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Missão francesa visitou diversas propriedades no Estado de São Paulo, entre elas o Laticínio MontSul, em Monte Alegre do Sul

INTERCÂMBIO

Missão francesa faz diagnóstico do

leite e do queijo paulistas

A finalidade foi conhecer propriedades leiteiras que fabricam queijos artesanais para elaborar um diagnóstico inicial que orientará ações a serem desenvolvidas no acordo de cooperação entre o governo paulista e o governo francês

João Carlos de Faria

Produtores de leite e queijo de duas regiões do Estado de São Paulo receberam, em junho, a visita de uma missão francesa, que veio conhecer a realidade de suas propriedades, com a finalidade de elaborar um diagnóstico inicial para orientar ações a serem desenvolvidas no acordo de cooperação feito entre os governos paulista e francês. Assinado em agosto de 2021, o Acordo São Paulo-França prevê a cooperação técnica entre institutos franceses e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento paulista.

A missão foi composta pelo diretor-geral de alimentação e encarregado nacional de laticínios do Ministério de Agricultura e Soberania Alimentar francês, Frederic Bertassi; pelo professor da Escola Nacional da Indústria Leiteira, Maxence Virelaude, e pelo presidente da União de Produtores de Beaufort, região de referência na fabricação de queijos finos do país europeu, Ivon Bochet.

A viagem começou pelo Vale do Paraíba, onde os franceses, acompanhados de diretores e técnicos extensionistas da Secretaria da Agricultura, conheceram a Cooperativa de Laticínios do Médio Vale do Paraíba (Comevap), sendo recebidos pelo seu presidente, Aristeu de Barros Trannin. Na sequência, foram a Pindamonhangaba, para uma programação de dois dias, com visitas a propriedades rurais e queijarias. Posteriormente, o roteiro ocorreu na região bragantina, passando por Monte Alegre do Sul, Serra Negra e Amparo.

Segundo o assessor internacional da Secretaria de Agricultura, Henrique Guimarães, o acordo prevê a colaboração em outras áreas da agricultura, mas começou pela cadeia do leite, por ser esta uma das mais importantes e mais bem estruturadas no Estado.

Como o tempo de permanência dos franceses no País era curto, optou-se então por levá-los a duas regiões, onde conheceram unidades produtivas classificadas nos três níveis oficiais de inspeção, ou seja, federal (SIF), estadual (Sisp) e municipal (SIM). “A ideia era que eles conhecessem a nossa realidade”, explicou Guimarães.

O levantamento agora será trabalhado de forma conjunta e, a partir dele, poderão ser pautados os próximos passos do acordo. Os ganhos para o produtor paulista não serão imediatos, mas poderão vir com a troca de experiências, de tecnologias e até mesmo com a possibilidade de levar produtos lácteos do Estado em ações específicas junto ao consumidor francês.

Guimarães também ressaltou que os franceses ficaram impressionados particularmente com a beleza natural, principalmente do Vale do Paraíba, e elogiaram os arranjos produtivos que encontraram.

“Eles imaginavam encontrar grandes propriedades e se depararam com uma produção familiar, em pequena escala, mas com destacada tecnologia. Acho que os dois lados conseguiram aprender várias coisas com essa visita”, disse. Uma missão paulista à França é uma das possibilidades. “É muito importante que os nossos técnicos e produtores possam ter esse contato com o sistema produtivo francês”, finalizou.

Em Taubaté, na sede da cooperativa, a comitiva francesa e técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento experimentam os produtos Comevap

Olhares diferentes – Para o diretor-geral da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta), Daniel Gomes, responsável pelo relatório, um dos objetivos da missão foi obter dos franceses um olhar crítico sobre a cadeia produtiva do leite e dos queijos, principalmente os especiais. “Uma das nossas preocupações foi mostrar a eles a maior diversidade possível de situações”, disse Gomes.

Ele destacou a Queijaria Bolderini, localizada em Pindamonhangaba, de onde, apesar do tamanho, têm saído queijos de alta qualidade, já premiados internacionalmente, que foi uma das propriedades visitadas no Vale do Paraíba, entre outras na região bragantina, como a Fazenda Atalaia (Amparo) e os laticínios Nata da Serra (Serra Negra) e MontSul (Monte Alegre do Sul).

