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MERCADO

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Rafael Ribeiro

zootecnista, msc. Scot Consultoria

MILHO ATINGE OS MAIORES PREÇOS NOMINAIS NO BRASIL

O preço do milho atingiu os maiores valores nominais no mercado interno. Segundo levantamento da Scot Consultoria, a saca de 60 quilos foi negociada por até R$ 57,00 a R$ 58,00 em março (19/3) na região de Campinas (SP). O maior preço, até então, foi verificado em 2016, ano em que a queda nos estoques internos e o clima adverso levaram à forte valorização do grão, em reais. Naquela oportunidade, a saca chegou a ser vendida por R$ 55,00.

Em 2020, ou melhor, desde meados do segundo semestre do ano passado, o câmbio valorizado, a boa demanda, as incertezas com relação ao clima e as expectativas de estoques menores nesta temporada têm dado sustentação aos preços no mercado brasileiro.

FUNDAMENTOS DE MERCADO: OFERTA E DEMANDA

De acordo com o relatório divulgado em março pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deverá colher 100,08 milhões de toneladas de milho no ciclo atual (2019/20), frente aos 100,04 milhões de toneladas colhidas anteriormente.

Se confirmado, o volume total será recorde. Entretanto, em relação às estimativas de fevereiro para a safra 2019/20, a produção deverá ser 0,4% menor e não está descartada a possibilidade de revisões para baixo na produção, em função, principalmente, da falta de chuvas em algumas regiões produtoras de milho de segunda safra no Centro-Sul do País, além das perdas que estão sendo computadas na primeira safra, em especial no Rio Grande do Sul.

Com relação ao consumo, a demanda interna foi mantida em 70,45 milhões de toneladas de milho em 2019/20. No ciclo passado, foram consumidos 65,24 milhões de toneladas. As exportações brasileiras foram estimadas em 34 milhões de toneladas em 2019/20, mesmo volume estimado em fevereiro, mas abaixo dos 41,17 milhões de toneladas embarcadas na temporada passada, um recorde.

Com a revisão para baixo na produção em relação ao relatório anterior e a manutenção da demanda interna e externa, os estoques finais em 2019/20 foram revisados para baixo no relatório de março.

Estão previstos 8,03 milhões de toneladas estocadas ao fim deste ciclo, frente aos 8,44 milhões de toneladas estimadas anteriormente. É o menor volume em estoque nos últimos anos. Para uma comparação, em 2018/19, foram 11,4 milhões de toneladas e, em 2017/18, 16,18 milhões de toneladas em estoques finais.

EXPECTATIVAS DE PREÇOS PARA O MILHO NO MERCADO BRASILEIRO

Para o curto e médio prazos, a expectativa é de preços firmes para o milho e a possibilidade de altas não está descartada no mercado brasileiro, até que se tenha uma ideia melhor acerca da produção na segunda safra, em reta final de semeadura no País até meados de março.

Lembrando que boa parte do incremento previsto na demanda interna por milho é atribuída ao aumento na produção de frangos e suínos para atender à maior demanda para exportação de carnes, que, por ora, não tiveram os embarques afetados. As notícias de redução de novos casos do coronavírus na China é outro fator que pode indicar uma retomada da demanda chinesa e a possibilidade de aumento das importações do país asiático. Por outro lado, se a situação mundial e chinesa se agravar, precisamos rever a demanda por carne e, consequentemente, por grãos no mercado interno (milho) e para exportação (soja).

ALTA NAS COTAÇÕES DA SOJA GRÃO E FARELO DE SOJA EM REAIS

Em março, os preços do farelo de soja subiram, no embalo da soja em grão. Apesar da colheita em andamento no País e da previsão de uma safra recorde (2019/20), a boa demanda (doméstica e para exportação) e, principalmente, a forte valorização do dólar, puxaram as cotações do grão e do farelo, em reais, para cima.

Segundo levantamento da Scot Consultoria, em São Paulo, a tonelada de farelo de soja ficou cotada, em média, a R$ 1.428,43, sem o frete. Houve alta de 2,1% em relação a fevereiro último e, na comparação com março do ano passado, o insumo está custando 11,4% mais este ano. Para o curto e o médio prazos, o câmbio e a demanda são os principais fatores de precificação do grão no mercado interno. A expectativa é de mercado firme, caso o dólar siga valorizado e a demanda aquecida – a China segue comprando grandes volumes de soja brasileira. Entretanto, mantemos o monitoramento da situação do coronavírus e do petróleo no Brasil e no mundo, que deverá afetar a economia mundial.

