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O equilíbrio nutricional, com teor de minerais adequado, segundo a fase produtiva das vacas, é a garantia de sua saúde e produtividade

SUPLEMENTAÇÃO MINERAL

Mineralização

para animais em transição e lactação:

nunca deixe faltar!

É fundamental investir na suplementação mineral durante essas duas fases cruciais para garantir a saúde e a produtividade do rebanho leiteiro

Erick Henrique

“Quando algum elemento (mineral) é ingerido em baixa quantidade podem surgir enfermidades que levam a graves prejuízos para a vida dos animais e a perdas econômicas”, destaca Elaine Melchioretto, em sua dissertação “Avaliação dos níveis de cobre, ferro, zinco e molibdênio em fígado de vacas leiteiras no Estado de SC”, apresentada, em 2019, para a obtenção do título de mestre em Ciência Animal, na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

Ela explica que, para bovinos de leite, os minerais são elementos essenciais para a manutenção do metabolismo e da produtividade, pois, para a manutenção da produtividade e atividades metabólicas dos animais, é necessária dieta balanceada e a ingestão de minerais em quantidades adequadas.

Acrescenta ainda que os minerais participam na estruturação dos órgãos, na composição de eletrólitos, de fluidos e tecidos corporais, da mesma forma que atuam como catalisadores. Quando a ingestão dos minerais não é adequada, os animais podem desenvolver doenças carenciais. No Brasil, as doenças carenciais mais comuns são de fósforo (P) e sódio (Na), seguidos por cobre (Cu) e cobalto (Co).

Para Juliano Sabella, zootecnista e presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementação Mineral (Asbram), a importância da suplementação mineral é muito grande na pecuária leiteira, pois uma vaca produzindo leite tem o requerimento alto de todos os ingredientes e, quando se fala de mineral, o animal precisa muito estar com a nutrição balanceada, tanto dos macroelementos (fósforo, cálcio, enxofre, magnésio) quanto dos microelementos (cobre, selênio, zinco, etc.).

Juliano Sabella: “Não adianta o produtor fornecer proteína, energia, tudo em excesso para os animais, pois se faltar, por exemplo, cálcio e fósforo, vai limitar a produção de leite, dada a ausência desses minerais”

“Tudo isso vai fazer com que o animal tenha uma excelente lactação, extraindo todo o seu potencial genético, e a mineralização durante o período de transição também é muito importante, porque é isso o que vai garantir, além da lactação, bons índices reprodutivos. Além disso, ela volta a ciclar rapidamente”, assinala.

Conforme explica, o requerimento nutricional da vaca, principalmente o relacionado aos minerais, e que pode limitar a produção, são os nutrientes que estiverem mais deficientes na dieta.

Dessa forma, não adianta o produtor fornecer proteína, energia, tudo em excesso para os animais, mas se faltar, por exemplo, cálcio e fósforo, vai limitar a produção de leite, dada a ausência desses minerais citados.

“Naturalmente, o organismo do animal tenta se equilibrar, vai retirar cálcio e fósforo dos ossos, que é uma reserva natural das vacas, porém isso prejudicará as taxas reprodutivas, a lactação e, com certeza, vai debilitar o animal. Portanto, ter uma dieta balanceada é essencial para manter a produção de leite, sobretudo a saúde dos animais”, afirma o presidente da Asbram.

César Augusto Fiorin, médico veterinário e consultor técnico, parceiro da consultoria Consulado do Leite, na Região Sul, explica que os especialistas em nutrição animal para vacas em transição e lactação presenciam diversas realidades de fazendas e, de modo geral, a grande maioria já tem uma preocupação e sabe da importância de mineralizar seus animais. “Porém, vemos muitos erros de suplementação e manejo, embora haja boas intenções, mas falta um refinamento, ou um conhecimento maior.

Falando especificamente na transição (pré e pós-parto), quanto a este assunto sim, vemos muita desinformação e condutas erradas em ambas categorias.”

