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TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

"Cumprindo sua missão de entregar soluções para os produtores rurais brasileiros, a Embrapa e seus parceiros estão desenvolvendo ferramentas para medir a pegada de carbono”

Marcas na estrada

Nestes tempos de seca, cada passo da caminhada, cada caminhão ou trator vai deixando marcas no pó da estrada; no horizonte, o ar turvado de fumaça e fuligem é sinal de capim ou mato queimado. Essas imagens servem para descrever a pegada de carbono das atividades humanas. As plantas absorveram carbono para crescer e, ao queimarem, despejam tudo na atmosfera. Toda atividade humana usa carbono, por isso deixa uma marca na “estrada”. Carbono é o elemento químico presente em todas as células e nos combustíveis que, na forma de gás carbônico, CO2, guarda o calor do sol que chega à Terra. A ciência demonstrou que, em excesso, causa o aquecimento do planeta.

Visto por essa perspectiva, a pegada de carbono da produção leiteira pode ser mais funda ou mais rasa. É uma questão de medida. Depende de muita coisa, por exemplo, do quanto se usa de alimentos comprados, de produtos químicos, de combustíveis. Para realizar essa medida, é preciso definir claramente o ciclo do carbono na propriedade ou numa atividade, conhecendo as quantidades de carbono emitido, ou despejado na atmosfera, e o que é sequestrado, ou guardado no capim, nas árvores, no solo. Tarefa bastante complicada na prática, mas possível por meio de tabelas e aplicativos, todos baseados em amplo conhecimento científico.

Uma propriedade que produza capim está guardando carbono através da fotossíntese das plantas. Se milho e soja foram comprados para a dieta das vacas, provavelmente esse fato entrará no cálculo como despejo, emissão de carbono porque adubo químico, plantio, colheita e transporte dos grãos são atividades que gastam óleo diesel, despejando CO2 no ar. Pelo outro lado do cálculo, rebanho que tem capim como principal ingrediente da dieta faz as vacas arrotarem quantidades maiores do gás metano, outro gás “guardador de calor”. Para complicar, vacas alimentadas com dietas balanceadas que incluam milho e soja arrotam menos desse gás, isso tem que entrar no cálculo. E assim se chega a um balanço. Bem enrolado para ser calculado, porém, bem definido cientificamente.

O resultado desse balanço é a pegada de carbono: a quantidade de carbono que uma propriedade leiteira despejou na atmosfera ou acumulou na propriedade para produzir cada litro de leite. A tendência no curto ou médio prazo é que a sua produção de leite ou sua propriedade sejam avaliadas dessa forma. Se o balanço for positivo, uma “pegada funda”, a atividade leiteira está despejando carbono na atmosfera. Quem se preocupa com o futuro da cadeia produtiva do leite busca o balanço de carbono negativo, uma “pegada rasa”; assim a atividade leiteira estará guardando carbono e contribuindo para diminuir os gases causadores do aquecimento, do efeito estufa, das mudanças no clima.

Nos países produtores de leite, instituições de pesquisa, indústrias e governos estão procurando meios para diminuir a pegada de carbono, adaptando práticas de produção e fazendo com que essa nova atitude, diminuir a pegada de carbono, seja conhecida e entendida pelos consumidores nas cidades. Cumprindo sua missão de entregar soluções para os produtores rurais brasileiros, a Embrapa e seus parceiros estão desenvolvendo ferramentas para medir a pegada de carbono.

O cálculo da pegada de carbono deve ser encarado como uma oportunidade para a nossa agropecuária, como parte da solução para o aquecimento global. Com bastante esforço e parcerias inovadoras, vimos desenvolvendo práticas sustentáveis para a produção de alimentos para 1 bilhão de pessoas.

Tecnologias para reduzir as emissões de carbono da agropecuária, como as práticas de integração (ILPF), têm resultados muito positivos em todos os biomas brasileiros. “Nesta longa estrada da vida”, o produtor pode desde já deixar pegadas rasas, integrando suas atividades com o plantio de árvores.

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