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Cultivo da missioneira gigante vem sendo feito no Planalto Norte, em Santa Catarina, em áreas com presença de árvores nativas associadas a pastagens e chamadas de caívas

FORRAGEIRA

Missioneira gigante

Adaptável, resistente e com boa tolerância a local sombreado

Cultivar desenvolvida pela Epagri tem maior adaptação a solos ácidos e de baixa fertilidade; é resistente à cigarrinha-das-pastagens e tolerante ao sombreamento, desde que seja plantada em solo corrigido, adubado anualmente e o pastejo conte com períodos de descanso

Erick Henrique

A produção de leite a pasto, tão fundamental para a sustentabilidade da grande maioria dos produtores brasileiros, sobretudo nessa época de custos exorbitantes dos principais insumos para alimentação do rebanho (milho, farelo de soja e outros ingredientes), ganha um novo aliado: a missioneira-gigante (Axonopus catharinensis Valls.), que é uma espécie nativa, originária de Santa Catarina, mais especificamente do Alto Vale do Itajaí.

Segundo o pesquisador Tiago Celso Baldissera, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a forrageira é um híbrido natural resultante do cruzamento da grama jesuíta (Axonopus jesuiticus) e do gramão (Axonopus scoparius).

“A Epagri é mantenedora da cultivar ‘catarina gigante SCS 315’, disponível no mercado. A missioneira gigante já vem sendo utilizada em diversas regiões do Sul do Brasil e da Argentina. Contudo, apresenta melhor desempenho de produção forrageira em locais mais quentes e tem alta adaptação a condições sombreadas”, destaca Baldissera.

O pesquisador da Estação Experimental de Lajes (SC) informa que a missioneira gigante tem maior potencial de cultivo em sistemas com arborização de pastagens, pois a cultivar apresenta alta tolerância ao sombreamento. Isso vem sendo feito na região do Planalto Norte de Santa Catarina, em áreas com presença de árvores nativas associadas a pastagens e chamadas de caívas, em regiões do oeste catarinense e em sistemas integrados com eucalipto. Além disso, a gramínea tem potencial na utilização como pastagem para a pecuária de leite e corte.

Tiago Celso Baldissera: “Essa forrageira vem sendo utilizada em diversas regiões do Sul do Brasil e da Argentina, tendo bom desempenho em locais mais quentes e em condições sombreadas”

Murilo Dalla Costa: “A missioneira gigante é indicada para consórcio com amendoim forrageiro e, na Região Sul, em sobressemeadura com espécies anuais de inverno como aveia e azevém”

Características de interesse do produtor – Colega de Baldissera na instituição, Murilo Dalla Costa explica que, embora não tenha a capacidade de produção de outras espécies perenes de verão, como cynodon (tifton 85, Jiggs) e pennisetum (capim-elefante), a missioneira gigante possui algumas vantagens em relação a essas forrageiras, como adaptação a condições de solos ácidos e de baixa fertilidade, resistência à cigarrinha-das-pastagens e tolerância ao sombreamento.

“Aliás, é uma forrageira que tem boa tolerância ao frio, o que pode contribuir para a maior disponibilidade de forragem no período de outono, caracterizado por um vazio forrageiro no Sul do Brasil. Como tolera o sombreamento de árvores, é uma forrageira recomendada a sistemas integrados de produção leiteira, como sistemas silvipastoris. Outra vantagem da missioneira gigante é a possibilidade de consórcio com amendoim forrageiro e, na Região Sul, de sobressemeadura com espécies anuais de inverno como aveia e azevém”, diz Dalla Costa.

Planejamento forrageiro – A pesquisadora Ana Lúcia Hanisch, da Estação Experimental de Canoinhas (SC), relata que a Epagri recomenda o seu plantio entre outubro e abril, por mudas vegetativas, com espaçamento de 50 cm entre mudas. “O plantio deve ser realizado em solo corrigido para pH 5,5 e com teores de fósforo e potássio corrigidos para médio ou alto. Após o plantio até a completa cobertura do solo pelo pasto, deve-se manter a área livre de invasoras. O pastejo deve ser realizado quando a pastagem atingir 25 cm de altura, e deve ser pastejado com 40% a 50% dessa altura, ou seja, os animais devem sair da área quando a altura estiver em 15 cm.”

Ana Lúcia Hanisch: “Pesquisa com sementes para o plantio será um grande avanço, pois o plantio por mudas vegetativas ainda é um limitante”

Segundo ela, é fundamental realizar adubações anuais, em cobertura, utilizando adubos fosfatados e fontes de nitrogênio. A Epagri recomenda, no mínimo, 150 kg de nitrogênio/hectare/ano. “Quando ocorrer a sobressemeadura, a pastagem anual de inverno também deve ser adubada de acordo com a recomendação, para evitar que danifique o rebrote da missioneira gigante na primavera.”

Baldissera destaca também que o objetivo do planejamento forrageiro é atender à demanda de alimentos pelo rebanho de forma uniforme durante todo o ano. Neste caso, a diversificação no uso de espécies e cultivares forrageiras, tanto em monocultivo como em consórcios, é essencial para que não ocorram ou ocorram de forma mínima os vazios forrageiros.“Contar com uma assistência técnica para auxiliar nesse processo é de grande importância para que o produtor possa atingir de forma rápida e com eficiência um planejamento forrageiro que potencialize sua produção de forragem e de leite”, diz o pesquisador.