“Eles ficaram encantados com o que viram e adoraram a visita à Bolderini”, reconhece. Na Fazenda Atalaia, o queijo que mais despertou a atenção do grupo foi o queijo azul, o que, segundo eles, poderia ser equiparado a qualquer bom queijo francês. Os demais locais visitados também receberam elogios dos franceses.

Daniel Gomes: “O leite pasteurizado pode ser recontaminado de várias formas e o queijo com leite cru pode ser muito mais estável sob alguns aspectos”

Avaliação como especialistas – Cada um deles fez observações diferenciadas das propriedades, de acordo com a sua especialidade. No caso de Ivon Bochet, a avaliação das visitas foi sob o ponto de vista da denominação de origem, uma vez que ele veio de uma região francesa onde este fator é fortemente destacado. “Com a sua experiência, ele veio para olhar e falar sobre o que é essa denominação de origem”, disse.

O segundo técnico, Maxence Virelaude, que é professor da Escola Nacional da Indústria Leiteira, fez observações sobre os processos de produção do queijo. “Ele é um especialista nisso, acorda pensando em queijo e respira queijo o dia inteiro.” Já o terceiro membro da comitiva, Frederic Bertassi, é um profundo conhecedor da legislação francesa e da sua aplicabilidade. “Estávamos com um time de grandes especialistas”, finalizou Daniel Gomes.

Uma das questões desfavoráveis levantadas pelos franceses foi a utilização de leite pasteurizado pelos produtores na fabricação dos queijos. “Eles reconheceram que alguns produtores nada ficam a dever aos queijeiros franceses, mas lamentaram a prática de pasteurizar o leite. Esses produtores, segundo eles, teriam todas as condições de ter um produto que mantivesse sua originalidade e regionalidade, mas as perdem quando pasteurizam a matéria-prima.”

Qualidade dos produtos da Queijaria Bolderini, em Pindamonhanga, e dos demais locais visitados despertou a atenção dos franceses

O assunto foi bastante comentado durante a viagem e eles relataram que, embora o processo de pasteurização seja uma ferramenta muito importante na sanidade do queijo, não necessariamente é eficiente se não for olhada de uma maneira sistêmica. “O leite pasteurizado pode ser recontaminado de várias formas e o queijo com leite cru pode ser muito mais estável sob alguns aspectos”, explica.

Yvon Bochet, presidente da União de Produtores de Beaufort, fala durante o seminário sobre as perspectivas do Acordo de Cooperação realizado no Instituto Agronômico de Campinas

Falta de senso coletivo – Os franceses, segundo Gomes, também observaram certa falta de consciência de senso coletivo do setor, o que, segundo eles, poderia ser mais aprimorado para aproveitar melhor todo o potencial que existe, além de também notar a falta de tecnologia na fabricação de queijos no País.

“Apesar de termos escolhido produtos diferenciados para mostrar, eles perceberam que a base dos nossos laticínios é sempre a mesma, ou seja, queijo frescal, minas curado, muçarela e parmesão, e ficaram incomodados com o uso da palavra tipo, porque valorizam muito a identidade do queijeiro e da região e a agregação de valor que a procedência impõe ao produto.”

No último dia da viagem, os visitantes se reuniram internamente com as equipes técnicas da Apta, da Defesa Sanitária e da extensão rural e, para finalizar, participaram do seminário “A Cadeia Produtiva Queijeira: as Perspectivas Franco-paulistas”, no qual apresentaram aos especialistas e produtores rurais um panorama sobre a cadeia do queijo na França, desde os aspectos produtivos até regularização e comercialização.

Na sequência, puderam conhecer um pouco melhor o sistema de inspeção sanitária que vigora no Estado de São Paulo e no Brasil, além de ouvirem considerações sobre a nova lei paulista dos produtos artesanais, que formalizou e regularizou a produção artesanal paulista.

Agora, segundo Gomes, a partir do relatório que será elaborado pelos franceses e compartilhado com a Secretaria da Agricultura, será desenvolvida uma série de ações visando trazer tecnologia e vislumbra-se, inclusive, a possibilidade de montar, dentro da estrutura de um dos organismos da secretaria, uma escola de referência em queijos especiais. Outras ações também poderão ser subsidiadas pelo acordo, inclusive as contribuições para o aperfeiçoamento da lei dos artesanais, recentemente aprovada no Estado.

Na visita à Fazenda Atalaia, o que chamou a atenção foi o queijo azul

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