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Com o novo índice de resistência ao calor, produtor poderá selecionar animais mais adaptados ao clima de sua região

GIROLANDO

Melhoramento genético para obter animais

mais tolerantes ao estresse térmico

O PMGG, responsável pelo aumento de 60% da produção de leite dos animais Girolando, lança o índice de termotolerância e mais 18 características de interesse do produtor de leite

Erick Henrique

Segundo especialistas em zootecnia e melhoramento genético, a adaptabilidade dos animais de produção ao clima tropical pode ser medida ou avaliada pela habilidade do bovino em se ajustar às condições médias ambientais de climas adversos, com mínima perda no desempenho e conservando alta taxa reprodutiva, resistência às doenças e baixo índice de mortalidade.

Com base nesta premissa, levando em consideração a grande representatividade da raça Girolando no País e a exigência por animais cada vez mais eficientes, estudos referentes ao impacto do estresse térmico na raça se iniciaram em maio de 2021. Liderada por Marcos Vinícius B. Silva, da Embrapa Gado de Leite, a equipe é composta por três pesquisadoras do Programa de Melhoramento Genético Girolando (PMGG) – Renata Negri, Darlene Daltro e Sabrina Kluska – e conta com o apoio de quatro pesquisadores da Embrapa Gado de Leite e de instituições parceiras, como a UFSM e UFRGS.

De acordo com a equipe, todas essas pesquisas e iniciativas permitirão desvendar características importantes dos animais Girolando como raça tropical, proporcionando melhor compreensão dos mecanismos de defesa corporal, objetivando identificar os mais tolerantes ao estresse térmico e minimizar as perdas de produção. E, assim, dar prioridade ao bem-estar animal, ao aumento de produção de leite e à sustentabilidade da pecuária leiteira.

Renata Negri: "Com as informações obtidas foi possível identificar o limite de conforto térmico para cada composição racial e quantificar as perdas em produção de leite"

“Durante o desenvolvimento do projeto, observamos que as diferentes composições raciais (1/4, 1/2, ¾, 5/8 e 7/8), quando sob estresse térmico, têm perdas, em média, em torno de 1.000 kg de leite por lactação. Desta forma, se usarmos as informações de PTA para estresse térmico, poderemos selecionar animais mais resistentes ao calor e, com isso, minimizar essas perdas”, informa Renata Negri, doutora em genética e melhoramento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Coleta de dados segundo classificação climática – A especialista explica que, após a identificação dos municípios e dos rebanhos que constituíam a base de dados do controle leiteiro oficial da raça Girolando no Brasil, de 2000 a 2020, foram identificadas as estações meteorológicas mais próximas de cada um dos rebanhos Girolando com controle leiteiro oficial, desde que atendessem aos requisitos de distância (até 60 km entre o município do rebanho e o município da estação); altitude (diferença máxima de 300 m) e classificação climática (o município do rebanho e da estação devem possuir a mesma classificação climática de Köppen-Geiger).

“Após a identificação das estações meteorológicas, os dados de temperatura e umidade foram acessados por meio do site do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Na sequência, os dados de temperatura e umidade foram combinados em uma única variável, denominada índice de temperatura e umidade (ITU), o qual foi utilizado como gradiente ambiental nas análises. O ITU é amplamente utilizado para caracterizar e avaliar o conforto ou desconforto (estresse térmico) do animal em relação ao ambiente/clima no mundo inteiro. Essas informações climáticas foram combinadas com as produções de leite no dia do controle leiteiro ao longo das lactações de todos os animais, totalizando mais de 700 mil observações”, destaca Renata Negri.

Com tais informações, a pesquisadora gaúcha disse que foi possível identificar o limite de conforto térmico para cada composição racial e quantificar as perdas em produção de leite. E, após a avaliação genômica, os touros foram classificados conforme categorias de sensibilidade ambiental: sensível+ (mais), que são touros cujas filhas reduzem a produção em ambientes mais quentes ou mais úmidos; sensível- (menos), que são touros cujas filhas aumentam a produção em ambientes mais quentes ou mais úmidos; robusto, que são touros cujas filhas mantêm produções estáveis, independentemente da combinação de temperatura e umidade.

