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Para se reduzirem os impactos dessa doença na produtividade do milho, é necessária a adoção de um conjunto de medidas articuladas

MILHO

Influência do

ENFEZAMENTO

DO MILHO PREOCUPA

Presente em todo o País, nas últimas safras os Estados da Região Sul vêm demonstrando o problema com maior intensidade

Luiz H. Pitombo

O Ministério da Agricultura, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Embrapa Milho e Sorgo, instituições estaduais de defesa sanitária, dentre outros, têm mobilizado esforços para auxiliar no controle do enfezamento do milho, doença causada por bactéria e tendo como vetor a cigarrinha-do-milho (veja quadro). Foram promovidas ações como reuniões para discutir o problema, vídeo-cursos, lives e elaboradas cartilhas com orientação aos produtores. As perdas podem atingir 100% das lavouras.

O agravamento do problema, segundo a engenheira agrônoma Simone Martins Mendes, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG), estaria associado a dois aspectos. Em primeiro lugar, condições climáticas favoráveis, ou seja, invernos com temperaturas mais elevadas facilitando a sobrevivência da cigarrinha e dos patógenos de uma safra para outra, bem como a existência no campo do chamado milho tiguera ou guaxo, que pode permanecer no campo após a colheita. Estes são repositórios dos patógenos e dos próprios insetos.

Não é possível erradicar nem as cigarrinhas, nem os agentes infecciosos que transmite, o que inclui também o vírus causador da risca-do-milho. “Ela é um inseto que migra por longas distâncias e vale lembrar que o milho tem uma importância social muito grande, sendo cultivado em pequenas, médias e grandes propriedades”, afirma a engenheira agrônoma.

As cigarrinhas costumam estar presentes na lavoura em grande quantidade em plantas jovens com quatro a seis folhas completamente formadas, mas só depois é que aparecerão os sintomas das infecções. Tanto as bactérias causadoras dos enfezamentos vermelho ou pálido, como também o vírus da risca, colonizam os vasos (floema) das plantas de forma lenta, provocando posteriormente um “entupimento” neles. O processo demora algumas semanas e o produtor só percebe que a planta foi contagiada no início do pendoamento. Uma vez instaladas as doenças, não há nada que se possa fazer para curá-las. Por essa razão, Simone salienta que para se reduzirem os prejuízos é necessária a adoção de um conjunto de medidas articuladas entre si.

A RECOMENDAÇÃO PARA O COMBATE A ESSAS DOENÇAS E SEU VETOR É REALIZAR UMA COLHEITA BEM FEITA, SEM DEIXAR GRÃOS NO CAMPO QUE POSSAM GERMINAR, DANDO ABRIGO ÀS CIGARRINHAS E AOS PATÓGENOS

Milho guaxo que se torna abrigo para proliferação das cigarrinhas

Silagem e cuidados – Em termos da cultura do milho para produção de silagem a pesquisadora diz que o controle é o mesmo do que outras, mas que em função da redução do porte das plantas “enfezadas” e de espigas malformadas com menos grãos, “apesar de se obter silagem ela terá menos massa e grãos reduzindo sua qualidade”, avalia. Tanto a cigarrinha como os patógenos não resistem ao processo de ensilagem.

Para controlar essas doenças e seu vetor é preciso realizar uma boa colheita sem deixar grãos no campo que possam germinar, dando abrigo às cigarrinhas e aos patógenos. Se isso acontecer e o milho estiver em seus estágios iniciais de desenvolvimento, pode-se recorrer a herbicidas ou se a planta já estiver maior deve-se partir para o controle mecânico. “Isso inclui também aquele milho guaxo que ficou na beira de estrada e que depois vira uma bomba mais adiante”, diz Simone. Uma prática que também é bem-vinda para se evitarem essas plantas de milho remanescentes é a rotação de culturas.

Simone M. Mendes: “Quando os sintomas das doenças aparecem já não faz mais sentido controlar seu vetor"

Sobre os híbridos a utilizar ela enfatiza que se deva buscar os mais resistentes/tolerantes ao enfezamento, caso contrário haverá problemas na lavoura. Para a produção de silagem, ela comenta que existem híbridos que são indicados para essa situação. Com relação às sementes, outro aspecto crucial que indica é o tratamento contra a cigarrinha-do-milho e que, caso ele já não tenha ocorrido industrialmente, será necessário realizá-lo.

