  • Checar o alinhamento e a tensão das correias da bomba de vácuo;
  • Checar o nível de óleo do lubrificador. Se necessário, completar;
  • Checar válvulas de drenagem, tanto no depósito de segurança quanto aquelas que eventualmente existam na linha de vácuo, e verificar se estão livres, funcionando e vedando perfeitamente;
  • Checar todas as tomadas de vácuo e verificar se não estão obstruídas ou com problemas de vedação;
  • Checar se o vacuômetro está funcionando bem e se a marcação está acusando o nível de vácuo correto.

Após a ordenha (todos os dias)

  • Utilizar as escovas para lavar as unidades de ordenha com os produtos recomendados pelo fabricante, independentemente de a máquina ter ou não lavador e, em seguida, guardar as unidades de ordenha, especialmente as teteiras, em local seguro e protegido de insetos e da luz ambiente. O mesmo procedimento deve ser adotado com as mangueiras;
  • Desligar os pulsadores das mangueiras e guardá-los em lugar seguro e protegido contra insetos;
  • Proteger as entradas das tomadas de vácuo para evitar a entrada de insetos, que acabam obstruindo o funcionamento, prejudicando o nível de vácuo no sistema.

Semanalmente

  • Realizar uma limpeza profunda das unidades de ordenha, utilizando-se das escovas;
  • Revisar cuidadosamente a, ou as, válvulas de drenagem;
  • Lavar e secar internamente o depósito de segurança;
  • Limpar o mostrador do vacuômetro;
  • Revisar com o máximo de atenção o estado das teteiras e de todos os componentes da unidade de ordenha;
  • Checar o estado de limpeza do regulador de vácuo;
  • Checar o alinhamento e a tensão das correias da unidade de vácuo;
  • Checar se polias da bomba de vácuo e do motor estão bem ajustadas, alinhadas e firmes.

Mensalmente

  • Revisar as mangueiras e substituir as que estiverem eventualmente danificadas ou comprometidas;
  • Checar componentes da unidade de ordenha, especialmente os coletores e as teteiras;
  • Lavar e limpar filtros dos pulsadores;
  • Checar aperto de todos os parafusos do sistema, exceto os parafusos dos pulsadores, pois esses não devem ser tocados. E, havendo necessidade de ajustar ou alterar a regulagem dos pulsadores, chamar o técnico da revenda de confiança.

A cada dois meses

  • Lavar a tubulação vácuo. Antes, porém, checar com o fabricante qual o volume de água recomendado para essa operação. Atenção: para esta operação de lavagem da tubulação de vácuo, em hipótese nenhuma deve ser utilizado um volume de água superior à capacidade volumétrica do depósito de segurança.
  • Desmontar e lavar válvulas de drenagem.

A cada três meses

  • Se a bomba de vácuo é lubrificada a óleo, a cada três meses é aconselhável que seja feito um purgante, ou expurgo, ou lavagem da bomba. Normalmente essa limpeza é feita com óleo diesel normal. De qualquer forma, sempre é fundamental observar e seguir as orientações do Manual de Instruções do Fabricante.
  • No caso de bombas com anel d’água, também se faz necessária uma descalcificação, que normalmente ocorre por causa das condições da água utilizada. Essa descalcificação deve ser feita por técnico da revenda de confiança.

A cada seis meses

  • Realizar uma revisão completa no sistema, conforme recomendam a IN 48 e as normas internacionais. Essa revisão deve ser executada por técnico devidamente capacitado e com equipamentos de aferição, como caudalímetro, pulsógrafo, detector de fugas, etc. Nessa oportunidade devem ser observados, no mínimo, os seguintes itens:
  • Checar todas as condições de funcionamento e desempenho da bomba de vácuo, especialmente o nível de produção, em litros de ar livre por minuto;
  • Reapertar todos os parafusos do sistema, exceto os parafusos dos pulsadores;
  • Desmontar e lavar todas as tomadas de vácuo, leite e água;
  • Aferir e regular todos os pulsadores, conforme determina a norma;
  • Substituir as teteiras no máximo a cada 2.500 ordenhas ou seis meses de funcionamento. O que ocorrer primeiro. Ou ainda se, independentemente do tempo, apresentarem alguma não-conformidade ou anormalidade;
  • Checar e aferir o vacuômetro;
  • Checar, descarbonizar e lavar com óleo diesel, ou querosene, o escapamento. Observando sempre, em primeiro lugar, o produto de limpeza que recomenda o fabricante;
  • Substituir todas as mangueiras que entram em contato com o leite.

Uma vez por ano

  • Substituir todos os anéis de vedação de borracha no sistema;
  • Substituir todas as borrachas do sistema;
  • Substituir todas as mangueiras.

A limpeza correta e cuidadosa de todos os componentes faz parte da manutenção diária, a cada ordenha, a chave para o bom funcionamento do equipamento

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