Preços firmes do farelo de soja no mercado interno

O clima mais seco permitiu o avanço em um ritmo melhor da colheita da primeira safra e da semeadura da safra de inverno de grãos (2019/20) no Sul do País. No Paraná, segundo informações do Departamento de Economia Rural (Deral), 75% da área semeada com soja nesta temporada foi colhida até o dia 16 de março. Com relação às áreas a serem colhidas, 93% estavam em boas condições e 7% em condições medianas.

No caso do milho de verão (primeira safra), a colheita atingira 67% da área plantada no estado, sendo que 94% das lavouras estavam em boas condições e 6% em condições medianas. Para o milho de segunda safra (safra de inverno), a estimativa é de que 90% da área prevista para 2019/20 tenha sido semeada, frente a uma média de 93% da área semeada até então nas três últimas temporadas.

Apesar da falta de chuvas em alguns municípios, a situação das lavouras, por ora, está favorável, com 93% em boas condições e 7% em condições medianas. Caso a estiagem persista, esses números e a produtividade média poderão ser revisados para baixo no estado.

No Rio Grande do Sul, até meados de março (19/3), 18% da área com soja e 63% da área plantada com milho no verão havia sido colhida, segundo informações da Emater. O clima adverso no estado (falta de chuvas e temperaturas mais altas) tem gerado preocupações com relação à situação das lavouras, cuja produtividade poderá ser revisada.

Em Mato Grosso, o cenário foi de chuvas em maiores volumes, em especial na metade norte do estado. Apesar da maior umidade do solo, os trabalhos no campo avançaram bem na primeira quinzena de março. De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a colheita da soja estava na reta final, com 96,9% da área colhida até o dia 13/3 e previsão de encerramento nos próximos dias. Com relação ao milho de segunda safra, a semeadura foi concluída em Mato Grosso.

Por fim, em Mato Grosso do Sul, segundo informações da Federação da Agricultura do Estado (Famasul), por meio do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio, 82,6% da área plantada com soja havia sido colhida até o fim da primeira quinzena de março. Para o curto e o médio prazos, além do clima, o câmbio e a demanda (interna e para exportação) são os principais fatores de direcionamento dos preços do milho e da soja no mercado brasileiro. A situação até então é de preços do milho e da soja firmes e em alta, em reais.

Do lado da demanda, o cenário é incerto, por causa de questões como o coronavírus e a queda no preço do petróleo, que poderão afetar a economia mundial.

Alta do leite no mercado Spot e dos produtos lácteos no atacado

No mercado spot, ou seja, o leite comercializado entre as indústrias, os preços tiveram uma forte alta em março, com a oferta mais ajustada e a concorrência entre os laticínios pela matéria-prima. As altas corroboram com o cenário de maior concorrência entre as indústrias, com a produção de leite em queda nas principais bacias do País.

Segundo levantamento da Scot Consultoria, no mercado spot em São Paulo e em Minas Gerais, os negócios ocorreram, em média, em R$ 1,60 por litro, posto na plataforma. Os aumentos foram de 6,2% e 3,7%, respectivamente, em relação ao fechamento do mês anterior (fevereiro/2020). Nos estados do Sul, os negócios ocorreram em até R$ 1,70 por litro.

Para o curto e o médio prazos, a expectativa é de preços firmes e altas não estão descartadas no mercado spot, especialmente no Sudeste e no Brasil Central, onde a produção de leite deverá recuar com mais força a partir de abril, com o início do período seco. A expectativa é de alta também nos preços do leite ao produtor.

Um ponto de atenção, porém, é com relação aos reflexos da pandemia de coronavírus sobre o consumo e a demanda por produtos lácteos, o processamento e a logística de distribuição no país. Até meados de março, quando este texto foi escrito, as indústrias de laticínios estavam operando normalmente.

Com relação à demanda, na primeira quinzena de março foi verificada uma procura maior pelos varejistas para repor os estoques, que vinham baixos, o que fez os preços dos lácteos subirem no atacado, principalmente o leite longa vida (UHT). O preço do leite longa vida, que nos últimos meses vinha entre estabilidade e ligeira queda, subiu 2,3% na primeira metade março no atacado. Foram verificadas altas também para creme de leite e queijo muçarela, entre outros lácteos. Nos supermercados, também foi registrada uma maior movimentação, com a população “correndo atrás” de alguns produtos para estocar (principalmente o longa vida), diante de todas as incertezas geradas por essa crise.

A expectativa é de que o consumo de produtos lácteos, tais como os leites fluídos, não seja muito afetado pelas medidas adotadas para o controle do coronavírus no País. Por outro lado, a demanda por achocolatados, leites fermentados e até o leite em pó poderá ser prejudicada, com a suspensão das aulas nas escolas.

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