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Graças à orientação, a Fazenda Caatinga vem conseguindo diminuir as perdas com o descarte do leite e os custos de medicamentos

DESCARTE ZERO

MASTITE

Definir protocolos de controle Reduz perdas de leite do rebanho

O uso desordenado de medicamentos, a falta de controle da mastite, entre outros problemas, obriga o produtor descartar o leite das vacas afetadas. Especialistas destacam estratégias para evitar esses problemas

Erick Henrique

A falta de prevenção, tratamento e controle de doenças nos animais causa grandes prejuízos econômicos aos produtores, não só por causa do custo dos medicamentos, mas também por causa do descarte do leite, a depender do problema. No entanto, as soluções para ajudar a controlar esses contratempos sanitários estão disponíveis e têm excelente custo-benefício.

Uma das metas que deve ser buscada em um rebanho leiteiro é manter a saúde do animal, com assistência veterinária eficiente, que ajude ao produtor controlar as doenças. Muitas delas interferem na produção de leite e este deve ser descartado, além de o patógeno causador poder se disseminar por meio do leite. Daí que é muito importante o produtor estabelecer, com a ajuda do médico veterinário, um programa de controle de doenças na propriedade, que ajudará na proteção dos animais, sobretudo daquelas enfermidades relacionadas ao descarte do leite.

“Temos de olhar a propriedade como um todo. E esse todo deverá estar em equilíbrio para manter a saúde dos animais. Quanto maior o controle sanitário na fazenda, menor o risco de descarte do leite”, destaca Luiz Francisco Zafalon, pesquisador na área de Sanidade Animal/Epidemiologia da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP).

Luiz F. Zafalon: "'Quanto maior o controle sanitário na fazenda, menor o risco de descarte do leite”

Para Zafalon, o prejuízo dependerá da produção da vaca e do período que leva para ela se recuperar de determinada doença. Cada animal tem sua particularidade e capacidade de reação às doenças. Além disso, no tratamento de uma mastite clínica, por exemplo, cada antimicrobiano apresenta um período de carência para o descarte do leite do animal que está sendo tratado.

Ele frisa que a questão é que nem sempre o mesmo antimicrobiano será eficaz para todos os casos de mastite de um rebanho. O correto sempre é realizar exames prévios (análise de cultura para identificar o patógeno) para que o veterinário possa escolher o princípio ativo correto para o tratamento. “Em um primeiro momento, isso pode representar mais custos e ser interpretado como gastos desnecessários com exames laboratoriais. Entretanto, o uso indiscriminado de produtos sem a eficácia comprovada pode resultar em mais prejuízo ao produtor”, avalia o especialista.

Na análise do médico veterinário e pesquisador da Embrapa Gado de Leite Alessandro de Sá Guimarães, o dano deve ser calculado em função da produtividade das vacas em litros de leite e do período de descarte demandado pelo medicamento. Ou seja, em função do leite que ela deixou de produzir por causa da enfermidade e da quantidade da matéria-prima descartada durante o tratamento e do período de carência. Um bom exemplo é a ocorrência de mastite clínica, que reduz a produção diária de leite, causa alteração negativa na qualidade do leite (alta CCS e menor qualidade composicional, entre outros problemas) e exige o descarte de leite durante e após o período do tratamento.

“É muito importante informar aos produtores que a falta de medidas de prevenção às doenças resulta em perdas muito maiores do que a dose de qualquer medicamento, seja ele antimicrobiano, ou antiparasitário”, diz Sá Guimarães, que é coordenador do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG).

Alessandro de Sá Guimarães: "É muito importante o produtor saber que a falta de medidas preventivas contra doenças resulta em perdas muito maiores do que a dose de qualquer medicamento”

Produtores na luta contra o descarte do leite

 

Dois casos retratam bem os impactos mencionados pelos especialistas da Embrapa. O primeiro é o da Fazenda Caatinga, do produtor Marcelo Alves de Souza, localizada no município de São Sebastião de Vargem Alegre (MG). Durante os 28 meses de projeto com a assistência técnica da Cia. do Leite (maio/2018 até maio/2020) foram registrados momentos sem incidência, com baixa, média e alta incidência de mastite.

