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Para continuar a crescer na produção, o Estado mineiro busca maior produtividade por vaca por hectare e qualidade, com gestão profissional da atividade

LEITE EM MINAS

Profissionalização garante a

MINAS GERAIS

o topo da produção leiteira

Engajamento dos produtores, mais ações para o desenvolvimento da pecuária mineira, sobretudo familiar, colocam MG como responsável por 27% da produção nacional de leite

Erick Henrique

Mantendo-se há muitos anos na posição de maior produtor de leite do País, Minas Gerais ainda tem grande potencial para crescer na produção e vem buscando isso em várias ações que visam à melhoria da produtividade/vaca/hectare e da qualidade do leite, sobretudo com programas de assistência técnica e gerencial aos pequenos e médios produtores. São diversas entidades, cooperativas e laticínios que estão empenhados em oferecer aos produtores programas que levam conhecimentos, tecnologias e orientação para o incremento da produtividade e a elevação da renda.

O Estado bateu o recorde de litros de leite produzidos em 2019, de acordo com o último levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o órgão, o Estado produziu mais de 9,4 bilhões de litros, registrando um aumento de 5,7% em relação a 2018. A produção mineira, conforme dados do IBGE, correspondeu a 27,1% da produção brasileira, que é de cerca de 34,8 bilhões de litros. Minas Gerais é seguido pelos Estados de Paraná e do Rio Grande do Sul. Os três, juntos, produzem mais da metade do leite nacional (51,9%).

“Historicamente, Minas Gerais é o maior produtor de leite nacional, contribuindo com mais de um quarto do total. Entretanto, apesar de seu contínuo crescimento nas últimas duas décadas, a produção apresentou menor ritmo se comparada aos Estados da Região Sul. De toda forma, Minas Gerais ainda lidera tanto na produção primária de leite quanto na produção de leite inspecionado, ou seja, leite adquirido por laticínios inspecionados”, ressalta o diretor técnico da Emater-MG, Feliciano Nogueira de Oliveira.

Na avaliação do dirigente, a manutenção dessa liderança e a retomada de crescimento registrado na produção do Estado, mais recentemente, podem ser atribuídas especialmente à maior profissionalização dos produtores, com maior adoção de tecnologias e de métodos e instrumentos de gestão.

Feliciano N. Oliveira: “O crescimento registrado na produção do Estado, mais recentemente, pode ser atribuído à maior profissionalização dos produtores, graças à adoção de tecnologias e de métodos de gestão”

O impacto das iniciativas – Oliveira explica que a importância da assistência técnica para o setor é indiscutível e Minas Gerais é agraciado por poder contar em seu território com centros de pesquisa como a Embrapa Gado de Leite, a Epamig, grandes universidades ligadas ao segmento de produção agropecuária, como Viçosa (UFV), Lavras (Ufla), UFMG, entre outras, e com instituições como Senar e Sebrae, que são muito atuantes.

“A Emater-MG possui uma rede de extensionistas presentes em 93% dos municípios mineiros, com assistência técnica especialmente voltada aos pequenos e médios pecuaristas e agricultores familiares, que é a expressiva maioria dos produtores de leite do Estado”, destaca o diretor técnico.

Segundo ele, as ações empreendidas pelos extensionistas são sempre pautadas em pesquisas validadas e estão em sintonia com os centros de pesquisa renomados. Essas iniciativas vão desde um diagnóstico da propriedade, em que se observam in loco os principais pontos de estrangulamento, passando por melhoria das condições de alimentação do rebanho, com ênfase à qualidade das pastagens e à elaboração de dietas de menor custo. Também se destacam a adoção de calendário sanitário, melhoramento genético adequado ao sistema de produção, bem-estar animal, adequação ambiental da propriedade, até a observação de indicadores zootécnicos e econômico-financeiros que contribuem para a gestão da atividade pelo produtor.

Marcelo R. Martins: “Anos atrás, em geral a média do produtor familiar era de até 50 litros/leite/dia, hoje é raro quem viva com menos de 200 litros/leite/dia”

Por sua vez, o zootecnista Marcelo Rodrigues Martins, coordenador técnico regional da Emater, em Alfenas, destaca os trabalhos que visam transformar a vida do produtor de leite mineiro, sobretudo em prol do fortalecimento da agricultura familiar.