Segundo Fiorin, os requerimentos dos animais mudam conforme seu estágio de lactação e/ou gestação. “As três semanas que antecedem o parto (período conceituado como pré-parto) envolvem drásticas mudanças no perfil hormonal e sistema imune. Falando em dietas específicas e especialmente em mineralização, precisamos trabalhar para atender aos requerimentos dessa fase (DCAD negativo, por exemplo) para evitarmos transtornos metabólicos pelo desconhecimento da nutrição e exigências nessa fase.”

As três semanas após (pós-par­to), conforme o consultor, também são cruciais, visto que a ingestão de matéria seca (MS) fica comprometida, e a produção de leite aumenta dia após dia, drenando nutrientes de forma intensa, sem a real capacidade do animal de aumentar a ingestão para suprir essa demanda. “Então, nutricionalmente, devemos atender a tais exigências, mesmo com consumo de matéria seca comprometido, ou seja, concentrando a dieta”, observa Fiorin.

César Augusto Fiorin: “Vemos muitos erros de suplementação e manejo, embora haja boas intenções. Falta um refinamento, ou um conhecimento maior, especificamente na transição (pré e pós-parto). Vemos muita desinformação e condutas erradas em ambas categorias”

Indagado sobre as consequências produtivas e econômicas, caso, em algum momento, o produtor deixar de suplementar com sal mineral os animais no pré-parto, ele ressalta resumidamente que o pecuarista irá sofrer com todas as consequências da hipocalcemia (clínica e subclínica), aumentando a incidência de doenças como retenção de placenta, metrite, mastite, deslocamento de abomaso, cetose, menor produção, maior atraso na concepção desses animais, maior taxa de descarte, podendo causar até óbito de alguns animais. “Ou seja, um prejuízo incalculável, tanto em saúde como em produção de leite.”

 

TECNOLOGIAS PARA VACAS EM TRANSIÇÃO: PROTOCOLOS E TREINAMENTO DOS FUNCIONÁRIOS

Conforme os especialistas em nutrição, no pré-parto e pós-parto são necessárias estratégias com protocolos bem definidos e funcionários bem treinados para cuidarem desses animais. O conforto e o manejo são primordiais para um parto tranquilo, além de estratégias nutricionais para minimizar possíveis distúrbios metabólicos. A estratégia nutricional mais utilizada é a dieta aniônica no pré-parto.

“A tecnologia da dieta aniônica ou acidogênica (DCAD negativo) faz com que o animal consiga, por meio de alguns mecanismos que são potencializados com essa dieta, acessar as reservas principalmente de cálcio do organismo, que, em uma situação normal, estão armazenadas sem a oportunidade de acesso imediato. O evento do parto exige muito desse mineral importantíssimo para praticamente todas as funções vitais, e o animal deve acessar suas reservas para não ficar em déficit. Esse é o objetivo desta dieta. O técnico nutricionista deve orientar a utilização formulando a dieta para cada fazenda, e ajustando níveis para cada fazenda, aliado ao manejo correto”, diz o consultor técnico de Catanduvas (SC).

A suplementação mineral, assim como a suplementação nutricional de qualquer tipo, deve ser feita e orientada por um profissional, com conhecimento de cada requerimento para cada categoria

Mineralização para vacas em lactação – Fiorin informa que as exigências para vacas em lactação são sete macrominerais: cálcio, fósforo, magnésio, potássio, sódio, cloro e enxofre; e sete microminerais: cobalto, cobre, ferro, iodo, manganês, selênio e zinco. E três vitaminas: A, D, E.

“Esses são os minerais e vitaminas provados pela ciência como ‘requerimentos’ para funções vitais do organismo. Além dos requerimentos, temos recomendações que são validadas pela ciência para potencializar algum índice zootécnico, uma vez que a mineralização feita de forma correta permite que o gado de leite utilize com maior eficiência todos os outros nutrientes disponíveis presentes nos alimentos fornecidos, garantindo uma boa produção de leite”, diz o médico veterinário.