Como o índice de termotolerância funcionará na prática? – “Na prática, essa informação servirá como uma ferramenta auxiliar na seleção dos animais e possibilitará o uso de um genótipo mais adequado para as diferentes regiões do Brasil. A escolha dos touros continua sendo feita com base na produção de leite e demais características de interesse, e utiliza a informação de resistência ao estresse térmico como um critério suplementar para a tomada de decisão”, avalia Renata.

Segundo ela, em propriedades cujo estresse térmico não é um problema, os produtores podem utilizar qualquer touro que conste no sumário (robusto, sensível+ ou sensível-). Em situações nas quais o problema é decorrente das altas temperaturas e umidade, é recomendado o uso de touros robustos e sensível- (menos). Nos sistemas de produção em que as baixas temperaturas e umidade são prejudiciais, devem ser priorizados animais robustos e sensível+. “Ou seja, cada produtor, conforme a realidade climática de sua propriedade, poderá direcionar melhor os acasalamentos, visando uma progênie mais tolerante ao calor e consequentemente com menores perdas produtivas devidas ao estresse térmico.”

Após a avaliação genômica, os touros foram classificados conforme categorias de sensibilidade ambiental, a qual será transmitida a suas filhas

Marcos Vinícius B. da Silva lidera a equipe do PMGG, que conta com vários pesquisadores de diversas instituições

De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinícius B. Silva, estudos realizados com outras raças leiteiras em países de clima tropical e subtropical demonstraram que o estresse térmico reduz o consumo de matéria seca de 6% a 30%, provoca a diminuição na produção de leite de 15% a 40% e queda na eficiência reprodutiva (de 40% a 50%), além de provocar alterações na composição do leite (principalmente de gordura, proteína, lactose e células somáticas), respostas imunológicas negativas, aumento dos casos de mastite, aborto, retenção de placenta, cetose, entre outros.

“Não sendo esta uma realidade única e exclusiva do Brasil, ainda mais quando associamos à globalização do material genético. Com a publicação dos resultados da avaliação referente ao estresse térmico no Sumário de Touros Girolando, pretendemos fornecer a informação de termotolerância dos touros aos produtores, não só do Brasil, mas dos trópicos em geral, justamente com o objetivo de utilizar animais mais adequados à realidade de cada propriedade e minimizar as perdas econômicas”, diz Silva.

Divulgação na Megaleite – Segundo ele, a informação que será publicada no Sumário de Touros da Raça Girolando, em junho, durante a Megaleite, representará o desempenho médio esperado para as filhas de um touro nas diferentes combinações de temperatura e umidade, ou seja, com crias mais termotolerantes, as perdas relacionadas ao estresse térmico poderão ser reduzidas em todas as regiões do País.

“Além da classificação dos touros conforme a categoria de sensibilidade ambiental, a informação de termotolerância vai compor o Índice de Eficiência Tropical, juntamente com a longevidade. Assim, quando o animal está dentro de uma faixa de ITU considerada adequada, ele terá condições de expressar seu potencial genético, porém as outras condições limitantes, como nutrição, por exemplo, também estejam em níveis adequados”, avalia Renata Negri, acrescentando que, quando combinadas as informações de tolerância ao calor com a longevidade, abre-se a oportunidade para o descarte de animais menos produtivos e mais intolerantes às condições de estresse térmico, gerando impacto positivo e direto na lucratividade da atividade leiteira.

Para o produtor e presidente da Girolando, Odilon de Rezende Barbosa Filho, a seleção de animais via termotolerância é um sonho para todos os criadores da raça. Sobretudo por se tratar de um gado tropical, criado e produzido em um país sob uma variabilidade de clima muito grande. Condição esta que não é muito propícia para as raças tradicionalmente especializadas em produção de leite.

“Dessa forma, a raça Girolando vem exatamente cumprir esse papel de ser altamente produtiva e econômica nas diversas regiões de um país continental e tropical como o Brasil. Aliás, esse novo índice é uma ferramenta sensacional, porque facilitará para o bovinocultor leiteiro identificar e selecionar os animais que mais se adaptam àquele clima onde está localizada a propriedade.”

 

Odilon de Rezende B. Filho: "Com esses novos avanços no PMGG, certamente vamos impulsionar ainda mais o rebanho Girolando, tanto na questão da comercialização de animais, quanto na venda de embriões e sêmen"

As novidades do PMGG não param por aí – Na avaliação de Marcos Vinícius B. da Silva, os avanços obtidos no PMGG são realmente impressionantes e a Embrapa Gado de Leite, por meio dos projetos de pesquisa de seus cientistas, tem contribuído de modo determinante para este sucesso. “Ressalta-se que, para a introdução de qualquer alteração no PMGG, procura-se fazer uma pesquisa detalhada sobre o assunto, ou seja, a ciência dá o suporte necessário e valida as modificações. Desde o início do lançamento dos primeiros resultados, em 2000, até o ano de 2021, verificou-se um aumento de 60% na produção de leite dos animais Girolando.”