Para a pulverização das lavouras, Simone comenta que existem produtos registrados no Ministério da Agricultura que podem ser utilizados da emergência das plântulas até os 40-45 dias quando se obtêm os melhores resultados. “Quando os sintomas das doenças aparecem já não faz mais sentido controlar seu vetor”, diz. Também salienta que existem os produtos biológicos, quase todos à base do fungo Beauveria bassiana, que apresentam um resultado bastante promissor, sendo que os melhores controles ocorrem com o tempo úmido.

Outra informação que tem sido repassada aos produtores de uma determinada região é que todos procurem sincronizar a semeadura numa mesma janela de 20-30 dias. Isso para que não ocorram lavouras velhas perto das novas, evitando que as cigarrinhas migrem para os plantios mais jovens levando os patógenos. Assim, deve-se evitar o plantio de áreas novas perto das velhas.

“Se o produtor não se preocupar com essas medidas profiláticas de manejo cultural e sanitário, ano após ano vai se ter o problema”, alerta a engenheira agrônoma Simone Mendes, da Embrapa Milho e Sorgo.

AS DOENÇAS E SEU VETOR

São três as enfermidades envolvidas que podem surgir isoladas ou associadas, mas sempre transmitidas pela cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) quando infectada

Os enfezamentos, do tipo pálido ou do tipo vermelho, são provocados por bactérias (classe Mollicutes). Seus principais sintomas são redução do crescimento e desenvolvimento da planta; entrenós curtos; espigas improdutivas; proliferação e má-formação de espigas. Os colmos ficam enfraquecidos com o favorecimento de doenças fúngicas que levam ao tombamento. Em geral, quando a infecção ocorre cedo a planta não cresce como que se estivesse “enfezada”, daí seu nome.

A cigarrinha do milho também transmite um vírus (MRFV) causador da risca-do-milho ou raiado fino. São formados pequenos pontos nas folhas que com o avanço da doença criam linhas nas nervuras. Quando a infecção é precoce pode ocorrer redução de crescimento e abortamento das gemas florais.

O inseto vetor – Ele mede de 3,7 a 4,3 mm, com as fêmeas em geral se mostrando maiores do que os machos. Sua coloração é cinza-palha, com manchas no abdômen e duas pretas na cabeça como se fossem olhos. Adultos e ninfas vivem em colônias nos cartuchos e folhas mais jovens do milho, onde sugam a seiva de plantas e adquirem os patógenos, caso estes estejam presentes na planta e depois os transmitem a outras. O milho é a única planta hospedeira do vetor.
Seu ciclo de vida, de ovo a adulto, é de 45 dias e, em condições favoráveis de temperatura, 26 e 32oC, seu ciclo se completa em 24 dias, podendo depositar em média 611 ovos. Considerando um ciclo de 180 dias para o milho, serão várias as gerações que poderão migrar de lavouras mais velhas para mais novas. É preciso considerar que nem todas carregarão os patógenos, porém não há como distingui-las.

Híbridos – Até o momento não foram lançados híbridos específicos com resistência aos enfezamentos. Experimentos realizados em diferentes regiões mostram comportamentos distintos que podem ser atribuídos a fatores como quais dos patógenos estão realmente presentes, sua predominância ou possíveis variações genéticas entre os agentes infecciosos locais.
Assim, a recomendação tem sido a realização de trabalhos de caracterização de resistência/suscetibilidade dos híbridos em todas as regiões produtoras. Apesar da possibilidade de variações na resposta dos híbridos, tem sido possível detectar materiais com estabilidade de resistência em diferentes regiões.
Além de utilizar os cultivares com bons níveis de resistência, é recomendado o produtor plantar mais de um híbrido e também fazer rotação entre eles.

Fonte : Cartilha desenvolvida pela Embrapa Milho e Sorgo, MG, junto com o Sistema Faep/Senar-PR, adaptação Revista Balde Branco.

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