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Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

MELHORAMENTO das raças leiteiras tropicais

O Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL) foi criado em 1985. Associado ao progresso de técnicas de inseminação artificial e de fertilização in vitro, vem contribuindo de modo significativo para o Brasil se tornar autossuficiente em leite, olhando para o mercado externo.

   Fundamentado no teste de progênies, e na parceria entre a Embrapa, a Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), e outras instituições, o PNMGL cresceu e foi aperfeiçoado até 2007 sob a liderança, estudos e capacidade de articulação do pesquisador Mário Luiz Martinez. A partir de então, sua equipe e parceiros mantiveram o PNMGL em evolução, aumentando a cada ano a qualidade e o número de informações de seu banco de dados. Características físicas dos animais são avaliadas; o desempenho dos touros é medido pelo controle leiteiro oficial de suas filhas: se produzem muito leite, garantem boas notas ao pai. São seis a sete anos para a recomendação dos “Touros Provados”.

   O programa liderado pelo dr. Martinez iniciou trabalhos para mapear regiões do DNA já em 1995. Um dos projetos de pesquisa, raro no mundo pela sua dimensão e objetivos de longo prazo, avaliou centenas de animais F1 Gir – Holandês e mais de 400 F2, distribuídos em quatro famílias, quanto à resistência a vermes e carrapatos e ao estresse térmico, durante as fases de cria, recria e de produção de leite.

   Os resultados das pesquisas, associados ao empenho dos produtores no registro dos dados na ABCGIL, permitiram que a produção média de leite dos animais registrados como Gir Leiteiro saltasse de 2.600 kg, em 2000, para mais de 4.600 kg por lactação, em 2018. Além disso, o avanço genético da raça Gir permitiu ganhos na raça Girolando, de 4.000 kg para mais de 6.000 kg de leite no mesmo período.

Fundamentado no teste de progênies, e na parceria entre a Embrapa, a ABCGIL e outras instituições, o PNMGL foi coordenado por Mário Luiz Martinez até 2007″

   Em contínua evolução, o PNMGL chega à seleção genômica. O conhecimento de parte do genoma da raça Gir Leiteiro, fruto do empenho brasileiro no melhoramento da raça, é parte fundamental dessa tecnologia. Somado às informações da raça Holandesa, são verdadeiras “bússolas” para a seleção de animais Girolando superiores. Devido ao seu rebanho, esta raça foi contemplada com a primeira tecnologia comercial brasileira para seleção genômica, uma parceria da Embrapa, da Associação Brasileira dos Criadores Girolando e do consórcio formado por duas empresas privadas. A tecnologia já é vantajosa em velocidade e em confiabilidade para escolha dos melhores animais. E será em custos e maior precisão, em continuidade à seleção genética via teste de progênies criteriosos. Portanto, sua adoção por produtores profissionais é tendência sem volta.

   Nos seus 35 anos, a parceria pioneira do PNMGL serviu de inspiração para parcerias da Embrapa nos programas de seleção nas raças Guzerá em 1994, associando o teste de progênies e a metodologia MOET, Girolando em 1998, e touros da raça Holandesa produzidos no Brasil, em 2002, retomadas recentemente. Todos estão reunidos no Arquivo Zootécnico Nacional do Ministério da Agricultura. Além disso, a valiosa base de dados da ABCGIL é demandada por mais de dez países. E, recentemente, o governo brasileiro foi consultado pelo governo indiano, interessado em importar animais Gir brasileiros, assim como a expertise na estruturação de programas de melhoramento.

   Fica demonstrado que associar o interesse dos produtores em melhorar seus rebanhos com metodologias científicas resulta no progresso genético das raças leiteiras, aumentando a sustentabilidade e a rentabilidade de sistemas tropicais de produção de leite a pasto ou confinados, e abre mercado para a venda de animais produtivos e resilientes para os mais diversos países.

   A pecuária leiteira nacional poderá abastecer o mercado interno e gerar excedentes organizando-se, desta forma, com animais superiores, associados à transformação digital, o Leite 4.0, para os diferentes sistemas de produção, sem perder de vista atender à demanda dos consumidores, que é leite de qualidade.

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