Além disso, segundo o pesquisador, nesse mesmo período as pesquisas mostraram que houve uma redução de cerca de 40% na intensidade de emissão de gases do efeito estufa, mostrando que a vaca Girolando é mais eficiente hoje em dia. Para ele, certamente mudanças no manejo alimentar, reprodutivo, etc. também influenciaram tal aumento, mas o ganho genético obtido citado no período mostra que o melhoramento foi um dos principais responsáveis.

“Desde 2010, procuramos aumentar o número de touros que entraram no teste de progênie, ampliando a disponibilidade de sêmen. A partir de 2018, com a introdução da seleção genômica na raça, os resultados vêm sendo cada vez melhores. As vendas de sêmen subiram de 100 mil doses, em 2009, para quase 900 mil doses, em 2021, mostrando que os produtores acreditam no desempenho dos touros Girolando”, calcula Silva.

De acordo com o pesquisador, o programa saltará, em 2022, de quatro características (produção de leite, idade ao primeiro parto, intervalo de partos e longevidade) para 19. Serão inclusas, além da resistência ao estresse térmico, as seguintes características: peso ao nascimento e período de gestação (como auxiliares à facilidade de parto), persistência da lactação, sete características de conformação ligadas ao sistema mamário (profundidade de úbere, inserção de úbere anterior, altura de úbere posterior, largura de úbere posterior, ligamento central, comprimento e colocação de tetos) e quatro características ligadas ao sistema locomotor (pernas vistas por trás, pernas vista lateral, ângulo de casco e membros anteriores).

“Usando essas características, ainda lançaremos quatro índices (índice de produção e persistência, índice de eficiência tropical, índice de reprodução e índice de facilidade de partos) e dois compostos (composto de sistema mamário e composto de sistema locomotor). A inclusão dessas características só foi possível por causa das medidas conjuntas tomadas pela Girolando, por seu Conselho Deliberativo Técnico, pelo Fundo de Investimento da Raça e pela Embrapa Gado de Leite, com suporte financeiro e intelectual”, destaca o especialista em melhoramento genético.

Na avaliação do presidente da Girolando, o progresso do PMGG em tão pouco tempo dentro do seu mandato (triênio 2020/2022) só foi possível alcançar por causa da contratação das três pesquisadoras, Renata Negri e Darlene Daltro, da UFRGS, e Sabrina Kluska, da Unesp-Jaboticabal, pós-doutorandas, que têm auxiliado a associação na elaboração das novas características que serão apresentadas provavelmente no dia 16 de junho, em Belo Horizonte, na Megaleite, quando haverá a liberação do novo sumário da raça.

“Por todos esses aspectos, certamente vamos impulsionar ainda mais o rebanho Girolando, tanto na questão da comercialização de animais, quanto na venda de embriões e sêmen. Isso será muito importante para o mercado interno, assim como para o mercado externo, sobretudo para aqueles países que trabalham com a produção leiteira tropical”, conclui o dirigente.

AVALIAÇÃO GENÔMICA PARA TERMOTOLERÂNCIA

 
A partir da base de dados coletada pela Girolando por 20 anos, foi possível utilizar mais de 650 mil informações de controle leiteiro, de aproximadamente 69 mil vacas e com cerca de 21 mil animais genotipados, de forma a desenvolver um estudo minucioso do estresse térmico nas diferentes composições raciais.

Com esse estudo, além de observar as diferenças entre as composições raciais, também é possível observar a diferença entre os animais quanto à tolerância ao calor.

Após identificar os limites do conforto térmico para cada composição racial, dos animais 1/4H+3/4G até 7/8H+1/8G, foi possível observar perdas médias de produção superiores a 1.000 kg de leite por lactação. Em casos extremos, as perdas produtivas superaram os 2.500 kg de leite por lactação, quando comparadas às médias de produção de animais em conforto térmico versus em estresse térmico. (Fonte: Embrapa Gado de Leite, Associação Brasileira dos Criadores de Girolando)

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