Karolina T. Abanca: “Seguindo à risca as orientações, o produtor consegue manter baixa a incidência de mastite e até mesmo alguns meses sem ocorrência”

“No período de alta incidência, registramos seis casos por mês, com descarte de 863 litros de leite, com um custo de R$ 1.139,36/mês, referentes ao leite descartado, e R$ 1.500,00 referentes ao tratamento. Esses custos, somados, representam aumento de custo de R$ 87,97 por dia e R$ 0,28/litro”, calcula Karolina Teixeira Abanca, assistente de treinamento e desenvolvimento da Cia. do Leite.

Ela informa também que, no período de baixa incidência de mastite, um caso por mês, o descarte médio foi de 140 litros, com as vacas produzindo, em média, 20 litros/dia, com custo de descarte de R$ 190,00 e de tratamento de R$ 120,00.

“Atualmente, com monitoramento constante dos procedimentos corretos de manejo de ordenha, limpeza e manutenção do equipamento de ordenha, manejo nutricional e o do ambiente, além das análises mensais de CCS do rebanho todo, o produtor consegue manter baixa a incidência de mastite, com alguns meses sem a ocorrência de casos”, revela Karolina Abanca. Em dois anos produzindo com assistência técnica, a Fazenda Caatinga, que produzia 164 litros/leite/dia, saltou para 600 litros/leite/dia.

A segunda propriedade à qual ela presta assistência é a do pecuarista Marcelo Correa, do Sítio Vai e Volta, em Visconde do Rio Branco (MG). Segundo registros do produtor, em determinado mês a fazenda chegou a descartar cerca de 1.300 litros de leite, em razão de problemas de mastite no rebanho, com seis animais tratados com produção média de 30 litros/dia.

Na propriedade mineira, foram identificados equívocos nos procedimentos de manejo de ordenha (pré e pós-dipping), bem como na limpeza e manutenção dos equipamentos de ordenha, que não estavam sendo feitos em sua totalidade. Também o teste da caneca era feito às vezes, e o papel toalha ainda não era utilizado para limpeza dos tetos.

Após o descarte relatado em um mês, Correia entendeu a importância de seguir todos os protocolos diariamente, visto que ao pôr em prática apenas parte das recomendações não obteve bons resultados. “Agora o produtor segue todos os procedimentos recomendados por nós. Está atento à manutenção preventiva da ordenhadeira, faz a terapia de vaca seca e acompanha mensalmente os resultados de qualidade do leite, além de maior rigor na higiene da ordenha e na limpeza dos equipamentos. O leite produzido no Sítio Vai e Volta foi premiado pelo laticínio pela qualidade mantida durante o ano de 2019”, diz a assistente técnica da Cia. do Leite.

Marcelo A. de Souza: "'Em dois anos de assistência técnica, saí dos 164 litros/dia para 600 litros/dia, além de conseguir controlar bem os casos de mastite”

O valor do leite descartado em um mês, de R$ 1.768, daria para o produtor Marcelo Correia pagar três meses de terapia de vaca seca, a R$ 550 para todas as vacas

Segundo ela, o custo mensal médio para realização dos procedimentos citados acima e da utilização de terapia de vaca seca para todo o plantel de Correia gira em torno de R$ 550,00. Antes, só com o descarte de leite, deixou de ganhar R$ 1.768,00 ou seja, esse valor perdido pagaria três meses do investimento no manejo preventivo para suas 30 vacas em lactação.

“Com o volume atual de 18.300 litros de leite por mês, o custo de manejo preventivo por litro de leite seria de R$ 0,09. Se, por exemplo, incluirmos o custo do tratamento para mastite das seis vacas nesse mês, a mastite custaria R$ 0,16/litro, sendo R$ 0,13 a mais que o custo dos manejos preventivos”, avalia assistente Karolina. O Sítio Vai e Volta produzia, no início do projeto, em outubro de 2017, 282 litros/leite/dia. Agora o volume diário está em 610 litros. Ambos os produtores trabalham com sistema de produção semi- intensivo a pasto, com suplementação no cocho.