Mudas são desafio – Como essa nova cultivar é plantada somente por mudas, algo que exige mais trabalho por parte do pecuarista, os pesquisadores da Epagri estão desenvolvendo estudos para a multiplicação da missioneira gigante por sementes. “A missioneira gigante é uma espécie híbrida infértil, sendo multiplicada somente por meio de mudas; a estratégia empregada para superar essa limitação foi a duplicação cromossômica, procedimento semelhante ao utilizado no desenvolvimento de cultivares de pennisetum híbrido, por exemplo”, explica Dalla Costa.

O pesquisador esclarece que foram selecionadas plantas férteis, a partir das quais foram colhidas sementes; depois de testes de germinação, as sementes que germinaram foram cultivadas em parcelas a campo para polinização. “O trabalho está no estágio inicial de melhoramento, com avaliações de formas de beneficiamento e seleção de plantas com características superiores, como produção de matéria seca e qualidade.”

Ana Lúcia Hanisch acredita que, dentro de no máximo dez anos, haverá sementes viáveis e comerciais de uma cultivar de missioneira gigante disponível para os produtores. “Isso, sem dúvida, será um grande avanço, pois o plantio por mudas vegetativas ainda é um fator limitante”, avalia a pesquisadora da Epagri.

As mudas da cultivar SCS 315 catarina gigante estão disponíveis para venda ao valor de R$ 12 a saca. A venda é realizada somente pelo e-mail analucia@epagri.sc.gov.br. A compra pode ser feita diretamente pelo produtor ou por intermédio dos extensionistas da Epagri em cada município. As despesas de envio são de responsabilidade do comprador.

Adaptável, essa forrageira vai bem no sistema ILPF, já que é tolerável ao sombreamento

Cerca de 100 sacas de mudas da pastagem missioneira gigante, desenvolvida pela Epagri, vão melhorar a produção pecuária em propriedades rurais de Monte Castelo, no Planalto Norte catarinense. Elas foram adquiridas por 15 famílias de produtores por meio da Epagri/Estação Experimental da Epagri de Canoinhas, que desenvolveu e multiplica essa cultivar. A entrega das mudas ocorreu em fevereiro.

Principais resultados – Segundo Baldissera, o principal avanço com a utilização da missioneira gigante é a sua boa capacidade de produção em áreas da propriedade com menor potencial, devido à sua maior resistência a solo ácidos. “Também como já falado anteriormente, sua boa adaptação à sombra possibilita a utilização em áreas sombreadas, com manutenção de bom nível de produção em comparação a outras espécies. Em regiões quentes, a arborização de pastagens é uma prática bastante benéfica para o rebanho e para a produção de leite, pois resulta, principalmente, em conforto térmico para as vacas”, pontua o especialista.

Já a pesquisadora catarinense informa que a produção de forragem varia de 13 a 18 toneladas de matéria seca/hectare/ano e essa variação está relacionada à adubação e tipo de solo. “Nossa indicação tem sido de 3 a 4 UA/ha (unidade animal) na média do ano, incluindo os períodos de sobressemeadura. Ademais, os teores de proteína bruta variam de 13% a 15%.”

Todavia, Dalla Costa deixa claro que nenhum pasto é milagroso, pois o sucesso da produção forrageira e da produção de leite depende do manejo adequado da pastagem. “Para que tenham boa produção, as pastagens necessitam de adequada correção e fertilização do solo e também de cuidadoso manejo do pastejo. Devemos pensar na adubação das pastagens como se pensa para as culturas agrícolas. Para produzir, temos que adubar”, conclui.

 

SEIS DICAS FUNDAMENTAIS

 

1 – Deve ser realizada a correção e adubação de solo

2 – Utilizar mudas vigorosas

3 – A época de plantio deve ocorrer preferencialmente na primavera e no início do verão

4 – O espaçamento entre mudas deve ser de no mínimo 50 x 50 cm ou até espaçamentos menores, com 30 x 30 cm. Espaçamentos menores propiciam o fechamento mais rápido da pastagem, diminuindo a infestação por invasoras e facilitando a implantação

5 – As mudas utilizadas no plantio podem ser provenientes de divisão de touceiras já existentes, ou produzidas em bandejas. Contudo, um ponto importante a observar para o sucesso da implantação da missioneira gigante é a necessidade de um bom contato solo-muda, para que a pega seja adequada

6 – Após instalada, se recomenda o manejo da pastagem utilizando como critério a altura de entrada de 25 cm e critério de saída de 15 cm, não devendo a altura de saída ser menor que 12 cm. Esses valores são para a altura média do piquete. Para compor a altura média do piquete, o ideal é realizar a avaliação da altura, que pode ser feita com a utilização de um bastão graduado, em pelo menos 20-30 pontos por hectare

Fontes: Baldissera e Dalla Costa – pesquisadores da Epagri

Mais informações: e-mail analucia@epagri.sc.gov.br

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