“Na produção leiteira, temos o foco na melhoria da alimentação volumosa e concentrada do rebanho, do padrão genético dos animais, entre outros aspectos. Outro ponto que trabalhamos bastante refere-se à maior eficiência na gestão das propriedades, por meio da qual se conseguem avanços expressivos, apoiando o produtor para reorganizar as ‘pedras no tabuleiro’ e ganhar mais com sustentabilidade”, assinala Martins, acrescentando que a busca do fomento a ações de integração e associativismo de produtores é cotidiana, já que os envolvidos vendem melhor o produto e compram os insumos, principalmente concentrados, de forma coletiva.

De acordo com o coordenador regional da Emater, a média de produção de leite da região sul do Estado, onde ele atua, vem se elevando nos últimos anos, com uma série de melhorias. Há 25 anos, o produtor familiar produzia até 50 litros/leite/dia e, atualmente, observa ele, é raro encontrar quem viva da atividade com menos de 200 litros/leite/dia.

“Cabe ressaltar que predomina o sistema a pasto no verão e cocho no inverno, mas sistemas de confinamento o ano inteiro têm crescido na região. Tem sido comum atendermos pecuaristas com base familiar com produção de 800 a 1.000 litros/leite/dia. Já produtores com mão de obra contratada precisam de escala maior para viabilizar sua atividade. Temos acompanhado vários projetos entre 1.000 e 5.000 litros/leite/dia em sistemas de confinamento”, diz o zootecnista.

Maria Lúcia contou com a orientação da Emater-MG e melhorou significativamente seus índices e arrebatou o prêmio “Mais Sólidos Danone – 2020”

Dedicação, trabalho e ótimos resultados – A proprietária do Sítio São Judas Tadeu, Maria Lúcia dos Santos Bustamante, buscou o conhecimento técnico da Emater para impulsionar os resultados da fazenda e conquistou muito mais do que esperava. A produtora de Itajubá, sul de Minas Gerais, foi uma das três premiadas pelo programa “Mais Sólidos”, da Danone, em 2020, já que registrou boas pontuações, de acordo com os critérios estabelecidos pelo programa, como teor de gordura, proteína e sólidos totais no período de 2019/2020.

Os extensionistas da Emater ajudaram a produtora na adoção de tecnologias, que resultaram na melhoria da alimentação do rebanho, no bem-estar dos animais e a aumentar o volume e a qualidade do leite. Entre as orientações, estão formação e manejo de pastagens e plantio e adubação de milho para silagem. Também foram elaborados projetos para crédito rural.

Martins relata que há cerca de 18 meses, por meio de um convênio entre o Ministério da Agricultura e a Emater-MG, iniciou-se um trabalho de acompanhamento de 260 produtores em 70 municípios não enquadrados no Pronaf. A produtora Maria Lúcia aceitou participar do projeto, sendo assistida pelo técnico local da Emater, Edgar Moreira da Silva, que já a atendera anteriormente em várias demandas, como crédito rural, licenciamento ambiental e formação de piquetes, por exemplo.

“Iniciamos a pedido da produtora algumas ações na área de nutrição, balanceamento de dietas e otimização de custos com o uso de coprodutos como o grão de milho seco e subprodutos de indústria de etanol de milho (DDGs30 e DDGs40), caroço de algodão, silagem de milho reidratado, pré-secados de aveia, azevém, tifton, além da silagem de milho”, relata.

O projeto teve início em um período difícil, março/2020, quando a produtora havia reduzido drasticamente a produção e a produtividade, temendo não conseguir comercializar a matéria-prima. Como genética, sanidade, qualidade higiênica e de composição do leite e gestão já vinham sendo bem feitas, o zootecnista buscou otimizar a nutrição, visando manter a composição do leite com elevado teor de sólidos.

