Qualidade, produtividade, custos de produção enxutos, boa gestão e visão do todo da atividade são ingredientes indispensáveis para qualquer propriedade leiteira que pretenda obter uma produção sustentável, economicamente viável, competitiva e rentável. Nessa perspectiva, destaca-se a importância de garantir um sistema de ordenha que funcione com toda a eficiência, conforme foi abordado em reportagem da edição de maio/2020 da Balde Branco. Frente à grande relevância desse tema para os produtores de leite, esta reportagem complementa o assunto, focando agora nos aspectos fundamentais da manutenção preventiva das ordenhadeiras.
Neste contexto de desafios, próprios de um mercado globalizado, a cada dia mais disputado e exigente, onde centavos fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso, é difícil imaginar uma propriedade leiteira alcançar tais objetivos sem observar as recomendações técnicas do uso e de manutenção do sistema de ordenha. Essa é a síntese do alerta que faz Carlos Alberto Machado, especialista em qualidade do leite e coordenador da Comissão das Indústrias de Equipamentos para a Cadeia Produtiva do Leite do Simers (Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos do Rio Grande do Sul). “Embora isso possa parecer coisa simples, engana-se quem assim pensa”, arremata ele, enfatizando que a ordenha é a culminância de todo o trabalho anterior, visando à produtividade, à qualidade do leite e à rentabilidade.
É fato pelo Brasil afora, e muitos são os produtores que vivenciam isso no dia a dia da ordenha, que alguns sistemas de ordenha apresentam problemas, resultando não só em dor de cabeça, como também em prejuízos. “Não por acaso, especialmente no Centro-Oeste e no Norte do Brasil, não é difícil encontrarmos propriedades onde os sistemas de ordenha foram abandonados num canto, por causa do desencanto do produtor”, nota Machado.
Ele lembra que não são poucos os estudos sobre o assunto. Por exemplo, constatou-se que de norte a sul, de leste a oeste do Brasil, grande parte dos equipamentos em uso, quando não estão super ou subdimensionados, apresenta algum tipo de deficiência. Seja na pulsação, nos níveis de vácuo, no sistema de higienização ou, ainda, em bom número dos casos, na falta de uma assistência técnica ágil, eficiente e capaz de corresponder à expectativa do produtor. “As causas são muitas e conhecidas de todos nós. Nosso objetivo é orientar para que o produtor possa obter o melhor desempenho possível do seu sistema de ordenha.”
Para produzir leite de qualidade e ao mesmo tempo obter resultados positivos com a atividade, é fundamental que o produtor esteja atento a detalhes que não podem ser descuidados ou subestimados em relação à ordenhadeira mecânica que tem na propriedade. Os resultados de uma ordenhadeira estão diretamente relacionados aos cuidados adotados em seis momentos distintos e de igual importância:
POR ONDE COMEÇAR PARA TER A ORDENHADEIRA EM PERFEITO ESTADO DE FUNCIONAMENTO
O sucesso ou o fracasso de um sistema de ordenha começa a ser delineado muito antes do instante em que o equipamento é acionado na propriedade leiteira.
Os detalhes e cuidados nas diferentes etapas são determinantes para o grau de satisfação, ou frustração, que o produtor terá quando estiver utilizando o equipamento. “Somente a partir do momento em que começa a utilizar o equipamento é que ele vai descobrindo se adquiriu uma aliada ou uma dor de cabeça. Este é o momento em que aparece a gritante diferença entre preço e custo”, nota Machado, lembrando que esses são aspectos normalmente subestimados, não só na hora da compra, mas também em todas as fases anteriores à instalação e uso.
“São vários os passos necessários até que um sistema de ordenha possa estar na propriedade cumprindo o seu papel, que é produzir o máximo de resultados para os quais foi projetado e, principalmente, atender às expectativas do produtor”, enfatiza Machado. Ou seja, o pecuarista deve ter em mente o seguinte quanto à ordenhadeira: todo investimento financeiro, material, humano, e de tempo que dedicar a essa atividade será recolhido pela ordenhadeira, na forma líquida, altamente perecível e conectado a um ser vivo.
