Nos últimos dois anos a produção nacional apresentou crescimento inexpressivo, as importações cresceram e as exportações diminuíram. Confira os números
A estimativa de produção de leite, em 2016, deve ser próxima de 35,3 bilhões de litros, produzidos em maior volume na região Sul do País. De acordo com os dados da Pesquisa Trimestral do Leite, do IBGE, o volume captado e processado por indústrias com serviço de inspeção, em 2016, foi 3,7% menor do que em 2015. A captação no período deve representar 66% da produção total, ou seja, 12 bilhões de litros não passaram pelo serviço de inspeção.
O volume de leite processado no próprio estabelecimento ou vendido ao consumidor na forma fluida ou de derivados é semelhante à produção da Argentina e quatro vezes maior que a produção do Uruguai, que são dois importantes países exportadores de lácteos, inclusive, para o Brasil. O pequeno crescimento da produção e a menor captação de leite refletem na atuação do País no mercado internacional de lácteos.
A balança comercial fechou, em 2015, com saldo negativo de 60 mil t e representou gastos próximos de US$ 100 milhões. Em 2016, o déficit subiu para 190 mil t de lácteos importados que somaram US$ 490 milhões. Nota-se que o saldo foi positivo para o leite UHT, leite modificado para a alimentação infantil e para o iogurte, como se observa na tabela 1.
Nos primeiros cinco meses de 2017 o déficit está em 65 mil t com gastos de US$ 221 milhões, indicando tendência de um ano com compras maiores no mercado internacional. O volume das exportações e importações de lácteos pode ser observado na figura 1.
Importação em crescimento
Em 2016, as importações de lácteos foram 78,8% maiores que no ano anterior, com um total de 245,3 milhões de t. Comparando os primeiros cinco meses de 2017 com igual período de 2016, compramos 2,7% a mais, de um total de 82,8 milhões de t. As compras de leite UHT cresceram em 44%; de iogurte, em 483%; soro em pó e manteiga, em 29%, e doce de leite, em 82%. O volume de leite em pó e de queijo foi semelhante quando comparado ao mesmo período anterior, e o leite modificado para alimentação infantil reduziu 33% (figura 2).
O Uruguai foi o maior fornecedor de leite UHT, leite em pó, iogurte e manteiga. Da Argentina, compramos o soro de leite em pó e o doce de leite. Os queijos importados vieram também da Argentina, 6,2 mil t, e do Uruguai, 5,6 mil t. O leite modificado para alimentação infantil veio da Alemanha.
As importações realizadas no ano passado foram realizadas principalmente pelo Estado do Espírito Santo, que comprou 72,5 mil t de lácteos, sendo 66,1 mil t de leite em pó, 3,8 mil t de queijos e 2,2 mil t de soro de leite em pó. São Paulo foi o segundo maior importador dos produtos, com 63,9 mil t, sendo 25,1 mil t de leite em pó, 21,0 mil t de queijos, 9,6 mil t de soro de leite em pó e 5,2 mil t de manteiga. O Rio Grande do Sul foi o terceiro estado importador de lácteos, comprando 50,9 mil t de leite em pó e de 2,7 mil t do soro de leite em pó.
Nos cinco primeiros meses de 2017, o Espírito Santo comprou 19,0 mil t. Da compra total de 10,9 mil t de soro de leite em pó, o Paraná ficou com 3,6 mil t, e São Paulo, com 2,6 mil t. Os paulistas compraram também 96% da manteiga, 95% do leite modificado para alimentação infantil, 66% dos queijos e 56% do doce de leite. Santa Catarina foi o destino de 203,9 mil kg de leite UHT, enquanto o Rio Grande do Sul comprou 432 mil kg em iogurtes.
Exportações em baixa
As exportações, em 2016, somaram US$ 167,9 milhões com 55,0 mil t de lácteos vendidas. Esse volume representou redução de 28% em relação a 2015, que foi de 76,8 mil t e de 36%, em comparação com 2014, quando foram vendidas 86 mil t. No ano passado aumentaram as exportações do leite UHT em maior proporção, enquanto as de queijos, leite modificado para alimentação infantil e doce de leite cresceram menos. Ocorreu redução de 36% no volume de leite em pó vendido; do iogurte, soro de leite e manteiga também diminuiu, porém em menor proporção.
De um total de 30 países, Venezuela, Arábia Saudita e Angola foram os três que mais compraram leite em pó do Brasil em 2016. As vendas desse produto somaram 40,4 mil t. Nos primeiros cinco meses de 2017 vendemos 11,5 mil t, volume que foi 14% menor do que no mesmo período do ano anterior. O maior comprador foi a Arábia Saudita, e em menor quantidade, Estados Unidos e Venezuela.
As exportações de leite UHT foram de 7,8 mil t em 2016, sendo Filipinas a maior compradora com 34% do total, e os Emirados Árabes e a Venezuela, com 17% do leite vendido. Em 2017 mantiveram-se os mesmos compradores, exceto a Venezuela.
Em 2016 foram exportadas cerca de 3 mil t de queijos, principalmente para Chile, Rússia e Argentina. Em 2017, aumentaram as exportações do produto em 20%, em relação ao mesmo período do ano passado, e os países compradores permanecem os mesmos. A Argentina vendeu para o Brasil 6,2 mil t de queijo e comprou 339 mil kg de janeiro a maio deste ano.
Considerando o volume, o Brasil vende mais leite modificado para alimentação infantil do que queijos. Em 2016, exportamos 3,3 mil t, principalmente para a Colômbia, que representou 51% das vendas do leite modificado. Outros compradores foram Equador, Argentina e Chile. Em 2017, vendemos 1,5 mil t para os mesmos países.
As incertezas do cenário econômico brasileiro podem afetar diretamente o setor lácteo, acarretando estagnação ou até mesmo redução no consumo interno. Nos últimos dois anos a produção nacional apresentou crescimento insignificante, as importações aumentaram e as exportações diminuíram. A Venezuela, que é um importante comprador dos lácteos brasileiros, está vivenciando uma forte crise econômica e política, que também dificulta as exportações brasileiras.
Esses fatores reforçam a situação delicada não só para o setor leiteiro que, aliada às oscilações dos preços do leite, confirmam uma situação de constantes desafios para os produtores.