“Foi um ano de muita chuva no período da ensilagem e no geral a qualidade do volumoso não estava boa na maioria das propriedades, fato que levou ao uso de fontes mais caras, como feno e pré-secado, para manter a qualidade da dieta. Iniciamos o uso do DDG, que apresentou bons resultados econômicos e boa resposta animal”, destaca Martins.

Sítio São Judas Tadeu: nos ajustes no manejo nutricional das vacas foram utilizados coprodutos, que ajudaram a reduzir os custos do alimento e garantiram produtividade e alto teor de sólidos no leite

Segundo ele, a produção do Sítio São Judas Tadeu foi retomada e atingiu patamar superior ao que obtinha antes da pandemia de covid-19. Com o esmero e a dedicação da produtora, ela conquistou o 1º lugar na categoria 500 a 2.000 litros/leite/dia no concurso da Danone, que é uma grande empresa compradora de leite.

Os desafios da pecuária mineira – Mesmo com esses resultados promissores, a bovinocultura leiteira de Minas Gerais ainda precisa superar alguns gargalos para não perder o primeiro lugar do pódio e aumentar ainda mais os índices de produtividade. “São vários os desafios ainda enfrentados pela produção mineira de leite. Poderíamos citar desde estratégias de manejo, conservação e preservação de recursos naturais, especialmente solo e água, até a qualidade do leite”, pontua o diretor técnico do Emater.

Para Oliveira, muitos desses desafios estão relacionados à própria diversidade cultural e de condições edafoclimáticas verificadas no Estado, levando, de maneira geral, a variações regionais de indicadores importantes, como o de produtividade dos fatores de produção – terra, animal e mão de obra, que por sua vez interferem na escala de produção e na própria eficiência da propriedade.

“Portanto, é difícil imputar somente a um ou outro aspecto os desafios com os quais a atividade se depara. No entanto, apesar dos gargalos, é notório o avanço nos indicadores de resultados da atividade registrado nos últimos anos, como a redução do número de vacas ordenhadas e o aumento na produção de leite no Estado, com o aumento da produtividade/animal.”

Já Martins analisa que a alimentação volumosa e concentrada sempre foi a “pedra no sapato” dos produtores de leite. Somada à mão de obra, representa de 60% a 70% do custo total (CT) da atividade. Então, iniciativas que visem reduzir o custo dos concentrados, que representam de 30% a 35% do CT, sempre foram necessárias, mas especialmente no último ano. Isso porque, devido à conjuntura do mercado externo comprador tanto de proteína animal, quanto de soja propriamente dita, o custo da alimentação foi elevado a patamares que achataram as margens do produtor.

“Nesse cenário é muito importante buscar alimentos alternativos, os chamados coprodutos ou subprodutos, com os quais se obtém produção similar ao uso de milho e soja. Citamos como exemplos casquinha de soja, caroço de algodão, polpa cítrica, resíduo de cervejaria e indústria de etanol (DDGs), farelo de algodão, girassol, amendoim, sorgo, milheto, resíduos da fabricação de polvilho e várias alternativas regionais”, assinala Martins, ressaltando que todos esses produtos tiveram suas cotações puxadas para cima, acompanhando os preços do milho e farelo de soja.

PROFISSIONALIZAÇÃO

O produtor que não se profissionalizar não permanecerá na atividade e ações simples podem ser tomadas para melhorar a eficiência técnica da propriedade:

• Meta de pelo menos 200 litros/dia por homem envolvido (produção familiar) e acima de 300 l/homem/dia (empresarial)

• Meta de um parto a cada 12 a 13 meses

• Meta de uma prenhez confirmada em até 90 dias pós-parto

• Meta de 80% a 83% das vacas em lactação no caso de raças europeias e 75% em mestiças/zebu

• Meta de produção por área superior a 10.000 l/ha/ano

• Meta de lucro de 4 a 7 l/vaca/dia

• Meta de 4 a 8 vacas/ha no período das águas no sistema a pasto

• Meta de produção do volumoso milho de 50 t/ha com 33% a 35% de matéria seca e acima de 40% de grãos na silagem.

Fonte: Marcelo Martins – coordenador regional da Emater-MG

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