O especialista do Consulado do Leite alerta também que a suplementação mineral, assim como a suplementação nutricional de qualquer tipo, deve ser feita e orientada por um profissional, com conhecimento de cada requerimento para cada categoria. Sempre com plano validado por pesquisas científicas, provando a real exigência. Softwares e planilhas auxiliam na tomada de decisões, mas devem ser alimentados por pessoas com capacidade e conhecimento.

“Além disso, a água é o mais vital nutriente para todas as funções, sendo fundamental o fornecimento de água de qualidade para os animais. Com animais especializados para produção de leite não é diferente, pois 84% do leite é água, e qualquer índice zootécnico despenca imediatamente após restrição hídrica. O fornecimento deve ser sempre em abundância de oferta e qualidade, visto que uma vaca Holandesa pode ingerir quantidades acima de 100 litros de água diariamente”, ressalta Fiorin

Para o presidente da Asbram, as pesquisas mostraram uma evolução muito grande em suplementação mineral para as vacas em transição e lactação. “Quando falamos no período de transição, temos as dietas aniônicas, utilizadas no pré-parto, e também temos dietas específicas para o pós-parto, que é um momento muito importante, do qual devemos aproveitar que a vaca atinja o seu potencial no pico da lactação, pois isso vai refletir na produção total de leite, durante toda a lactação.”

A respeito das inovações elaboradas pela indústria de suplementação mineral para vacas em lactação nos últimos anos, Sabella destaca novas tecnologias e conceitos, como enzimas e aditivos probióticos, bem como mudanças mesmo na formulação, as adequações que o novo NRC 2021 trouxe acerca da predição de consumo de suplementos vitamínicos e minerais. Com tudo isso, o dirigente da Asbram diz que toda a indústria está atenta e ajustando as suas formulações para possibilitar o máximo desempenho do rebanho com o que existe de mais novo nas pesquisas.

“Temos a oportunidade de melhorar a suplementação dos animais, pois hoje há informação, tecnologia, produtos, soluções disponíveis para o produtor de leite para que ele faça a sintonia fina da nutrição do seu rebanho. Isso é uma baita oportunidade para melhorar a produtividade, consequentemente a lucratividade da fazenda”, nota ele, acrescentando que se o produtor extrai o máximo do potencial dos insumos para produção, ele vai conseguir elevar a produtividade por animal e consequentemente aumentar sua lucratividade. “Atualmente, o criador tem nas mãos um arsenal de inovações, que pode fazer com que ganhe mais dinheiro e com sustentabilidade, tanto econômica, quanto social e ambiental”, conclui Sabella.

DEFICIÊNCIA MINERAL E SINAIS CLÍNICOS

 

As doenças carenciais mais observadas no Brasil são de fósforo e sódio, seguidas pela deficiência de cobre e cobalto


• Os sinais clínicos manifestados por bovinos que possuem deficiência de P (fósforo) são diminuição do apetite, diminuição da produção de leite, animais imunocomprometidos, retardo do crescimento, animais magros, com pelos ásperos, baixo rendimento de carcaça, raquitismo, osteomalácia, fraturas frequentes e comumente apresentam osteofagia (hábito de roer ossos). Com esse hábito os animais podem ingerir a toxina do Clostridium botulinum e acabar desenvolvendo botulismo.

• As manifestações da deficiência de Na (sódio) são o apetite excessivo por sal, os animais lambem-se e lambem aos outros no intuito de ingerir cloreto de sódio do suor. Animais a campo ingerem terra de barrancos que chegam a formar buracos. Em outros casos, é possível observar os animais bebendo urina uns dos outros.

• Bovinos com deficiência de Co (cobalto) podem permanecer longos períodos em pastagens com teores baixos de Co, sem manifestarem sinais clínicos. Quando manifestam esses sinais são caracterizados pelo consumo de cascas de árvores ou pedaços de madeira. Além disso, podem apresentar anorexia progressiva, na qual o animal não consome alimento nem com alta palatabilidade. Pode haver demora no crescimento, perda de peso, com perda da massa muscular abrupta.

Fonte: Elaine Melchioretto – Udesc

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