“Hoje, no campo, as perdas por descarte de leite não são mensuradas. Em muitos casos o leite descartado, após um tratamento de mastite, por exemplo, é destinado para o aleitamento de bezerras. Algo que não é contabilizado pelos pecuaristas como perda. Contudo, a utilização desse material para os animais não é recomendada devido ao possível surgimento de resistência a antibióticos e prejuízos à saúde das bezerras”, explica Karolina Abanca.

Terapia de vaca seca é uma estratégia eficiente no controle da mastite

Boas práticas para reduzir o descarte de leite

 

Manejo e capacitação – Segundo Luiz Francisco Zafalon , além do manejo de ordenha, com higienização bem feita antes e após a ordenha, uma série de medidas são indicadas para manter a saúde dos animais e a qualidade do leite. O produtor deve conhecer os seus animais. É fundamental que a CCS do leite seja realizada para todos os animais em lactação, no mínimo uma vez ao mês. Assim, o técnico e o produtor terão um histórico de acompanhamento das vacas e medidas de manejo poderão ser melhoradas ou adotadas. Por exemplo, ordenhar vacas com alta CCS após as vacas com baixa CCS. Práticas que devem ser seguidas:
– Fornecer uma alimentação balanceada, pois vacas mal alimentadas terão menor capacidade de resposta a infecções;
– Garantir o bem-estar animal é fundamental para o controle de doenças;
– Separar os animais com mastite crônica e, de preferência, retirá-los do rebanho;
– Treinar periodicamente a mão de obra que entra em contato direto com o rebanho, tanto para a realização adequada das atividades de manejo de ordenha, como também para observar quaisquer alterações do dia a dia da vaca.
Alessandro de Sá Guimarães, por sua vez, complementa com mais algumas orientações muito importantes. A começar pelo ambiente dos animais, que deve ser seco, limpo e confortável. “O ambiente onde as vacas ficam (piquete ou galpão) deve ser limpo e arejado, oferecendo bem-estar e conforto térmico aos animais.” Ele detalha suas orientações nos itens a seguir:

Procedimentos na ordenha – Os primeiros jatos de leite devem ser examinados para detecção precoce de mastite clínica e adequada descida do leite. Ordenhar as vacas com tetas limpas e secas. Utilizar desinfetante pré-ordenha (pré- dipping), cobrindo completamente o teto por, pelo menos, 30 segundos e também pós-ordenha (pós-dipping);

Uso correto da ordenhadeira – O equipamento de ordenha deve ser instalado e funcionar de acordo com as normas ISO 5707 ou de acordo com as normas do CBQL (Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite), observando-se todas as recomendações quanto à limpeza, à higienização e à manutenção preventiva;

Anotação e análise de dados – É indispensável fazer o registro dos casos de mastite clínica e subclínica, com identificação das vacas, datas, dias em lactação, o(s) quarto(s) afetado(s) e registro do tratamento e resultado.

Manejo das vacas com mastite – Deve-se estabelecer protocolos de tratamento de casos de mastite clínica com orientação técnica. Coletar amostras de leite para culturas microbiológicas e utilizar medicamentos de acordo com protocolos ou segundo a recomendação de um veterinário;

Manejo de vacas secas – Na secagem das vacas, recomenda-se o uso de medicamento para tratamento de vacas secas imediatamente após a última ordenha;

Monitoramento de patógenos – Para o controle eficiente da mastite é muito importante o monitoramento dos patógenos contagiosos, pelas análises de cultura, e o descarte de vacas com infecções crônicas, com baixa chance de cura. Para isso, é necessária a avaliação permanente dos dados de CCS individual e do tanque de leite. Deve-se fazer ainda uma revisão periódica do Programa de Controle de Mastite utilizado na propriedade.

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