Neste texto, assim, será abordada apenas a última fase: a manutenção. Isso porque milhares de produtores utilizam esses sistemas País afora, e, em muitos casos, o lucro está “indo pelo ralo” sem que ninguém perceba como, ou sequer tenha ideia por quê.
Nada é mais indesejável do que o produtor ter de sair às pressas, em busca de um técnico para resolver um problema com a máxima urgência possível, pois o equipamento não está funcionando. E todo produtor sabe que a ordenhadeira não pode parar, pois lhe acarreta um grande prejuízo. “Uma coisa é fazer reparos depois do problema acontecido. Outra bem diferente, e de menor custo, é fazer manutenção, ser preventivo”, assinala Machado.
Ele lembra que, não por acaso, os produtores de maior sucesso na atividade têm grande preocupação com todos os detalhes relacionados à manutenção preventiva, pois qualquer descuido aqui, fatalmente, vai representar perdas. “É aí que nascem as famosas ‘perdas ocultas’. Ou seja, você não vê, mas elas existem e fazem grandes estragos, tal qual um vírus. Você não vê, mas ele devasta”, diz o consultor, alertando para os seguintes tópicos:
“Porém, mais uma vez, salientamos que as instruções indicadas aqui não pretendem substituir ou, muito menos, tornar desnecessárias as instruções do Manual dos Fabricantes”, frisa Machado.
Descuidar de qualquer uma das recomendações aqui relacionadas, como necessidade de manutenção preventiva, poderá resultar em perdas e prejuízos para a sanidade do plantel, da qualidade do leite e, por decorrência, para os resultados financeiros da sua propriedade.
“A ordenhadeira é uma protagonista que tem sido tratada, por muita gente no País, como figurante. Dê à sua ordenhadeira o protagonismo para o qual ela foi construída”, diz ele.
MANUTENÇÃO
Reparativa: Somem-se a isso perdas na sanidade, na qualidade e no valor final que o produtor receberá pelo leite produzido.
Preventiva: Somem-se a isso os ganhos na sanidade do plantel, na qualidade do leite e no melhor valor final que o produtor receberá pelo leite produzido.
PONTOS QUE NÃO PODEM SER NEGLIGENCIADOS
Pulsador – Um pulsador mal regulado, além dos danos à sanidade da glândula mamária, pode representar perdas no volume ordenhado, que variam de 10% a 20%. Uma teteira que ultrapasse o tempo de uso recomendado pela Instrução Normativa 48 (DAS/Mapa), além dos danos que pode causar à glândula mamária, alterações na cor, no sabor, no odor e na estrutura do leite, reduz em até 15% o volume de leite ordenhado. Da mesma forma um vácuo instável, e assim por diante. Tais deficiências num sistema de ordenha elevam os índices de mastites, queratoses e outros danos que resultam em altos custos com medicamentos, veterinários e, às vezes, a perda de um quarto ou de um úbere inteiro, neste caso, por decorrência a perda da vaca leiteira.
Teteiras – Para exemplificar: suponha-se um pequeno produtor, que produz 300 litros/dia. Com teteiras vencidas, ele tem uma perda diária de 45 litros, no mês serão 1.350 litros. “Será que vale a pena permanecer com as teteiras vencidas? Alguém chamaria isso de economia? Se o produtor ou o seu ordenhador tiver seis descuidos desses no ano, terão jogado fora, integralmente, um mês de produção, 9.000 litros. Será que vale a pena postergar a substituição das teteiras? Certamente que perdas como esta fazem diferença em qualquer propriedade leiteira”, alerta Machado.
Antes de iniciar a ordenha (todos os dias)
Após a ordenha (todos os dias)
Semanalmente
Mensalmente
A cada dois meses
A cada três meses
A cada seis meses
Uma vez por ano
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